domingo , 22 dezembro , 2024

Primeiras Impressões | The Act: Atriz de ‘A Barraca do Beijo’ se transforma em série biográfica

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Talvez para nós brasileiros, o nome Gypsy Rose signifique muito pouco ou quase nada. Longe do nosso radar, a história da jovem não nos alcançou como deveria. Ainda que bombástica e digna de uma série de TV, é mais provável que sua tragédia tenha se restringido aos fãs de documentários e que – particularmente – assistem àqueles desenvolvidos pela HBO. Antes de The Act, a emissora a cabo nos entregou Mamãe Morta e Querida (2017), uma produção original que reconta os abusos emocionais e físicos sofridos pela garota, submetida a uma vida inteira de medicamentos e tratamentos desnecessários, a fim de alimentar uma síndrome e comportamento doentios por parte de sua mãe, Dee Dee. Agora, a plataforma Hulu traz a sua versão dos fatos reais, estrelada por Patricia Arquette e Joey King. E enquanto aquela sustenta o seu Oscar com dignidade, esta abre os nossos olhos para uma nova percepção de seu talento.



É impressionante o quanto a escolha do elenco principal foi certeira. À medida King ingressa em uma nova etapa de sua atuação, se desafiando para além de A Barraca do Beijo ou qualquer outro filme seu, Arquette é a personificação monstruosa de uma mãe psico/sociopata. A combinação da dupla é impecável e revela uma dinâmica tão harmoniosa e sincrônica a ponto de nos levar a considerar uma relação realmente maternal. Promovendo um desconforto angustiante para a audiência, vê-las contracenando lado a lado é amedrontador, sufocante. Como alguém que já conhecia a história de Gypsy – e por sinal vira o documentário da HBO, é como se estivesse diante de um replay de um pesadelo. Um episódio piloto que parece não ter fim.

Rapidamente nos familiarizando com a trama, somos surpreendidos pelo que King e Arquette pretendem nos proporcionar diante das telas. A começar pela linguagem corporal, ambas estudaram cautelosamente os vídeos, entrevistas e tantos outros arquivos infindáveis sobre as duas. Sempre presentes em entrevistas e eventos de caridade, as protagonistas verdadeiras fizeram seus nomes rapidamente no cenário norte-americano. E talvez seja esse aspecto tão vinculado ao país que tenha filtrado o nosso conhecimento sobre o caso. Até parece mais-uma-daquelas-bizarras-histórias-americanas. Só que não é bem assim.

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Para os que desconhecem, Gypsy Rose foi falsamente diagnosticada com as mais diversas síndromes, câncer, problemas respiratórios, má formação e traumas. Ensinada desde pequena que não andava e que era dependente para absolutamente tudo, ela cresceu sob o radar de sua mãe, que monitora seus passos e a isola do mundo externo. Apresentando um quadro de saúde extremamente delicado, ela tirou proveito de iniciativas como a Make A Wish, usando sua filha como uma ferramenta para conseguir viagens, casa e vários benefícios. Crescendo sob um amor sufocante, a jovem parece subdesenvolvida, com um comportamento infantilizado e restrições para tudo. Sem saber a prisão em que vivia, ela é envolta em uma mentira que custou mais de 20 anos de sua vida, seu desenvolvimento e sua saúde. Até que ela decidiu matar a própria mãe.

Obviamente, aqui não tem nada de spoiler. A história de Gypsy está em todos os lugares, no Youtube, em blogs, fóruns de discussão e – claro – em um documentário. Aliviada pelo crime que cometeu, a própria vítima de abuso admite que prefere a prisão física àquela psicológica. Digladiando com o amor e ódio que acabou nutrindo por sua mãe, ela não teme falar o que aconteceu e – provavelmente – tenha recebido uma pena dura demais para o contexto em que viveu a vida inteira. E reunindo toda essa carga dramática real e sua complexidade inerente, The Act recria a história da jovem garota, na tentativa de saciar a curiosidade do público que acompanhou o fato, mas jamais viu tudo genuinamente de perto. E com facilidade, os criadores Nick Antosca e Michelle Dean conseguem o feito.

É claro que diante de apenas um episódio é difícil demais dizer o quão longe a produção original da Hulu pode chegar, mas seu potencial é surpreendente. Recriando os cômodos, a estética e os figurinos das personagens, a série faz um trabalho completo, entrega um design de produção feito com cuidado e personifica duas figuras com realismo, para não colocar defeito. Com um episódio introdutório que rapidamente mostra a que veio, a narrativa tem um ritmo dinâmico, evitando procrastinações e repetições. Sabendo que a audiência quer sangue (figurativa e literalmente), ela caminha rapidamente para isso – nos entregando alguns vislumbres em rápidos flashes. Bem dirigida, The Act pode até estar começando, engatinhando, mas assim como Gypsy Rose, ela vai andar mais rápido do que você imagina.

 

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Talvez para nós brasileiros, o nome Gypsy Rose signifique muito pouco ou quase nada. Longe do nosso radar, a história da jovem não nos alcançou como deveria. Ainda que bombástica e digna de uma série de TV, é mais provável que sua tragédia tenha se restringido aos fãs de documentários e que – particularmente – assistem àqueles desenvolvidos pela HBO. Antes de The Act, a emissora a cabo nos entregou Mamãe Morta e Querida (2017), uma produção original que reconta os abusos emocionais e físicos sofridos pela garota, submetida a uma vida inteira de medicamentos e tratamentos desnecessários, a fim de alimentar uma síndrome e comportamento doentios por parte de sua mãe, Dee Dee. Agora, a plataforma Hulu traz a sua versão dos fatos reais, estrelada por Patricia Arquette e Joey King. E enquanto aquela sustenta o seu Oscar com dignidade, esta abre os nossos olhos para uma nova percepção de seu talento.

É impressionante o quanto a escolha do elenco principal foi certeira. À medida King ingressa em uma nova etapa de sua atuação, se desafiando para além de A Barraca do Beijo ou qualquer outro filme seu, Arquette é a personificação monstruosa de uma mãe psico/sociopata. A combinação da dupla é impecável e revela uma dinâmica tão harmoniosa e sincrônica a ponto de nos levar a considerar uma relação realmente maternal. Promovendo um desconforto angustiante para a audiência, vê-las contracenando lado a lado é amedrontador, sufocante. Como alguém que já conhecia a história de Gypsy – e por sinal vira o documentário da HBO, é como se estivesse diante de um replay de um pesadelo. Um episódio piloto que parece não ter fim.

Rapidamente nos familiarizando com a trama, somos surpreendidos pelo que King e Arquette pretendem nos proporcionar diante das telas. A começar pela linguagem corporal, ambas estudaram cautelosamente os vídeos, entrevistas e tantos outros arquivos infindáveis sobre as duas. Sempre presentes em entrevistas e eventos de caridade, as protagonistas verdadeiras fizeram seus nomes rapidamente no cenário norte-americano. E talvez seja esse aspecto tão vinculado ao país que tenha filtrado o nosso conhecimento sobre o caso. Até parece mais-uma-daquelas-bizarras-histórias-americanas. Só que não é bem assim.

Para os que desconhecem, Gypsy Rose foi falsamente diagnosticada com as mais diversas síndromes, câncer, problemas respiratórios, má formação e traumas. Ensinada desde pequena que não andava e que era dependente para absolutamente tudo, ela cresceu sob o radar de sua mãe, que monitora seus passos e a isola do mundo externo. Apresentando um quadro de saúde extremamente delicado, ela tirou proveito de iniciativas como a Make A Wish, usando sua filha como uma ferramenta para conseguir viagens, casa e vários benefícios. Crescendo sob um amor sufocante, a jovem parece subdesenvolvida, com um comportamento infantilizado e restrições para tudo. Sem saber a prisão em que vivia, ela é envolta em uma mentira que custou mais de 20 anos de sua vida, seu desenvolvimento e sua saúde. Até que ela decidiu matar a própria mãe.

Obviamente, aqui não tem nada de spoiler. A história de Gypsy está em todos os lugares, no Youtube, em blogs, fóruns de discussão e – claro – em um documentário. Aliviada pelo crime que cometeu, a própria vítima de abuso admite que prefere a prisão física àquela psicológica. Digladiando com o amor e ódio que acabou nutrindo por sua mãe, ela não teme falar o que aconteceu e – provavelmente – tenha recebido uma pena dura demais para o contexto em que viveu a vida inteira. E reunindo toda essa carga dramática real e sua complexidade inerente, The Act recria a história da jovem garota, na tentativa de saciar a curiosidade do público que acompanhou o fato, mas jamais viu tudo genuinamente de perto. E com facilidade, os criadores Nick Antosca e Michelle Dean conseguem o feito.

É claro que diante de apenas um episódio é difícil demais dizer o quão longe a produção original da Hulu pode chegar, mas seu potencial é surpreendente. Recriando os cômodos, a estética e os figurinos das personagens, a série faz um trabalho completo, entrega um design de produção feito com cuidado e personifica duas figuras com realismo, para não colocar defeito. Com um episódio introdutório que rapidamente mostra a que veio, a narrativa tem um ritmo dinâmico, evitando procrastinações e repetições. Sabendo que a audiência quer sangue (figurativa e literalmente), ela caminha rapidamente para isso – nos entregando alguns vislumbres em rápidos flashes. Bem dirigida, The Act pode até estar começando, engatinhando, mas assim como Gypsy Rose, ela vai andar mais rápido do que você imagina.

 

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