domingo , 22 dezembro , 2024

Riverdale | Série chegou ao fim após sete temporadas; Relembre como tudo COMEÇOU!

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Após ter sido exibida durante sete temporadas e ter conquistado o coração de inúmeros espectadores, Riverdale chegou ao fim do modo como poderia – e isso nos leva a relembrar como tudo começou (e de que forma uma conturbada e desequilibrada temporada deu o tom da série).

Sabe-se que a CW tem seu nome pautado nas diversas produções do exploradíssimo drama adolescente. Dentre suas obras mais conhecidas, podemos citar o fantasioso coming-of-age Supernatural’ e as séries de super-heróis Arrow’ e The Flash’. Entretanto, não foi até 2017, com a adição de Roberto Aguirre-Sacasa ao time de showrunners que a emissora adentrava em um novo ramo, adaptando quadrinhos voltados ao público juvenil cuja identidade se afastava dos escopos mágicos e fabulescos e se fixava a uma proposta mais realista, misteriosa e relativamente macabra. Apesar do hype e da quase imediata aceitação dos espectadores, não podemos fechar os olhos para o fato de que a primeira temporada de Riverdale na verdade só funciona na superfície; quanto mais analisamos sua história e sua tentativa de entregar algo novo, fica mais claro que tudo não passa do mais puro novelão mexicano, desde as tramas até as tristes atuações.



O episódio piloto talvez seja a representação mais concreta do que estou falando. Narrado majoritariamente pelo aspirante a romancista Forsythe “Jughead” Jones (Cole Sprouse), a abertura se assemelha mais a um vídeo promocional que a qualquer outra coisa. Aqui, somos apresentados à cidade que empresta seu nome ao título e à principal tragédia que acometeu seus moradores: a morte inusitada de Jason Blossom (Trevor Stines), filho de uma das famílias mais poderosas. Em uma espécie de reconstrução artística e onírica, sabemos que ele e a irmã gêmea Cheryl (Madelaine Petsch) saíram para um passeio de barco e se separaram após caírem no rio. Apenas ela conseguiu retornar às margens, mobilizando a polícia e vários outros voluntários para procurá-lo sem qualquer sucesso.

Todavia, esse pano de fundo com grande potencial a ser explorado cede aos inúmeros convencionalismos do gênero teen, buscando enfiar forçosamente subtramas que saturam mais que o necessário, ao menos à prima vista. É claro que Aguirre-Sacasa almejava a conexões múltiplas com seu público, e encontrou obstáculos intransponíveis por várias razões. A primeira é a quantidade de personagens que insurgem em todas as extremidades da história e seus respectivos arcos: além do mistério que ronda o desaparecimento de Jason, um novo núcleo chega à cidade, formado por Veronica (Camila Mendes) e Hermione Lodge (Marisol Nichols), duas socialites que fogem de Nova York para recomeçar a vida após o patriarca ser preso por lavagem de dinheiro. Há também a relação conturbada entre Elizabeth “Betty” Cooper (Lili Reinhart) e Archibald “Archie” Andrews (KJ Apa), na qual este apenas a considera como amiga enquanto aquela tem plena ciência de que ambos caminham para um final feliz como par romântico.

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Archie, por sua vez, está apaixonado pela professora de música Geraldine (Sarah Habel), tendo criado laços íntimos durante o verão e insurgindo com uma pista que pode reformular as investigações da perícia acerca do caso Blossom. Além disso, ele tenta conciliar sua paixão pela música e as aspirações do pai para seu futuro, entrando para o time de futebol americano de seu colégio e demonstrando um caráter altruísta incrível. De qualquer forma, essas sutilezas construtivas da personalidade de cada personagem são varridas para debaixo do tapete, jogadas no lixo sem misericórdia por conta do revestimento novelesco da série. Diferente de outras produções que seguem a mesma linha, como Desperate Housewives’, esta se recusa a fixar-se em uma só estrutura e perde-se em meio a promessas que nunca são cumpridas.

O showrunner parece ter um apreço inexplicável pelas referências cinematográficas. Ao menos nos capítulos inicias, em que o fortalecimento de conexões entre as personas e a audiência é primordial, os diálogos não se encaixam com naturalidade, e sim parecem revolver uma regurgitação constante de “conhecimento cultural”. Com isso, o roteiro busca por se afastar dos tipos sociais estereotipados e rende-se, ironicamente, aos próprios erros. Cheryl, por exemplo, é a Queen Bee de sua escola e tenta chegar ao mesmo patamar de outras personagens icônicas, como Regina George (Rachel McAdams em Meninas Malvadas’) e Emily (Emily Blunt em O Diabo Veste Prada’). Entretanto, sua robotização constante não condiz com uma possível profundidade emocional, e nem mesmo a pífia atuação de Petsch lhe concede o brilho necessário. Mas também não há muito o que se fazer quando o material não é bom.

Talvez a rendição de Veronica como ex-socialite e agora “boa moça”, por falta de outro atributo que a caracterize, seja uma das únicas coisas que salve a série. Mendes entrega-se com paixão para a persona à qual dá vida e cria certa química com os outros, além de ser dotada de algumas sequências dialógicas fabulosas. Sua performance é respaldada pela transformação assustadora de Betty, passando de bonequinha de porcelana para uma jornalista investigativa que não tem medo nem de seus impiedosos pais. Aliás, a irmã de Betty, Polly (Tiera Skovbye), é ex-namorada de Jason e foi internada após um suposto colapso nervoso – e pode ter informações imprescindíveis para a investigação do corpo do garoto, que torna-se alvo de um horrendo homicídio. Mesmo assim, a narrativa não dá a atenção necessária nem viradas coerentes, voltando ao melodrama excessivo e ao cansaço cênico.

É certo que os deslizes têm raízes nas tramas em si, então não pode-se deixar de mencionar o incrível trabalho artístico-imagético que Aguirre-Sacasa faz, principalmente no tocante a um dos cenários principais, a hamburgueria Pop’s. Erguida num estilo anacrônico e vintage que conversa com o classicismo da década de 1950, o ambiente parece perdido em meio à contemporaneidade da cidade, servindo como refúgio e palco de algumas das poucas cenas realmente boas. A paleta de cores, afastando-se do convencionalismo pastel e optando pela vivacidade dos tons neon, é escolhida com exímia cautela e até mesmo as luzes vazadas para a parte de dentro conseguem aumentar o parco misticismo que rodeia a cidade.

Riverdale funciona mais por sua arte que pela história, sendo bem sincero. Entre uma interessante premissa ofuscada pelo preciosismo das atuações e das histórias secundárias e uma conclusão plantada na zona de conforto, a primeira temporada foi, sem dúvida, adorada pelo público, mas sem uma explicação tangível. Porque convenhamos: existem dramas adolescentes bem melhores que esse. Isso é fato.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Sabe-se que a CW tem seu nome pautado nas diversas produções do exploradíssimo drama adolescente. Dentre suas obras mais conhecidas, podemos citar o fantasioso coming-of-age Supernatural’ e as séries de super-heróis Arrow’ e The Flash’. Entretanto, não foi até 2017, com a adição de Roberto Aguirre-Sacasa ao time de showrunners que a emissora adentrava em um novo ramo, adaptando quadrinhos voltados ao público juvenil cuja identidade se afastava dos escopos mágicos e fabulescos e se fixava a uma proposta mais realista, misteriosa e relativamente macabra. Apesar do hype e da quase imediata aceitação dos espectadores, não podemos fechar os olhos para o fato de que a primeira temporada de Riverdale na verdade só funciona na superfície; quanto mais analisamos sua história e sua tentativa de entregar algo novo, fica mais claro que tudo não passa do mais puro novelão mexicano, desde as tramas até as tristes atuações.

O episódio piloto talvez seja a representação mais concreta do que estou falando. Narrado majoritariamente pelo aspirante a romancista Forsythe “Jughead” Jones (Cole Sprouse), a abertura se assemelha mais a um vídeo promocional que a qualquer outra coisa. Aqui, somos apresentados à cidade que empresta seu nome ao título e à principal tragédia que acometeu seus moradores: a morte inusitada de Jason Blossom (Trevor Stines), filho de uma das famílias mais poderosas. Em uma espécie de reconstrução artística e onírica, sabemos que ele e a irmã gêmea Cheryl (Madelaine Petsch) saíram para um passeio de barco e se separaram após caírem no rio. Apenas ela conseguiu retornar às margens, mobilizando a polícia e vários outros voluntários para procurá-lo sem qualquer sucesso.

Todavia, esse pano de fundo com grande potencial a ser explorado cede aos inúmeros convencionalismos do gênero teen, buscando enfiar forçosamente subtramas que saturam mais que o necessário, ao menos à prima vista. É claro que Aguirre-Sacasa almejava a conexões múltiplas com seu público, e encontrou obstáculos intransponíveis por várias razões. A primeira é a quantidade de personagens que insurgem em todas as extremidades da história e seus respectivos arcos: além do mistério que ronda o desaparecimento de Jason, um novo núcleo chega à cidade, formado por Veronica (Camila Mendes) e Hermione Lodge (Marisol Nichols), duas socialites que fogem de Nova York para recomeçar a vida após o patriarca ser preso por lavagem de dinheiro. Há também a relação conturbada entre Elizabeth “Betty” Cooper (Lili Reinhart) e Archibald “Archie” Andrews (KJ Apa), na qual este apenas a considera como amiga enquanto aquela tem plena ciência de que ambos caminham para um final feliz como par romântico.

Archie, por sua vez, está apaixonado pela professora de música Geraldine (Sarah Habel), tendo criado laços íntimos durante o verão e insurgindo com uma pista que pode reformular as investigações da perícia acerca do caso Blossom. Além disso, ele tenta conciliar sua paixão pela música e as aspirações do pai para seu futuro, entrando para o time de futebol americano de seu colégio e demonstrando um caráter altruísta incrível. De qualquer forma, essas sutilezas construtivas da personalidade de cada personagem são varridas para debaixo do tapete, jogadas no lixo sem misericórdia por conta do revestimento novelesco da série. Diferente de outras produções que seguem a mesma linha, como Desperate Housewives’, esta se recusa a fixar-se em uma só estrutura e perde-se em meio a promessas que nunca são cumpridas.

O showrunner parece ter um apreço inexplicável pelas referências cinematográficas. Ao menos nos capítulos inicias, em que o fortalecimento de conexões entre as personas e a audiência é primordial, os diálogos não se encaixam com naturalidade, e sim parecem revolver uma regurgitação constante de “conhecimento cultural”. Com isso, o roteiro busca por se afastar dos tipos sociais estereotipados e rende-se, ironicamente, aos próprios erros. Cheryl, por exemplo, é a Queen Bee de sua escola e tenta chegar ao mesmo patamar de outras personagens icônicas, como Regina George (Rachel McAdams em Meninas Malvadas’) e Emily (Emily Blunt em O Diabo Veste Prada’). Entretanto, sua robotização constante não condiz com uma possível profundidade emocional, e nem mesmo a pífia atuação de Petsch lhe concede o brilho necessário. Mas também não há muito o que se fazer quando o material não é bom.

Talvez a rendição de Veronica como ex-socialite e agora “boa moça”, por falta de outro atributo que a caracterize, seja uma das únicas coisas que salve a série. Mendes entrega-se com paixão para a persona à qual dá vida e cria certa química com os outros, além de ser dotada de algumas sequências dialógicas fabulosas. Sua performance é respaldada pela transformação assustadora de Betty, passando de bonequinha de porcelana para uma jornalista investigativa que não tem medo nem de seus impiedosos pais. Aliás, a irmã de Betty, Polly (Tiera Skovbye), é ex-namorada de Jason e foi internada após um suposto colapso nervoso – e pode ter informações imprescindíveis para a investigação do corpo do garoto, que torna-se alvo de um horrendo homicídio. Mesmo assim, a narrativa não dá a atenção necessária nem viradas coerentes, voltando ao melodrama excessivo e ao cansaço cênico.

É certo que os deslizes têm raízes nas tramas em si, então não pode-se deixar de mencionar o incrível trabalho artístico-imagético que Aguirre-Sacasa faz, principalmente no tocante a um dos cenários principais, a hamburgueria Pop’s. Erguida num estilo anacrônico e vintage que conversa com o classicismo da década de 1950, o ambiente parece perdido em meio à contemporaneidade da cidade, servindo como refúgio e palco de algumas das poucas cenas realmente boas. A paleta de cores, afastando-se do convencionalismo pastel e optando pela vivacidade dos tons neon, é escolhida com exímia cautela e até mesmo as luzes vazadas para a parte de dentro conseguem aumentar o parco misticismo que rodeia a cidade.

Riverdale funciona mais por sua arte que pela história, sendo bem sincero. Entre uma interessante premissa ofuscada pelo preciosismo das atuações e das histórias secundárias e uma conclusão plantada na zona de conforto, a primeira temporada foi, sem dúvida, adorada pelo público, mas sem uma explicação tangível. Porque convenhamos: existem dramas adolescentes bem melhores que esse. Isso é fato.

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