Alicia Keys, um dos proeminentes nomes não apenas do R&B contemporâneo, mas também do neo-soul, completa 40 anos hoje, 25 de janeiro e, para celebrar sua importancia na indústria fonográfica e o impacto que vem causando desde sua estreia em 2001 com uma ativa voz nas questões de raça e de gênero, resolvemos criar uma série de matérias especiais.
A primeira delas apresenta nosso ranking de todos os álbuns da cantora, do “pior” ao melhor.
Confira abaixo e conte para nós qual o seu favorito:
THE ELEMENT OF FREEDOM (2009)
Nota: 7.0
“Aliando-se a colaboradores frequentes, como Kerry Brothers, e fechando contrato com o lendário Jeff Bhasker, que trabalhara anteriormente com nomes como Kanye West e Brandy, o quarto capítulo da carreira de Alicia representou o início de sua transição para o pop mainstream, sem deixar de lado suas raízes no R&B e suas homenagens aos ídolos que continuam a inspirá-la. Apostando mais uma vez na vulnerabilidade um alter-ego que abandonou a adolescência e o início da vida adulta para um amadurecimento agridoce, a cantora e compositora volta a falar de relacionamentos amorosos, do prospecto de viver sem aqueles que ama, tudo pincelado com análises sobre depressão e sobre a impactante realidade do final de década.” – Thiago Nolla
AS I AM (2007)
Nota: 8.0
“Afastando-se dos experimentalismos dissonantes de suas primeiras incursões, que traziam a artista em uma jornada de autodescobrimento estético, Keys resolveu se fixar no R&B e plantar suas raízes nas explorações sentimentais de baladas e semi-baladas românticas, sempre abusando de suas habilidades vocais e entregando rendições impecáveis. O single mais famoso de seu terceiro álbum de estúdio, “No One”, é uma belíssima declamação amorosa que parecer ter se escrito por conta própria, apenas usando a cantora como receptáculo para se materializar; a nítida e propositalmente quebradiça incursão, que delineia uma montanha-russa sensorial, faz alusões a lendas da música, incluindo Aretha Franklin e Whitney Houston, quebrando fórmulas padronizadas pelo mainstream e sendo impulsionada pelo subjetivismo emocional.” – T.N.
ALICIA (2020)
Nota: 8.0
“O álbum rendeu nada menos que seis singles e uma sétima peça promocional que não teve o mesmo desenlace. Tais escolhas refletem uma necessidade da lead singer em expandir seus discursos sobre os problemas enfrentados pela comunidade negra no mundo e de que forma o racismo estrutural permanece como uma das várias ramificações da escravidão. Não é à toa que boa parte dos temas analisados nos versos fale de que forma a sociedade continua se esquivando das questões que realmente importam – e, ao lado de The Weeknd, H.E.R. e tantos outros, Alicia faz parte de um seleto grupo que fala pública e corajosamente sobre aquilo que nem todos estão prontos para ouvir. Por esse motivo, ela mesma encara as tracks como um amontoado de músicas sem gênero cujo propósito é muito maior do que o imediatismo sonoro.” – T.N.
GIRL ON FIRE (2012)
Nota: 9.0
“‘Girl on Fire’ é uma pungente autobiografia em que Alicia, mais do que nunca, reflete sobre o caminho que trilhou desde quando adolescente, com sonhos de se tornar um nome importante para a música, até sua ascensão às perfeitas imperfeições da vida e das relações humanas. Os relacionamentos românticos são substituídos pela afeição ao próximo e pela socioafetividade – um tema recorrente na época de lançamento do álbum -, resguardados por versos fortuitos e uma retomada de controle que havia se perdido em ‘The Element of Freedom’. Em outras palavras, a performer demonstra que não tem medo de ousar, por mais que enfrente recepções negativas no trajeto; as aventuras vocais também passam por uma mudança crítica, variando em inesperadas contradições ou restringindo-se à unidimensionalidade das décadas efervescentes do século XX.” – T.N.
THE DIARY OF ALICIA KEYS (2003)
Nota: 9.0
“Levando a sintaxe do título à risca, Keys transformou uma longa jornada fonográfica, composta por quinze músicas e quase uma hora de duração, em um diário bastante pessoal e íntimo, fruto de suas experiências de um assertivo crescimento em meio a traumas e a eventos infelizes – incluindo a morte precoce de Aaliyah, que veio a influenciar a composição da faixa mais conhecida do CD, “If I Ain’t Got You”. Talvez o único problema, por falta de outro termo, provenha da necessidade de manter uma narrativa já contada em voga, criando uma espécie de continuidade em relação à obra de estreia e, por essa razão, esquecendo-se de investir em construções originais. Não se enganem: as faixas insurgem do âmago de uma performer que merece ser ouvida e, por essa razão, são poderosas do começo ao fim – mas é inegável sentir uma consonância tremenda com o que já havia nos apresentado dois anos antes.” – T.N.
SONGS IN A MINOR (2001)
Nota: 9.0
“Em seu primeiro álbum, a performer mostrou que não estava para brincadeira – e sua necessidade de se provar alcançou seu objetivo, seja por ter vendido nada menos que 12 milhões de cópias desde seu lançamento, seja por ter garantido cinco estatuetas do Grammy à lead singer. Logo de cara, com a breve e evocativa introdução “Piano & I”, a artista exibe aos ouvintes um domínio das “normas cultas” da música, por assim dizer, enquanto promove um sensual e envolvente anacronismo. As cartas estão dadas – e ela não perde a mão em nenhuma das tracks subsequentes. A upbeat e misteriosa atmosfera de “Girlfriend”, que foi lançado como single final da obra, merecia mais reconhecimento do que tem e definitivamente integra uma das quintessenciais construções de sua carreira; a epopeica “Rock wit U”, estendendo por mais de cinco minutos, é uma jornada em rapsódia digna de nota e de estudo – afinal, como não ficar intrigado com a mistura de violino, piano e bateria que ergue-se logo nos segundos iniciais?”
HERE (2016)
Nota: 10.0
“Por mais único que o estilo da cantora e compositora seja, considerando principalmente as power ballads em R&B com que nos presenteara anos atrás, ela não tem medo de ousar em consagrar todos os ídolos que já passaram por sua vida – da mesma forma que sempre fizera. A comercial parceria com A$AP Rocky, “Blended Family (What You Do For Love)”, é nada menos que uma breve e mais comedida mesura às vibrantes inflexões dos grupos En Vogue e Salt-N-Pepa – algo que já era de se esperar, considerando o respaldo militante e feminista da lead singer -, com todas as glórias dos anos 1990. As aparições póstumas de James Brown comandam os potentes vocais de “Illusion of Bliss”, cujo título fala acerca de uma pseudo-felicidade que mascara os reais problemas da sociedade. Em “Where Do We Begin Now”, as apaixonantes dissonâncias retomam a artística produção dos anos 1920 do jazz, fazendo alusão ao lendário George Gershwin e a suas rapsódias.” – T.N.