Ontem, dia 25 de setembro, o icônico cineasta espanhol Pedro Almodóvar completou 73 aniversários de pura ousadia e estética pulsante. Como ontem foi o dia mundial do ócio, algo que sabemos que Almodóvar aprova, não comemoramos esse momento icônico na data correta, porém, jamais deixaríamos de celebrar esse verdadeiro marco do cinema mundial. Almodóvar se tornou sinônimo de cinema sofisticado, para os verdadeiros amantes da arte e intelectuais. Apesar deste abraço da comunidade “cult”, digamos, seu cinema nunca foi cerebral, e sim imensamente popular, abordando temas típicos e corriqueiros de qualquer folhetim. O que o cineasta faz é dar glamour a esses contos escandalosos. É dar refinamento ao ordinário. Almodóvar é a medida exata entre o mundano e o aristocrático. Entre o bom-gosto e o brega.
O que podemos dizer é que tudo o que o diretor cria, faz onda e passa longe do marasmo. Extremamente autoral, quer você goste ou não dele, Almodóvar tem uma carreira que já dura 48 anos e uma filmografia de 23 longas-metragens. Pedro Almodóvar é sem dúvida um dos diretores mais famosos do mundo, quiçá “o” mais famoso, a nunca ter filmado em Hollywood ou sequer em inglês. Bem, esse recorde está para ser quebrado em breve. Acontece que ano que vem o diretor lançará suas duas primeiras obras faladas em inglês. O primeiro é o curta Strange Way of Life, com Ethan Hawke e Pedro Pascal, descrito como “a resposta para O Segredo de Brokeback Mountain”. E o segundo, A Manual for Cleaning Women, baseado no livro de Lucia Berlin, é uma coleção de pequenas histórias estelares encabeçadas por Cate Blanchett.
Para a celebração desse grande artista resolvemos trazer para você os 10 melhores filmes dirigidos por Pedro Almodóvar na opinião dos fãs, profissionais da área e o grande público em geral. Confira abaixo.
10 | Julieta (2016)
Começamos a lista com Julieta em décimo lugar. A obra não é um grande filme de Almodóvar, mas significou uma volta por cima e aos seus temas usuais após se arriscar pela galhofa de uma comédia totalmente escrachada e afetada, que foi Os Amantes Passageiros (2013) – considerado pelos fãs o pior filme do diretor. Aqui o cineasta aborda assuntos muito utilizados por ele no decorrer de sua filmografia: como a relação problemática entre mãe e filha, abandono e personagens que resolvem recomeçar suas vidas. Julieta foi indicado a um prêmio no BAFTA, o “Oscar” inglês. Disponível na GloboPlay.
09 | Abraços Partidos (2009)
Abraços Partidos havia sido o último trabalho do diretor protagonizado por Penélope Cruz, sua atual musa, até o recente lançamento de Mães Paralelas em 2021. Esse longa segue a parceria da dupla no elogiado Volver (2006), não se tornando tão cultuado assim quanto o citado. Aqui, como de costume também, o diretor destila todo o seu amor pelo mundo do cinema e seus bastidores, ao contar sobre uma mulher comum que sonha em se tornar atriz (papel de Cruz). Sua vida dá muitas voltas, incluindo um casamento com um ricaço mais velho e ciumento, até de fato as coisas se acertarem para ela. Outra indicação no BAFTA aqui.
08 | Carne Trêmula (1997)
Primeira parceria entre Penélope Cruz (em papel coadjuvante) e o diretor Pedro Almodóvar, o filme conta ainda com Javier Bardem em um papel de destaque, após sua participação pequena em De Salto Alto (1991) com o cineasta. Tragédia, drama, humor e surrealismo se misturam nessa história de Almodóvar, novamente indicada ao BAFTA. Um romance traumático, Victor é apaixonado por Elena, mas numa confusão ele termina atirando e paralisando o policial David. Depois de anos na cadeia, Victor sai e encontra Elena casada com David. Disponível na Netflix e Amazon Prime Video.
07 | Má Educação (2004)
Aqui, Almodóvar escala Gael Garcia Bernal e coloca o dedo na ferida ao denunciar os abusos sexuais sofridos por estudantes de escolas religiosas na Espanha durante a década de 1960, e como o fato afetou para sempre suas vidas. Um dos longas mais polêmicos e celebrados da carreira do diretor. E novamente, indicado a um prêmio no BAFTA. Disponível na Netflix.
06 | Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988)
O interessante de assistirmos a filmes antigos é perceber o quanto mudamos como sociedade e o quanto evoluímos. E isso é verdade inclusive em obras de diretores sempre à frente de seu tempo como Pedro Almodóvar. A verdade é que mesmo o mais vanguardista dos artistas segue preso pelo contexto social de sua época. Assim, é curioso notar esse filme hoje, que fala sobre “mulheres disputando o mesmo homem” e “enlouquecendo no processo”. Mesmo assim, segue como um dos trabalhos mais icônicos da carreira de Almodóvar, responsável por ser o divisor de águas em sua filmografia, o apresentando ao mundo. Grande parte deste prestígio se deve à indicação do longa ao Oscar de produção estrangeira, o primeiro em sua carreira a conquistar tal honraria. Disponível na Netflix e Amazon Prime Video.
05 | Dor e Glória (2019)
Chegamos agora ao top 5 dos filmes favoritos de Pedro Almodóvar de acordo com o grande público. O que acontece é que a cada geração de cinéfilos, uma nova leva é introduzida ao cinema do diretor, se tornando cada vez mais popular. Assim, para os, digamos, não muito familiarizados com os filmes do cineasta, este Dor e Glória serve como um grande resumão de sua carreira – além de contar com o cineasta realizando aqui sua própria autobiografia, algo que veremos em breve diretores como Steven Spielberg e Alejandro Iñarritu fazendo também em seus próximos trabalhos. Por outro lado, não dá para tirar os méritos e o brilho de Dor e Glória e da performance indicada ao Oscar de Antonio Banderas vivendo a persona de Almodóvar. O filme também se tornaria o terceiro do diretor a receber indicação ao Oscar de produção estrangeira.
04 | Volver (2006)
Em quarta posição temos um favorito pessoal deste amigo que vos fala. Uma história leve como as brisas da Espanha, que traz Penélope Cruz no auge de sua beleza e brilho, vivendo sua melhor personagem em um filme do diretor. Ao mesmo tempo, como de costume, existe muita reflexão, denúncias e o feminismo combatendo o machismo tóxico. Além das “cores de Almodóvar” numa trama com doses sobrenaturais pinceladas. Ao mesmo tempo em que lida com a morte do marido, o abuso da filha, Raimunda (Cruz) junta pistas do possível retorno à vida de sua falecida mãe Irene (papel de Carmem Maura, uma das primeiras musas do cineasta). Um filme verdadeiramente tocante, que saiu indicado ao Oscar de melhor atriz para Penélope Cruz. Disponível na Netflix.
03 | A Pele que Habito (2011)
Certos diretores possuem seu time de intérpretes cativos, artistas que sempre trabalham com o mesmo cineasta. E na lista de Pedro Almodóvar nomes como Carmem Maura, Victoria Abril, Marisa Paredes e Cecilia Roth se destacam. Atualmente, os que se revezam são Penélope Cruz e Antonio Banderas – que esteve lá desde o início. Como protagonista, dois filmes se destacam da parceria de Banderas com Almodóvar: o citado Dor e Glória, e este conto perturbador de suspense e doses de terror, que é o único filme do diretor não escrito por ele – sendo baseado no livro Tarântula, de Thierry Jonquet. Nesse conto a la Frankenstein de Almodóvar, um brilhante cirurgião vivido por Banderas, mantém trancafiada em sua mansão uma mulher a quem ele “aperfeiçoa” através de diversas cirurgias plásticas (papel da bela Elena Anaya). O filme levou o BAFTA de produção não inglesa. Disponível na HBO Max.
02 | Tudo Sobre Minha Mãe (1999)
Não tem jeito, se você perguntar a todos os fãs de Almodóvar pelo mundo, a dobradinha das duas primeiras posições dos melhores filmes do diretor sempre ficarão com estes aqui. Começamos com este longa de 1999, que resultou na segunda indicação de um filme de Almodóvar no Oscar de produção estrangeira, e sua primeira e única vitória na categoria. Um presentaço, que faz de Tudo Sobre Minha Mãe um dos trabalhos mais prestigiados do diretor. O cinema de Almodóvar também sempre soou “marginal” ao público médio de forma geral, afinal sempre deu voz a temas considerados controversos, como jogar luz na comunidade LGBTQI+ e os travestis, por exemplo. Aqui, um jovem decide descobrir mais sobre seu pai, escondido dele por sua mãe, a protagonista Cecilia Roth. Disponível na Amazon Prime Video.
01 | Fale com Ela (2002)
Finalizando a lista e recebendo a medalha de ouro no topo do ranking dos melhores filmes de Pedro Almodóvar na opinião dos fãs e do grande público, está mais um filme de teor fervoroso, paixões obsessivas e o sombrio lado humano, que igualmente pode guardar leveza e sua própria luz. Esse é o filme no qual nosso mestre Caetano Veloso participa em uma pontinha cantando “Cucurrucucu Paloma”. Na trama, assim como em seu mais recente trabalho Mães Paralelas, no qual duas mulheres dão à luz no mesmo dia e o fato entrelaça suas vidas, aqui temos duas mulheres comatosas bem diferentes, cujas vidas igualmente serão interligadas pelas pessoas ao redor. Javier Cámara é quem comanda o show no papel do dedicado e doentio Benigno, um enfermeiro cuidando de uma jovem bailaria em coma, por quem é secretamente e platonicamente apaixonado. O filme foi indicado ao Oscar de melhor diretor para Almodóvar e levou o Oscar de melhor roteiro original. Disponível na Netflix.