Gênero do terror italiano antecedeu a eclosão de filmes slasher nos EUA
Lançada em 2021, a trilogia de filmes Rua do Medo da Netflix é inspirada em uma série de 51 livros publicados entre 1989 e 1997 escritos por R. L. Stine. De imediato é notável a inspiração das adaptações no modelo de filmes slasher iniciados nos anos 70 mas que se tornaram uma verdadeira febre na década de 80; muito por conta de seu baixo custo de produção e alta procura do público por esse tipo de entretenimento.
Ainda assim, o slasher não foi um fenômeno original, mas sim uma adaptação da indústria cinematográfica norte-americana ao subgênero italiano do giallo. Traduzido de maneira direta, o termo significa amarelo, sendo uma referência a um antigo título de história pulp (literatura popular e com temática criminal) intitulado IL Giallo Mondadori cuja capa possui um fundo amarelo.
De forma abrangente ambos os estilos possuem similaridades e diferenças, as chamadas “regras” por assim dizer. Enquanto que o slasher se popularizou por colocar personagens adolescentes em rota de colisão com algum assassino em série priorizando as cenas de execução, o giallo era mais abrangente e se preocupava muito mais em fornecer pistas ao longo do filme até que finalmente a identidade do antagonista fosse revelada. Dito isso seguem três Giallos que marcaram época e o terror.
3) O que vocês fizeram com Solange?
Quando os créditos de abertura começam, ao som da trilha de Ennio Morricone, mostrando uma coloração alaranjada e um grupo de jovens pedalando despreocupadas enquanto a câmera as acompanha em uma atmosfera voyeurística fica a sensação natural de que algo ruim vai acontecer. Em 1972 esse tipo de percepção não era comum em filmes de terror, principalmente quando envolvia jovens.
Seguindo as regras do gênero, o diretor Massimo Dallamano estabelece o assassinato de determinado personagem logo de início sendo testemunhado por um casal; a problemática, no entanto, é que o casal é composto por um professor e uma aluna de um colégio próximo à cena do crime. Não demora até que mais mortes começam e, num estilo similar ao que Hitchcock chamava de “pessoa errada no local errado”, esse mesmo professor passa a ser considerado um suspeito.
2) Torso
Um ano depois da obra acima, foi a vez do diretor Sergio Martino lançar sua nova empreitada no giallo (anteriormente ele tivera uma experiência com Lo Strano Vizio della Signora Wardh em 1971) com Torso, filme que segue caminho similar ao de O que vocês fizeram com Solange? no que consta um assassino que visa estudantes universitárias, porém, a partir do segundo ato o diretor opta por um caminho alternativo.
Após a protagonista suspeitar que um homem seja o culpado, pois o mesmo utilizava um cachecol similar aos que eram usados para sufocar as vítimas, ela não se torna paranoica com a possibilidade que ele venha atrás dela, como realmente leva a história para um modelo de gato e rato. Junto a algumas amigas ela passa um tempo em uma casa de veraneio isolada e é por ali que todas precisarão sobreviver à fúria do assassino.
1) Prelúdio para Matar
O diretor Dario Argento é um dos nomes mais cultuados do terror italiano, tendo uma ligação profunda com narrativas que mergulham no sobrenatural. Ainda assim, até ele teve sua aventura pelo giallo com Prelúdio para Matar, obra que não foge a regra do que havia sido estabelecido para o subgênero em anos anteriores. Praticamente todos os elementos estão aqui: assassino com identidade mantida a sete chaves, modelo de narrativa “pessoa errada no local errado”, cenas com violência explícita.
Porém, há alguns momentos em que Argento brinca com o espectador a respeito da identidade do criminoso, fornecendo pistas em certas cenas que a primeira vista podem passar despercebidas; em uma segunda conferida é possível pescar todos os detalhes e realmente perceber que a identidade do antagonista esteve na cara do protagonista desde o início.