sábado , 2 novembro , 2024

‘Supergirl’ (1984) | O Filme que a DC NÃO GOSTA de Lembrar

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Por muito pouco não houve um universo compartilhado do Superman de Christopher Reeve

Indiscutivelmente Superman: o Filme (1978) não foi apenas a primeira adaptação de quadrinhos realmente grande (em termos de investimento) da história do cinema como também fundamentou a base do que se entende hoje como blockbusters, ou seja, as produções mais caras e consequentemente mais rentáveis que os estúdios lançam anualmente. Inevitavelmente também foi a imortalização do seu astro, Christopher Reeve, no imaginário popular como o Superman definitivo.

Mesmo com esse início extremamente promissor, a franquia que se desenvolveu a partir dessa produção foi tudo menos estável. Por quase toda a década de 80 foram lançados filmes do personagem que traziam não só o nome de Reeve como a chancela dos detentores dos direitos de adaptação para o cinema, os Salkind. Ainda assim, o nível técnico dos filmes sofria um evidente decaimento conforme os anos passavam; não mais sendo um projeto ambicioso mas apenas mais uma franquia caça-níqueis.

Como toda a franquia pensada para produzir um máximo possível de títulos, a produção de um spin-off era uma possibilidade considerável já na época. Após o bem aceito Superman II foi confirmado um vindouro projeto focado na prima kryptoniana de Clark Kent, Kara Zor-El, ainda em 1982. Porém, os planos foram modificados por um detalhe: o fracasso comercial de Superman III, no ano de 1983, levaram os Salkind a acelerar ainda mais a produção do vindouro filme já que a franquia liderada por Reeve indicava os primeiros sinais de desgaste.

O fracasso de “Superman III” ligou a luz de alerta para a produção de Supergirl

Correndo ao mesmo tempo, no campo dos quadrinhos, a personagem da Supergirl já era uma velha conhecida do público leitor dos anos 80. Sua primeira aparição foi em maio de 1959, na Action Comics #252 (até então o título reservado às histórias do Superman e onde ele fez sua estreia em 1938). Essa edição, conforme era padrão nas impressões de quadrinhos desde os anos 30, trazia mais de uma história; enquanto que atualmente cada publicação é dedicada a um enredo único, no passado era comum pequenos arcos narrativos dividirem espaço nas páginas das impressões.

Enquanto que uma das histórias era apresentação da Supergirl para o público, uma outra era a também estreia do vilão Metallo (mas isso é apenas um detalhe). Fato é que essa edição em particular estabelece a base da personagem; como ela tem uma ligação parental com o Homem de Aço, ela se lembrar de sua vida em Krypton, como o Superman decide por colocá-la em um orfanato ao invés de criá-la (afinal, essa ainda é uma história da Era de Prata) e etc. .

Foi com base nessa história de origem que o roteiro assinado por David Odell (que também foi o roteirista de Mestres do Universo em 1987, com ambos os filmes tendo grande similaridade de repercussão) começou a ser escrito, onde o Superman de Christopher Reeve teria uma participação bem mais ativa mas a recusa do ator em participar do projeto forçou a uma mudança no roteiro.

Primeira aparição da Supergirl em 1959

Ao mesmo tempo aconteceu a busca pela atriz principal, cujo favoritismo inicialmente era por Brooke Shields porém não indo muito mais a frente. A desconhecida Helen Slater acabou assinando o que foi seu primeiro papel no cinema. Em seguida começou a busca por um diretor, sendo o primeiro alvo dos Salkind seu velho conhecido Richard Lester

Àquela altura Lester já havia sido creditado como diretor de dois filmes do Superman: na sequência de 1980 (quando ele é contratado para comandar as refilmagens do material de Richard Donner e em 1983 quando controlou completamente o desenvolvimento de Superman III). O cineasta acabou declinando a proposta. Eventualmente o cargo acabou ficando com o francês Jeannot Szwarc (que em 1978 havia substituído Spielberg na sequência de Tubarão).

Seguindo a tradição da empreitada de 1978 a produção percebeu que para validar o projeto era necessária a presença de nomes conhecidos do público. O lendário ator Peter O’Toole foi o primeiro grande nome confirmado, este sendo um cientista de Krypton que apresenta a protagonista Kara ao problema maior a ser resolvido e as consequências de falhar. O’Toole chegou para as gravações com status dignos de Marlon Brando em 1978; mesmo jamais tendo vencido um Oscar de Melhor Ator ele detinha o número de oito indicações, dentre elas como o protagonista em Lawrence da Arábia.

Supergirl” de 1984 teve um elenco com estrelas do nível de Peter O’Toole (terceiro da esquerda para a direita) e Mia Farrow (à esquerda).

Para o papel da feiticeira antagonista levou-se mais tempo, pois as principais escolhas dos produtores acabavam sempre recusando. Dolly Parton justificou que não poderia interpretar uma bruxa; Jane Fonda e Goldie Hawn também recusaram. A escolha acabou sendo por Faye Dunaway, na altura dos anos 80 um nome mais do que consolidado em Hollywood por seus trabalhos tanto em Bonnie & Clyde quanto em Chinatown.

Uma curiosidade é que Mia Farrow (a eterna Rosemary) também está presente no filme como Alura, mãe de Kara, ainda que sua participação não seja tão grande. Com uma produção orçada em US$ 35 milhões, Supergirl foi um fracasso monumental graças à sua bilheteria doméstica de pouco mais de US$ 14 milhões. Tamanho foi o fiasco financeiro que a obra ganhou o posto de menos rentável dos filmes que adaptaram a marca Superman, conseguindo ficar atrás do valor arrecadado por Superman IV: Em Busca da Paz.

A lendária Faye Dunaway foi a inimiga de Kara Zor-El

Do ponto de vista da execução, foi constantemente reiterado que o filme reciclou efeitos especiais de seus predecessores. Em 1984 esses avanços técnicos não mais impressionavam como em 1978, em um filme de grande orçamento e com grandes nomes a reutilização deles foi taxada como um motivo de vergonha; o roteiro também foi muito atacado por não se preocupar em tornar Kara uma personagem mais tridimensional (pelo contrário, ele se manteve atado à fórmula dela ser especial porque tem poderes e precisar de um par romântico) e por todo o enredo envolvendo feitiçaria e a busca por um artefato mágico não combinar com o que se espera de uma aventura do micro universo do Superman.

Não dá para dizer que Supergirl deixou um legado, muito pelo contrário. Porém o filme carrega o importante título de ter sido a primeira adaptação de quadrinhos a ter uma mulher como protagonista. A atriz Helen Slater também se tornou curiosamente ligada ao papel nos anos seguintes, tendo participado de alguns episódios de Smallville como Lara Lor-Van (mãe biológico de Clark Kent) e, anos depois, no seriado da Supergirl em que ela encarna a mãe adotiva da protagonista de Melissa Benoist

Após reencarnar em uma série da CW, já encerrada oficialmente, a personagem terá nova chance no cinema com uma vindoura participação no filme do Flash, dirigido por Andy Muschietti. Ainda que seu lugar na trama não tenha sido revelado oficialmente, bem como o quanto de sua origem possa vir a ser modificado, é certo que a alcunha de Supergirl pode enfim vingar na telona.

 

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Mesmo com esse início extremamente promissor, a franquia que se desenvolveu a partir dessa produção foi tudo menos estável. Por quase toda a década de 80 foram lançados filmes do personagem que traziam não só o nome de Reeve como a chancela dos detentores dos direitos de adaptação para o cinema, os Salkind. Ainda assim, o nível técnico dos filmes sofria um evidente decaimento conforme os anos passavam; não mais sendo um projeto ambicioso mas apenas mais uma franquia caça-níqueis.

Como toda a franquia pensada para produzir um máximo possível de títulos, a produção de um spin-off era uma possibilidade considerável já na época. Após o bem aceito Superman II foi confirmado um vindouro projeto focado na prima kryptoniana de Clark Kent, Kara Zor-El, ainda em 1982. Porém, os planos foram modificados por um detalhe: o fracasso comercial de Superman III, no ano de 1983, levaram os Salkind a acelerar ainda mais a produção do vindouro filme já que a franquia liderada por Reeve indicava os primeiros sinais de desgaste.

O fracasso de “Superman III” ligou a luz de alerta para a produção de Supergirl

Correndo ao mesmo tempo, no campo dos quadrinhos, a personagem da Supergirl já era uma velha conhecida do público leitor dos anos 80. Sua primeira aparição foi em maio de 1959, na Action Comics #252 (até então o título reservado às histórias do Superman e onde ele fez sua estreia em 1938). Essa edição, conforme era padrão nas impressões de quadrinhos desde os anos 30, trazia mais de uma história; enquanto que atualmente cada publicação é dedicada a um enredo único, no passado era comum pequenos arcos narrativos dividirem espaço nas páginas das impressões.

Enquanto que uma das histórias era apresentação da Supergirl para o público, uma outra era a também estreia do vilão Metallo (mas isso é apenas um detalhe). Fato é que essa edição em particular estabelece a base da personagem; como ela tem uma ligação parental com o Homem de Aço, ela se lembrar de sua vida em Krypton, como o Superman decide por colocá-la em um orfanato ao invés de criá-la (afinal, essa ainda é uma história da Era de Prata) e etc. .

Foi com base nessa história de origem que o roteiro assinado por David Odell (que também foi o roteirista de Mestres do Universo em 1987, com ambos os filmes tendo grande similaridade de repercussão) começou a ser escrito, onde o Superman de Christopher Reeve teria uma participação bem mais ativa mas a recusa do ator em participar do projeto forçou a uma mudança no roteiro.

Primeira aparição da Supergirl em 1959

Ao mesmo tempo aconteceu a busca pela atriz principal, cujo favoritismo inicialmente era por Brooke Shields porém não indo muito mais a frente. A desconhecida Helen Slater acabou assinando o que foi seu primeiro papel no cinema. Em seguida começou a busca por um diretor, sendo o primeiro alvo dos Salkind seu velho conhecido Richard Lester

Àquela altura Lester já havia sido creditado como diretor de dois filmes do Superman: na sequência de 1980 (quando ele é contratado para comandar as refilmagens do material de Richard Donner e em 1983 quando controlou completamente o desenvolvimento de Superman III). O cineasta acabou declinando a proposta. Eventualmente o cargo acabou ficando com o francês Jeannot Szwarc (que em 1978 havia substituído Spielberg na sequência de Tubarão).

Seguindo a tradição da empreitada de 1978 a produção percebeu que para validar o projeto era necessária a presença de nomes conhecidos do público. O lendário ator Peter O’Toole foi o primeiro grande nome confirmado, este sendo um cientista de Krypton que apresenta a protagonista Kara ao problema maior a ser resolvido e as consequências de falhar. O’Toole chegou para as gravações com status dignos de Marlon Brando em 1978; mesmo jamais tendo vencido um Oscar de Melhor Ator ele detinha o número de oito indicações, dentre elas como o protagonista em Lawrence da Arábia.

Supergirl” de 1984 teve um elenco com estrelas do nível de Peter O’Toole (terceiro da esquerda para a direita) e Mia Farrow (à esquerda).

Para o papel da feiticeira antagonista levou-se mais tempo, pois as principais escolhas dos produtores acabavam sempre recusando. Dolly Parton justificou que não poderia interpretar uma bruxa; Jane Fonda e Goldie Hawn também recusaram. A escolha acabou sendo por Faye Dunaway, na altura dos anos 80 um nome mais do que consolidado em Hollywood por seus trabalhos tanto em Bonnie & Clyde quanto em Chinatown.

Uma curiosidade é que Mia Farrow (a eterna Rosemary) também está presente no filme como Alura, mãe de Kara, ainda que sua participação não seja tão grande. Com uma produção orçada em US$ 35 milhões, Supergirl foi um fracasso monumental graças à sua bilheteria doméstica de pouco mais de US$ 14 milhões. Tamanho foi o fiasco financeiro que a obra ganhou o posto de menos rentável dos filmes que adaptaram a marca Superman, conseguindo ficar atrás do valor arrecadado por Superman IV: Em Busca da Paz.

A lendária Faye Dunaway foi a inimiga de Kara Zor-El

Do ponto de vista da execução, foi constantemente reiterado que o filme reciclou efeitos especiais de seus predecessores. Em 1984 esses avanços técnicos não mais impressionavam como em 1978, em um filme de grande orçamento e com grandes nomes a reutilização deles foi taxada como um motivo de vergonha; o roteiro também foi muito atacado por não se preocupar em tornar Kara uma personagem mais tridimensional (pelo contrário, ele se manteve atado à fórmula dela ser especial porque tem poderes e precisar de um par romântico) e por todo o enredo envolvendo feitiçaria e a busca por um artefato mágico não combinar com o que se espera de uma aventura do micro universo do Superman.

Não dá para dizer que Supergirl deixou um legado, muito pelo contrário. Porém o filme carrega o importante título de ter sido a primeira adaptação de quadrinhos a ter uma mulher como protagonista. A atriz Helen Slater também se tornou curiosamente ligada ao papel nos anos seguintes, tendo participado de alguns episódios de Smallville como Lara Lor-Van (mãe biológico de Clark Kent) e, anos depois, no seriado da Supergirl em que ela encarna a mãe adotiva da protagonista de Melissa Benoist

Após reencarnar em uma série da CW, já encerrada oficialmente, a personagem terá nova chance no cinema com uma vindoura participação no filme do Flash, dirigido por Andy Muschietti. Ainda que seu lugar na trama não tenha sido revelado oficialmente, bem como o quanto de sua origem possa vir a ser modificado, é certo que a alcunha de Supergirl pode enfim vingar na telona.

 

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