O Festival de Cinema de Cannes começou nesta quarta-feira (17) e já rendeu polêmica.
O presidente do júri, o cineasta Pedro Almodóvar, fez duras críticas à Netflix, afirmando que não faz sentido um filme vencedor da Palma de Ouro não ter sido exibido nos cinemas franceses.
A alfinetada faz ligação direta a duas produções da empresa que fazem parte da competição oficial. Os filmes são ‘Okja’, de Bong Joon-ho, com Jake Gyllenhaal e ‘The Meyerowitz Stories‘, de Noah Baumbach, estrelado por Adam Sandler e Ben Stiller.
Segundo Almodóvar, existe uma incoerência no caso em questão. Para ele, embora estas plataformas simbolizem um novo jeito de entregar conteúdos pagos, os serviços de streaming precisam “aceitar as regras do jogo, respeitando as distintas formas de exibição e as obrigações de investimento que atualmente regem na Europa”.
Completou ele:
“Seria um enorme paradoxo que uma Palma de Ouro (…) ou qualquer outro filme premiado não pudesse ser visto em salas de cinema”.
Embora as duas produções estejam competindo no festival, nenhuma delas poderá ser exibida nos cinemas franceses. O motivo seria um norma do país, que regulamenta que um filme só pode ser exibido em um serviço de streaming após 36 meses desde seu lançamento nos cinemas.
Para a Netflix, a norma dificulta a premissa original da empresa, que é entregar conteúdos exclusivos em tempo hábil. No mês passado, a companhia se pronunciou sobre a polêmica em um comunicado, afirmando que “os franceses amantes do cinema não querem ver esses filmes três anos depois do resto do mundo”.
A situação foi ainda mais longe, gerando um desconforto com a Federação dos Cinemas Franceses. A rede de distribuidores estaduais atacou a Netflix por não pagar impostos aos proprietários de cinemas, argumentando que a concorrência é desleal e ameaça a integridade dos filmes.
Em resposta, os organizadores do festival mudaram a regras da competição e a partir de 2018, apenas filmes distribuídos nos cinemas do país serão elegíveis para a disputa da Palma de Ouro.
Na ocasião, Will Smith – um dos oito membros do corpo de júris – saiu em defesa da Netflix. Ele, que estrela uma produção original da plataforma, intitulada ‘Bright’, e tem seu filho do meio, Jaden Smith, como um dos protagonistas da série ‘The Get Down’, defendeu o equilíbrio harmônico entre ambas as mídias:
“Tenho filhos de 16, 18 e 24 anos em casa e a Netflix não tem impacto sobre a relação deles com o cinema. Eles descobriram na Netflix muitos filmes que não conheceriam de outras formas e que despertaram a atenção deles para um tipo de cinema sobre o qual eles podem pesquisar na internet. Mesmo assim, eles continuam indo a salas de exibição. São formas bem diferentes de entretenimento”.