segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Primeiras Impressões | ‘Xógum: A Gloriosa Saga do Japão’ é um IMPECÁVEL espetáculo narrativo e visual

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O texto a seguir contempla os dois primeiros episódios da série.

Em 1975, James Clavell lançava uma das obras épicas mais conceituadas e respeitadas da história da literatura: ‘Xógum’. Narrando sobre o Período Sengoku do Japão Imperial – época marcada por uma grande instabilidade política e pela fragmentação do poder, precedendo a chegada dos colonizadores portugueses -, o romance vendeu mais de 15 milhões de cópias até os anos 1990 e foi extremamente aclamado pelos críticos e pelo público. Pouco depois, o livro ganhou uma minissérie que, apesar de ter sido bastante criticada pelos japoneses, levou para casa diversos prêmios, incluindo um Peabody Award. Agora, somos convidados a revisitar esse explosivo enredo com a adaptação Xógum: A Gloriosa Saga do Japão, que estreia amanhã, 27 de fevereiro, no catálogo do Star+.



A história expande-se para diversas subtramas confinadas em um escopo de época gigantesco e que demonstra o cuidado dos criadores em construir uma obra audiovisual de proporções espetaculares. A principal delas é centrada em um navegante inglês chamado John Blackthorne (Cosmo Jarvis), que, juntamente à sua tripulação, sobrevive a tempestuosos eventos em alto-mar até atracar, à beira da morte, em terras orientais; e em Lorde Toranaga (Hiroyuki Sanada), um daimiô (ou seja, um senhor de terras) que se vê obrigado a enfrentar seus rivais para reclamar o poder que lhe pertence e impedir que seu legado seja desonrado frente a embates políticos que podem premeditar sua morte. Como se não bastasse, também acompanhamos o arco de Toda Mariko (Anna Sawai), uma jovem extremamente habilidosa, mas cujos laços familiares são extremamente desonrados – levando-a em uma compulsória jornada de provação e de glória que aumenta as múltiplas camadas da adaptação.

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Criada por Rachel Kondo e Justin Marks, é notável como os assinantes da plataforma de streaming e os fãs inveterados dos escritos de Clavell estavam animados para conferir essa ambiciosa investida criativa. Felizmente, o conjunto de habilidosas mãos por trás da produção é sólido o suficiente para transformá-la em uma das melhores incursões do ano até agora, bem como uma das melhores do catálogo do Star+, prezando por uma exímia delineação artística que não deixa a desejar em nenhum aspecto – seja na condução do enredo, na fabulosa direção, nas irretocáveis performances ou na densa atmosfera que se apodera dos capítulos.

É um fato dizer que ‘Xógum’ é memorável por inúmeros motivos. De um lado, temos um apreço pela obra-espetáculo, que já vimos anteriormente com títulos como ‘Mad Max: Estrada da Fúria’ ou ‘O Regresso’, em que o visual faz parte da história de modo inextricável e emerge como um dos personagens; dessa forma, Kondo e Marks são certeiros ao voltarem no tempo para pegarem páginas emprestadas do expressionismo e do simbolismo para dividir os diferentes mundos que colidem, optando por se afastar de uma arquitetura estereotipada ou fabulesca e focando em uma espécie de “realismo fantástico” que mergulha de cabeça no uso contínuo de névoa, chuva e uma paleta de cores sóbria e sombria, marcada pelos tons azulados e esverdeados que indicam a queda das famílias imperiais japonesas.

De outro lado, há um profundo enfoque na caracterização dos protagonistas e coadjuvantes que impede que qualquer um seja deixado de lado; em outras palavras, cada um deles tem importância significativa para o desenrolar da trama, seja compondo um tribunal político, seja como o séquito real que cuida da proteção local. Mais do que isso, eles são jogados em uma mixórdia vibrante de quebras de tabus que discorre sobre a supracitada instabilidade política, sexo e prazer, ambição desmedida e uma egolatria quase predatória que sempre acompanhou a humanidade – tudo revestido com uma aura tão deliciosamente angustiante e estonteante que fica muito difícil desviar nossa atenção das telinhas.

Os dois primeiros episódios de Xógum: A Gloriosa Saga do Japão já consagram a série como uma obra-prima cinemática que não deve nada a produções cinematográficas do gênero, a encargo de comparação. Apresentando um retrato bastante fiel da época em que se passa, a grandiosa e épica trama é complexa e atordoante no melhor sentido das palavras – nos prendendo do começo ao fim em uma convidativa jornada por um dos momentos mais decisivos da história mundial.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A história expande-se para diversas subtramas confinadas em um escopo de época gigantesco e que demonstra o cuidado dos criadores em construir uma obra audiovisual de proporções espetaculares. A principal delas é centrada em um navegante inglês chamado John Blackthorne (Cosmo Jarvis), que, juntamente à sua tripulação, sobrevive a tempestuosos eventos em alto-mar até atracar, à beira da morte, em terras orientais; e em Lorde Toranaga (Hiroyuki Sanada), um daimiô (ou seja, um senhor de terras) que se vê obrigado a enfrentar seus rivais para reclamar o poder que lhe pertence e impedir que seu legado seja desonrado frente a embates políticos que podem premeditar sua morte. Como se não bastasse, também acompanhamos o arco de Toda Mariko (Anna Sawai), uma jovem extremamente habilidosa, mas cujos laços familiares são extremamente desonrados – levando-a em uma compulsória jornada de provação e de glória que aumenta as múltiplas camadas da adaptação.

Criada por Rachel Kondo e Justin Marks, é notável como os assinantes da plataforma de streaming e os fãs inveterados dos escritos de Clavell estavam animados para conferir essa ambiciosa investida criativa. Felizmente, o conjunto de habilidosas mãos por trás da produção é sólido o suficiente para transformá-la em uma das melhores incursões do ano até agora, bem como uma das melhores do catálogo do Star+, prezando por uma exímia delineação artística que não deixa a desejar em nenhum aspecto – seja na condução do enredo, na fabulosa direção, nas irretocáveis performances ou na densa atmosfera que se apodera dos capítulos.

É um fato dizer que ‘Xógum’ é memorável por inúmeros motivos. De um lado, temos um apreço pela obra-espetáculo, que já vimos anteriormente com títulos como ‘Mad Max: Estrada da Fúria’ ou ‘O Regresso’, em que o visual faz parte da história de modo inextricável e emerge como um dos personagens; dessa forma, Kondo e Marks são certeiros ao voltarem no tempo para pegarem páginas emprestadas do expressionismo e do simbolismo para dividir os diferentes mundos que colidem, optando por se afastar de uma arquitetura estereotipada ou fabulesca e focando em uma espécie de “realismo fantástico” que mergulha de cabeça no uso contínuo de névoa, chuva e uma paleta de cores sóbria e sombria, marcada pelos tons azulados e esverdeados que indicam a queda das famílias imperiais japonesas.

De outro lado, há um profundo enfoque na caracterização dos protagonistas e coadjuvantes que impede que qualquer um seja deixado de lado; em outras palavras, cada um deles tem importância significativa para o desenrolar da trama, seja compondo um tribunal político, seja como o séquito real que cuida da proteção local. Mais do que isso, eles são jogados em uma mixórdia vibrante de quebras de tabus que discorre sobre a supracitada instabilidade política, sexo e prazer, ambição desmedida e uma egolatria quase predatória que sempre acompanhou a humanidade – tudo revestido com uma aura tão deliciosamente angustiante e estonteante que fica muito difícil desviar nossa atenção das telinhas.

Os dois primeiros episódios de Xógum: A Gloriosa Saga do Japão já consagram a série como uma obra-prima cinemática que não deve nada a produções cinematográficas do gênero, a encargo de comparação. Apresentando um retrato bastante fiel da época em que se passa, a grandiosa e épica trama é complexa e atordoante no melhor sentido das palavras – nos prendendo do começo ao fim em uma convidativa jornada por um dos momentos mais decisivos da história mundial.

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