Terceira parte da franquia de comédia de enorme sucesso, “Se Beber, Não Case – Parte III” tentou se diferenciar a pedido dos fãs e dos especialistas, mas a nova guinada parece não ter funcionado também (nem um pouco, devo acrescentar). Vamos começar pelas curiosidades. Era sabido que mais cedo ou mais tarde o título em português se voltaria contra ele mesmo, desde o primeiro exemplar. Afinal, “A Ressaca” se transformava por aqui no trocadilho engraçadinho para promover uma campanha de trânsito.
Conseguiram passar batido pelo segundo, já que sendo praticamente uma cópia carbono do original, contava novamente com um casamento. No terceiro finalmente não existe mais casamento. Porém, não existe mais a ressaca também, anulando o título original junto com sua tradução. Na trama, os problemas de Alan (Zach Galifianakis) se escalam até a morte de seu pai (incluindo uma cena de abertura com a decapitação de uma girafa). O fato faz com que todos os seus conhecidos e amigos realizem uma intervenção para levá-lo para uma espécie de sanatório.
No caminho, o trio de lobos é atacado por criminosos comandados pelo personagem de John Goodman, o mafioso Marshall. Para variar, Doug (Justin Bartha) é tirado de cena, sendo levado pelos bandidos como garantia. O que o poderoso chefão deseja é que o trio encontre o irritante Leslie Chow (Ken Jeong), que roubou uma enorme quantia dele, e com quem o único a ter contato é justamente Alan.
O terceiro filme é apenas isso. O trio caçando o Sr. Chow, chegando perto de capturá-lo, somente para o asiático escapar por seus dedos outra vez, por Tijuana e Las Vegas. Nos Estados Unidos, diversos críticos definiram “Se Beber, Não Case III” como não uma comédia, mas uma espécie de thriller de ação, o que não deixa de ser verdade. Muito pouco humor é tentado aqui, e o que é tentado passa em branco.
Alan, o personagem mais engraçado dos filmes anteriores, passa a ser tratado como digno de pena, uma vez que o filme reconhece seu comportamento excêntrico como loucura. Tudo em relação ao personagem no novo filme soa como a síndrome das unhas no quadro negro. Não desce redondo. As tentativas de humor funcionam contra ele agora.
Some a isso um péssimo timing cômico orquestrado pelo mesmo Todd Phillips dos filmes anteriores, com piadas sem graça que se alongam demais. A participação da comediante em evidencia, Melissa McCarthy (“Uma Ladra Sem Limites”), é embaraçosa. Ed Helms e Bradley Cooper (Stu e Phil respectivamente), as partes sérias do filme, tem muito pouco a fazer aqui, e parecem (especialmente o indicado ao Oscar, Cooper) incomodados com o material.
Quem toma os holofotes dessa vez é Chow, o personagem inconveniente dos filmes anteriores. Um estereotipo grosseiro e rude, que por alguma razão caiu nas graças do público. No novo filme é mostrado seu lado negro e ameaçador, quando extermina pessoas e animais (um galo, e dois cachorros, em cenas de péssimo gosto) à sangue frio.
Mas o que não consegue é criar uma cena verdadeiramente engraçada envolvendo o afetado personagem, ou dar-lhe uma personalidade forte o suficiente para que nós criemos empatia com ele. “Se Beber, Não Case – Parte III” é um desperdício completo. Uma das comédias mais sem graça dos últimos tempos, que consegue rivalizar com preciosidades como “A Máfia Volta ao Divã”, “Meu Vizinho Mafioso 2” e “A Inveja Mata”, em matéria de risadas disparadas por celuloide. Um dos piores filmes de 2013.