Hoje o conceito de blockbuster se refere às superproduções mega milionárias dos grandes estúdios norte-americanos, repletas de efeitos, realizados em escala monstruosa, com um orçamento mais que inflado, e que são verdadeiras máquinas de fazer dinheiro (bem, ao menos as que emplacam no gosto do público e terminam não rendendo prejuízo). Mas a verdade é que o conceito nasceu lá atrás, ainda em meados da década de 1970, e tinha uma definição um pouco diferente. Antes, o termo (que significa literalmente “arrasa-quarteirão”), se referia a filmes que ressoam muito culturalmente, para além das salas de cinema.
Antes de 1975, os filmes não eram um assunto cultural. Eram comentados somente pelos apreciadores e “permaneciam nas salas de cinema”, sem que o público “os levassem para casa”. Com o primeiro blockbuster da história a coisa foi diferente. O filme permanecia culturalmente relevante, instigando conversas sobre ele nos mais variados âmbitos. As pessoas não se cansavam de comentá-lo no trabalho, escolas, e em eventos sociais. Este era um filme que transcendia o fato de ser “apenas” uma produção cinematográfica, para se tornar um verdadeiro evento. Após a sessão, as pessoas davam a volta no quarteirão e retornavam para a fila a fim de assistir novamente em sequência. As filas dobravam os quarteirões. As sessões lotavam. O longa gerava todo tipo de merchandising. É claro que com tudo isso uma gorda bilheteria vinha atrelada. Mas o lucro absurdo era consequência de todos os outros fatores.
Assim, nesta matéria iremos festejar os filmes evento – parte tão constante de nossa cultura atual de entretenimento. Se não fossem estes filmes, nada disso existiria. Aqui, iremos olhar os 10 primeiros blockbusters da história e comentá-los. Para todos os propósitos, levaremos em conta os primeiros filmes a ultrapassar a assombrosa marca de US$200 milhões em bilheteria somente em seu próprio território, os Estados Unidos. Esses filmes, não por acaso, se tornaram tão forte em nosso subconsciente e na sociedade mundial, que ainda hoje são comentados ou seguem gerando novos produtos. Confira abaixo e não esqueça de comentar.
01) Tubarão (1975)
No começo da matéria, citei que o ano de 1975 foi o grande divisor de águas para o cinema como o conhecemos hoje. Precisamos contextualizar que essa era a época do movimento chamado “Nova Hollywood”, realizadores jovens crescidos na contracultura do período dos hippies, onde a sociedade mundial passava por grande transformação de valores. Assim, a maneira de se contar histórias, e a narrativa cinematográfica nunca mais seriam as mesmas depois disso. Foi quando chegaram diretores como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian De Palma, George Lucas e Steven Spielberg. Este último foi quem comandou o fenômeno Tubarão, conhecido por ser o primeiro blockbuster da história. “O filme que tirou as pessoas das praias e levou aos cinemas”, como diz o slogan, foi responsável por inaugurar a era dos grandes filmes no verão norte-americano – antes uma época não muito favorável para tais lançamentos. Tubarão mudou isso e criou a casa dos chamados “summer blockbusters”.
02) Guerra nas Estrelas (1977)
Já que vamos tratar de um assunto nostálgico nesta matéria, nada melhor do que chamar o primeiro Star Wars por seu nome de batismo aqui no Brasil, o bom e velho Guerra nas Estrelas – como ficou conhecido nas exibições da rede Bandeirantes. E se Tubarão mudava o cinema para Hollywood e o cinema de forma geral, com a história sobre um grande peixe assassino aterrorizando uma cidadezinha numa ilha, este segundo item foi ainda mais longe, criando todo um universo e produções interligadas. Hoje se fala muito sobre o que a Marvel Studios alcançou em seus filmes, mas a proposta não é inédita. O colega de Spielberg, George Lucas, seria endeusado pelos fãs, criando um novo tipo de espectador de cinema: o nerd. O primeiro Star Wars capturou a imaginação de sua audiência como nenhum outro filme havia ousado fazer – e criou tendência. Logo todo estúdio queria ter sua própria aventura espacial.
03) O Império Contra-Ataca (1980)
Tubarão e Guerra nas Estrelas eram os dois filmes mais bem sucedidos de Hollywood de todos os tempos no fim dos anos 1970. Logo, o mundo estava aos pés da dupla visionária Spielberg e Lucas. O grande segredo dos amigos é que faziam filmes jovens e dinâmicos, tão indicados para as crianças e os adolescentes quanto para os adultos. Assim não eliminavam nenhuma parcela do público. E se antes os pais iam aos cinemas, enquanto os filhos ficavam brincando, agora todos podiam ir juntos. Nos anos seguinte, grandes produções miravam ao posto de novo blockbuster do “pedaço”; filmes como Superman – O Filme (1978), Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978), Alien – O Oitavo Passageiro (1979) e até mesmo Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), do próprio Spielberg. Eles até chegaram perto, mas não conseguiram quebrar a barreira astronômica (na época) de US$200 milhões de bilheteria. O terceiro a fazer isso seria novamente Lucas com a continuação do fenômeno Star Wars. O Império Contra-Ataca (1980) inaugurava os anos 80 com chave de ouro, e embora não tenha feito o mesmo sucesso que o original, hoje não existe um fã hoje que não cite este segundo como superior.
04) Os Caçadores da Arca Perdida (1981)
A dupla mais famosa de Hollywood no fim dos anos 1970 e início de 1980 era Steven Spielberg e George Lucas. Os três maiores sucessos da história do cinema eram deles. Então, se sozinhos já faziam este estrago, imagine juntos. O primeiro Indiana Jones é um produto de autoria da colaboração destas duas mentes iluminadas. Tudo surgiu quando Spielberg estava perto de fechar para dirigir uma aventura de 007 – na época personificado por Roger Moore. Lucas o fez desistir, clamando ter algo melhor para o colega comandar. E não deu outra. Foi Lucas que pensou num herói aventureiro nos moldes do cinema matinê, que iria elevar o subgênero ao mainstream e transformar o que deveria ser uma obra tipicamente B, de aventura na selva, em um dos maiores fenômenos dos anos 1980 e do cinema como um todo. Desta forma, a dupla ia moldando também os anos 1980.
05) E.T. – O Extraterrestre (1982)
Mais um golaço de Steven Spielberg. O cineasta revezava sucessos com seu amigo George Lucas, e assim iam dominando Hollywood e o mundo. Num ano, o maior sucesso era de Spielberg, no outro, o fenômeno era de Lucas. E assim eles foram consolidando seus nomes. Com E.T., o diretor deixou fluir seu lado criança e criou para si uma fama de ser o eterno Peter Pan, um adulto com alma de garoto, fazendo a fantasia de todo o planeta virar realidade. Famílias inteiras iam ao cinema para se emocionar com a criaturinha espacial fofa, perdida em nosso planeta e acolhida por um grupo de crianças e adolescentes – o principal deles vendo na criatura um substituto da ausência de sua figura paterna, um assunto muito pessoal para o diretor. Além de tudo, E.T. é um caso raríssimo de produto dos anos 1980 que ainda não teve uma continuação.
06) O Retorno de Jedi (1983)
Quando não era um, era o outro. Era muito difícil quebrar o domínio dos “donos do cinema blockbuster”, Steven Spielberg e George Lucas. Ano após ano um deles dominava as bilheterias com algum novo produto. No caso de Lucas, o cineasta conseguiu emplacar uma das trilogias mais queridas da história do cinema e trabalhar uma marca verdadeiramente poderosa. Lucas na verdade dirigiu apenas o filme original e depois disso se tornou produtor e um mega empresário da área, deixando outros cineastas comandarem os dois outros filmes, além de criar o personagem e as histórias de Indiana Jones. Nessa época, Star Wars já era uma verdadeira febre, e gerava todo tipo de produto licenciado, desde bonecos, roupas, lençóis, lancheiras, e até jogos de videogame. Podemos dizer sem medo que a franquia das galáxias criada por Lucas foi o primeiro grande evento cinematográfico da história e tudo o que veio a seguir foi por causa dele.
07) Os Caça-Fantasmas (1984)
Quando os mais velhos citam incansavelmente a importância de Os Caça-Fantasmas na cultura pop, talvez os mais novos não consigam compreender ou dimensionar. O longa sobre os investigadores paranormais interpretados por Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson, e dirigido por Ivan Reitman foi o primeiro a quebrar a hegemonia Spielberg-Lucas nas bilheterias norte-americanas e no subconsciente da cultura pop. E isso é um feito impressionante. Enquanto buscavam um sucessor para substituir Star Wars como favorito dos jovens, Os Caça-Fantasmas chegou sorrateiramente e se tornou o novo fenômeno mundial, sem o dedo de qualquer um dos dois marqueteiros. Lucas e Spielberg bem que tentaram com a continuação de Indiana Jones, O Templo da Perdição, que foi lançado no mesmo ano. Mas com uma trama mais sombria, o filme não causava o impacto do primeiro e nem seu sucesso.
08) Um Tira da Pesada (1984)
Em meados dos anos 1980, o conceito do blockbuster já estava bem implantado na cultura americana. Os filmes se tornavam cada vez maiores e mais ambiciosos. Assim, era de se esperar a cada ano um novo sucesso que se tornava “maior que a vida” e fazia as pessoas não pararem de falar sobre ele. O ano de 1984 trouxe dois. Após Os Caça-Fantasmas, lançado nas férias de verão nos EUA, outro filme mostrava que os blockbusters poderiam ser lançados em qualquer época, até mesmo no fim do ano. Um Tira da Pesada fez do humorista Eddie Murphy uma estrela de renome internacional. Saído do programa Saturday Night Live, ele até já havia tido sucessos com 48 Horas (1982) e Trocando as Bolas (1983), mas nada seria como este filme sobre um policial linha dura de Chicago, investigando um caso em Los Angeles, terra dos ricos, famosos e exóticos. Com o filme, Murphy provava que poderia segurar uma história sozinho, pela primeira vez.
09) De Volta para o Futuro (1985)
Os anos 1980 são marcados por produções muito queridas. Se formos parar para pensar, a lista é extensa e praticamente inesgotável. É muita coisa boa. Todos se tornaram sensação despertando imediato status de culto. Seu sucesso enchia o bolso dos produtores de dinheiro e gerava todo tipo de ligação com o filme, como por exemplo desenhos animados. Mas a verdade é que a lista dos que de fato ultrapassavam a quantia de US$200 milhões em bilheteria no território norte-americano era um pouco mais seleta. Como visto acima, apenas oito filmes haviam realizado o feito até 1984. Com a chegada de 1985, ganhávamos mais um item para a lista. De Volta para o Futuro é citação obrigatória quando falamos não apenas em blockbusters, e produções queridas dos anos 80; mas também como um filme que se mantém popular até hoje, citado em muitas listas dos melhores de todos os tempos. O conto sobre viagem no tempo marcaria também a volta de Steven Spielberg aos holofotes, num filme com produção sua.
10) Batman (1989)
É surpresa até mesmo para nós perceber que muitos filmes queridos e inesquecíveis da década de 80, que fizeram enorme sucesso, não conseguiram de fato superar a marca dos US$200 milhões em bilheteria para serem considerados oficialmente um blockbuster no período. Mas isso não diminui em nada o seu feito, sua importância ou a paixão que os fãs possuem por eles. Após De Volta para o Futuro, os anos seguinte enfrentaram um leve hiato de blockbusters. Filmes como Top Gun – Ases Indomáveis e Crocodilo Dundee, ambos de 1986, chegaram muito perto de bater essa marca. Mas quem de fato viria a se consolidar em tal definição seria Batman, de Tim Burton, lançado no fim da década, em 1989. Os anos de 1986, 1987 e 1988 marcariam ausência de um filme verdadeiramente avassalador, mesmo contendo verdadeiras obras-primas. A febre só tornaria a ocorrer com este importante longa de entretenimento, que mostrou que os quadrinhos podiam ser uma excelente fonte para um material adulto e sombrio, inaugurando assim uma nova era.