Muitos historiadores dividem o novo milênio em dois momentos: antes e depois dos atentados às Torres Gêmeas, em 2001. Embora possa parecer exagero para as novas gerações, fato é que quem tem mais de quarenta anos tem memórias nítidas de como o mundo mudou a partir dos atentados – ou melhor, de como os Estados Unidos mudaram com relação ao mundo e, consequentemente, obrigou o mundo a mudar. Não que antes não houvesse interesses e ruídos entre esse país e os países de cultura árabe, mas o que ocorreu em 11 de setembro daquele ano foi crucial para uma postura abertamente violenta contra os países árabes, e segue até os dias de hoje. Reflexos desse pensamento também respingam para a cinematografia, como pode ser visto em ‘O Véu’, nova minissérie de espionagem e conspiração cujos primeiros episódios acabam de chegar na plataforma da Starplus.
Imogen Salter (Elizabeth Moss, de ‘The Handmaid’s Tale’) é uma agente infiltrada da Interpol que realiza missões perigosíssimas desmascarando as pessoas mais procuradas do planeta. É o tipo de agente que topa realizar o serviço que ninguém mais quer. Enquanto viaja o mundo desmascarando os malvadões, ela confia no direcionamento dado por Malik (Dali Benssalah, de ‘007: Sem Tempo Para Morrer’), que fica na base, na Europa, enviando informações a ela e com quem tivera um relacionamento no passado. Tudo ia relativamente bem até Imogen fazer um desvio de rota para a Síria, com a intenção de resgatar Adilah (Yumma Marwan, da série ‘Little Birds’), supostamente uma importante integrante de um perigoso grupo terrorista árabe. Contrariando as regras, Imogen resgata Adilah de um campo para refugiados da ONU e atravessa a Turquia em direção à Paris com ela, mas, no caminho, acaba criando confiança com Adilah, e agora as duas não sabem mais em quem confiar, principalmente depois da chegada do agente estadunidense Max (Josh Charles, de ‘Instinto Materno’), que tira todo mundo do comando e diz que agora está tudo sob o controle dos Estados Unidos.
Com apenas dois episódios disponibilizados na plataforma dos seis que supostamente serão, a minissérie ‘O Véu’ chega com uma história complexa demais e entediante demais para prender a atenção do espectador. Soma-se a isso no roteiro de Steven Knight personagens que beiram a soberba, seja o agente Max com sua postura “Estados Unidos acima de todos”, seja mesmo a protagonista Imogen, com sua atitude de “branca salvadora” dentro de um contexto em que qualquer um com traços árabes é o vilão.
Dirigido por Damon Thomas e Daina Reid, ‘O Véu’ se destaca pela escolha de locações, com impressionantes paisagens da Turquia no inverno, coberta de neve. Mas ambos os diretores não conseguiram dirigir o elenco de modo a imprimirem as angústias de seus personagens na trama; ao contrário, os atores parecem estar na superficialidade de suas atuações, com Elizabeth Moss construindo uma protagonista esquisitamente feliz e risonha para a profissão que tem.
Irregular e sonolenta, ‘O Véu’ era para ser uma minissérie interessante de investigação, intriga e conspiração internacional, mas acabou trazendo mais do mesmo daquilo que já vemos sendo divulgados pelos governos dos países bélicos. Ao menos são só seis episódios de uma hora cada.