Que a Netflix é uma das grandes potências atuais do audiovisual ninguém tem a menor dúvida a esta altura. O que começou como uma via alternativa para as locadoras e as mídias físicas digitais (DVDs e Blurays) seguiu para se tornar um colosso, fazendo frente aos grandes estúdios. Pouco tempo depois de seu lançamento exibindo filmes online de grandes estúdios, a Netflix já estava produzindo seu próprio conteúdo. Em 2013, estreava programas como ‘House of Cards’, com produção de David Fincher, ainda uma das séries mais queridas da plataforma. Dois anos depois, entrava no ramo dos filmes também, com ‘Beasts of no Nation’ – seu primeiro longa-metragem original.
Nessa trajetória de 10 anos produzindo material original e exclusivo, a Netflix cresceu muito e apareceu. Hoje, não existe um artista, um ator, uma atriz ou um realizador que não queira trabalhar com a empresa/estúdio se tiver a oportunidade. Pela casa já passaram verdadeiras lendas da sétima arte, como Martin Scorsese, por exemplo. Ou o próprio David Fincher. Astros e estrelas do porte de Meryl Streep, Robert De Niro, Al Pacino, Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Sandra Bullock, Will Smith, Jennifer Lawrence… a lista é longa. E esse ano, alguns outros nomes bastante badalados se juntam a eles.
Esse é o tema desta segunda matéria na série sobre a próspera Netflix – os grandes nomes dos maiores diretores de Hollywood que já assinaram contrato com o streaming. Que o canal tenha vida longa e possa empregar muitos profissionais do ramo – ao mesmo tempo em que entrega arte de primeira para o público. Confira abaixo.
Martin Scorsese
Considerado por muitos “o” maior diretor ainda em atividade (e um dos maiores de todos os tempos), Martin Scorsese é um tesouro mundial. O icônico realizador está atualmente em cartaz com o épico ‘Assassinos da Lua das Flores’, com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro – filme da Apple TV+. Seu mais recente trabalho, no entanto, não foi a primeira incursão de Scorsese por uma plataforma de streaming. Já que em 2019, o mundo parou para conferir a parceria de Marty com a Netflix. E a escolha para tal foi a reunião com os lendários De Niro e Joe Pesci, de ‘Os Bons Companheiros’ e ‘Cassino’. Mas ‘O Irlandês’ não parou por aí, já que trouxe Al Pacino para o lado do cineasta pela primeira vez. Imperdível.
Irmãos Coen
Um patamar abaixo de Scorsese estão os irmãos Joel e Ethan Coen, que começaram sua carreira na década de 1980, e possuem longas como ‘Fargo’, ‘Onde os Fracos Não Tem Vez’ e ‘O Grande Lebowski’ no currículo. Extremamente cultuados, seu projeto junto à Netflix originalmente seria uma série, com histórias separadas em cada episódio, tendo o velho Oeste como único elo entre elas. Até mesmo o tom de tais episódios é díspar, abrangendo desde a comédia, o drama e o suspense. Mas ‘A Balada de Buster Scruggs’ por fim se tornaria um longa-metragem de 2h e 13 minutos.
Spike Lee
Um dos cineastas mais representativos a ter passado por Hollywood, Spike Lee revolucionou a ser o cineasta negro de maior prestígio dentro da maior indústria de cinema do mundo em 1989, com o lançamento do ainda muito pungente ‘Faça a Coisa Certa’. Por anos seu recado foi dado. Mas a partir da luz do retrocesso social que o mundo anda passando, Lee ganhou voz de novo e entregou ‘Infiltrado na Klan’ (2018), filme indicado ao Oscar. Com a Netflix, logo depois disso, adaptou na forma de série seu primeiro longa ‘Ela quer Tudo’. Depois, fez sucesso com ‘Destacamento Blood’, drama de guerra com Chadwick Boseman.
David Fincher
David Fincher é o que podemos chamar de diretor que traz o melhor dos dois mundos. Isso significa que faz filmes para os cinéfilos, mas também para o grande público. Não é à toa que guarda no currículo alguns dos longas de suspense mais celebrados da história, vide ‘Seven’, ‘Clube da Luta’ e ‘Garota Exemplar’. Seu filme mais recente é ‘O Assassino’, com Michael Fassbender e Sophie Charlotte, uma produção da Netflix que vem dando o que falar. Mas antes disso, Fincher esteve lá, nos primórdios da plataforma produzindo ‘House of Cards’. E também teve o dedo em ‘Mindhunter’, outro programa celebrado da casa. Antes de ‘O Assassino’, havia dirigido o indicado ao Oscar ‘Mank’ (2020), drama em preto e branco sobre um roteirista de Hollywood.
Tim Burton
Agora falamos de um diretor saído dos anos 80, que igualmente se tornou um ícone dos anos 90. Isso graças a trabalhos exemplares em filmes como ‘Edward Mãos de Tesoura’, ‘Ed Wood’, ‘Beetlejuice’ e, claro, os dois primeiros ‘Batman’ para o cinema. Tudo bem que Tim Burton andava meio sem rumo, já não tendo mais a mesma identidade e parecendo ser um diretor de aluguel somente, para os grandes estúdios. Mas ele encontrou novamente sua voz ao produzir e dirigir o fenômeno ‘Wandinha’, com a Netflix, fazendo as pazes com o sucesso e com os fãs.
Alfonso Cuarón
Agora chegamos à tríade mexicana que dominou Hollywood em 2007, graças ao Oscar daquele ano. Começaremos com Alfonso Cuarón, o primeiro a realizar uma muito bem-sucedida parceria com a Netflix. Mais conhecido pelo grande público e pelo espectador casual de cinema como o diretor de ‘Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban’ (2004), o melhor da franquia, Cuarón, é claro, foi responsável também pelo mega sucesso ‘Gravidade’ (2013). No Oscar em questão (de 2007), entregou o cult ‘Filhos da Esperança’. Já com a Netflix fez ‘Roma’, drama prestigiado sobre a vida de uma empregada doméstica no México, indicado ao Oscar de melhor filme.
Guillermo del Toro
Segundo diretor da tríade mexicana de 2007, naquele ano Guillermo del Toro foi presenteado com nada menos que seis indicações ao Oscar para o excepcional ‘O Labirinto do Fauno’, incluindo melhor filme estrangeiro, saindo vitorioso nas categorias de melhor direção de arte, maquiagem e fotografia. Esse talvez seja seu melhor filme até hoje. Do trio, del Toro é o mais pop, isso porque tem no currículo filmes bem pipoca, vide ‘Blade 2’, dois ‘Hellboy’ e ‘Círculo de Fogo’. Com a Netflix, além de garantir uma série própria de antologia, com a moral de ter seu nome no título, ‘O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro’, resolveu tentar algo diferente, criando seu primeiro filme em animação em stop-motion. O resultado foi um dos longas mais elogiados de 2022, com sua versão para o clássico ‘Pinóquio’.
Alejandro G. Iñarritú
Fechando a trinca dos mexicanos mais famosos e poderosos de Hollywood, temos o que foi por muito tempo o mais ambicioso e celebrado deles: Alejandro Gonzales Iñarritú. No citado Oscar 2007, AGI entregava ‘Babel’, drama indicado ao Oscar com Brad Pitt e Cate Blanchett. Mas a carreira do diretor atingiria outro nível com a dobradinha ‘Birdman’ e ‘O Regresso’, em 2014 e 2015, dois dos filmes mais comentados da década passada e que terminaram como queridinhos do Oscar. Assim, AGI atingia outro nível de diretor. Para não deixar o sucesso subir à cabeça, ele decidiu dar um passo para trás e descansar um pouco. Quando retornou, fez parceria com a Netflix para o mais intimista ‘Bardo’ (2022), filme para cinéfilos que quase ninguém viu ou comentou.
Paul Greengrass
O inglês Paul Greengrass marcou seu nome em Hollywood graças ao sucesso estrondoso da franquia ‘Bourne’ em meados da década de 2000. Os mais novos talvez não lembrem, mas os filmes de ação e espionagem protagonizados por Matt Damon como o espião desmemoriado redefiniram o gênero, sendo a base para os filmes no estilo e influenciando até mesmo titãs como ‘007’ e ‘Missão: Impossível’. Greengrass dirigiu ‘A Supremacia Bourne’ (2004) e ‘O Ultimato Bourne’ (2007) e só se falava nisso na época. Ele fez também o tenso e elogiado ‘Voo United 93’ (2006), sobre o avião que atingiu as Torres Gêmeas. Com a Netflix fez dois ótimos filmes. Primeiro, o tenso ’22 de Julho’ (2018), baseado em um massacre da vida real, que chocou o mundo. Depois, repetiu a dobradinha com Tom Hanks de ‘Capitão Phillips’ (2013), no faroeste dramático ‘Relatos do Mundo’ (2020).
Bong Joon Ho
O diretor sul-coreano Bong Joon Ho ganhou o mundo graças ao sucesso estrondoso de crítica e público de um certo ‘Parasita’ (2019), você certamente já ouviu falar. Mas o cineasta já tinha no currículo obras cult e sempre gostou do cinema de gênero, como o filme de monstro ‘O Hospedeiro’ (2006) e a ficção científica futurista ‘Expresso do Amanhã’ (2013) – tudo, é claro, realizado com muito conteúdo questionador, social e político. Quando chegou a hora da parceria com a Netflix, a escolha não podia ser diferente, e Joon Ho escolheu uma crítica à indústria de carne, envelopado de cinema fantástico com ‘Okja’ (2017). Tente ver o filme e não chorar.