domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Judas e o Messias Negro: Daniel Kaluuya brilha em poderosa cinebiografia sobre líder dos Panteras Negras

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2021

Entre recortes de notícias e rápidas tomadas que servem como uma janela para o passado, a própria história fala por si só nos primeiros minutos do longa Judas e o Messias Negro. Não é difícil notar o quanto William O’Neal é uma complexa mancha no passado do partido dos Panteras Negras. Como alguém que timidamente ganhou espaço servindo um dos seus principais líderes, Fred Hampton, ele carregou em si a identidade do grupo e contraditoriamente a missão de ser um infiltrado do FBI entre os seus militantes. De um efêmero assaltante de carros com uma carteira forjada de agente policial, O’Neal passou para o lado oculto e sombrio da história preta, como aquele que – embora não tenha destruído uma revolução – se viu forçado a matar um dos seus mais ávidos e emblemáticos líderes.



A nova cinebiografia de Shaka King é categórica logo em sua cena de abertura e não perde tempo de tela com trivialidades que poderiam dispersar a narrativa. Focando sua trama no hiato temporal em que as histórias de Billy e Fred se encontram, o longa é firme em seu roteiro e se desenvolve bem ao longo de suas duas horas de duração, seguindo uma narrativa mais linear – mas que em momento algum dispersa o nosso interesse. Abusando em sua estética a partir da direção de fotografia, Judas e o Messias Negro nos chama a atenção pela escolha de sua iluminação, sempre mais amarelada e mais baixa, fazendo a pele retinta dos seus protagonistas reluzir em tela.

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Usando a luz como uma forma de salientar a necessidade dos Panteras Negras sempre agirem às escuras – em virtude da constante perseguição policial, o cineasta Shaka King incorpora a fotografia do filme à própria narrativa, tornando-a quase um personagem com vida própria em cena. A técnica ainda cria um contraste com as atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield, que brilham em suas performances ricas de simbolismo e donas de uma expressividade hipnotizante. Em Judas e o Messias Negro, ambos são as contradições que se completam, como camaleões que se transformaram de tudo aquilo que já fizeram no passado.

Com a voz ritmada, como quem parece sempre entoar o mais profundo poema, Kaluuya se entrega às suas falas e discursos com precisão, sempre com pausas pontuais e fluidez em suas cenas. Dominando as tomadas que protagoniza com facilidade, ele se mescla à personalidade do militante Fred Hampton, nos levando a uma genuína viagem ao passado. De olhos fechados, é difícil discernir quando o astro sai e quando Hampton entra, solidificando o perfeito enlace entre ator e personagem.

Stanfield mais uma vez mostra a riqueza de suas performances, conhecidas muito bem no cinema independente em filmes como Desculpe Te Incomodar e na aclamada série Atlanta. Com uma linguagem corporal completa e imersiva, ele conquista a audiência pelo seu olhar, entrega os pensamentos mais profundos de seu personagem apenas pela sua expressividade e mostra um contraste extraordinário entre a euforia de agir de forma escusa e o pavor da certeza da injustiça e infidelidade diante de um homem inocente. Suas constantes oscilações em tela vidram os nossos olhos em sua atuação, nos proporcionando uma experiência cinematográfica profundamente dilacerante e angustiante. Daniel e Lakeith ganham ainda mais força em tela com Jesse Plemons e Martin Sheen, que como personagens terciários entendem a profundidade de suas respectivas ligações com o protagonismo preto em tela e salientam a extensão da qualidade da direção de Shaka King e de seu roteiro co-escrito com Will Berson.

Com um figurino nostálgico que revela muito mais que a padronagem dos figurinos dos anos 70, destacando ainda o lindo contraste dos uniformes dos Panteras Negras em meio às cores e tons da época, a cinebiografia produzida por Ryan Coogler (Pantera Negra, da Marvel) é o mais puro deleite cinematográfico. Poderosa em sua mensagem – que não faz apologias políticas, retendo-se unicamente aos fatos – e angustiante pelo desenrolar dos seus acontecimentos, Judas e o Messias Negro é muito mais do que esperamos de um drama biográfico. Catártico, reflexivo e complexo na construção de seus personagens, a produção é também o símbolo da riqueza existente em um filme, quando a sua história é narrada pelas mãos da pessoa certa.

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A nova cinebiografia de Shaka King é categórica logo em sua cena de abertura e não perde tempo de tela com trivialidades que poderiam dispersar a narrativa. Focando sua trama no hiato temporal em que as histórias de Billy e Fred se encontram, o longa é firme em seu roteiro e se desenvolve bem ao longo de suas duas horas de duração, seguindo uma narrativa mais linear – mas que em momento algum dispersa o nosso interesse. Abusando em sua estética a partir da direção de fotografia, Judas e o Messias Negro nos chama a atenção pela escolha de sua iluminação, sempre mais amarelada e mais baixa, fazendo a pele retinta dos seus protagonistas reluzir em tela.

Usando a luz como uma forma de salientar a necessidade dos Panteras Negras sempre agirem às escuras – em virtude da constante perseguição policial, o cineasta Shaka King incorpora a fotografia do filme à própria narrativa, tornando-a quase um personagem com vida própria em cena. A técnica ainda cria um contraste com as atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield, que brilham em suas performances ricas de simbolismo e donas de uma expressividade hipnotizante. Em Judas e o Messias Negro, ambos são as contradições que se completam, como camaleões que se transformaram de tudo aquilo que já fizeram no passado.

Com a voz ritmada, como quem parece sempre entoar o mais profundo poema, Kaluuya se entrega às suas falas e discursos com precisão, sempre com pausas pontuais e fluidez em suas cenas. Dominando as tomadas que protagoniza com facilidade, ele se mescla à personalidade do militante Fred Hampton, nos levando a uma genuína viagem ao passado. De olhos fechados, é difícil discernir quando o astro sai e quando Hampton entra, solidificando o perfeito enlace entre ator e personagem.

Stanfield mais uma vez mostra a riqueza de suas performances, conhecidas muito bem no cinema independente em filmes como Desculpe Te Incomodar e na aclamada série Atlanta. Com uma linguagem corporal completa e imersiva, ele conquista a audiência pelo seu olhar, entrega os pensamentos mais profundos de seu personagem apenas pela sua expressividade e mostra um contraste extraordinário entre a euforia de agir de forma escusa e o pavor da certeza da injustiça e infidelidade diante de um homem inocente. Suas constantes oscilações em tela vidram os nossos olhos em sua atuação, nos proporcionando uma experiência cinematográfica profundamente dilacerante e angustiante. Daniel e Lakeith ganham ainda mais força em tela com Jesse Plemons e Martin Sheen, que como personagens terciários entendem a profundidade de suas respectivas ligações com o protagonismo preto em tela e salientam a extensão da qualidade da direção de Shaka King e de seu roteiro co-escrito com Will Berson.

Com um figurino nostálgico que revela muito mais que a padronagem dos figurinos dos anos 70, destacando ainda o lindo contraste dos uniformes dos Panteras Negras em meio às cores e tons da época, a cinebiografia produzida por Ryan Coogler (Pantera Negra, da Marvel) é o mais puro deleite cinematográfico. Poderosa em sua mensagem – que não faz apologias políticas, retendo-se unicamente aos fatos – e angustiante pelo desenrolar dos seus acontecimentos, Judas e o Messias Negro é muito mais do que esperamos de um drama biográfico. Catártico, reflexivo e complexo na construção de seus personagens, a produção é também o símbolo da riqueza existente em um filme, quando a sua história é narrada pelas mãos da pessoa certa.

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