O pulsante instinto de sobrevivência que devaneia os protagonistas e – consequentemente – a audiência, retorna ainda mais latente na 2ª temporada de Yellowjackets. Diante da pavorosa morte de Jackie (Ella Purnell), a inóspita e gélida floresta onde nossos sobreviventes se encontram começa a ecoar ruídos ensurdecedores. Entre o frio congelante e a desnutrição, existe uma atmosfera mórbida que emana a fome. Padecendo em um contexto assombroso onde não há nenhum feixe de esperança, todos são consumidos pelos seus apetites mais vorazes e – naturalmente, mais perversos.
É nessa insanidade mental e exaustão física que Yellowjackets abre sua nova temporada. Angustiante e psicologicamente desafiante, ela convida a audiência mais uma vez para uma nova epifania dos horrores, onde suspense, terror e mistério se unem ao sincretismo religioso que quase flerta com ares ocultistas. Diante da mais pura animalização do ser humano, a série começa a explorar mais a fundo as motivações de seus protagonistas, à medida em que se concentra em entregar uma cartela de análises de personagens. Com sua linha temporal sempre dinâmica, entre passado e presente, acompanhamos o íntimo desenvolvimento dos nossos sobreviventes, com pequenas pétalas sendo reveladas gradativamente.
Agora em um contexto onde não há mais a necessidade de traçar seus alicerces narrativos, a produção que é fruto de uma parceria entre a Paramount+ e a emissora Showtime se aprofunda ainda mais nos meandros da desértica floresta. Com o rigoroso inverno sendo tão protagonista quanto o elenco principal, o novo ciclo ainda nos presenteia com uma espetáculo de direção de fotografia, em tomadas aéreas que ressaltam a beleza bucólica da região, em contraste com o conflitante cenário que Shauna, Taissa, Natalie, Misty, Ben, Lottie, Vanessa e Travis enfrentam. E já em outra direção, o assombrado presente vivido pelas talentosoas Melanie Lynskey, Christina Ricci, Juliette Lewis e Tawny Cypress é dominado por suas brilhantes performances. Sempre à beira de um ataque de nervos, elas são a epítome da essência de Yellowjackets.
Com Elijah Wood trazendo um toque de excentricidade maior à trama, a nova temporada recupera seu fôlego e arrebata a audiência para um submundo sombrio, frio e ainda misterioso. Revelando muito pouco de toda a estranha e traumática jornada vivida pelo excepcional elenco jovem formado por Jasmin Savoy Brown, Sophie Thatcher, Sammi Hanratty, Steven Krueger, Courtney Eaton, Liv Hewson e Kevin Alves, Yellowjackets segue segurando suas reviravoltas, mas sem nos deixar na mão. Aqui, Ashley Lyle e Bart Nickersonse se certificam de entregar o bastante para nos manter envolvidos, mas ainda no escuro. E emando um pouco da mesma atmosfera de Lost em seu 2º ciclo, a produção continua se mantendo no pódio como um unicórnio: raro e único.
Prometendo novos desdobramentos cercados por circunstâncias cada vez mais macabras, a série de suspense prova o seu valor e promete chocar o público cada vez mais até seus últimos episódios. Com uma primeira metade de capítulos excelentes e envolventes, Yellowjackets mostra que possui cartas valiosas ainda escondidas. Elevando as nossas expectativas, sob a garantia de que as apostas estão cada vez mais altas, a 2ª temporada da original Paramount+ já é um presente para quem tem sede de originalidade e fome de terror psicológico.