quinta-feira , 19 dezembro , 2024

Retro Dance #18 | ‘Courage’ é o reflexo mais puro da alma de Céline Dion

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Céline Dion é uma das vozes que marcou as décadas de 1980 e 1990 e que, num espectro, entregou algumas das baladas mais famosas da história da música. Desde “All By Myself”, passando por “It’a All Coming Back to Me Now” até chegar na icônica canção original de Deadpool 2, “Ashes”, Dion continua nos encantando com seu incrível poder vocal e sua capacidade de nos levar nas mais sensoriais jornadas. Qual foi nossa surpresa quando, seis anos depois de ter lançado sua última obra em língua inglesa, a artista roubou nossa atenção com o lançamento de Courage, seu 12º álbum de estúdio – e o resultado não poderia ser aquém do que esperávamos.

Na verdade, sem quaisquer trocadilhos, seu novo CD é extremamente corajoso e coeso, buscando um classicismo dentro de sua própria discografia ao recuperar elementos explorados vários anos atrás, enquanto mergulha na característica sonoridade do começo do século e até mesmo da transição para a era digital. Logo, não é surpresa que encontremos, ao longo de uma epopeia formada por vinte faixas, uma mistura equilibrada entre soft rock, synth-pop e um aspecto próprio de suas habilidades artísticas, o chanson. E, como se não bastasse, o álbum se transforma em uma investida muito pessoal quando nos recordamos que, em 2016, Céline perdeu o marido devido a complicações de câncer da garganta – o que explica o fato dela ter escolhido tantas ballads românticas para se reencontrar como a diva que conhecemos.



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De fato, Dion passou por uma dura jornada até chegar onde está; logo, não podemos deixar de nos sentir nada menos do que emocionados ao perceber que ela retomou as rédeas de sua vida e de sua carreira, arquitetando um arco tour-de-force épico e de nos tirar o fôlego a cada track. Em Courage, a cantora prova que as melhores coisas não necessariamente vêm em frascos pequenos; às vezes, elas vêm travestidas com icônicas performances que invadem a esfera teatral e erguem-se do modo mais inesperado possível. A música de abertura, “Flying on My Own”, é uma das poucas entradas dançantes que se nutre das batidas eletrônicas dos anos 2000, as quais são traduzidas pelas interessantes tendências europeias de Jörgen Elofsson. Repaginada com uma contemporaneidade envolvente, “Imperfections” também se vale de uma delineação similar, ainda que mais acuada.

A obra funciona como um espelho para a própria performer, que entende a si mesma em várias das canções ao mesmo tempo que senta para refletir sobre os obstáculos que enfrentou. E é claro que tais reflexões apareceriam através de lentas construções instrumentais, acompanhadas pelas belíssimas oscilações de Céline. “Falling In Love Again” é movido por um melancólico solilóquio guiado pelo soberbo piano, incrustado com surpreendentes versos como “atingi as rochas do fundo, sem lugar para ir, […] mas você me mostrou que há muito mais nessa vida; enquanto isso, ela também mostra toda sua sensualidade em uma impecável coreografia sonora com a irreverente “Lovers Never Die”.

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Dion também mostra que sempre está disposta a se reinventar e a encontrar colaborações que a mantém a par do que se utiliza na atualidade. Em “Change My Mind” e na soft-rock “Say Yes”, por exemplo, vemos que a artista imprime marcas deliberadamente afastadas do que nos entregou nos álbuns anteriores; na coming-of-age “Nobody’s Watching”, encontramos inclinações ao reggae dentro de uma perspectiva bastante sutil, mas que ainda aparecer aos ouvidos mais atentos. Mesmo com alguns deslizes e uma brutalidade menos fluida do que aparece em outras tracks, é inegável o poder de síntese e de catarse que ela nos convida a buscar, reafirmando sua persona como uma das icônicas e imortais celebridades da indústria musical.

À medida que arquiteta faixas comerciais, por assim dizer, a performer também usa e abusa de elementos bastante familiares; eventualmente, ela revisita sua extensa discografia e une tudo em uma narrativa bem estruturada. De um lado, Céline abre espaço para o retorno de Falling Into You, lançado ainda em 1996, na deliciosa e emotiva “Best of All” e também na música-titular, cuja letra acaba falando mais alto que qualquer outra coisa. A New Day Has Come também empresta sua identidade para a ressonante contry-pop “The Chase”; entretanto, diferente do que alguns poderiam imaginar, a surpresa vem não na forma reciclável, que poderia tirar o brilho do CD, mas numa constante averiguação de como reelaborar aquilo que já foi usado – e, felizmente, ela alcança com perfeição o que pretende.

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Essa familiaridade é canalizada para uma concisa pessoalidade, que expande-se para várias peças musicais. Em outras palavras, a cantora faz uma singela homenagem para conterrâneas do R&B e do pop, trazendo nomes como Mariah Carey e Alicia Keys para ajudá-la na tríade “For the Lover That I Lost”, “I Will Be Stronger” e “How Did You Get Here” – nesta última, é possível até mesmo encontrar longínquas tangências no tocante à sonoridade única de Amy Winehouse. Mas Céline não deixa se levar apenas pelos aspectos supracitados: ela resgata a si mesma no caminho para a conclusão, explorando novas camadas de sua potência e de sua tecedura na quase gospel “Look at Us Now” e na impactante e sintética “Heart of Glass”.

Em meio a dezenas de produtores e liricistas, Courage poderia falhar em absolutamente tudo a que se prezasse nos entregar; todavia, isso não acontece – o que já era de se esperar, considerando a carreira da lead singer. Na verdade, o álbum tanto mostra que Céline Dion ainda tem a capacidade de nos surpreender com rendições aplaudíveis, quanto funciona como, talvez, o mais íntimo que já tenha revelado.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Céline Dion é uma das vozes que marcou as décadas de 1980 e 1990 e que, num espectro, entregou algumas das baladas mais famosas da história da música. Desde “All By Myself”, passando por “It’a All Coming Back to Me Now” até chegar na icônica canção original de Deadpool 2, “Ashes”, Dion continua nos encantando com seu incrível poder vocal e sua capacidade de nos levar nas mais sensoriais jornadas. Qual foi nossa surpresa quando, seis anos depois de ter lançado sua última obra em língua inglesa, a artista roubou nossa atenção com o lançamento de Courage, seu 12º álbum de estúdio – e o resultado não poderia ser aquém do que esperávamos.

Na verdade, sem quaisquer trocadilhos, seu novo CD é extremamente corajoso e coeso, buscando um classicismo dentro de sua própria discografia ao recuperar elementos explorados vários anos atrás, enquanto mergulha na característica sonoridade do começo do século e até mesmo da transição para a era digital. Logo, não é surpresa que encontremos, ao longo de uma epopeia formada por vinte faixas, uma mistura equilibrada entre soft rock, synth-pop e um aspecto próprio de suas habilidades artísticas, o chanson. E, como se não bastasse, o álbum se transforma em uma investida muito pessoal quando nos recordamos que, em 2016, Céline perdeu o marido devido a complicações de câncer da garganta – o que explica o fato dela ter escolhido tantas ballads românticas para se reencontrar como a diva que conhecemos.

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De fato, Dion passou por uma dura jornada até chegar onde está; logo, não podemos deixar de nos sentir nada menos do que emocionados ao perceber que ela retomou as rédeas de sua vida e de sua carreira, arquitetando um arco tour-de-force épico e de nos tirar o fôlego a cada track. Em Courage, a cantora prova que as melhores coisas não necessariamente vêm em frascos pequenos; às vezes, elas vêm travestidas com icônicas performances que invadem a esfera teatral e erguem-se do modo mais inesperado possível. A música de abertura, “Flying on My Own”, é uma das poucas entradas dançantes que se nutre das batidas eletrônicas dos anos 2000, as quais são traduzidas pelas interessantes tendências europeias de Jörgen Elofsson. Repaginada com uma contemporaneidade envolvente, “Imperfections” também se vale de uma delineação similar, ainda que mais acuada.

A obra funciona como um espelho para a própria performer, que entende a si mesma em várias das canções ao mesmo tempo que senta para refletir sobre os obstáculos que enfrentou. E é claro que tais reflexões apareceriam através de lentas construções instrumentais, acompanhadas pelas belíssimas oscilações de Céline. “Falling In Love Again” é movido por um melancólico solilóquio guiado pelo soberbo piano, incrustado com surpreendentes versos como “atingi as rochas do fundo, sem lugar para ir, […] mas você me mostrou que há muito mais nessa vida; enquanto isso, ela também mostra toda sua sensualidade em uma impecável coreografia sonora com a irreverente “Lovers Never Die”.

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Dion também mostra que sempre está disposta a se reinventar e a encontrar colaborações que a mantém a par do que se utiliza na atualidade. Em “Change My Mind” e na soft-rock “Say Yes”, por exemplo, vemos que a artista imprime marcas deliberadamente afastadas do que nos entregou nos álbuns anteriores; na coming-of-age “Nobody’s Watching”, encontramos inclinações ao reggae dentro de uma perspectiva bastante sutil, mas que ainda aparecer aos ouvidos mais atentos. Mesmo com alguns deslizes e uma brutalidade menos fluida do que aparece em outras tracks, é inegável o poder de síntese e de catarse que ela nos convida a buscar, reafirmando sua persona como uma das icônicas e imortais celebridades da indústria musical.

À medida que arquiteta faixas comerciais, por assim dizer, a performer também usa e abusa de elementos bastante familiares; eventualmente, ela revisita sua extensa discografia e une tudo em uma narrativa bem estruturada. De um lado, Céline abre espaço para o retorno de Falling Into You, lançado ainda em 1996, na deliciosa e emotiva “Best of All” e também na música-titular, cuja letra acaba falando mais alto que qualquer outra coisa. A New Day Has Come também empresta sua identidade para a ressonante contry-pop “The Chase”; entretanto, diferente do que alguns poderiam imaginar, a surpresa vem não na forma reciclável, que poderia tirar o brilho do CD, mas numa constante averiguação de como reelaborar aquilo que já foi usado – e, felizmente, ela alcança com perfeição o que pretende.

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Essa familiaridade é canalizada para uma concisa pessoalidade, que expande-se para várias peças musicais. Em outras palavras, a cantora faz uma singela homenagem para conterrâneas do R&B e do pop, trazendo nomes como Mariah Carey e Alicia Keys para ajudá-la na tríade “For the Lover That I Lost”, “I Will Be Stronger” e “How Did You Get Here” – nesta última, é possível até mesmo encontrar longínquas tangências no tocante à sonoridade única de Amy Winehouse. Mas Céline não deixa se levar apenas pelos aspectos supracitados: ela resgata a si mesma no caminho para a conclusão, explorando novas camadas de sua potência e de sua tecedura na quase gospel “Look at Us Now” e na impactante e sintética “Heart of Glass”.

Em meio a dezenas de produtores e liricistas, Courage poderia falhar em absolutamente tudo a que se prezasse nos entregar; todavia, isso não acontece – o que já era de se esperar, considerando a carreira da lead singer. Na verdade, o álbum tanto mostra que Céline Dion ainda tem a capacidade de nos surpreender com rendições aplaudíveis, quanto funciona como, talvez, o mais íntimo que já tenha revelado.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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