Em Hollywood, talvez tão interessantes quanto os filmes que todos nós amamos, sejam os projetos que nunca foram produzidos, mas que chegaram muito perto disso. Nesse quesito, o mais famoso de todos é sem dúvida o filme de ‘Superman’ dos anos 90, que chegou a começar a sua pré-produção, seria dirigido por Tim Burton e estrelado por Nicolas Cage.
Esse longa não-produzido se tornou uma das maiores lendas urbanas de Hollywood. Mas a maior indústria de cinema do mundo possui muitas como essas. E quase tão grande quanto ela foi a versão nunca produzida de ‘Planeta dos Macacos’, estrelada por Arnold Schwarzenegger.
Aproveitando a estreia do mais recente filme da franquia ‘Planeta dos Macacos’, subtitulado ‘O Reinado’, resolvemos dar uma olhada nessa obra perdida. ‘Planeta dos Macacos’ é um grande clássico da aventura e ficção científica, e um verdadeiro marco do cinema entretenimento antes do surgimento dos blockbusters.
Lançado em 1968, o sucesso foi enorme, e o estúdio Fox não perdeu tempo em capitalizar até não poder mais em cima da marca. Nos anos 70, o estúdio tiraria até a última moeda do título, até o público dizer chega. Foram produzidas quatro continuações do filme original, de 1970 a 1973. Em 1974 foi a vez de uma série de TV, e em 1975 um desenho animado.
Assim, os macacos descansariam por toda a década de 80, dando espaço para outros títulos atemporais. Com a chegada dos anos 90, a Fox viu a oportunidade de tirar a marca da gaveta e ficou muito perto de produzir um novo filme, que seria estrelado por Arnold Schwarzenegger, com direção de Oliver Stone. O então presidente da 20th Century Fox, Peter Chenin teria inclusive dito que o roteiro para o filme foi um dos melhores que ele já leu. Exagero?
Antes disso, no entanto, a Fox já tentava tirar outras ideias para um novo ‘Planeta dos Macacos’ do papel. Uma delas era o roteiro escrito por Adam Rifkin. Com o título ‘Return to the Planet of the Apes’, o filme seria uma continuação direta do original, ignorando todas as sequências. A trama se passaria na versão do Império Romano dos macacos, em uma aventura medieval de espada e sandália, no clima de ‘Gladiador’. O protagonista seria um descendente do personagem de Charlton Heston do original.
O projeto não receberia a luz verde. O próximo da lista foi nenhum outro senão Peter Jackson, que bolou a ideia de uma versão da Renascença dos macacos, com o governo totalitário questionando os novos pensamentos. Essa versão veria o retorno de Roddy McDowall como um macaco velho e sábio, e teria um personagem híbrido de humanos e macacos que estaria no centro da trama. O roteiro controverso também não veria a luz do dia.
Finalmente o estúdio chegaria bem perto de tirar um roteiro do papel. Isso aconteceu com a entrada do vencedor do Oscar Oliver Stone. Cineasta responsável por filmes sérios e políticos, como ‘Platoon’, ‘JKF’, ‘Nascido em 4 de Julho’ e ‘Snowden’, Stone também ficou conhecido em seu início de carreira em Hollywood como o roteirista de obras mais pop como ‘Conan – O Bárbaro’ e ‘Scarface’. A ideia do diretor não era uma continuação, mas sim uma reformulação (reboot) da franquia.
E foi nesse período, com Oliver Stone atrelado ao roteiro e direção de um novo ‘Planeta dos Macacos’ que Arnold Schwarzenegger, o maior astro de ação dos anos 90, também embarcou no projeto, e iria estrelar o longa. A trama proposta por Stone, no entanto, seria uma das mais fora da caixinha para um filme da franquia. A ideia de Stone começaria bem similar ao filme ‘Filhos da Esperança’ (2006), com uma cientista (que seria a protagonista feminina) descobrindo uma verdade assustadora sobre a raça humana: ela perderia sua capacidade de se reproduzir. Isso porque todos os bebês nas barrigas de suas mães passariam pelo ciclo completo da vida ainda no ventre, nascendo velhos e mortos.
Entra em cena o personagem de Schwarzenegger, que se chamaria Will Robinson. Ele seria um assistente de laboratório em uma universidade, que é secretamente um gênio. Ele descobre que essa nova condição da raça humana não é uma doença ou um vírus, mas sim algo que foi colocado geneticamente no DNA dos humanos há 100 mil anos, como uma bomba relógio. A única forma de impedir, seria voltando no tempo para a época em que a experiência foi feita. O personagem de Arnold seria na verdade o Dr. Robert Plant, um cientista brilhante, mas caído em desgraça. O cientista descobriu uma forma de voltar no tempo, não com uma máquina, mas usando o próprio DNA humano como um mapa, uma viagem interiorizada, de certa forma similar ao filme ‘Em Algum Lugar do Passado’. Ao testar o conceito, alguns de seus colegas morreram, incluindo sua própria esposa.
Eventualmente, o protagonista testa o experimento em si mesmo e consegue enfim voltar no tempo para a pré-história – prontamente sendo atacado e capturado por macacos humanoides, junto com versões primitivas de seres humanos (assim como no filme clássico). No local também teríamos reedições da dinâmica do filme clássico, com um macaco vilão que comanda o exército, e macacos cientistas – uma cientista fêmea desenvolve um interesse especial pelo protagonista.
Uma das curiosidades mais interessantes em relação a este projeto é a inclusão de inúmeras referências ao clássico literário absoluto, ‘Senhor dos Anéis’, que na época ainda não havia sido transformado em um filme. Assim, nessa versão de ‘Planeta dos Macacos’ teríamos personagens importantes para a história como o líder dos humanos primitivos e um macaco renegado chamados Aragorn e “Passo Largo” (Strider).
Para evitar que os humanos procriem e continuem dando trabalho, os macacos desenvolvem uma fórmula e resolvem aplicar no DNA deles. A batalha final entre humanos, liderados pelo personagem de Schwarzenegger, e macacos se daria pelo futuro da raça humana – já que esse experimento seria o responsável por desencadear o cataclisma a 100 mil anos no futuro que poderia acabar com a humanidade. Nessa batalha final repleta de ação, o clímax teria Arnold usando um “robô-empilhadeira” muito parecido com o de ‘Aliens – O Resgate’ (1986) para enfrentar os macacos guerreiros, partindo muitos ao meio com as garras da máquina (sim, essa seria uma versão violenta). Assim como a Ripley de Sigourney Weaver, nesse momento o protagonista diria a frase de efeito do clássico: “tire suas mãos dela seu macaco imundo” – ao proteger uma menina humana primitiva.
O filme terminaria com a destruição da cidade dos macacos. Assim como no original, Arnold ficaria preso no passado, porque nunca havia criado uma forma de retornar ao tempo presente. O que ele faz a seguir é recriar uma réplica da cabeça da estátua da liberdade para nunca esquecer de onde veio (mais uma referência ao desfecho do clássico). Nessa versão, os efeitos práticos e a maquiagem dos macacos seriam criados pelo saudoso Stan Winston e sua equipe.
No fim das contas, depois de muitas mudanças e medição de força entre os realizadores e os produtores da 20th Century Fox, o diretor Oliver Stone viria a desistir do projeto. Isso em grande parte se deu porque os executivos da Fox queriam um filme mais leve, com cenas de humor para apelar a um público mais novo. Dentre as exigências, os executivos queriam incluir uma cena em que os macacos aprendem a jogar baseball com Schwarzenegger. Oliver Stone então deixou a produção, sendo substituído por Phillip Noyce, que eventualmente também deixaria o projeto e partiria para dirigir ‘O Santo’ (1997), com Val Kilmer e Elisabeth Shue.
Arnold Schwarzenegger seria o último a abandonar o barco, mas igualmente deixaria o projeto um tempo depois. Assim, a produção se tornaria o filme que realmente ganhamos em 2001, com Tim Burton no comando. Um filme que exibe um clima mais sombrio e voltado para a ação, sem muito alívio cômico como geralmente estamos acostumados a ver nos filmes de Burton. ‘Planeta dos Macacos’ se tornou uma das maiores promessas de blockbusters em 2001, provavelmente o filme de maior expectativa naquele ano, e uma das produções mais caras.
Mistura de remake e reboot, era planejado que ele revitalizasse a franquia. Porém, mesmo obtendo certo sucesso na época, as críticas não foram as mais positivas, e hoje o longa é considerado um fracasso. Quem viria a conseguir realmente revitalizar a saga dos primatas seria Rupert Wyatt dez anos depois com ‘Planeta dos Macacos – A Origem’. Depois o diretor passaria a bola para Matt Reeves seguir com o segundo e o terceiro filme dessa trilogia (‘O Confronto’ e ‘A Guerra’). Agora, com comando de Wes Ball termos um quarto capítulo nessa mesma saga após o reboot.