domingo , 22 dezembro , 2024

Primeiras Impressões | Euphoria: Zendaya em um relato cru sobre a geração millennial

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Como em uma espécie de filme de terror da vida real, a puberdade é – obviamente – o hiato mais longo e doloroso da vida de alguém. Sob as pressões equivocadas de outros adolescentes, crescemos diante dos desconfortáveis olhares juvenis, das suposições de como deveríamos nos comportar entre amigos e dos hormônios…ah, os terríveis hormônios. Vozes mudam, os corpos se delineiam e de repente é como se um casulo se rompesse, nos projetando para fora do aconchego da inocência. Isso até os anos 90 e início dos anos 2000.



Diante de lentes que cabem na palma das mãos e uma imensidão de verdades, mentiras e hipóteses geradas na internet, crescer se tornou no mínimo…quase insustentável. E sobreviver a essa fase com uma certa sanidade é tão complexo como compreender Bhaskara, sabendo que pouco ou quase nunca ela será usada na sua vida. E Euphoria chega dilacerada e agressiva, expondo sem pudor como o simples crescer se tornou algo muito mais complexo e traumático. Preenchendo um vazio deixado por Skins, a série original da HBO traz de maneira crua e nua um relato doloroso sobre o quão vulnerável os millennials estão, diante desse universo impalpável e inesgotável que a internet trouxe para a adolescência.

Kids já apresentava isso muito bem. Em meio aos ano 90, um grupo de adolescentes se descobre da forma mais abusiva e doentia possível, contaminando suas almas, corpos e problematizando o resto de suas vidas. E assim já era difícil, em um tempo de calças saruel inspiradas em MC Hammer, calças cargo da TLC e Salt-N-Pepa e do bum da street music e do ghetto style – em uma época sem a explosão da telefonia móvel. Duas décadas depois, os nudes “são uma forma de demonstração de amor”, vide uma reflexão de Rue – personagem vivida por Zendaya, e tudo é registrado em imagens, que viajam em uma velocidade astronômica, corrompendo a inocência de adolescentes, em meio ao julgamento cruel e instantâneo de suas escolhas ruins.

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E Euphoria parece caminhar justamente em direção à essência dessa nova geração, que transita entre a confusão hormonal, natural da idade, e uma série de complexos sociais impostos, desde o seio familiar ao âmbito escolar. Salientando que estamos diante de uma fase ainda mais frágil e doentia, a produção original da HBO trata sobre o fácil acesso à drogas e álcool, com pré-adolescentes se tornando pequenos traficantes para sustentar sua família, passando pela quase gourmetização desses vícios, diante de jovens arrogantes de classe média que – supostamente – deveriam ser menos suscetíveis a esse tipo de comportamento. Mas imersos em realidades familiares pouco saudáveis e ausentes, o grupo de protagonistas liderado por Zendaya se expõe à uma vida sexual ativa precoce, queima etapas importantes da adolescência e começa a cavar um futuro sombrio e obscuro.

Para garantir toda a autenticidade dessa narrativa, Sam Levinson adapta a produção israelense homônima (de Ron Leshem, Daphna Levin e Tmira Yarden) com qualidade fílmica de primeira. Abordando uma fotografia que explora as sombras e a luz baixa, ele de cara transmite o submundo millennial sob luzes vermelhas e arroxeadas das baladas, em maquiagens extravagantes que vulgarizam a beleza (ainda) inocente das meninas, capturando direcionadamente as sensações e percepções de Rue. E sob sua narração, nos imergimos na série de maneira intimista, como um público onisciente que percorre os pensamentos da protagonista, sente suas emoções e sabe exatamente o que ela está prestes a dizer. Ousada, a escolha desse tipo de narrador é desconfortável, por nos trazer perto demais daquilo que nossos olhos gostariam de desviar.

Profunda e violenta, Euphoria é polêmica – como esperado. Sem colocar uma colher de açúcar no universo juvenil atual, ela até poderia beirar o grotesco, por trazer cenas de sexo gráficas e por mostrar de maneira didática os reflexos das drogas. Mas, de fato, ela é necessária. Sua perspectiva é o que pode nos fazer levar mais a sério alguns comportamentos chamados de teen drama. Trazendo elementos de Réquiem Para um Sonho e Trainspotting para uma geração jovem demais para saber que obras são essas, Euphoria é puramente reflexiva, assustadora e vai deixar a audiência mais atenta para esse grito de socorro ensurdecedor que os millennials não se cansam de externar, mas que ainda parece ser ignorado pelos adultos.

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Como em uma espécie de filme de terror da vida real, a puberdade é – obviamente – o hiato mais longo e doloroso da vida de alguém. Sob as pressões equivocadas de outros adolescentes, crescemos diante dos desconfortáveis olhares juvenis, das suposições de como deveríamos nos comportar entre amigos e dos hormônios…ah, os terríveis hormônios. Vozes mudam, os corpos se delineiam e de repente é como se um casulo se rompesse, nos projetando para fora do aconchego da inocência. Isso até os anos 90 e início dos anos 2000.

Diante de lentes que cabem na palma das mãos e uma imensidão de verdades, mentiras e hipóteses geradas na internet, crescer se tornou no mínimo…quase insustentável. E sobreviver a essa fase com uma certa sanidade é tão complexo como compreender Bhaskara, sabendo que pouco ou quase nunca ela será usada na sua vida. E Euphoria chega dilacerada e agressiva, expondo sem pudor como o simples crescer se tornou algo muito mais complexo e traumático. Preenchendo um vazio deixado por Skins, a série original da HBO traz de maneira crua e nua um relato doloroso sobre o quão vulnerável os millennials estão, diante desse universo impalpável e inesgotável que a internet trouxe para a adolescência.

Kids já apresentava isso muito bem. Em meio aos ano 90, um grupo de adolescentes se descobre da forma mais abusiva e doentia possível, contaminando suas almas, corpos e problematizando o resto de suas vidas. E assim já era difícil, em um tempo de calças saruel inspiradas em MC Hammer, calças cargo da TLC e Salt-N-Pepa e do bum da street music e do ghetto style – em uma época sem a explosão da telefonia móvel. Duas décadas depois, os nudes “são uma forma de demonstração de amor”, vide uma reflexão de Rue – personagem vivida por Zendaya, e tudo é registrado em imagens, que viajam em uma velocidade astronômica, corrompendo a inocência de adolescentes, em meio ao julgamento cruel e instantâneo de suas escolhas ruins.

E Euphoria parece caminhar justamente em direção à essência dessa nova geração, que transita entre a confusão hormonal, natural da idade, e uma série de complexos sociais impostos, desde o seio familiar ao âmbito escolar. Salientando que estamos diante de uma fase ainda mais frágil e doentia, a produção original da HBO trata sobre o fácil acesso à drogas e álcool, com pré-adolescentes se tornando pequenos traficantes para sustentar sua família, passando pela quase gourmetização desses vícios, diante de jovens arrogantes de classe média que – supostamente – deveriam ser menos suscetíveis a esse tipo de comportamento. Mas imersos em realidades familiares pouco saudáveis e ausentes, o grupo de protagonistas liderado por Zendaya se expõe à uma vida sexual ativa precoce, queima etapas importantes da adolescência e começa a cavar um futuro sombrio e obscuro.

Para garantir toda a autenticidade dessa narrativa, Sam Levinson adapta a produção israelense homônima (de Ron Leshem, Daphna Levin e Tmira Yarden) com qualidade fílmica de primeira. Abordando uma fotografia que explora as sombras e a luz baixa, ele de cara transmite o submundo millennial sob luzes vermelhas e arroxeadas das baladas, em maquiagens extravagantes que vulgarizam a beleza (ainda) inocente das meninas, capturando direcionadamente as sensações e percepções de Rue. E sob sua narração, nos imergimos na série de maneira intimista, como um público onisciente que percorre os pensamentos da protagonista, sente suas emoções e sabe exatamente o que ela está prestes a dizer. Ousada, a escolha desse tipo de narrador é desconfortável, por nos trazer perto demais daquilo que nossos olhos gostariam de desviar.

Profunda e violenta, Euphoria é polêmica – como esperado. Sem colocar uma colher de açúcar no universo juvenil atual, ela até poderia beirar o grotesco, por trazer cenas de sexo gráficas e por mostrar de maneira didática os reflexos das drogas. Mas, de fato, ela é necessária. Sua perspectiva é o que pode nos fazer levar mais a sério alguns comportamentos chamados de teen drama. Trazendo elementos de Réquiem Para um Sonho e Trainspotting para uma geração jovem demais para saber que obras são essas, Euphoria é puramente reflexiva, assustadora e vai deixar a audiência mais atenta para esse grito de socorro ensurdecedor que os millennials não se cansam de externar, mas que ainda parece ser ignorado pelos adultos.

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