quinta-feira, março 28, 2024

Piedade | Cauã Reymond e Matheus Nachtergaele falam sobre novo filme e cenas de sexo entre eles [EXCLUSIVO]

Destaque da programação do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Piedade é o mais novo trabalho de Cláudio Assis, cultuado diretor de Baixio das Bestas e Amarelo Manga. O longa finalmente ganha vida quase quatro anos após o início da produção. Além dos eventuais atrasos, o filme acabou demorando um pouco para sair por causa de um AVC sofrido pelo cineasta após as gravações. 

Piedade conta com um elenco recheado de estrelas, com destaque para Matheus Nachtergaele, Fernanda Montenegro, Cauã Reymond, Irandhir Santos e Gabriel Leone. Durante o evento em Brasília, o CinePOP teve a oportunidade de conversar com Cauã e Matheus sobre seus trabalhos. Além de falarem sobre a experiência de participar do longa de Assis, eles comentaram sobre a já famosa cena de sexo entre eles. Falaram também sobre o reencontro com Montenegro, que já havia trabalhado com os dois em produções anteriores.

Em seu primeiro filme com o diretor, Cauã destacou que nem quis ler o roteiro antes de aceitar o projeto. Em busca de desafios, ele atendeu Assis no meio de suas férias e topou fazer o longa de imediato. “Foi ótimo trabalhar com o Cláudio, me senti muito bem recebido. Essa questão de filmar em Pernambuco, me senti acolhido como em São Paulo, como no Rio. Eu sempre fui fã dos filmes do Cláudio e foi um sonho participar de um deles”, disse. O ator ainda falou sobre o que fez com que aceitasse o projeto: “A possibilidade de trabalhar com outras cores, com um elenco super especial e de poder filmar com o Cláudio, que é um cineasta que está sempre te desafiando e buscando algo diferente de você”.

Matheus, por sua vez, encontra-se em sua quinta parceria com o cineasta, tendo atuado em todos os longas do mesmo. Segundo o ator, muitas vezes ele nem precisa ler o roteiro para aceitar um novo projeto. Curiosamente, na nova parceria, ele acabou recebendo um papel que não parecia muito com ele: um executivo de uma mega-corporação petroleira. “Não foi fácil fazer, pois tive que trabalhar com um personagem que de certa maneira eu nego. Apesar da minha origem paulistana de classe média alta, como artista, nego um pouco este tipo neoliberal, esse desprezo pela cultura brasileira mais profunda, pela pele mais colorida, e assunção de um homem pseudo-cosmopolita, totalmente liberal, cujo maior objetivo é fazer negócio para alguma empresa, esse funcionário padrão”, disse.

Conhecido pelos trabalhos em Central do Brasil, O Auto da Compadecida e Cidade de Deus, Matheus Nachtergaele interpretou inúmeros personagens humildes, do Brasil interiorano em seus projetos, mas acabou descobrindo algo curioso com o novo filme: “Levei um tempo para entender que estava encarregado de fazer um personagem que não era necessariamente um vilão, era o brasileiro mais comum, as exceções eram os outros. O que quero dizer é que, talvez, eu só tenha percebido agora que grande parte dos meus personagens é que eram exceções, é que eram um elogio ao Brasil mais fundo, uma saudade de quem um dia já fomos, e um desejo de retomarmos uma aventura de brasilidade. A maior parte dos brasileiros é como o Aurélio ou deseja ser como ele. Bem sucedido dentro de uma empresa, munido dentro dos confortos que o capitalismo traz, bem vestido, de cor branca, com uma promiscuidade sexual ligada a internet e com uma certa assepsia afetiva. É esse arquétipo o vencedor das últimas eleições.

Antes mesmo de ser exibido para o público, Piedade já causava um burburinho e uma curiosidade no meio cinematográfico por causa de rumores sobre uma forte cena de sexo entre Cauã e Matheus. Cláudio Assis sempre foi um cineasta que lutou contra o caretismo e sempre colocou o sexo como elemento importante de sua obra. Os atores falaram com naturalidade sobre as cenas (são duas, na verdade).

“Foi igual a fazer uma cena com uma mulher. Abordei da mesma forma. Mulher com mulher, homem com homem, homem com mulher… Você tem que ser profissional, encontrar uma química na hora, conversar sobre a cena e cada vez mais entender como vai ser feito. Aí na hora do ação, é se soltar e dar o seu melhor. Eu gosto muito de ficar fazendo brincadeira antes da cena, acho que dá uma relaxada”, destacou Cauã Reymond.

Já Matheus, deu maiores detalhes sobre a gravação das sequências: “Do ponto de vista como ator, foram as cenas mais rápidas de serem feitas. Existe todo uma concentração da equipe para que os atores sofram o mínimo. Esvaziam o set o máximo possível e gravamos apenas uma ou duas vezes cada cena. Só repetimos se tiver um erro técnico muito grave.”

“Eu vi o filme pelo primeira vez aqui em Brasília e achei que as cenas são menos pérfidas do que eu imaginava. Elas são bem sensuais e, de verdade, nada caretas. São cenas de arte. A última trepada dos dois, apesar de não ser nada explícita, achei bem forte”, falou Matheus.

Nachtergaele revelou que foi uma preocupação dele e de Cláudio não se aproveitarem de Cauã apenas pelo fato de seu um ator mais conhecido. “Foi bem tranquilo. O Cauã estava especialmente tentando deixar o clima ameno. Acho que eu e o Cláudio estávamos mais tensos do que ele. Não queríamos explorar a figura do Cauã de maneira indevida. Ele tava de bom humor e fez bastante piada. Foi bem rápido. E nem consigo lembrar bem do momento. A verdade é que não ficamos constrangidos. Somos amigos e nos conhecemos há muito tempo. E somos dois caras, talvez seja até mais fácil. Foi na brodagem mesmo, como os personagens fariam”, revelou.

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Apesar da grande atenção dada pela mídia ao fato de haver uma cena de sexo entre eles, os dois revelaram não se incomodar muito com isso ou com a reação exagerada das pessoas. “Acho normal. Tem certos assuntos que cativam o público”, apontou Cauã. Matheus seguiu no mesmo sentido: “Não me surpreende. Me incomoda um pouco porque o filme é muito mais profundo que uma cena de sexo. Ele toca em muitas outras questões. Mas entendo que o mercado mais careta funciona assim com esse tipo de notícia aparentemente escandalosa e espero que isso se reverta a favor do filme. Talvez, movidas pela curiosidade, as pessoas acabem encontrando um filme de arte e percebam que, dentro dele, as cenas de sexo são quase que detalhes. São momentos passageiros. E tem o sentido de mostrar o quão predador é o Aurélio e fragilizar um pouco o Sandro, personagem do Cauã.

Piedade, que chega aos cinemas em abril de 2020, conta com a participação de Fernanda Montenegro no elenco. “Foi muito bom reencontrar a Fernanda. A gente tinha feito uma novela junto e se reencontrou no cinema num momento super poético. Foi lindo, eu lembro muito desse dia, foi super especial. Fico feliz de participar da trajetória de uma carreira tão bonita como a dela”, disse Cauã.

Além de relembrar várias parcerias com a atriz, Matheus Nachtergaele também valorizou o momento mais engajado da diva do cinema nacional. “Estou muito orgulhoso da Fernanda, aos 90 anos, ter assumido o papel que assumiu na atual conjuntura política brasileira. Ela pegou toda sua carreira, sua experiência, o respeito que ela carrega, e se tornou uma porta-voz importante da classe artística, uma batalhadora dos direitos pelo teatro, pelo cinema e pela cultura no Brasil. Continua sendo uma das pessoas mais dedicadas ao trabalho que eu conheço”, revelou.

Falando sobre o atual momento do cinema e da cultura no Brasil, Matheus destacou a importância da arte e da poesia neste cenário:

Eu tenho certeza absoluta que, dentre todas as coisas do mundo natural, uma das mais bonitas é a arte e a poesia do ser humano. Não sou uma daquelas pessoas antropocêntricas que acha que nós, seres humanos, somos o centro do universo, mas tenho um grande encanto e espanto com o fato de uma espécie ter criado poesia. O que quero dizer é talvez eu ache isso a coisa mais bonita. Talvez seja até mais bonito que flor, que bebê, que bicho. Eu prezo a arte humana a este ponto. É das coisas mais preciosas da vida. E entre outras coisas, a arte amplia as possibilidades do que é ser humano, aumenta o tamanho dessa definição. O ser humano é maior quanto mais a arte humana se aprofunda. Agora, do ponto de vista da história humana, que é recente na Terra, temos milhares de “vai e vens”. Momentos de mais libertação, momentos de retrocesso nas liberdades conquistadas. Acho que estamos vivendo talvez uma última grande golfada do capitalismo. Tenho quase certeza que o ser humano vai mudar de prumo em breve. Só que esse em breve pode demorar. Talvez a gente tenha que esgotar os recursos antes de cair a ficha total do que a gente deve fazer como espécie para ser mais feliz. Em momentos de retrocesso como este, acho que a beleza da arte fica mais visível, mais pontual, mais forte. É quanto, apesar de toda caretice, de toda violência, de todo racismo, de todo machismo… é quando algo do ser humano ainda consegue vibrar bonito. A arte torna suportável a vida na Terra. Nos dias de hoje, se não fossem os momentos de arte, eu não suportaria viver.” 

Depois disso, não há mais nada a se dizer.

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