‘Super MARIO Bros.’ (1993) | Relembre a Primeira adaptação em live-action que completa 30 anos…

‘Super Mario Bros – O Filme’ chegou recentemente aos cinemas de todo o mundo e, além de ter quebrado recordes mundiais, também fez bonito no Brasil. Neste último final de semana, o longa-metragem conquistou nada menos que R$ 30,9 milhões, com um público de 1,6 milhão em apenas cinco dias desde seu lançamento nas telonas – tornando-se a maior estreia do ano em território nacional (até o momento).

Ao redor do planeta, a obra superou todas as projeções iniciais e conquistou US$ 377,5 milhões – o que representa o maior lançamento mundial da história do cinema para uma animação. O longa ultrapassou a estreia global de ‘Frozen 2‘ (US$350.2M), além de ter se tornado o maior lançamento do estúdio Illumination, superando o lançamento de clássicos como ‘Minions‘ e ‘Meu Malvado Favorito 2‘.

A animação da Universal Pictures é a nova aposta do estúdio para uma franquia duradoura e vem arrancando elogios dos fãs por ser uma adaptação fiel de um dos jogos de videogame mais adorados de todos os tempos. O clássico game da Nintendo divertiu gerações desde a década de 1980 e chega agora na forma de uma superprodução para os cinemas. Porém, os fãs mais velhos devem lembrar bem que esta não é a primeira versão do game para as telonas. ‘Super Mario Bros.’ já havia adaptado anteriormente em um filme com atores reais em 1993, numa obra que está completando 30 anos em 2023. E é este longa que iremos adereçar aqui nesta nova matéria.

Super Mario Bros.’ (1993) guarda um recorde em seu histórico que jamais será apagado. Isso porque o filme foi a primeira adaptação em live-action (com atores reais) de um jogo de videogame da história do cinema. Antes dele, alguns projetos tinham como tema de suas narrativas videogames, como ‘Tron: Uma Odisseia Eletrônica’ (1982), ‘Jogos de Guerra’ (1983), ‘Os Heróis Não têm Idade’ (1984) e ‘O Gênio do Videogame’ (1989), mas eles não eram adaptações de nenhum game específico. ‘Super Mario Bros.’ tinha como proposta levar às telas a criação dos japoneses Shigeru Miyamoto e Takashi  Tezuka, os designers do game da Nintendo.

Dos games eletrônicos para as telonas. ‘Super Mario Bros.’ foi o primeiro filme baseado em um videogame da história do cinema.

O jogo trazia dois irmãos italianos bigodudos chamados Mario e Luigi (que só mudavam a cor do macacão – a de Mario é vermelha e de Luigi é verde) numa aventura pelo reino dos cogumelos, onde precisavam enfrentar os desafios em um mundo colorido e repleto de situações surreais (como criaturas fantásticas) para resgatar uma princesa das garras de um vilão – um monstro conhecido como Bowser (uma mistura de tartaruga e dragão cuspidor de fogo). É claro, o jogo era mirado às crianças, então a coerência era trocada por criaturinhas e bichinhos engraçadinhos, típicos dos desenhos animados. A pergunta que ficava na época era: como transpor isso ao cinema num filme com atores reais?

Esse foi o principal desafio que os produtores Jake Eberts e Roland Joffé tinham pela frente quando compraram os direitos de adaptar o game através da Hollywood Pictures, subsidiária da Disney na época. Ou seja, a primeira versão de ‘Super Mario Bros.’ para o cinema é uma produção da Disney e caso tivesse se dado bem, poderia pertencer ao acervo do maior estúdio da atualidade. Jake Eberts era um famoso produtor de Hollywood (falecido em 2012), responsável por sucessos clássicos como ‘Conduzindo Miss Daisy’ (1989), ‘Dança com Lobos’ (1990) e ‘O Nome da Rosa’ (1986). Já seu colega Roland Joffé é um prestigiado diretor de obras como ‘Os Gritos do Silêncio’ (1984), ‘A Missão’ (1986) e ‘A Letra Escarlate’ (1995).

O visual sombrio, “sujo” e “realista” foi inspirado em sucessos da época como ‘Batman’ (1989), ‘Dick Tracy’ (1990) e ‘As Tartarugas Ninja’ (1990).

A opção dos produtores foi seguir uma tendência que estava muito em voga na época, tratar marcas consideradas infantis de forma uma pouco mais séria e adulta – o que terminava por resultar em filmes talvez sombrios demais para a garotada mais sensível. Mas esses eram os anos 80 e 90. Tudo começou quando ‘Batman’ (1989), de Tim Burton, pegou o conceito colorido e divertido que era associado ao Homem-Morcego na época (fosse nos quadrinhos com a roupa azul e cinza, nos desenhos animados ou na série de TV com Adam West) e jogou pela janela, optando investir nas raízes do personagem. Sombrio é a primeira palavra que vem à mente de todos quando se fala no longa, produzido num estilo noir, ‘Batman’ foi considerado por muitos como sendo bastante violento. Sem dúvida um filme mais sério e adulto, que resultou em um verdadeiro fenômeno sem precedentes.

Seguindo de perto na esteira de ‘Batman’ (1989), ‘As Tartarugas Ninja’ (1990) fez o mesmo com um produto leve, colorido e mirado às crianças. Ou seja, trouxe os personagens para o mundo real, o nosso mundo da época, esquecendo as cores extravagantes e deixando tudo extremamente sóbrio. Resultado? Mais um grande sucesso para a conta. Joffé e Eberts então não tinham dúvidas de que seu ‘Super Mario Bros.’ seria diferente dos games, mais sóbrio, sombrio e “realista”. Esse seria o ponto de partida. Para escrever o roteiro foram contratados Parker Bennett, Terry Runte, mas o às na manga era Ed Solomon, responsável pela criação dos personagens ‘Bill & Ted’, personificados por Keanu Reeves e Alex Winter. Na direção, o casal Rocky Morton e Annabel Jankel, que tinha em seu portifólio a criação do personagem digital ‘Max Headroom’, que virou ícone dos anos 1980 protagonizando alguns programas diferentes e falava diretamente com a geração MTV.

A direção de arte de ‘Super Mario Bros.’ é um chamariz, criado por David L. Snyder, o mesmo de ‘Blade Runner’ (1982).

Todas as peças pareciam estar no lugar e os jogadores principais concordavam com a visão mais intensa que o longa receberia. Para corroborar com esta nova visão, foi contratado David L. Snyder para a criação do design desse admirável novo mundo. No currículo o artista tinha a direção de arte de um pequeno filme cult conhecido como ‘Blade Runner: O Caçador de Androides’ (1982) – ainda hoje referência quando o assunto é visual futurista único e detalhado. E Snyder reproduz seu estilo de uma distopia suja, chuvosa e caótica, adicionando elementos fantásticos, como criaturas meio humanas, meio lagartos. Aliás, as criaturas reptilianas possuem grande espaço dentro da narrativa. A história fala sobre um mundo paralelo ao nosso, no qual os humanos evoluíram dos lagartos, como dinossauros, ao invés de primatas mamíferos. Quando a “princesa” é sequestrada para a realidade alternativa, cabe aos irmãos Mario irem resgatá-la. Ou seja, a premissa dos jogos foi mantida.

Quando se fala na falta de fidelidade do filme ‘Super Mario Bros.’ em relação aos games, a questão principal é a falta de caracterização dos cenários e personagens. Mas se levarmos em conta que este fator não foi o suficiente para afastar os fãs de ‘Batman’ e ‘As Tartarugas Ninja’, ainda filmes muito queridos dos fãs, percebemos que o problema de ‘Super Mario Bros.’ não é o visual, e sim o roteiro pouco inspirado, que não desenvolve bem seus protagonistas, os antagonistas ou qualquer personagem na verdade. A trajetória é básica e não cria nenhum momento verdadeiramente memorável, fazendo com que não nos importemos com o que está sendo mostrado em tela. O visual não é fiel, mas é o de menos se tivéssemos um filme bom.

Parecidos? John Leguizamo e Bob Hoskins foram os escolhidos para dar vida a Luigi e Mario no longa-metragem.

Muito se reclama também da escolha dos atores para os papeis principais. O britânico Bob Hoskins foi escalado para ser o italiano Mario – o ator havia acabado de sair de sucessos como ‘Uma Cilada para Roger Rabbit’ (1988) e ‘Hook – A Volta do Capitão Gancho’ (1991). Para Luigi, o colombiano John Leguizamo criava uma versão mais jovem do personagem, sem seu característico bigodão e como uma relação de “pai e filho” com o irmão mais velho. A química da dupla foi elogiada, mas seus personagens realmente não possuem carisma e muito o que fazer em cena, sempre parecendo ligados no automático.

Para o papel do vilão Rei Koopa entrava em cena o ator Dennis Hopper, duas vezes indicado ao Oscar, e que nos anos 90 ficaria conhecido por papeis de antagonista em grandes produções como ‘Velocidade Máxima’ (1994) e ‘Waterworld – O Segredo das Águas’ (1995). Koopa, ou Bowser, como dito é uma criatura monstruosa, mas a pegada mais “realista” do filme tenta emular seus espinhos no penteado de Hopper, hora ou outra exibindo vislumbres de suas características reptilianas, seja nas pupilas dos olhos, na língua alongada e de duas pontas, ou no desfecho em que realmente se transforma em uma espécie de Tiranossauro Rex em menor escala – o mais próximo que os fãs do jogo veriam o vilão chegar de sua forma clássica no filme. A temática de dinossauros que o filme receberia, sendo que nunca fez efetivamente parte do game, se deve graças à “dinomania” que tomou conta dos anos 90.

Leia também: ‘Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros’ e a Dinomania que dominou os anos 90

Vilão obrigatório nos anos 80 e 90, Dennis Hopper vive o Rei Koopa, um lagartão em sua forma humana.

Completando o elenco principal, Samantha Mathis vive a “princesa” Daisy, aqui uma arqueóloga que não sabe sobre sua linhagem real vinda de outro mundo. As referências e personagens secundários são muitos. O dinossaurinho Yoshi, por exemplo, dá as caras na forma de um bem trabalhado boneco animatrônico. O cogumelo Toad faz participação na forma de um músico de rua e o peixe Big Bertha se transforma em uma voluptuosa leão de chácara, caracterizada com um vestido vermelho de espinhos para lembrar as formas do baiacu. Ou seja, muitos elementos que os fãs gostariam de encontrar estão presentes, escondidos ou não, simplesmente na forma que eles não esperavam vê-los. Contribuindo para o teor mais soturno, os cogumelos que dominam os jogos e dão poderes aos protagonistas, se tornaram um fungo nojento que permeia a produção e parece saídos de algo como ‘Alien’.

A produção foi problemática, e os atores simplesmente odiaram trabalhar no filme, com o trio principal Hoskins, Hopper e Leguizamo se pronunciando sobre sua falta de apreço ao projeto – chegando a atestar que foi o pior filme deles. Com orçamento de US$48 milhões, o filme recuperou menos da metade em sua bilheteria, se tornando um fiasco monumental. Na época, o filme era tratado como um blockbuster de respeito, anunciado em todos os lugares com uma campanha de marketing massiva. A falta de personalidade de ‘Super Mario Bros.’ o fez fracassar, não conseguindo cativar audiências não familiarizadas com os jogos. Por outro lado, quem já era fã do produto, não o reconheceu em tela, o desmerecendo prontamente.

‘Super Mario Bros.’ é considerado um dos piores blockbusters de todos os tempos, mas ressurgiu como item cult.

Em seu fim de semana de estreia no dia 28 de maio de 1993, ‘Super Mario Bros.’ ficou em quarto lugar no ranking das maiores bilheterias dos EUA, no feriado Memorial Day. O longa estreou no mesmo dia de ‘Risco Total’, aventura de escaladores com Sylvester Stallone, e ‘Feita por Encomenda’, comédia com Whoopi Goldberg e Ted Danson – que estrearam em primeiro e segundo lugar respectivamente. ‘Mario’ não conseguiu superar nem mesmo ‘Dave – Presidente por um Dia’, com Kevin Kline e Sigourney Weaver, que já estava em cartaz anteriormente, e ocupou a terceira posição. Para piorar a situação, na semana seguinte chegava ‘Jurassic Park‘, a maior bilheteria do ano, pisoteando ‘Super Mario’ e o fazendo ser rapidamente esquecido. O filme estrearia no Brasil no dia 10 de dezembro do mesmo ano.

Apesar de tudo isso, nas vídeo locadoras o filme logo se tornaria cult, apelando a um novo público. E esse status aumenta quando as gerações mais novas se deparam com a realidade de que sim, existe um filme de carne e osso do Mario Bros. – e ele era uma grande aposta de Hollywood na época. Apesar do fracasso, o filme serviria para abrir as portas para novas adaptações de videogames logo nos anos seguintes, como ‘Street Fighter’, ‘Double Dragon’ e ‘Mortal Kombat’, dando origem a todo um subgênero que nos traz atualmente produções elogiadas como ‘The Last of Us’, ‘Sonic’ e, por que não, o novo ‘Super Mario Bros.’ (2023).

Confira nossa crítica em vídeo:

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