Você lembra do eletrizante triângulo amoroso de Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor em Rivais (Challengers), lançado em abril deste ano? Agora, a dupla responsável — o diretor Luca Guadagnino e o roteirista Justin Kuritzkes — está de volta aos cinemas com a audaciosa adaptação de Queer, baseada no romance homônimo de William S. Burroughs.
Lançado no Festival de Veneza em agosto, em meio a controvérsias, Queer chegou às telonas brasileiras no último dia 12 de dezembro e chama atenção pelas performances de Daniel Craig e Drew Starkey. O ex-intérprete do agente 007 recebeu, no dia 9 de dezembro, a indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator pela obra e é apontado como um forte candidato ao Oscar, assim como o filme, na categoria Roteiro Adaptado.
A trama segue William Lee (Daniel Craig), uma versão ficcional do próprio Burroughs, em sua jornada por obsessões e vícios durante sua estadia na Cidade do México no pós-Segunda Guerra Mundial. Com astúcia, o roteiro de Justin Kuritzkes não se prende a uma sequência linear de acontecimentos, mas explora profundamente as experiências e a intensidade emocional do protagonista.
Uma Adaptação Delicada e Desafiadora
Adaptar Queer não foi tarefa fácil. A obra original, publicada postumamente, apresenta uma narrativa densa e fragmentada. “A maioria dos elementos que constituem uma narrativa está ausente no livro. (…) Não há realmente uma trama. É a história de alguém que persegue outro em uma jornada obsessiva e solitária. O desafio foi dar uma forma cinematográfica a isso.”, declarou Kuritzkes em entrevista ao Los Angeles Times.
Já em conversa com o CinePOP na apresentação do filme em Paris, no mês passado, Luca Guadagnino declarou que Queer era um projeto de longa data. Ele conta que descobriu o livro aos 17 anos, pelo título, em uma livraria, e, ao lê-lo, sentiu-se reconhecido em uma obra pela primeira vez. Portanto, a vontade de transformar a narrativa literária em filme perdurou anos, mas ele somente teve coragem de realizar o projeto ao encontrar Justin Kuritzkes.
O diretor de Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e Até os Ossos (2022) ficou impressionado com a habilidade do roteirista de capturar as nuances do desejo e das relações humanas em Rivais, quando o roteiro lhe foi apresentado pela produtora Amy Pascal. Para o italiano, Kuritzkes sabia exatamente como mesclar amor e competição, além de simplificar as complexas regras das competições de tênis e torná-las interessante para o público em geral.
O convite ocorreu ainda durante as filmagens de Rivais, nas quais — a pedido de Guadagnino — Kuritzkes esteve presente todos os dias. De acordo com o cineasta, a beleza de Queer está na maneira como a obra lida com a alienação, o libido e a autopercepção. “Justin tem um raro entendimento sobre o desejo e como ele molda nossas vidas”, elogiou o diretor durante o encontro em Paris.
Algumas partes apenas mencionadas no livro se tornam cenas emblemáticas no filme devido à estrutura narrativa de Kuritzkes. O roteiro, por exemplo, incluiu viagens e experiências não relatadas no livro de Burroughs, como a reação dos amantes após tomarem ayahuasca juntos. Embora seja ambientado no México e nas florestas da América do Sul, Queer foi completamente rodado nos estúdios de Cinecittà, em Roma.
Kuritzkes: Parcerias Promissoras
Adepto à dramaturgia, Rivais foi o primeiro trabalho de Kuritzkes para o cinema e Queer, seu primeiro roteiro adaptado — ambos cotados ao Oscar. Casado a quase uma década com Celine Song, diretora e roteirista de Vidas Passadas, o talentoso casal promete ser presença recorrente em Hollywood nos próximos anos. Quem sabe veremos os dois trabalhando juntos no futuro, como os casais Justine Triet e Arthur Harari (Anatomia de Uma Queda); Greta Gerwig e Noah Baumbach (Barbie)?
O próprio roteirista confessou que acompanhar as filmagens de Rivais foi uma escola de cinema. Portanto, não seria surpreendente vê-lo atrás da câmera como a esposa. “É um testemunho da generosidade e da confiança de alguém como Luca em ter seu roteirista presente o tempo todo”, declarou ao Los Angeles Times. O roteirista também participou lado a lado da edição do filme.
Enquanto Celine Song prepara-se para lançar a comédia romântica Materialistas, em fase de pós-produção para o primeiro semestre de 2025, com Dakota Johnson e Pedro Pascal, Justin pode ter mais parcerias com Guadagnino futuramente. Entusiasmado com a colaboração, o italiano revelou que novos projetos com Kuritzkes já estão em discussão. “É raro encontrar alguém tão apaixonado por contar histórias quanto Justin”, afirmou o cineasta.
Daniel Craig: O Coração do Filme
Conhecido mundialmente por seu papel como James Bond, Daniel Craig entrega uma das performances mais marcantes de sua carreira em Queer. A indicação ao Globo de Ouro é uma confirmação da profundidade e vulnerabilidade que Craig traz ao papel de William Lee. Sua interpretação é intensa e captura com precisão a angústia e a obsessão do personagem.
“Ele trouxe uma humanidade crua e uma vulnerabilidade que é rara de se ver. A performance dele é o coração do filme.”, elogia Guadagnino ao lado de Daniel Craig durante a apresentação em Paris. Timidamente, o ator britânico de 56 anos declarou sempre ter tido vontade de trabalhar com o cineasta italiano e brincou sobre a construção do seu personagem ter “rolar no chão com o colega de cena Drew Starkey durante uma semana” antes de começar as filmagens.
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Se Rivais explorou as tensões do amor como uma competição, Queer mergulha nas profundezas da alienação pessoal sob a sombra do desejo. Apesar dos ritmos completamente diferentes entre as duas obras, ambas entregam sensualidade e ousadia estética. Com esses dois trabalhos, a dupla Luca Guadagnino e Justin Kuritzkes consolida-se como uma das mais aguardadas incursões cinematográficas, seja em roteiro original, seja em roteiro adaptado.