Oito filmes, três atores, uma animação, vários diretores, dois estúdios e algumas participações especiais no MCU. Essa é a trajetória do maior herói da editora Marvel no cinema. O Homem-Aranha é a estrela da casa, seu personagem mais popular e símbolo. Mas sua estrada rumo ao estrelato não foi simples. Na verdade, ainda não é, levando em conta que os maiores desafios do herói não são o Duende Verde ou o Abutre, mas sim superar suas produções cinematográficas menos agradáveis.
Pensando nisso, resolvemos listar – do pior ao melhor – os oito filmes protagonizados pelo jovem lançador de teias (não levamos em conta a participação do personagem em Capitão América: Guerra Civil, Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato). Como sempre, levamos em conta a opinião do grande público e da crítica especializada, tirando uma média das duas ao final. Confira abaixo e como sempre, comente dizendo a sua ordem de preferência.
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014)
Quase tudo está errado aqui, inclusive o subtítulo nacional, que cismou em dar cartaz para o vilão mais esquecível da franquia. Nem tudo está perdido, no entanto, e existem sim algumas coisas legais na produção. Porém, ao contrário da primeira investida de Andrew Garfield num filme do herói, cujo maior pecado é não possuir personalidade alguma, este filme opta por algumas escolhas bem equivocadas. A pior delas é a extrema caricatura de todos os seus vilões.
Pobre Jamie Foxx, o vencedor do Oscar precisou ver seu papel reduzido a um cartoon tão bidimensional quanto os antagonistas de Batman Eternamente (1995). O que falar de Paul Giamatti e Dane DeHaan como Rino e o Duende Verde então? Fora isso, Felicity Jones e Shaielene Woodley nunca veriam suas Felicia Hardy (a Gata Negra) e Mary Jane Watson de fato concretizadas. Esse é o maior pecado do filme, abarrotar a produção de personagens para eventuais continuações, que nunca viriam. Como resultado, A Ameaça de Electro é o pior filme do personagem na opinião dos críticos e o segundo pior na opinião dos fãs.
Homem-Aranha: Andrew Garfield.
Diretor: Marc Webb.
Vilões: Electro, Rino, Duende Verde.
Elenco: Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan, Felicity Jones, Paul Giamatti, Sally Field.
Homem-Aranha 3 (2007)
Depois dos muito bem sucedidos dois primeiros filmes do herói, um impasse entre o diretor Sam Raimi e o produtor Avi Arad – o homem da Marvel no cinema então – ocorreu sobre que caminho o terceiro longa do personagem deveria seguir. Inicialmente Raimi desejava ter o Abutre como vilão – antagonista que finalmente dá as caras em De Volta ao Lar. Já Arad, com a finalidade de agradar os fãs mais jovens do herói, não via a hora de encaixar Venon, inimigo popstar do Aranha, que de tanto sucesso ganhou seus spin off na forma de histórias em quadrinhos próprias (e um filme solo em 2018 – cuja sequência está para ser lançada).
Raimi declaradamente não é fã do personagem, e deixou isso bem claro quando precisou concretizá-lo, a contragosto, em seu filme. Sabe a síndrome de O Espetacular Homem-Aranha 2 citada acima, com muitos personagens, muitas subtramas, sem que todos ganhem a atenção devida, pois bem, não era novidade e pode-se dizer que começou aqui para o personagem. Se ao menos tivessem olhado para o companheiro da editora rival, e aprendido com os mesmos erros de Batman & Robin (1997).
Homem-Aranha 3 recai na mesma categoria, sobressaindo apenas no fato de que existem elementos satisfatórios a serem tirados da obra, como a conturbada relação entre Peter e Mary Jane, e todo o arco do vilão principal, o Homem Areia, papel do indicado ao Oscar Thomas Haden Church (assim como todas as possibilidades estéticas criadas com o personagem). O desfecho deixava a porta aberta para uma conclusão que nunca viria. E quem pode esquecer o Peter Emo e sua dança da vergonha alheia? Conclusão: para os fãs, Homem-Aranha 3 é o pior filme do herói nos cinemas, e o segundo pior para os críticos.
Homem-Aranha: Tobey Maguire.
Diretor: Sam Raimi.
Vilões: Homem Areia, Venom, Duende Verde.
Elenco: Kirsten Dunst, James Franco, Thomas Haden Church, Topher Grace, Bryce Dallas Howard, Rosemary Harris, JK Simmons, James Cromwell.
O Espetacular Homem-Aranha (2012)
Quando a Sony optou pelo reboot da franquia ao invés da continuação Homem-Aranha 4, grande parte dos fãs chiou, reclamando que era cedo demais. Realmente, dez anos depois da comoção que foi a estreia do personagem nas telonas, ganhávamos uma refilmagem. O caso deve servir de estudo para produtores lembrarem sempre o que NÃO fazer em suas franquias cinematográficas. Além disso, Andrew Garfield, o novo ator escolhido para o papel, apesar de bastante empenhado e apaixonado pelo personagem, era envolto num novo arco do herói, mais voltado para os fãs mais jovens e fora do cânone.
Aqui, Peter Parker é um skatista descolado, que faz (e não sofre) bullying, e sua maior motivação é a busca pelos segredos dos pais. O diretor Marc Webb vinha do quintessencial filme sobre relacionamento 500 Dias Com Ela (2009), e era o nome certo para o projeto. O fato, porém, não o ajudou tanto na relação de Peter com Gwen Staci (Emma Stone). Na verdade, essa reimaginação tem como calcanhar de Aquiles a qualidade extremamente esquecível, sem grandes cenas de ação, vilões marcantes ou um romance intenso como nos primeiros filmes. Tudo é muito blasé. Esse poderia ser qualquer filme, de qualquer herói. E não é o que esperamos de um longa sobre um personagem com tamanho peso.
Homem-Aranha: Andrew Garfield.
Diretor: Marc Webb.
Vilão: Lagarto.
Elenco: Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field.
Homem-Aranha (2002)
Essa é uma escolha polêmica, já que o primeiro filme do Homem-Aranha nos cinemas, dirigido por Sam Raimi, ainda é um grande favorito de grande parte dos fãs, incluindo os brasileiros. O que acontece, no entanto, é que os novos filmes caíram mais no gosto geral, de crítica e público.
Se O Espetacular Homem-Aranha (2012) e De Volta ao Lar (2017) são reflexos de seu tempo, modernizando o herói para o público de hoje, o primeiro filme do personagem no cinema veio no caminho oposto, quase voltando no tempo para a década de 1960, quando o personagem foi criado. Mesmo passado no tempo presente, no caso em 2002, o primeiro filme do Homem-Aranha, de Sam Raimi, é dono de uma enorme sensação nostálgica, como uma volta ao passado de sentimentos, comportamentos, relações humanas e tudo o que rodeia o protagonista.
É como se os anos 1960 fossem modernizados apenas em sua estética. Até na tecnologia o longa de Raimi não investe tanto. Fora isso temos caracterizações assombrosas, soando como cópias carbono de carne e osso de suas contrapartes de papel, vide J. K. Simmons como J. J. Jameson, e Rosemary Harris como a tia May. Willem Dafoe é outro que rouba a cena na pele de Norman Osborn, deixando orgulhoso outro Norman do cinema, o Bates (de Psicose), com sua caracterização mais intensa do que esperaríamos encontrar em um filme do gênero, ainda mais na época, ao retratar um personagem que sofre de personalidade dividida.
Embora existam algumas reclamações, mesmo que mínimas, como o tom cartunesco das cenas de ação e efeitos, temos que lembrar acima de tudo que Homem-Aranha (2002) foi o alicerce para o que temos hoje no gênero cinema de super-heróis e que sem ele, muitos veículos especializados em tais tipos de filme não existiriam.
Homem-Aranha: Tobey Maguire.
Diretor: Sam Saimi.
Vilão: Duende Verde.
Elenco: Willem Dafoe, Kirsten Dunst, James Franco, Cliff Robertson, Rosemary Harris, J. K. Simmons.
Assista nossa crítica em vídeo (Sem Spoilers) de Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)
No item acima foi quando a lista começou a ficar boa de verdade. Por mais que existam (poucos) elementos interessantes a serem tirados dos primeiros três filmes desta matéria, é indiscutível que eles não podem ser usados como exemplos de boas produções do gênero, ou tampouco de bons exemplares contendo o herói. Já o reboot Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017) não sofre desse mal e inicia uma nova fase para o personagem nas telonas. O que os fãs queriam e pediam finalmente se realizou. E com uma parceria megalômana entre os estúdios da Sony e Disney/Marvel, o amigo da vizinhança finalmente pôde ser incluído no universo cinematográfico da casa, ao lado de companheiros como o Homem de Ferro e o Capitão América.
Fora isso, o filme de Jon Watts ganha por mostrar algo diferente do já apresentado nos outros filmes, o que inclui até mesmo a mudança de endereço da ação, de Manhattan para o Queens. Tom Holland exala carisma na pele do Peter Parker mais jovem até o momento, e Michael Keaton, reinventado, dá peso ao vilão como poucos no acervo do MCU. Existe também grande homenagem aos filmes adolescentes de escola, inspirados pelo papa do gênero, John Hughes.
Com diversas atualizações para a geração atual, como um uniforme extremamente tecnológico, alunos de diversas etnias respeitando a tão sonhada representatividade e a inclusão do herói na era das mídias sociais, o novo Homem-Aranha é mais do que nunca sinal dos novos tempos.
Homem-Aranha: Tom Holland.
Diretor: Jon Watts.
Vilões: Abutre, Shocker.
Elenco: Michael Keaton, Robert Downey Jr., Marisa Tomei, Jon Favreau, Gwyneth Paltrow, Zendaya, Laura Harrier.
Assista nossa crítica em vídeo (Com Spoilers) de Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)
Na verdade, no item acima, neste e no de baixo ocorreu empate técnico. Homem-Aranha: Longe de Casa é tão bom quanto De Volta ao Lar, e o item abaixo – que você verá em breve.
Homem-Aranha: Longe de Casa é uma experiência cinematográfica inigualável, que mistura comédia, drama e ação na medida certa e entrega um blockbuster cheio de coração que vai conquistar até o fã mais ranzinza. Justiça seja feita: essa sequência é tão boa quanto o já ótimo Homem-Aranha: De Volta ao Lar, que apresentou o herói para uma nova geração em uma aventura satisfatória, mostrando o grande potencial de Tom Holland na pele do herói. Aqui, o ator nos conquista logo nos primeiros minutos e abraça o(s) uniforme(s) do Homem-Aranha de maneira esplêndida, conquistando o posto de melhor intérprete do amigão da vizinhança (será? Diga nos comentários).
Após um primeiro ato cheio de humor, e um segundo ato mais dramático, chegamos a um ápice é pura aventura e pancadaria. Arrisco dizer que este também é um dos filmes do herói no qual a ação mais funciona, criando conceitos incríveis para suas cenas, ousando de forma inédita no quesito – e levando o personagem de maneira muito bem-vinda para a Europa, onde Veneza, na Itália, nunca mais será a mesma no cinema. Fora isso, nos surpreende com reviravoltas eletrizantes, além dos efeitos especiais mais eficientes de um filme do personagem – que tem tudo a ver com a trama do Mysterio, vivido por Jake Gyllenhaal. O final impactante abre caminhos para a franquia tomar novos rumos e entregar histórias nunca vistas antes no cinema.
Homem-Aranha: Tom Holland.
Diretor: Jon Watts.
Vilões: SPOILER
Elenco: Marisa Tomei, Jon Favreau, Zendaya, Samuel L. Jackson, Jake Gyllenhaal.
Homem-Aranha 2 (2004)
Por muito tempo e ainda hoje (para grande parte dos fãs), Homem-Aranha 2 é considerado o melhor filme do personagem no cinema. Porém, surpreende saber que esses dias talvez estejam ficando para trás. Com o lançamento dos novos filmes do herói, protagonizados por Tom Holland, fãs antigos e novos vêm abraçando cada vez mais tais produções – já que ver o Aranha incluído no MCU partiu de uma comoção virtual dos próprios, que agora tiveram seu desejo atendido. Assim, de forma geral, para os críticos no Rotten Tomatoes e o grande público no IMDB, De Volta ao Lar, Longe de Casa e Homem-Aranha 2 estão ali, coladinhos lado a lado. Mas calma, o filme de Sam Raimi ainda consegue sobressair e causar excitação maior, provocando mais usuários a votar nele e elevar seu status.
A continuação orquestrada pelo cineasta entra para o hall dos filmes do gênero que sobressaíram seus predecessores e marcaram o imaginário popular, tendo sua relevância até os dias de hoje, e sendo considerado um dos melhores filmes de super-herói da história. Talvez os novos filmes do aracnídeo não envelheçam tão bem quanto esse envelheceu. No roteiro, os conflitos do personagem aumentam. Já estabelecido como o herói justiceiro mascarado, ele precisa equilibrar sua dupla personalidade e sua dupla jornada, apresentando os dilemas que sempre fizeram do personagem único. Contas atrasadas, trabalhos devidos na faculdade, problemas românticos, tia idosa.
Outro grande embate surgia com o melhor amigo Harry (James Franco), que acusava o herói de ter matado seu pai. Todo o drama envolvendo esta situação é de primeira. O vilão, interpretado de forma entusiasmada por Alfred Molina, igualmente possui suas questões, se afastando ao máximo de caricaturas bidimensionais geralmente encontradas em tais produções. Se formos pensar na diferença de tais antagonistas para os filmes com Andrew Garfield, dá vontade de chorar. Não é por menos que Homem-Aranha 2 é tido como uma das melhores adaptações de quadrinhos para o cinema de todos os tempos. E ainda chega em segundo lugar da nossa lista numa avaliação geral – em grande parte devido aos críticos, já que com os fãs, como citado (em especial os mais jovens), vem perdendo espaço.
Homem-Aranha: Tobey Maguire.
Diretor: Sam Raimi.
Vilão: Dr. Octopus.
Elenco: Kirsten Dunst, James Franco, Alfred Molina, Rosemary Harris, J. K. Simmons, Dylan Baker.
Homem-Aranha no Aranhaverso (2018)
É engraçado pensar que o melhor filme do personagem no cinema não é de carne e osso, mas sim uma animação. Tudo bem que se trata de uma animação genial, com um roteiro que beira o brilhantismo e uma estética revolucionária, nunca antes vista. Quer mais? Que tal o Oscar de melhor animação para fazer sua cabeça? O filme tem! A possibilidade de um multiverso, no qual temos diversos Homem-Aranha, fez tanto sucesso com o público e a crítica que irá influenciar diretamente o próximo filme de carne e osso com Tom Holland. Porém, um dos maiores atrativos aqui é dar protagonismo ao novo herói sob o uniforme, Miles Morales, o Homem-Aranha negro, vindo de um bairro pobre.
Dirigido por Bob Persichetti (O Pequeno Príncipe, 2015), Peter Ramsey (A Origem dos Guardiões) e Rodney Rothman (Anjos da Lei 2), com roteiro do próprio Rothman e do ótimo Phil Lord (Uma Aventura Lego), Homem-Aranha no Aranhaverso viveu para se tornar o filme preferido do herói na opinião de ambos crítica e público, o que é uma coisa rara. Fora isso, se mantém como filme de número 69 dos melhores de todos os tempos (do cinema e não apenas da franquia) na opinião dos votantes no banco de dados IMDB – sendo o único filme do personagem a estar presente no ranking. Se isso não é moral…