segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Primeiras Impressões | Vingança e guerra regem a profunda atmosfera da 2ª temporada de ‘A Casa do Dragão’

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O texto a seguir está livre de spoilers e cobre os dois primeiros episódios da nova temporada.

Dizer que Game of Thrones se tornou um fenômeno é, grosso modo, subestimar o impacto que a série causou no cenário televisivo contemporâneo. Além de se consagrar como a produção mais premiada do Emmy Awards, a adaptação da saga de romances de George R.R. Martin ditou as obras do gênero que seriam lançadas nos anos seguintes e ganhou um elogiado spin-off intitulado A Casa do Dragão – focado na Casa Targaryen, duzentos anos antes dos eventos da trama original e 172 anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen (eternizada pela incrível performance de Emilia Clarke).



Agora, somos convidados a regressar para esse icônico panteão fantástico com a segunda temporada, que tem estreia agendada para o próximo dia 16 de junho no catálogo da Max e na HBO. E, seguindo os passos da iteração predecessora, Martin e Ryan Condal mantiveram o alto nível ao aproveitar as tramas apresentadas nos capítulos anteriores para aprofundá-las e construir uma espécie de thriller político guiado por atuações impecáveis e por um comprometimento artístico de tirar o fôlego. É claro que, nos dois primeiros episódios do novo ciclo, lidamos com alguns vícios de linguagem que insistem em dar as caras – mas nada que não possa ser ofuscado por elementos eximiamente arquitetados.

Personagem de cabelo branco com dragão ao fundo.

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Para aqueles que não se recordam, a iteração predecessora foi concluída com a inesperada morte de Lucerys Velaryon (Elliot Grihault), um dos filhos de Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), pelas mãos de Aemond (Ewan Mitchell), filho de Alicent Hightower (Olivia Cooke). Logo, não é surpresa que o capítulo de reestreia abra com uma trama focada no luto sentindo por Rhaenyra, que arranca uma atuação digna de aplausos de D’Arcy e que preza por uma dramatização emocionante que foca em expressões de frustração, apatia, tristeza e ódio – tudo concentrado em uma única sequência. E, enquanto sofremos com a perda da personagem e sua autojornada de reencontro para se reerguer, sabemos que as cartas do jogo foram dadas e que o restante do ciclo será banhado em sangue, fogo e assuntos inacabados.

De outro lado, Alicent navega pelas atribulações de sua própria casa, tentando manejar um acordo com Rhaenyra e Daemon Targaryen (Matt Smith), que deseja que o assassinato seja pago na mesma moeda com a morte de um dos descendentes da Rainha, bem como com a impetuosa personalidade de seus filhos, incluindo o Rei Aegon II Targaryen (Tom Glynn-Carney em um trabalho esplendoroso), cuja implacabilidade é refletida nas escolhas que faz e em seu desejo de varrer seus inimigos da face de Westeros de uma vez por todas. É notável como Condal, assinando o roteiro, não procura meias-palavras e faz questão de mostrar uma conhecida crueza desse universo fantástico para explorar as múltiplas camadas dos personagens e de que forma as peças se movem num intrincado tabuleiro de xadrez.

Duas pessoas conversam perto de lareira em castelo medieval.

Como já mencionado, há alguns deslizes que aparecem nos episódios – incluindo subtramas a priori desnecessárias e que poderiam ter sido deixadas para iterações futuras, por exemplo, ou problemas de ritmo que mancham a estrutura técnica. Porém, a solidez da direção de Alan Taylor e de Clare Kilner permite que esqueçamos disso e sejamos engolfados nos corolários do início da Dança dos Dragões, premeditando a ruína da Casa Targaryen e os constantes embates entre “os verdes e os pretos” – e é essa antecipação que nos mantém presos do começo ao fim, angustiados para saber o que irá acontecer. Taylor e Kilner também parecem trabalhar em conjunto, destilando um comando cênico que promove um movimento mútuo de expansão e introspecção, apostando fichas em um reflexo micro e macrocósmico.

Se a temporada de estreia foi esquadrinhada em uma arquitetura de apresentação, desenvolvimento e clímax, o segundo ciclo é pautado em um vórtice de reviravoltas que fornece um irresistível dinamismo que pode se tornar cansativo – e que, em virtude dos múltiplos acontecimentos, pode não agradar parte dos espectadores. Entre artimanhas, mentiras e vendetas pessoais, nota-se que nada e ninguém serão poupados para que a série supere a si mesma. Entretanto, é preciso comentar que o time criativo por trás dessa iteração tome cuidado para não elevar demais as expectativas e não conseguir cumprir com aquilo que promete.

Personagem loiro sentado em um trono medieval.

A segunda temporada de A Casa do Dragão começa de maneira bastante positiva, mantendo-se fiel à identidade mostrada dois anos atrás e buscando maneiras de inovar uma estrutura que poderia ceder aos cansativos convencionalismos do gênero. Agora, não temos nada a fazer a não ser esperar o que o futuro nos reserva – e se essa profunda e instigante atmosfera não será apenas uma fachada superficial ou decepcionante (algo que, pessoalmente, acho muito difícil de acontecer).

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A Casa do Dragão,Game of Thrones

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, somos convidados a regressar para esse icônico panteão fantástico com a segunda temporada, que tem estreia agendada para o próximo dia 16 de junho no catálogo da Max e na HBO. E, seguindo os passos da iteração predecessora, Martin e Ryan Condal mantiveram o alto nível ao aproveitar as tramas apresentadas nos capítulos anteriores para aprofundá-las e construir uma espécie de thriller político guiado por atuações impecáveis e por um comprometimento artístico de tirar o fôlego. É claro que, nos dois primeiros episódios do novo ciclo, lidamos com alguns vícios de linguagem que insistem em dar as caras – mas nada que não possa ser ofuscado por elementos eximiamente arquitetados.

Personagem de cabelo branco com dragão ao fundo.

Para aqueles que não se recordam, a iteração predecessora foi concluída com a inesperada morte de Lucerys Velaryon (Elliot Grihault), um dos filhos de Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy), pelas mãos de Aemond (Ewan Mitchell), filho de Alicent Hightower (Olivia Cooke). Logo, não é surpresa que o capítulo de reestreia abra com uma trama focada no luto sentindo por Rhaenyra, que arranca uma atuação digna de aplausos de D’Arcy e que preza por uma dramatização emocionante que foca em expressões de frustração, apatia, tristeza e ódio – tudo concentrado em uma única sequência. E, enquanto sofremos com a perda da personagem e sua autojornada de reencontro para se reerguer, sabemos que as cartas do jogo foram dadas e que o restante do ciclo será banhado em sangue, fogo e assuntos inacabados.

De outro lado, Alicent navega pelas atribulações de sua própria casa, tentando manejar um acordo com Rhaenyra e Daemon Targaryen (Matt Smith), que deseja que o assassinato seja pago na mesma moeda com a morte de um dos descendentes da Rainha, bem como com a impetuosa personalidade de seus filhos, incluindo o Rei Aegon II Targaryen (Tom Glynn-Carney em um trabalho esplendoroso), cuja implacabilidade é refletida nas escolhas que faz e em seu desejo de varrer seus inimigos da face de Westeros de uma vez por todas. É notável como Condal, assinando o roteiro, não procura meias-palavras e faz questão de mostrar uma conhecida crueza desse universo fantástico para explorar as múltiplas camadas dos personagens e de que forma as peças se movem num intrincado tabuleiro de xadrez.

Duas pessoas conversam perto de lareira em castelo medieval.

Como já mencionado, há alguns deslizes que aparecem nos episódios – incluindo subtramas a priori desnecessárias e que poderiam ter sido deixadas para iterações futuras, por exemplo, ou problemas de ritmo que mancham a estrutura técnica. Porém, a solidez da direção de Alan Taylor e de Clare Kilner permite que esqueçamos disso e sejamos engolfados nos corolários do início da Dança dos Dragões, premeditando a ruína da Casa Targaryen e os constantes embates entre “os verdes e os pretos” – e é essa antecipação que nos mantém presos do começo ao fim, angustiados para saber o que irá acontecer. Taylor e Kilner também parecem trabalhar em conjunto, destilando um comando cênico que promove um movimento mútuo de expansão e introspecção, apostando fichas em um reflexo micro e macrocósmico.

Se a temporada de estreia foi esquadrinhada em uma arquitetura de apresentação, desenvolvimento e clímax, o segundo ciclo é pautado em um vórtice de reviravoltas que fornece um irresistível dinamismo que pode se tornar cansativo – e que, em virtude dos múltiplos acontecimentos, pode não agradar parte dos espectadores. Entre artimanhas, mentiras e vendetas pessoais, nota-se que nada e ninguém serão poupados para que a série supere a si mesma. Entretanto, é preciso comentar que o time criativo por trás dessa iteração tome cuidado para não elevar demais as expectativas e não conseguir cumprir com aquilo que promete.

Personagem loiro sentado em um trono medieval.

A segunda temporada de A Casa do Dragão começa de maneira bastante positiva, mantendo-se fiel à identidade mostrada dois anos atrás e buscando maneiras de inovar uma estrutura que poderia ceder aos cansativos convencionalismos do gênero. Agora, não temos nada a fazer a não ser esperar o que o futuro nos reserva – e se essa profunda e instigante atmosfera não será apenas uma fachada superficial ou decepcionante (algo que, pessoalmente, acho muito difícil de acontecer).

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