Nenhuma outra década foi tão significativa para o terror slasher quanto os anos 1980. E se hoje temos franquias como Pânico – que acabou de lançar seu quinto filme nos cinemas – é graças a este subgênero cimentado há quarenta anos. Esse tipo de filme bem específico consiste basicamente no chamado “terror adolescente”, ou seja, jovens mulheres e homens buscando se divertir, seja na cidade ou em um ambiente mais rural, que terminam espreitados e eventualmente são mortos de formas brutais por algum maníaco. Os psicopatas em tais filmes variam de pessoas aparentemente normais, e isto inclui a fórmula do “whodunit” – em que um dos personagens apresentados como amigo pode vir a se revelar o verdadeiro vilão -, um ser atormentado por algo do passado em busca de vingança, e sua aparência pode apresentar alguma máscara cobrindo apenas o rosto, uma fantasia mais elaborada, ou em alguns casos possuir uma aparência bestial ou monstruosa.
Os críticos da época execravam tais produções, as definindo como “filmes que colocavam mulheres em perigo”. De fato, geralmente as protagonistas e vítimas de filmes assim são mulheres em sua maioria, e é fácil perceber como muitos podem definir tais filmes como misóginos. Outros tantos acreditam que a mensagem é ver tais mulheres saírem de posição de vítima e ascender à ocasião, superando seus traumas e medos, e derrotando o vilão – em sua maioria um homem.
Ano passado eu escrevi uma matéria abordando o chamado “ano do slasher”, o ano de 1981, que havia completado 40 anos. Depois do sucesso de Sexta-Feira 13 (1980), todo produtor hollywoodiano corria para a chance de replicar tal feito, assim criando uma verdadeira enxurrada de produções do tipo. O ápice pode ter sido o ano de 1981, mas a coisa obviamente não parou por aí. Desta forma, seguimos em nossa missão de trazer mais uma leva de slashers, desta vez lançados em 1982, e que prontamente estão se tornando quarentonas em 2022. Confira abaixo.
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Sexta-Feira 13 – Parte 3D
Ninguém brinca com o líder. Não dá para falar de filmes slasher na década de 80 sem mencionar a franquia número um de filmes assim: Sexta-Feira 13. A onda de filmes do tipo surgiu por causa do original, e aqui, dois anos depois, a franquia chegava a seu terceiro exemplar. O maníaco Jason foi apresentado no segundo filme, e neste ele finalmente pega a máscara de hockey que viria a se tornar sua marca registrada – tudo bem que ele só a pega na segunda metade do filme, mas já está valendo. Além disso, os realizadores na Paramount acharam que seria interessante inserir a franquia num artifício muito utilizado no período: os filmes 3D. Assim, o terceiro Sexta-Feira 13 aderia à moda.
O Massacre (Slumber Party Massacre)
Criado para ser uma sátira feminista dos filmes slasher, o produtor Roger Corman não entendeu muito bem a brincadeira, e transformou o filme em apenas mais um slasher. Bem, ou quase, já que com certo humor ácido implícito e o recado nas entrelinhas, o longa viria a se tornar uma obra cult, com uma legião cada vez maior de fãs ao longo dos anos. À primeira vista, este é apenas mais um terror adolescente, com um grupo de amigas colegiais em uma típica festa do pijama, precisando lidar com um psicopata fugido de um manicômio, que usa como arma uma furadeira. A arma do sujeito, por exemplo, é um longo objeto fálico, que representa a opressão das mulheres. Em outra cena, uma das jovens resolve comer pizza em cima do cadáver do entregador. O Massacre ganhou duas continuações e um remake recente.
Horário de Visitas
Um dos slashers mais subestimados da década de 1980, Horário de Visitas precisa ser visto por mais gente e angariar uma legião cada vez maior de fãs para se tornar um cult no nível de alguns outros da lista. No momento, o filme se encontra meio esquecido. O antagonista aqui é vivido pelo grande Michael Ironside, o vilão do sci-fi Scanners – Sua Mente Pode Destruir, lançado no ano anterior. Aqui, ele vive um psicopata, de passado trágico, que odeia mulheres. Ele ataca uma apresentadora de jornal e ela é hospitalizada. Mas o maníaco não para por aí e resolve segui-la até o hospital, onde tentará eliminá-la de uma vez por todas. Esse é um slasher de hospital e faz uma boa dobradinha com Halloween II (1981). Porém, a surpresa aqui é na forma como os personagens são desenvolvidos – elevando o longa acima do típico slasher. Além disso, conta com a presença do veterano William Shatner em participação especial.
Fúria Silenciosa
Já imaginou um filme onde o imbatível Chuck Norris enfrentasse o imparável Michael Myers? E se eu te dissesse que este filme já existe e que os anos 80 foram que nos proporcionaram esta alegria? Bem, ou quase. Tá, tudo bem, o vilão deste filme não é oficialmente o Michael Myers da franquia Halloween. Mas é praticamente. E tenho certeza que os roteiristas pensaram nisso – já que Halloween e Halloween II foram enormes sucessos em anos anteriores – na hora de escrever esta história. O incomparável Chuck Norris fazia muito sucesso nos anos 80, e já era uma máquina de distribuir sopapos e pontapés. Assim, acharam por bem agraciá-lo com um antagonista à altura. Em Fúria Silenciosa, cientistas realizam um experimento e criam um sujeito silencioso e altamente letal – ou seja, Myers. Ele só não usa máscara. O psicopata sai fazendo vítimas por onde passa, e só Norris será capaz de caçá-lo.
Assassinatos na Fraternidade Secreta
Por alguma razão esse filme caiu nas graças dos fãs de terror, que o elegeram como um dos mais cult do período. Talvez pela premissa que lembra um “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, e o elenco inteiramente feminino, já que a trama se desenrola numa casa feminina de irmandade, numa faculdade americana. Na trama, um grupo de amigas resolve fazer uma pegadinha com a mulher que é a administradora de sua casa – simplesmente por a considerarem muito severa. A brincadeira sai terrivelmente errado e ela termina morta. As amigas fazem um pacto e escondem o corpo. Algum tempo depois, elas começam a morrer uma a uma. E agora precisam correr contra o tempo para descobrir quem é o assassino. Esse slasher ganhou um remake em 2009, intitulado Pacto Secreto – que faz muitas homenagens e também muda certos aspectos da trama, em especial a revelação de quem é o verdadeiro assassino.
O Mistério do Cesto
Por mais que gostemos dos filmes slasher é inegável que a maioria deles são todos iguais. Os mais raros são os que tentam inovar de alguma forma, e é justamente para estes que devemos dar os maiores créditos. Mesmo que esta criatividade traga ares para lá de insanos à premissa. É o caso deste item extremamente cult. Na história, um rapaz tímido anda para cima e para baixo com um cesto – destes de piquenique – sem nunca revelar o verdadeiro conteúdo misterioso do objeto. Para piorar, estranhos acontecimentos e mortes começam a cercar o jovem. Mas este não é um filme que deseja fazer mistério até sua última cena sobre o conteúdo do cesto. Pelo contrário, logo ficamos sabendo que o sujeito carrega seu irmão gêmeo siamês que não se desenvolveu completamente, sendo basicamente um rosto com mãos. A trama até lembra de certa a forma o recente Maligno, de James Wan. Será que o cineasta se inspirou aqui? Basket Case, trocadilho em inglês para uma pessoa desequilibrada, rendeu duas continuações, em 1990 e 1991.
Noite de Pânico
No mesmo ano em que o icônico Jason ganhava sua máscara de hockey, outro filme de terror slasher fazia o mesmo. Este Alone in Dark – no título original – no entanto, não usa um psicopata mascarado o filme todo como antagonista, pelo contrário, a máscara só faz uma breve aparição. A trama aqui gira em torno de quatro fugitivos de um hospital / prisão psiquiátrica para detentos perigosos, retornando para a cidade para espalhar o caos e o medo. Ou seja, imagine Halloween com quatro Michael Myers! E por falar no filme icônico de John Carpenter, aqui temos mais uma semelhança: a presença do eterno Dr. Loomis, Donald Pleasence, no elenco. O ator interpreta outro psiquiatra responsável pelos internos – mas um muito diferente de seu famoso papel. Completando o elenco, os veteranos Jack Palance e Martin Landau interpretando dois dos foragidos.
Terror na Noite
Por falar em Halloween (1978), o clássico com Jamie Lee Curtis não foi o único slasher passado no dia das bruxas durante a década de 1980 – afinal você achou mesmo que algum produtor oportunista deixar essa chance escapar? Agora, imagine Halloween misturado com Esqueceram de Mim – onde um garoto muito engenhoso tenha preparado uma noite de armadilhas, não para bandidos que tentam entrar na sua casa, mas sim em sua própria babá. Todas estas pegadinhas, é claro, usando a temática assustadora da data. Para piorar as coisas, o pai do menino está internado num hospital psiquiátrico devido à sua violência e planeja escapar para visitar o filho. Uma mistura explosiva. O filme tem a participação de David Carradine, o Bill dos filmes Kill Bill, de Quentin Tarantino.
Pesadelo no Vale da Morte
O chamado “Vale da Morte” é um local muito conhecido nos EUA, e fica localizado na parte leste da Califórnia e norte do deserto de Mojave, fazendo fronteira com o deserto Great Basin. Tal deserto, durante o verão, é considerado um dos lugares mais quentes da Terra, comparável a desertos como o Sahara. Daí o nome “aconchegante” de Vale da Morte. Em tal cenário a trama deste filme se desenrola, quando uma mãe divorciada (papel de Catherine Hicks – que anos mais tarde viveria outra mãe famosa dos slashers, no primeiro Brinquedo Assassino), viaja com seu filho pequeno (papel do engraçadinho Peter Billinglsey – do clássico Uma História de Natal) através de tal cenário. Acompanhando os dois, está o novo namorado da mulher. E como esperado em um filme do tipo, eles se deparam com um serial killer. Porém, essa história dará uma guinada em sua revelação sobre a identidade do psicopata. Completando o elenco, os veteranos Wilford Brimley e Edward Hermann.
Halloween III – A Noite das Bruxas
Tudo bem, aqui trapaceamos um pouco na lista. O terceiro Halloween, lançado há 40 anos, não é tecnicamente um slasher. Mas como faríamos uma matéria do tipo sem adicionar um exemplar desta franquia tão querida? E se caso você esteja confuso, saiba que o terceiro longa daria início a uma série de filmes de antologia, em que a cada novo episódio uma história diferente usando a temática do dia das bruxas seria usada. Para todos os efeitos, Michael Myers havia morrido ao final do segundo filme. E para iniciar a antologia, uma história sobre uma companhia fabricante de máscaras para crianças, com uma agenda muito particular, demoníaca e apocalíptica. A irlandesa Silver Shamrock misturou tecnologia de ponta (para 1982) com magia sombria e criou máscaras para exterminar o maior número de crianças da face da Terra. Ah sim, além de robôs humanoides. Soa de mau gosto e cruel? Bem, esses eram os anos 80, sejam bem-vindos de volta.