Som da Liberdade (Sound of Freedom) já está em exibição nos cinemas nacionais e é considerado o filme mais polêmico do ano, inclusive é descrito assim no cartaz e material promocional divulgado pela distribuidora Paris Filmes.
Por que é o filme mais POLÊMICO do ano?
Silenciosamente e com o apoio de um financiamento coletivo, Som da Liberdade (Sound of Freedom) chegou a 2.852 salas de cinema dos Estados Unidos em meio ao quente verão do hemisfério norte. Disputando a atenção do público ao lado de blockbusters como Flash e Indiana Jones, o longa trazia à luz do projetor um dos assuntos mais controversos e evitados por Hollywood: O tráfico sexual de crianças.
Faturando mais de US$19 milhões em seu fim de semana de abertura, desbancando Indiana Jones e o Chamado do Destino da liderança no feriado de quatro de julho, o longa se tornou um sucesso instantâneo, mesmo sem qualquer investimento de marketing. Com um orçamento de US$14 milhões e pronto desde 2018, Sound of Freedom (dirigido por Alejandro Monteverde) pelejou para chegar às telonas e hoje colhe os frutos de seu trabalho, surpreendendo e encantando a muitos, enquanto indigna tantos outros.
E após décadas operando distante dos holofotes da grande mídia, o ex-agente da CIA e de Homeland, Tim Ballard, se tornou um dos assuntos mais comentados dentro e fora de seu país, com uma de suas missões de resgate sendo o foco da trama, que traz Jim Caviezel (A Paixão de Cristo) como o protagonista.
No Brasil, o filme também estreou nesta quinta-feira em primeiro lugar nas bilheterias:
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Mas porque o filme foi engavetado?
Originalmente, a 20th Century Fox seria a responsável pela distribuição do longa, que tinha lançamento pré-agendado para 2019, mesmo ano em que a Disney Company posteriormente oficializaria a aquisição da empresa.
Com a compra do estúdio, os executivos da Casa do Mickey decidiram avaliar todos os projetos já engatilhados, finalizados e com lançamentos programados, a fim de filtrar quais produções seriam viáveis para chegar ao público. Nesse processo, Sound of Freedom e outros longas foram descartados. Especula-se que a delicada temática de tráfico de crianças tenha afugentado a Disney, que não queria ter seu nome associado ao assunto.
Sem o apoio da Disney, os produtores foram atrás de outros estúdios. Após anos de rejeição, a pequena produtora Angel Studios decide comprar os direitos de distribuição em 2023, realizando um crowdfunding para arcar com os custos de lançamento. Com a ajuda de sete mil apoiadores, a empresa conseguiu levantar US$ 5 milhões.
Mas e aí, quem é Tim Ballard?
Formado em Política Internacional e fluente em espanhol, Ballard iniciou sua carreira como agente federal na tragédia do 11 de Setembro, no Centro de Operações da CIA, período em que também estudou terrorismo e armas de destruição em massa. Ele atuou como agente especial e infiltrado no Department of Homeland Security (Departamento de Segurança Nacional) operando na fronteira, rastreando traficantes de crianças e pessoas que exploravam menores de idade através da produção de material pornográfico.
Em 2006, com algumas mudanças na lei dos Estados Unidos, os agentes foram autorizados a cruzar as fronteiras para resgatar crianças que estavam sendo vítimas de abusadores americanos, ainda que os crimes não acontecessem em território nacional. Isso permitiu que Tim realizasse operações de resgate in loco, ajudando a combater o tráfico sexual de menores em uma escala mais ampla e eficaz. Anos depois, ele deixaria o serviço secreto para expandir seu trabalho em uma escala global.
E em uma entrevista recente ao psicólogo Jordan Peterson, Ballard revelou como se deu sua saída de Homeland e o que o motivou a expandir seu trabalho contra o tráfico sexual de crianças:
“Eu estava ficando atormentado, porque se eu não conseguisse achar alguma conexão com os Estados Unidos, se o caso não envolvesse uma criança americana ou um pedófilo americano, eu teria que voltar para casa. Mas a questão é que eu já havia sido exposto àquelas crianças, já havia sido exposto ao problema e isso sempre me deixava em conflito. E então, em 2012, eu me cansei de um caso específico e acabei indo mais longe do que deveria. […] Foi aí que tive uma conversa drástica com a minha esposa e disse: ‘se eu ficar aqui e completar essa operação, com ou sem meu distintivo – isso já não importava naquele momento -, eu vou conseguir fazer o trabalho e salvar crianças. Mas eu perderei meu emprego e temos seis filhos’. Isso foi um dilema moral que jamais vivi na vida”.
Com o apoio de sua esposa, Tim deixou o Departamento de Segurança Nacional e criou a Operation Underground Railroad, que trabalha em parceria com autoridades locais e realiza operações de resgate ao redor do mundo. Desde sua fundação, mais de 4.000 missões foram realizadas, resultando em mais de 6.500 prisões e 6.000 pessoas resgatadas.
Tim conspiracionista e as teorias
Ao falar abertamente sobre a existência de uma extensa rede de tráfico sexual infantil, Tim Ballard foi rapidamente taxado como conspiracionista, sob alegações de que embora o crime exista, ele não teria uma dimensão tão grande. Sem qualquer tipo de comprovação e escorada em suposições políticas preguiçosas e porcamente checadas, as acusações não provadas tentam desmerecer o trabalho do ex-agente, à medida em que busca descredibilizar o longa. Para rebater as alegações, ele afirma que sua equipe registra todas as operações de resgate em vídeo. As missões também são abertas para jornalistas que queiram acompanhar de perto e fazer coberturas completas dos casos, segundo o próprio Ballard.
Nesta última segunda (18), uma reportagem da Vice detalhou alegações anônimas contra Ballard relacionadas à sua saída silenciosa no final de junho da O.U.R. (Operation Underground Railroad), organização que fundou para resgatar crianças vítimas de tráfico sexual.
Sua saída ocorreu enquanto o diretor Alejandro Monteverde e a Angel Studios preparam o longa para lançamento no feriado de 04 de julho.
Ballard, ex-funcionário do Departamento de Segurança Interna dos EUA, embarcou em missões secretas no exterior para combater o tráfico de crianças ao iniciar a O.U.R. De acordo com o site, ele trouxe mulheres para se passarem por suas esposas nessas missões e supostamente as coagiu a dividir a cama ou o chuveiro com ele, sob o pretexto de que esses comportamentos eram necessários para enganar os traficantes de crianças.
A Vice também relatou que um funcionário da organização que viajou com Ballard em uma missão no exterior entrou com uma ação de assédio sexual contra ele.
Nesta terça-feira (19), após a publicação do artigo, Ballard negou as acusações:
“Tal como acontece com todos os ataques ao meu caráter e integridade ao longo de muitos anos, as últimas alegações sexuais promovidas pelos tabloides são falsas”, ele afirmou. “São invenções infundadas destinadas a me destruir e destruir o movimento que construímos para acabar com o tráfico e a exploração de crianças vulneráveis. Durante meu tempo na O.U.R., desenvolvi diretrizes rígidas para mim e para nossos operadores em campo. O contato sexual era proibido e eu liderei pelo exemplo. Dada a nossa atenção meticulosa a esta questão, qualquer sugestão de contato sexual inapropriado é categoricamente falsa”.
Até agora, Monteverde e a equipe criativa por trás do filme não se manifestaram.
Mas a pergunta que não quer calar: Seria Tim um adepto da teoria extremista QAnon?
Segundo o Wikipedia, “a teoria alega haver uma cabala secreta, formada por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais, que dirige uma rede global de tráfico sexual infantil e que esteve conspirando contra o ex-presidente Donald Trump e os seus apoiadores, durante o seu mandato. A conspiração teria sido engendrada com base num plano secreto do denominado Estado Profundo”. Supostamente, os membros da QAnon seriam adeptos ao consumo do sangue de crianças, como uma fonte da juventude.
Ao ser questionado a respeito do assunto pelo psicólogo Jordan Peterson, Ballard foi categórico ao negar qualquer envolvimento:
“Há anos nós temos condenado a maioria do que vemos ser teorias da conspiração. Eles gostam de me vincular ao movimento QAnon. Talvez haja alguma verdade lá, mas há muitas mentiras em cima disso. Então o nosso ‘perguntas frequentes’ refutam isso imediatamente, pois é uma tentativa de descreditar o movimento. Eu vou ainda mais longe e acho que algumas pessoas não querem que isso [tráfico sexual infantil] seja de conhecimento público e são responsáveis por algumas das teorias da conspiração para descreditar o movimento. E eles vão longe demais”.
Ao ser abordado sobre a famigerada teoria de que celebridades bebem sangue de crianças como fonte da juventude, Tim desmistificou o assunto e condenou a conexão ao grupo QAnon:
“Existe algo chamado adrenochrome, em que eles tomam sangue de crianças. Eu já expliquei minha experiência com isso no oeste da África e vimos isso em diversas partes do continente africano e é bem real. Nessa doutrina bruxa, eles sequestram essas crianças, tiram seus órgãos, seu sangue e o bebem. Eles tiram as genitálias das crianças e penduram no topo de seus comércios, achando que os deuses das sombras os abençoarão. Essas coisas são reais. Mas quando digo isso, eles conectam a algo que alguém do QAnon falou a respeito de alguma celebridade estar fazendo isso também, mas não há evidência para atestar isso. Eles fazem uma falsa conexão conosco”.
Sucesso de bilheteria…com números inflados?
O estrondoso sucesso de Sound of Freedom se tornou alvo das mais diversas especulações, com alegações de que os números de bilheteria seriam inflados.
Mas de acordo com o Box Office Mojo, O thriller criminal ultrapassou a marca de US$ 124 milhões apenas no mercado doméstico, em apenas 20 dias e duas semanas de exibição nos cinemas americanos. A conquista se torna ainda mais grandiosa, ao considerarmos que o filme está disponível em apenas 3.285 salas.
Um dos aspectos que, certamente, também ajudou a impulsionar a ida do público aos cinemas é a mensagem especial deixada por Jim Caviezel, como uma espécie de cena pós-créditos. No vídeo, o ator e intérprete de Tim Ballard convida a audiência a propagar o filme para mais pessoas, afirmando que as crianças da história são os verdadeiros herois e que o elenco e a equipe de apoio acreditavam tanto no filme, que eles enfrentaram diversas barreiras para chegar aos cinemas.
Ao final do vídeo, Caviezel pediu aos espectadores que pegassem seus celulares e acessassem o site na tela para comprar ingressos para outras pessoas, afirmando que as restrições financeiras não deveriam limitar as pessoas de assistirem ao filme. Essa tática de marketing altamente arriscada, em combinação com diversas aparições de Jim e Tim, fizeram efeito: depois de quase três semanas nos cinemas, Sound of Freedom se tornou o primeiro filme independente a ultrapassar a marca de US$ 100 milhões nas bilheterias na era pós-pandemia, de acordo com a revista Variety.
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