Em meados dos anos 90, os filmes de terror adolescentes (conhecidos como slashers) voltaram com força total após a reinvenção com Pânico (Scream, 1996). Os filmes do tipo foram popularizados em 1978 com Halloween – A Noite do Terror e logo no início dos anos 1980 se tornavam um filão muito rentável – onde gastava-se pouco na produção e lucrava-se muito. A fórmula foi usada à exaustão: um assassino oculto, mascarado ou imortal dizimava um grupo de adolescentes incautos. Todo estúdio e produtor queria uma fatia deste bolo. Mas no fim da mesma década, o subgênero já exibia fatiga. No entanto, ressurgia brevemente na segunda metade da década de 90. Há 25 anos, eles estavam com tudo em sua segunda onda.
Mas o cinema de terror ainda veria outras duas tendências ocorrendo há 25 anos, para além dos slashers. Alguns exemplares da época resolviam apostar em criaturas monstruosas como antagonistas de suas histórias, fosse uma sucuri gigante na Amazônia, baratas humanoides nos subterrâneos de Nova York ou um grande lagarto do tamanho de um leão em um museu de Chicago. A terceira tendência de 25 anos atrás nos filmes de terror foi a uniu a ficções científica de alto conceito, fosse revistando um verdadeiro clássico da sétima arte, fosse numa “casa assombrada espacial” que ecoa Lovecraft ou fosse um prelúdio de Jogos Mortais tecnológico sete anos antes do filme de Jigsaw. Conheça abaixo os principais filmes de terror que completam 25 anos em 2022.
Pânico 2
Como dito, Wes Craven e Kevin Williamson deram novo fôlego aos filmes slasher em 1996 ao lançarem Pânico (Scream). A dupla utilizou muito humor autoconsciente e inúmeras referências, além da metalinguagem, para satirizar os filmes do tipo, sendo ele mesmo um pertencente ao subgênero. Virou sensação e logo no ano seguinte já liberava sua primeira continuação, a qual muitos fãs consideram superior ao original. Sem dúvida é maior e mais ambiciosa. Desta vez a trama é movida para o campus de universidade onde Sidney (Neve Campbell) está estudando em outra cidade. Um novo assassino aparece no local a perseguindo, o que atrai também seus amigos e novos rostos.
Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado
Sempre quando um filme, seja ele de qual gênero for, surge em cena fazendo muito sucesso, ele vira tendência e pode criar inclusive seu próprio subgênero. Pânico fez justamente isso, ao modificar levemente os slasher com humor e irreverência. Assim, o primeiro a seguir de perto esta nova fórmula foi Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, escrito pelo mesmo Kevin Williamson, e que estreou ainda antes de Pânico 2. Baseado no livro de Lois Duncan, a história mostra quatro amigos jovens festejando com muita bebida numa noite na cidade. Ao voltarem, terminam atropelando e matando um pedestre numa estrada vazia, e resolvem ocultar o cadáver e nunca mais falar sobre o ocorrido. Um ano depois, seu passado sombrio volta para assombrá-los. O filme fez enorme sucesso há 25 anos.
O Enigma do Horizonte
Considerado por muitos o melhor filme do diretor Paul W. S. Anderson, o criador da franquia Resident Evil no cinema, O Enigma do Horizonte é um terror especial que se passa no futuro e pega muito dos conceitos do escritor clássico H.P. Lovecraft. Na trama, uma equipe é enviada para investigar o sumiço de uma nave gigantesca chamada Event Horizon, que desapareceu durante anos e agora ressurgiu. Quando embarcam a bordo, a nova tripulação começa a descobrir que a embarcação é “amaldiçoada” e que consegue concretizar, aparentemente, os piores pesadelos de cada um deles. Quem estrela é Laurence Fishburne e Sam Neill. Se tornou um cult instantâneo para os aficionados.
Alien – A Ressurreição
Apesar de também trabalhar nos mesmos temas do item acima, como estações espaciais, naves e o vazio do espaço sideral, este item não recebeu o “amor” que O Enigma do Horizonte possui. Ao contrário, o quarto filme da franquia Alien rapidamente correu para se tornar a menos apreciada das continuações originais – sem levar em conta os derivados AVP e as prequels de Ridley Scott. Por falar em Scott, tudo começou com ele em Alien (1979), um verdadeiro ícone do gênero. James Cameron elevou o jogo com Aliens (1986) e David Fincher quase matou a franquia com Alien³ (1992) – que está completando 30 anos. Mas não existe nada ruim que não possa piorar, e assim o prestigiado cineasta francês Jean-Pierre Jeunet se metia numa roubada ao assinar o comando do quarto Alien, que entre outras coisas não deixava os mortos em paz e ressuscitava a protagonista Ripley (novamente Sigourney Weaver). Alien 4 não é tão bom, mas ao menos é divertido.
Anaconda
Por falar em filmes ruins divertidos, Anaconda talvez seja um dos prazeres culposos mais deliciosamente trash dos anos 90, sem dúvidas de 25 anos atrás. A ideia era criar o novo Tubarão (1975), mas o resultado saiu mais para Piranha 2 (1981). Os filmes de animais assassinos atingiram um novo ápice com o lançamento do citado filme de Steven Spielberg e logo todo estúdio sem-vergonha queria criar uma história nos mesmos moldes para chamar de sua. O que todos pareciam esquecer é que Tubarão funcionou porque tinha grandes personagens humanos, com grandes atores dando tudo de si. Não é por menos que o filme foi indicado ao Oscar. Há 25 anos os produtores de Hollywood ainda estavam tentando emplacar clones de Tubarão, a Columbia/ Sony tentava com uma sucuri gigante e inteligente nas florestas da Amazônia. A criatura caça gente como Jennifer Lopez e Jon Voight.
Mutação
Agora passamos para um dos filmes mais subestimados de 25 anos atrás. Não por menos na direção temos um verdadeiro mestre: o mexicano Guillermo del Toro, vencedor do Oscar por A Forma da Água. O cineasta nunca escondeu sua paixão pelo terror e a maioria de seus filmes possuem elementos do gênero, mesmo seus blockbusters de ação que lidam com monstros gigantes, vampiros e todo tipo de criatura. Aliás, del Toro começou sua carreira com um filme de vampiros muito diferente, ainda em seu país de origem, o México, com Cronos (1993). Seu trabalho seguinte foi logo este Mutação, onde migrou para Hollywood para essa história sobre cientistas encontrando a cura para um vírus fatal (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência) através de insetos modificados geneticamente. A doença é erradicada, mas as criaturas evoluem e se tornam humanoides. Simplesmente assustador. Um filme que é melhor do que lhe dão crédito.
O Mestre dos Desejos
Voltando para as tranqueiras, aqui o nome de destaque envolvido nesta produção é o do querido e saudoso Wes Craven. Considerado um verdadeiro mestre do horror, Craven foi o responsável pela criação de ícones como A Hora do Pesadelo e Pânico. Mas o diretor possui também sua cota de obras que, digamos, não funcionaram – para dizer no mínimo. Uma delas é essa, que Craven apenas produziu e não dirigiu, mas visava criar um novo personagem memorável no cânone das figuras do terror – assim como Michael Myers, Jason e Freddy Krueger. Assim era criado o Djin (Andrew Divoff), o gênio da lâmpada demoníaco. Sabe a história de Aladdin? Imagine se o gênio fosse uma criatura vil saída diretamente de um filme de terror. Esse é o conceito de O Mestre dos Desejos. Ah sim, e por falar em lendas do terror, aqui temos a participação dos intérpretes de Jason, Freddy e do Candyman, respectivamente Kane Hodder, Robert Englund e Tony Todd.
Um Lobisomem Americano em Paris
Pois é, querido leitor. Você sabia dessa? O clássico Um Lobisomem Americano em Londres ganhou uma continuação quase 20 anos depois do original. E não apenas isso, como este longa mequetrefe veio aos cinemas do Brasil e este amigo sem-vergonha que vos escreve foi assistir no cinema quando ainda era um jovem mancebo. Ao contrário do clássico dos anos 80, esta sequência estava mais para a moda dos filmes adolescentes de terror da época, nos moldes de Pânico. Na trama, três amigos jovens em viagem por Paris para pular de bungee jump da Torre Eiffel terminam por salvar uma bela mulher francesa que tentava o suicídio (papel de Julie Delpy – de Antes do Amanhecer). Ela, é claro, esconde um segredo bem cabeludo. O que chama mais atenção negativamente hoje são os efeitos visuais usados para criar as criaturas peludas, ao invés dos incríveis efeitos práticos feitos em cena do original, efeitos de computação gráfica na pós-produção, que parecem já ter nascido datados.
A Relíquia
Voltamos para outro filme do gênero subestimado que completa 25 anos em 2022. Com produção da Paramount Pictures, baseado no livro de Douglas Preston e Lincoln Child, e com direção de Peter Hyams, talvez o que tenha faltado para atrair mais pessoas aos cinemas foram nomes de peso no elenco. Protagonizando temos Tom Sizemore como um detetive de polícia investigando mortes que podem estar ligadas a um museu de Chicago. No local, o ajudando no caso está a historiadora e funcionária do museu, papel de Penelope Ann Miller. A Relíquia é um filme de mostro que funciona devido ao mistério que cria em torno da lenda e da mitologia envolvendo a criatura, ligada com a cultura das florestas da América do Sul.
Cubo
Existe um motivo por que algumas produções desconhecidas do grande público e sem nomes famosos atrás e na frente das câmeras se tornam cult: boas ideias fora da caixinha. É o caso com esta produção canadense, que não é necessariamente uma obra-prima e da qual muitos sequer ouviram falar – apesar de ter gerado duas continuações. A história é uma mistura de Jogos Mortais (2004) e O Poço (2019), duas outras produções que galgaram seu posto como filmes queridos pelos fãs e cinéfilos, e que possuem seu valor cult igualmente. Escrito e dirigido por Vincenzo Natali, a trama mostra um grupo de pessoas desconhecidas entre si, acordando numa espécie de prisão extremamente tecnológica, que funciona como um grande quebra cabeças. Elas terão que usar sua inteligência a fim de escapar com vida do local.