Começaram a circular boatos de que a Disney estaria considerando “resetar” a franquia Star Wars nos cinemas por conta das bilheterias frustrantes não apenas de Star Wars: A Ascensão Skywalker, mas também pela arrecadação muito abaixo do esperado de Solo: Uma História Star Wars. Problemas esses que teriam ressaltado que a franquia estaria seguindo para rumos errados. Se esses boatos se concretizarem, a casa do Mickey Mouse estará cometendo um dos maiores crimes da história do cinema.Não só por estar passando uma enorme borracha na saga de Luke, Leia, Han Solo, Darth Vader e diversos outros personagens imortalizados e amados por mais de 40 anos, mas também por assinar um recibo de que é incapaz de usar sua criatividade para explorar uma franquia de forma inteligente sem ter que mexer no passado. A relação entre Disney e Lucasfilm, por enquanto, passou longe de ser brilhante como a situação com a Marvel. E tudo isso é culpa da Disney, que não soube tratar bem, comercialmente falando, a franquia que tem em mãos.Os filmes de Star Wars costumavam ser grandes eventos. Cada trilogia marca uma geração diferente, sendo que as duas primeiras realmente foram tratadas como filmes eventos – mesmo que alguns tenham qualidade bastante discutível. A trilogia mais recente sofreu com um desgaste de público muito grande porque a Disney decidiu empurrar spin-offs enquanto o próximo capítulo da saga principal não chegava aos cinemas. E por mais que tenha saído um longa-metragem espetacular nesse selo de spin-offs (Rogue One), foi uma estratégia de mercado ruim para conquistar o público e dar essa sensação de importância para trilogia nova. Para quê correr para os cinemas se todo ano tem um novo filme de Star Wars?
Isso sem contar que a trilogia nova tem dois filmes que dialogam bem entre si, O Despertar da Força e A Ascensão Skywalker, e uma aventura no meio que ignora o Ep. VII e meio que foi apagada pelo Ep. IX, mostrando que houve um erro gravíssimo de planejamento da produção. Colocar o Rian Johnson, que é conhecido por suas gracinhas e vontade de inovar, para dirigir o capítulo intermediário de uma trilogia, sabendo que o próximo diretor seguia um estilo mais nostálgico e conservador – seria o Colin Trevorrow, mas ele acabou abandonando e foi substituído por J.J. Abrams, que também costuma apostar na nostalgia – foi um erro crasso de planejamento. Resultado, o fim da saga Skywalker nos cinemas foi realizado em uma trilogia que não conversa com si mesma tão bem quanto poderia.
No entanto, a saga da família Skywalker já foi. Mas nem por isso a Disney precisa passar a borracha nisso tudo para tornar a franquia vistosa e lucrativa de novo. E há lições que a empresa pode tirar de seus próprios filmes. Han Solo era um personagem amado pelo público e que tinha poucas coisas mais a serem mexidas nele. Ainda assim, optaram por fazer uma prequel dele, que despertou repulsa dos fãs logo de cara, principalmente por não ter o amado Harrison Ford no projeto. Resultou em uma bilheteria catastrófica. Já Rogue One: Uma História Star Wars mostrou que o público quer ver essa galáxia muito, muito distante ser mais explorada. Rogue One trouxe pela primeira vez uma aventura estrelada por gente normal. O povo daquele universo sofreu demais nas mãos do Império. E enquanto Luke duelava com Darth Vader utilizando seus poderes Jedi e sabres de luz, a Aliança Rebelde se virava como podia para se manter viva e atrasar os planos imperiais de dominação.Ver como era isso é um caminho interessantíssimo e cheio de possibilidades. The Mandalorian se junta a Rogue One como ver outras facetas dessa galáxia é realmente chamativo e pode ser trabalhado em outras mídias, sem precisar necessariamente ir para os cinemas e ainda assim conquistar os fãs. O ideal agora é que a Disney abrisse mão de filmes com Jedi e Sith nos cinemas e explorasse mais a franquia poderosa no mundo televisivo.
Série requerem um engajamento maior e fazem os fãs criarem expectativas para os próximos episódios. E é essa palavra que pode salvar a franquia: expectativa. Depois de alguns anos tendo acesso a materiais mais ousados e apenas pelo streaming, haverá expectativas pelo que virá para os cinemas. Aí podem trabalhar a Antiga República, acompanhar a Ahsoka Tano (Rosario Dawson) ou até mesmo trazer a nova trilogia (iniciada e concluída) de Rian Johson. Não há necessidade de esquecer tudo que aconteceu até aqui para continuar ganhando dinheiro, Dona Disney. Basta ter um pouco mais de carinho com o que se tem em mãos.
Que a Força esteja com vocês.