OURO DE SANGUE
Serra Pelada chega com a pompa de ser o projeto nacional do ano. Uma grande produção, que conta com um vasto elenco renomado, e um diretor chamativo, já com uma carreira internacional. O cineasta Heitor Dhalia começou a carreira com longas em 2004, quando entregou Nina. Depois de O Cheiro do Ralo, um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos, comandou os internacionais Vincent Cassel e Camilla Belle em À Deriva (2009). Era o passo final para aderir a Hollywood em 2012. É uma pena somente que projeto tenha sido mal avaliado e passado em branco.
12 Horas é um suspense protagonizado pela atriz em ascensão Amanda Seyfried (Os Miseráveis). Agora, Dhalia volta com moral para comandar provavelmente o maior projeto cinematográfico brasileiro de 2013, com Serra Pelada. Um projeto caro e muito bem elaborado, que tem como proposta retratar a época da caça ao ouro, em território nacional. Foi durante a década de 1980, no Pará, que milhares de garimpeiros conseguiram extrair 30 toneladas de ouro, do maior garimpo a céu aberto do mundo.
O interessante é que Dhalia e sua equipe usam o fato para impulsionar a trama do filme, que vem sendo definido como um faroeste moderno, de forma correta. Todos os elementos de um bom faroeste estão aqui, principalmente duelos à bala, e disputas de poder e riqueza. No Brasil, é muito difícil emplacar um filme junto ao grande público se esse não pertencer ao gênero da comédia escrachada, vide os recentes sucessos de Até que a Sorte nos Separe, De Pernas Pro Ar, Os Penetras, e os filmes do humorista Bruno Mazzeo.
No Entanto, nem só fazer um filme no gênero é a receita de sucesso, vide muitas comédias que passam em branco. Fora do gênero tivemos os sucessos de Tropa de Elite, e O Palhaço (moderado). Bebendo na fonte de Tropa, Federal e Assalto ao Branco Central não emplacaram muito. Gonzaga – De Pai para Filho, do ano passado, precisou buscar força na TV, assim como Xingu. E Paraísos Artificiais, que era impulsionado fortemente junto aos jovens, também não impactou de forma desejada (em partes por estrear junto com Os Vingadores).
Esse ano tivemos a aprovação dos filmes da banda Legião Urbana, Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo. Voltando para Serra Pelada, a história narra a amizade de Juliano, vivido pelo ótimo Juliano Cazarré (360) e Joaquim, papel (mais ingrato) de Júlio Andrade (Gonzaga). Para um ator é sempre mais interessante interpretar personagens dúbios e cheios de falha, e quem fica com esse presente é Cazarré. Seu Juliano é o Scarface do serrado, um sujeito que chega ao local inocente, e escala até o topo como o rei da mina.
No caminho tirando, de qualquer forma necessária, todos os indesejáveis. Já o personagem de Andrade, se mantém fiel ao seu espírito original e suas convicções. O que, como já perceberam, porá os dois num confronto iminente. Dentre os personagens ao redor da dupla temos Matheus Nachtergaele, como o Poderoso Chefão da Serra, e primeiro e grande desafeto da dupla. Wagner Moura, como sempre camaleônico (aqui de bigodinho, óculos, e uma falsa careca), no papel de Lindo Rico, um sujeito ardiloso do local.
Moura exagera na dose, em busca de risadas basicamente em seu papel, mas o público parece ter engolido (e muito), ao menos na minha sessão. E por fim, a bela Sophie Charlotte, que entra com o pé direito no mundo do cinema, em seu primeiro filme. A atriz interpreta a prostituta Tereza, mulher do vilão, que se apaixona por Juliano. Seu papel não exige grande profundidade, mas Charlotte extrapola na sensualidade marcando definitivamente seu debute (ao contrário de Isis Valverde em Faroeste).
O grande problema de Serra Pelada, que até mais da metade satisfaz com uma narrativa coesa, bons personagens e um clima bem interessante, é justamente o roteiro que parece perder a força no ato final, se tornando repetitivo e sem ter muito o que dizer. Os melhores personagens saem logo de cena, e seus arcos são facilmente resumidos e apressados. O filme possui uma recriação de época fenomenal. É espantoso ver os muitos figurantes trabalhando na grande cratera que era a montanha.
Dhalia nos leva de volta no tempo, com sua máquina chamada cinema. Serra Pelada é um filme intenso e bem elaborado, que poderia fazer bom uso de um texto mais polido, diálogos mais aguçados, e situações mais bem exploradas. Como está, não desaponta em grande escala (talvez por sua simplicidade), e promete estar pronto pro sucesso.