sábado , 21 dezembro , 2024

Retro Dance #14 | Of Monsters and Men e a onírica jornada de ‘FEVER DREAM’

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Cinco anos depois de terem lançado o aclamado ‘Beneath the Skin’, a banda islandesa de indie folk e pop Of Monsters and Men voltou a chamar nossa atenção para a divulgação de seu terceiro álbum de estúdio. ‘FEVER DREAM’, como ficou conhecida a nova peça fonográfica, foi descrito antes de seu recente début como uma transformação na identidade sonora do icônico grupo – nas palavras da própria lead singer Nanna Bryndís, que procurava se afastar das canções nas quais trabalhara exaustivamente desde o começo da carreira em prol de algo que talvez caísse mais no gosto popular. O resultado, para o bem ou para o mal, é muito mais palpável e mainstream que as investidas anteriores – mas essa comercialidade não vista nos discos anteriores não necessariamente é algo ruim.

De fato, a banda não tem a atenção que merece: desde quando conquistaram a indústria musical com ‘My Head Is an Animal’, escalaram progressivamente um árduo caminho, passando pelo segundo álbum supracitado e chegando finalmente em um momento crucial, no qual poucos artistas tem a independência necessária para se manter fiéis ao que já nos apresentaram, ainda que se renovem ano após ano. O hiato provou ser útil à maturidade do grupo, que divulgou os dois singles oficiais de ‘FEVER’ com aceitação universal de seus fãs de longa-data, além de conquistar um novo público que pode encontrar similaridades com certas produções contemporâneas.



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Também faz-se necessário dizer que o novo disco é menos “restrito”, grosso modo, que as obras predecessores. Entretanto, não encare “restrição” como algo negativo, mas sim como uma caracterização que colocava cada um dos integrantes em um nicho específico. Aqui, o indie folk característico de suas composições é abandonado com algumas exceções, mesmo não pecando na temível mercantilização. Não é surpresa, pois, que “Alligator” abra essa aventura coming-of-age de forma aplaudível: a track se move pelo épica minimalista e contraditória da guitarra que antecipa os belíssimo vocais da mezzosoprano; aqui o primeiro ato nos guia equivocadamente por entre um goth-rock que, na verdade, está mascarado com funcionais (ainda que convencionais) explosões de cada refrão e dos acordes percussionistas bastante conhecidos do gênero híbrido que exploram.

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É bem fácil perceber de que modo o grupo se transforma logo de cara – seguindo a construção das faixas, essa mudança é propositalmente abrupta e oscila com força entre as ballads e as confissões agitadas. O escopo instrumental já recua em uma perspectiva significativa com “Ahay”, no qual Bryndís divide os holofotes com a grave e deliciosa performance de Ragnar “Raggi” Þórhallsson, que se juntou à banda em 2013. Essa melódica transição encontra uma ambiência ainda mais onírica com “Róróró”, na qual Nanna recupera o protagonismo com força inigualável e mantém relações com as conterrâneas Aurora e Florence Welch (principalmente quando analisamos a tecedura de seus vocais, com ênfase em seus perfeitos agudos).

Of Monsters and Men sempre teve uma habilidade precisa de aglutinar diversos suis-generis em um único lugar, buscando uma expressividade ímpar que resultou no sucesso que faz hoje – e esperamos que continue fazendo. Porém, ainda que o time criativo atire para vários lugares em uma missão interminável de inferências e referências (Björk, por exemplo, é drenada para dar vida a alguns dos singles mais famosos do grupo), suas escolhas pontuais falam mais alto do que qualquer coisa. Nessa compreensão abrangente, “Wars” ganha uma dimensão muito maior do que promete, seja pelo lirismo teatral de suas sutis declarações, seja pelo abuso envolvente do chamber pop e todos os elementos nostálgicos que nos transportam de volta para os anos 1960 e 1970.

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A presença do piano clássico na faixa em questão, travestido pelos impactantes sintetizadores, é complementar a uma track antecedente intitulada “Wild Roses”. Entretanto, mesmo que as delineações existam, elas não são tão catárticas quanto a música que prenuncia o fim do álbum; é claro que a unidimensionalidade é pensada com cautela e carregada com mais precisão ainda por Bryndís. Contudo, não podemos deixar de sentir um gostinho agridoce de “quero mais” reafirmada pelos emocionantes versos que dizem “por que não estamos cheios de fingir?”.

Em certos momentos, o CD se rende a uma repetição desnecessária: as construções instrumentais prezam bastante pela textura musical, condizendo com o que a banda já nos mostrou em um passado não muito distante. Mesmo com a competência de cada um de seus integrantes, o uso da bateria, do piano e do baixo se funde em blocos bastante parecidos entre uma música e outra – por exemplo, em “Stuck in Gravity” ou “Waiting For The Snow” (esta última ironicamente representando um retorno às raízes). A condução é perfeita, como sempre, através de seus respectivos lead singers, apesar de que nem isso é capaz de ofuscar os claros deslizes aplacados pela obra.

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‘FEVER DREAM’ pode não ter o mesmo respiro de originalidade que os álbuns anteriores, mas sem dúvida alguma é uma ótima entrada para a discografia de Of Monsters and Men. Revitalizando a si mesma mais uma vez, a produção tão aguardada de certo não irá falhar em cativar seu público e, além disso, tem potencial para abrir novas portas para um grupo hábil e que detém uma das identidades artísticas e sonoras mais únicas da contemporaneidade.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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De fato, a banda não tem a atenção que merece: desde quando conquistaram a indústria musical com ‘My Head Is an Animal’, escalaram progressivamente um árduo caminho, passando pelo segundo álbum supracitado e chegando finalmente em um momento crucial, no qual poucos artistas tem a independência necessária para se manter fiéis ao que já nos apresentaram, ainda que se renovem ano após ano. O hiato provou ser útil à maturidade do grupo, que divulgou os dois singles oficiais de ‘FEVER’ com aceitação universal de seus fãs de longa-data, além de conquistar um novo público que pode encontrar similaridades com certas produções contemporâneas.

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Também faz-se necessário dizer que o novo disco é menos “restrito”, grosso modo, que as obras predecessores. Entretanto, não encare “restrição” como algo negativo, mas sim como uma caracterização que colocava cada um dos integrantes em um nicho específico. Aqui, o indie folk característico de suas composições é abandonado com algumas exceções, mesmo não pecando na temível mercantilização. Não é surpresa, pois, que “Alligator” abra essa aventura coming-of-age de forma aplaudível: a track se move pelo épica minimalista e contraditória da guitarra que antecipa os belíssimo vocais da mezzosoprano; aqui o primeiro ato nos guia equivocadamente por entre um goth-rock que, na verdade, está mascarado com funcionais (ainda que convencionais) explosões de cada refrão e dos acordes percussionistas bastante conhecidos do gênero híbrido que exploram.

É bem fácil perceber de que modo o grupo se transforma logo de cara – seguindo a construção das faixas, essa mudança é propositalmente abrupta e oscila com força entre as ballads e as confissões agitadas. O escopo instrumental já recua em uma perspectiva significativa com “Ahay”, no qual Bryndís divide os holofotes com a grave e deliciosa performance de Ragnar “Raggi” Þórhallsson, que se juntou à banda em 2013. Essa melódica transição encontra uma ambiência ainda mais onírica com “Róróró”, na qual Nanna recupera o protagonismo com força inigualável e mantém relações com as conterrâneas Aurora e Florence Welch (principalmente quando analisamos a tecedura de seus vocais, com ênfase em seus perfeitos agudos).

Of Monsters and Men sempre teve uma habilidade precisa de aglutinar diversos suis-generis em um único lugar, buscando uma expressividade ímpar que resultou no sucesso que faz hoje – e esperamos que continue fazendo. Porém, ainda que o time criativo atire para vários lugares em uma missão interminável de inferências e referências (Björk, por exemplo, é drenada para dar vida a alguns dos singles mais famosos do grupo), suas escolhas pontuais falam mais alto do que qualquer coisa. Nessa compreensão abrangente, “Wars” ganha uma dimensão muito maior do que promete, seja pelo lirismo teatral de suas sutis declarações, seja pelo abuso envolvente do chamber pop e todos os elementos nostálgicos que nos transportam de volta para os anos 1960 e 1970.

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A presença do piano clássico na faixa em questão, travestido pelos impactantes sintetizadores, é complementar a uma track antecedente intitulada “Wild Roses”. Entretanto, mesmo que as delineações existam, elas não são tão catárticas quanto a música que prenuncia o fim do álbum; é claro que a unidimensionalidade é pensada com cautela e carregada com mais precisão ainda por Bryndís. Contudo, não podemos deixar de sentir um gostinho agridoce de “quero mais” reafirmada pelos emocionantes versos que dizem “por que não estamos cheios de fingir?”.

Em certos momentos, o CD se rende a uma repetição desnecessária: as construções instrumentais prezam bastante pela textura musical, condizendo com o que a banda já nos mostrou em um passado não muito distante. Mesmo com a competência de cada um de seus integrantes, o uso da bateria, do piano e do baixo se funde em blocos bastante parecidos entre uma música e outra – por exemplo, em “Stuck in Gravity” ou “Waiting For The Snow” (esta última ironicamente representando um retorno às raízes). A condução é perfeita, como sempre, através de seus respectivos lead singers, apesar de que nem isso é capaz de ofuscar os claros deslizes aplacados pela obra.

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‘FEVER DREAM’ pode não ter o mesmo respiro de originalidade que os álbuns anteriores, mas sem dúvida alguma é uma ótima entrada para a discografia de Of Monsters and Men. Revitalizando a si mesma mais uma vez, a produção tão aguardada de certo não irá falhar em cativar seu público e, além disso, tem potencial para abrir novas portas para um grupo hábil e que detém uma das identidades artísticas e sonoras mais únicas da contemporaneidade.

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