Presidido por Damien Chazelle (Babilônia), o júri da 80ª edição do Festival de Cinema de Veneza condecorou Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos, neste sábado, 9 de setembro, durante a cerimônia de encerramento. Marcado pela greve em Hollywood e o convite de controversos cineastas, o evento também premiou três filmes centrados em dramas relacionados à crise dos migrantes na Europa.
Leão de Ouro 2023
Após grandes participações em festivais com seus filmes chocantes e originais, o cineasta grego Yorgos Lanthimos recebeu, enfim, o reconhecimento das suas obras tão peculiares. Aclamado por Dente Canino (2009), O Lagosta (2015) e A Favorita (2018), o diretor grego apresentou em Veneza, uma espécie de Frankenstein feminino, fantástico e barroco, em grande parte em preto e branco, com uma mensagem sobre como os padrões pesam sobre as mulheres.
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Estrela e produtora do longa, Emma Stone interpreta uma criatura sincera em passagem por sua educação sentimental e sexual. Por conta da greve em Hollywood, a atriz não compareceu ao evento, mas esteve presente no discurso de agradecimento do diretor, o qual afirmou a impossibilidade do projeto sem a “criatura incrível” Emma Stone para viver a protagonista Bella Baxter.
Por conta da greve, Pobres Criaturas previsto para chegar aos cinemas brasileiros este ano foi adiado para 1° fevereiro de 2024.
Migração é tema de títulos premiados
Com um governo de extrema direita na presidência italiana, o júri levantou a bandeira de uma das principais crises políticas do século XXI na Europa e premiou filmes que denunciam o destino reservado aos migrantes no continente.
A começar pelo prêmio especial do jùri para Fronteira Verde (Green Border), da proeminente diretora polaca Agnieszka Holland. O filme mostra a trágica sina dos migrantes da Síria, Afeganistão e África, enviados entre a Polónia e a Bielorrússia em 2021, prisioneiros de um jogo diplomático fora de seu controle.
O estreante senegalês Seydou Sarr recebeu o prêmio de Artista Mais Promissor por seu papel como um jovem migrante que atravessa a África e o Mediterrâneo arriscando a vida para chegar à Itália, em Eu, Capitão (Io Capitano), de Matteo Garrone.
O longa também conquistou o Leão de Prata de melhor direção para o cineasta italiano. Em seu discurso de agradecimento, Matteo Garrone declarou: “através deste filme tentei dar voz a quem normalmente não a tem”.
Dois estadunidenses melhores intérpretes
Aos 25 anos, em seu primeiro papel de destaque, Cailee Spaeny recebeu o troféu Copa Volpi de melhor performance feminina como a esposa do rei do rock, Priscilla Presley, na cinebiografia Priscilla, de Sofia Coppola. Já do lado masculino, Peter Sarsgaard, contracenando com Jessica Chastain, conquistou o jùri na pele de Saul, um homem que sofre de demência, no longa Memória (Memory), do mexicano Michel Franco (Depois de Lúcia).
Embora muitas estrelas de Hollywood não pudessem viajar a Veneza durante a greve, ambos os vencedores subiram ao palco para receber seus troféus. Peter Sarsgaard manifestou o seu apoio à greve e atacou o uso da inteligência artificial em trabalhos artísticos e profetizou um futuro sombrio:
“Se perdermos esta batalha, a nossa indústria será apenas a primeira de muitas a cair, a medicina ou a condução da guerra poderiam, por sua vez, ser confiadas à inteligência artificial, que abre caminho às atrocidades”, alertou o ator de 52 anos.
Movimentos Políticos no Festival
Apesar da presença de Adam Driver e Jessica Chastain, por exemplo, o festival sentiu a pressão — em discursos e ausências — do impasse entre os artistas e os grandes estúdios dos Estados Unidos. Os discursos feministas também se apresentarem contra as homenagens concedidas pelo festival a artistas visados pelo movimento #MeToo, que denuncia a violência sexista e sexual contra as mulheres na indústria.
Em competição com Dogman, Luc Besson lida com acusações de estupro na Bélgica e o processo de julgamento foi adiado pela justiça este ano. Já Woody Allen, excluído da indústria cinematográfica americana e não processado, apresentou seu 50º filme, Golpe de Sorte, o primeiro rodado em francês, fora de competição.
O caso mais polêmico é a presença novamente de Roman Polanski — ele esteve na seleção em 2019 —, com O Palácio, também fora de competição. O cineata franco-polaco foge da justiça americana há mais de 40 anos após uma condenação por relações sexuais com uma menor e, por isso, ele não comparece a prêmios e festivais.
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Ganhadores da 80° Festival de Cinema de Veneza
Leão de Ouro: Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
Leão de Prata Grande Prêmio do Júri: O Mal Não Existe (Evil Does Not Exist), de Ryûsuke Hamaguchi
Leão de Prata de Melhor Direção: Matteo Garrone, por Eu, Capitão
Prêmio de Melhor Cenário: Pablo Larraín e Guillermo Calderón, por El Conde
Copa Volpi Melhor Interpretação Feminina: Cailee Spaeny, por Priscilla
Copa Volpi Melhor Interpretação Masculina: Peter Sarsgaard, por Memória
Prêmio Marcello Mastroianni de Artista mais promissor: Seydou Sarr, por El Conde
Prêmio Especial do Júri: Fronteira Verde, de Agnieszka Holland