Uma das palavras de ordem na Hollywood atual é “reboot”. E se você ainda não entendeu o que a palavra significa, iremos tentar simplificar para você. Um reboot, ou reinício, é justamente o sentido literal da palavra. Ele geralmente fica no meio termo entre uma continuação e uma refilmagem. Um reboot pode desconsiderar tudo o que já foi feito na franquia, começando novamente do zero, ou “apagando” apenas algumas de suas continuações e levando em conta apenas o filme original. O que temos visto hoje em dia, porém, são reboots que levam em conta todas as continuações de uma franquia, mas tendem a iniciar uma nova série de sequências para os novos tempos – isso ocorre quando uma continuação é lançada depois de muitos anos de seu último filme. Nestes casos o objetivo é capturar a geração atual.
Os analistas de Hollywood já demonstraram que os reboots funcionam e podem ser bem lucrativos. Mas como o cinema não é uma ciência exata e o público (que irá ditar o que funciona ou não) é extremamente volátil, muitos reboots se tornam uma incógnita; e tantos outros resultam em fracassos para suas investidas. Pensando nisso, resolvemos formular uma nova matéria justamente abordando os reboots que falharam em soprar novo ar para suas franquias. Confira abaixo e não esqueça de comentar.
Matrix Resurrections
Talvez os mais jovens não compreendam muito bem o fenômeno que foi o primeiro Matrix. De fato, muito se fala no mar de criatividade que foi o ano de 1999 para o cinema. Foi deste ano que saíram produções extremamente celebradas como Clube da Luta e O Sexto Sentido, por exemplo. E foi de 1999 também que saiu o Matrix original. Curiosamente, apesar de não ter feito feio nas bilheterias quando foi lançado, foi seu status de culto após a estreia em home vídeo – leia-se no boom do formato de DVD nas locadoras – que colocou o longa original da franquia num pedestal e abriu espaço para as continuações, lançadas no mesmo ano (2003), bem mais ambiciosas. Matrix Resurrections, o quarto filme, que estreou quase vinte anos após o terceiro, chegou com o desafio de se mostrar relevante ainda hoje. Para piorar o cenário, sua estreia coincidiu com o rolo compressor chamado Homem-Aranha: Sem Volta para Casa – que se mostrou “o filme da volta aos cinemas” lotando sessões.
Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City
Essa é para os fãs mais radicais e chatos aprenderem a parar de reclamar. A franquia Resident Evil no cinema, estrelada por Milla Jovovich num total de seis filmes, sempre recebeu muitas críticas dos fãs ardorosos e apaixonados dos games. O argumento usado por estes fanboys era: “os filmes não têm nada a ver com os games”. Provando o ditado “muito cuidado com o que você deseja”, os produtores optaram por ouvir estes fãs e “rebootar” a franquia sendo mais fiel aos moldes dos jogos. Isso é: investindo mais no clima de terror e suspense do que na ação e pirotecnia. Resultado, o novo Resident Evil levou uma grande “sacudida de ombros” por parte de todos. É claro que a culpa não foi do clima, mas do roteiro preguiçoso e da direção pouco inspirada.
MIB: Homens de Preto – Internacional
Sabe aquela história do “copia, mas faz diferente”? O primeiro Homens de Preto foi um sucesso internacional em 1997, e com produção de Steven Spielberg se tornou o novo “Caça-Fantasmas” para os anos 90. Além disso provou a química perfeita entre o brincalhão Will Smith e o turrão Tommy Lee Jones. Demonstrando que nem sempre um raio cai no mesmo lugar duas ou três vezes, suas duas sequências não receberam o mesmo carinho por parte dos fãs. Assim, sete anos depois de MIB 3, após cogitar um crossover com Anjos da Lei, a Sony teve a brilhante ideia de um reboot. E para isso os produtores pesquisaram quais atores teriam uma química capaz de recriar a mágica do original. Para isso, se voltaram para a Marvel e viram no filme Thor Ragnarok (2017) a resposta. Para seu novo MIB foram chamados Chris Hemsworth e Tessa Thompson. O problema? O quarto MIB só copia sem adicionar nada de novo.
As Panteras
A série As Panteras foi um enorme sucesso da TV nos anos 1970. Sua primeira adaptação para o cinema ocorreu em 2000, com o trio Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu. O sucesso de tal filme gerou uma continuação direta em 2003. Depois disso, os fãs esperavam ansiosamente por um terceiro filme que nunca saiu do papel com tais atrizes, talvez devido ao resultado abaixo do esperado que o segundo obteve. A franquia, inclusive tem Drew Barrymore como produtora e retentora dos direitos, que a atriz usou para produzir uma nova série de TV em 2011. Essa nova série infelizmente flopou. Destino semelhante teve o reboot, de certa forma inusitado, para as telonas. As Panteras foi lançado em 2019 e trouxe um novo trio formado por Kristen Stewart, Naomi Scott e Ella Balinska. O problema foi que o novo longa não decidiu se seria um exagero cômico e cartunesco como os filmes antigos, ou algo mais sério e sombrio. Ficando no meio termo, terminou como um filme sem personalidade e esquecido.
Shaft
Shaft é um verdadeiro marco da representatividade. Nos anos 1970, durante o movimento de afirmação “blaxploitation” – cinema feito por artistas negros para um público negro – o detetive John Shaft foi o maior representante deste movimento cinematográfico, conseguindo transcender seu nicho e sendo conhecido pelo grande público. O sucesso gerou duas continuações e uma série de TV ainda na década de 1970. Em 2000, um reboot dono de muita autoridade teve a direção do saudoso John Singleton e foi protagonizado por Samuel L. Jackson. Apesar de ser uma produção de qualidade que realmente capturava o espírito do personagem e da época, Shaft (2000) não obteve o resultado financeiro esperado. Assim, quase vinte (?!) anos depois, um novo filme como o mesmo Jackson estreava. Porém, sem um pulso firme na direção, e sem criatividade no título, Shaft (2019) se mostrou apenas uma comédia sem-graça, que tentava trazer Shaft aos novos tempos, sem qualquer originalidade ou frescor.
Hellboy
O ator Ron Pearlman, primeiro intérprete do herói infernal Hellboy nas telonas, disse em entrevista recente que os fãs mereciam uma conclusão épica para a trilogia original do personagem. E conhecendo a era das vontades dos fãs sendo atendidas pelos estúdios, quem sabe isso não possa ocorrer. Ainda mais quando levamos em conta que o reboot, que serve de terceiro filme, não vingou. Hellboy (2004) e Hellboy 2 – O Exército Dourado (2008) foram dirigidos por Guillermo del Toro, e eram um projeto de paixão do cineasta aficionado por monstros e criaturas. Ambos não obtiveram o resultado esperado nas bilheterias, inclusive trocaram de estúdio – da Sony para a Universal. O terceiro esteve nas mãos da Millenium Films. O que todos parecem concordar em relação ao reboot de Hellboy, que viu a troca de Pearlman para David Harbor, foi seu teor altamente genérico e esquecível.
Halloween Kills – O Terror Continua
A sorte de Halloween Kills foi que os novos filmes da franquia foram planejados como uma trilogia. Essa foi a jogada de mestre do diretor David Gordon Green e a da Blumhouse, produtora por trás dos lançamentos. Porque caso fossem filmes independentes, muito provavelmente esse novo filme ficaria sem uma sequência. O reboot de Halloween (2018) foi um enorme sucesso, se tornando o filme da franquia mais bem sucedido após o original, tanto de bilheteria, quanto de elogios por parte dos críticos. Apesar de particularmente possuir muitos problemas em relação ao filme, não posso negar e me alienar ao fato de que se tornou um longa querido e bem-sucedido. Agora quando falamos desta sua sequência direta a coisa muda de figura. Até mesmo os que rasgaram elogios ao filme de 2018 torceram o nariz para Halloween Kills, que obteve uma bilheteria bem abaixo e críticas nada elogiosas. Seja como for, Halloween Ends já está programado e estreia esse ano.
Dolittle
Caso tivesse se tornado um sucesso de crítica e público (principalmente), certamente a esta altura já teríamos visto um famigerado Dolittle 2 e quem sabe estaríamos à espera do três. Criado com a proposta de ser um “Piratas do Caribe” da Universal, Dolittle é na verdade o reboot de uma franquia que nasceu em uma série de livros infantis do autor Hugh Lofting ainda na década de 1920. No cinema, sua primeira adaptação ocorreu em O Fantástico Doutor Dolittle, de 1967, estrelado por Rex Harrison. Este clássico foi indicado para nada menos do que 9 prêmios no Oscar, incluindo melhor filme, e saiu vitorioso de duas estatuetas técnicas. Décadas mais tarde, ganharia uma versão moderna em 1998 quando o personagem era encarnado agora pelo humorista Eddie Murphy. O filme fez sucesso e gerou uma continuação em 2001 ainda com Murphy, e algumas sequências lançadas direto em vídeo sem o ator. A mais recente roupagem que o personagem recebeu saiu em 2020 numa superprodução cara e repleta de efeitos visuais (bem no clima de um blockbuster mesmo), protagonizada por um dos reis atuais de Hollywood, Robert Downey Jr. Porém, nem mesmo o usual carisma do ator cativou os espectadores e o longa viveu para ser um dos maiores fracassos de anos recentes e ainda pôs um fim a uma franquia em potencial.
O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio
Não adianta, é sempre o público quem dita o que fará sucesso ou não. Nem todo estudo e pesquisa de mercado, exibições teste, são capazes de realizar um filme à prova de fracasso. Assim, apesar de sua qualidade, e apesar de ser o melhor filme da franquia O Exterminador do Futuro depois do adorado segundo longa de 1991, o sexto (!?) – isso mesmo, o sexto filme já – da franquia, que pretendia inaugurar uma nova trilogia, terminou fazendo menos bilheteria do que o esperado e os planos para continuidade foram abortados. A verdade é que apenas os dois primeiros filmes, dirigidos por James Cameron, são de fato excelentes e recomendados para todo tipo de público. Os demais são descartáveis e mais do mesmo. Assim, quando voltou para o terceiro – que nada mais era do que uma refilmagem do segundo – Arnold Schwarzenegger visava apenas o dinheiro que receberia. O quarto, passado inteiramente no futuro, visava iniciar uma nova trilogia. Não ocorreu. O mesmo era planejado com o quinto, Gênesis. Novamente morreu na praia. E nem mesmo a volta da veterana Linda Hamilton no sexto foi um artifício sedutor o suficiente para fazer o público embarcar na proposta. Uma pena.
King’s Man: A Origem
Sabe o que eu disse acima sobre a imprevisibilidade de resultado de alguns filmes, que se tornam à prova de previsões, pesquisas e estudos. Bem, esse fenômeno ocorre também a favor de certas produções. Quando foi lançado em 2015, ninguém poderia prever o sucesso cult que se tornaria o primeiro Kingsman: Serviço Secreto, baseado nos quadrinhos de Mark Millar, sobre uma agência de espionagem bem peculiar e um agente secreto jovem e “maloqueiro”. Ainda mais quando muitos críticos torceram o nariz para sua violência extrema e gráfica – como a infame cena do massacre na igreja. Nada disso pareceu importar, e o público, em especial os jovens, o alvo da produção, abraçou o longa com força. Assim não demorou muito para a sequência sair, dois anos depois para ser mais exato. Porém, Kingsman: O Círculo Dourado, mais ambicioso e com mais astros no elenco, não recebeu os elogios do anterior e poderia ter dado um ponto final para a franquia. Porém, os realizadores decidiram tirar mais um coelho da cartola, que se tornaria o prego definitivo no caixão. O terceiro Kingsman, agora King’s Man, é uma pré-sequência que conta as origens da agência. Um filme que teve o cruel destino de ser lançado no fim do ano e enfrentar a concorrência pesada de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa e Matrix Resurrections. O resultado você já sabe, ninguém tomou conhecimento da existência do longa.