Há 83 anos temos acreditado que um homem pode voar, dobrar vigas de aço com as próprias mãos e ainda se esconder por trás de meros óculos. Mais ainda, mantendo gerações de fãs interessados em um relacionamento duradouro, iniciado em junho de 1938 quando Lois & Clark se conheceram. A nova série recém-chegada no HBO Max é a oitava encarnação do casal Superman & Lois (Veja lista abaixo), isso sem mencionar adaptações para o teatro, ou as aventuras do Superboy. Tendo estreado em fevereiro de 2021, e já sendo renovada para uma segunda temporada após o primeiro episódio.
A série não busca recontar a origem do herói kryptoniano, mas encontra um novo ponto de partida ao levar o casal para a cidade de Smallville depois da morte de Martha Kent. Nada é fácil, pois além do luto, seus dois filhos adolescentes não conhecem sua identidade e quando descobrem, não aceitam bem o fato. Assim sentimentos de rejeição e revolta, comuns a toda família, estão no roteiro de Greg Barlanti (Everwood) e Todd Helbing (Flash, Spartacus) para a série. A dinâmica dos jovens Jonathan Kent (Jordan Elsass), Jordan Kent (Alex Garfin) e Sarah Cushing (Inde Navarrette) lembram os conflitos da geração Dawson’s Creek, série da qual Barlanti também participou como produtor executivo.
Tyler Hochlin e Elizabeth Tullochi confirmam seu carisma, já mostrado na série da “Supergirl”, equilibrando doses de ansiedade, medo e arrependimentos, em meio à urgência de salvar o mundo uma vez por dia. A importância desses conflitos para o desenrolar da série é o diferencial, e faz desta a versão mais humana do herói kryptoniano, em sintonia com o atual momento das hqs em que o casal de repórteres tiveram o filho Jonathan Kent. Mesmo com seu lado dramático, a série não deixa a ação de lado, equilibrando ambos, e fazendo do Superman um personagem mais interessante para os novos tempos.
Também é uma série como quantidade enorme de easter eggs, que fazem a alegria dos leitores dos quadrinhos. Já no primeiro episódio, por exemplo, é reproduzida a cena na capa de “Action Comics #1” com o Superman erguendo um carro, trajando um uniforme idêntico à primeira aparição do herói criado por Jerry Siegel e Joe Shuster. Momentos que remetem ao clássico de Richard Donner, ou mesmo à recente versão de Zach Snyder aparecem em detalhes cênicos, ou ainda meras referências conforme Lois & Clark se vêm diante das intenções misteriosas de Morgan Edge (Adam Rayner), vilão criado pelo icônico Jack Kirby no início dos anos 70 nas páginas de “Superman’s pal: Jimmy Olsen”. Como não fosse pouco, o general Sam Lane (Dylan Walsh) , pai de Lois, aparece como outro ponto de pressão para o casal, seja trazendo missões que requerem os poderes de Clark, ou simplesmente sugerindo que Clark deve escolher viver como um herói ou como um chefe de família. Tudo muito promissor para o que será a segunda temporada.
Por hora, enquanto acompanhamos a série, vejamos as versões anteriores do casal que chega mais de 80 anos depois de sua criação conquistando novos fãs, e movimentando a mitologia em torno do homem de aço, que como a série da HBO deixa bem claro, não é tão indestrutível assim.
#1. Kirk Alyn & Noel Neill (1948/1950)
A primeira adaptação live-action da hq foi feita pela Columbia Pictures. Foram 2 seriados de 15 episódios, exibidos no cinema, feitos com baixo orçamento. Quando Kirk Alyn (1910 – 1999) voava, o herói era transformado em um desenho animado já que não havia como reproduzir tecnicamente o efeito do vôo. Sua amada era interpretada por Noel Neill (1920 – 2016), que não enxergava Clark, apenas o Superman. Na mesma época, as histórias do herói chegaram ao Brasil, e os nomes dos personagens foram traduzidos para Eduardo Kent e Miriam Lane. Pouco depois, o nome Clark passou a ser usado, mas Miriam continuou até a segunda metade dos anos 80, quando o nome Lois passou a ser usado nas publicações versão brasileira. Em “Superman – o Filme” (1978) Neill tem uma rápida aparição como a mãe de Lois (Margot Kidder)
#2. George Reeves & Phyllis Coates/Noel Neill (1951-1957)
O curta-metragem “Superman & The Mole Men” (1951) foi realizado como forma de promover a série de tv “As Aventuras do Superman“, em uma época em que a mídia televisiva apenas engatinhava. George Reeves (1914 – 1959), que iniciou sua carreira em clássicos do cinema como “E o Vento Levou” (1939) e “Sangue & Areia” (1941), lembrava o traço do desenhista Curt Swam, que por décadas foi o artista titular do personagem. Phyllis Coates (1927) viveu Lois apenas na primeira temporada, deixando o papel para outras oportunidades. Assim, da segunda até a sexta temporada, chamaram Noel Neill de volta. O patrocínio da Kellogs garantiu a longevidade da série. Nesta fase, Lois é apaixonada pelo Superman, mas nunca nota Clark, como também faziam os quadrinhos. Lois nunca percebia qualquer semelhança entre Clark e Superman, mas chegaram a se casar no episódio “The Wedding of Superman”, de maio de 1956.
#3. Christopher Reeve & Margot Kidder (1978, 1980, 1983, 1987)
Até hoje, Christopher Reeve (1952 – 2004) representa um dos melhores interpretes do homem de aço, desde “Superman – o Filme“, que gerou três sequências. Ao lado de Margot Kidder (1948 – 2018) viveram um dos momentos mais românticos dos quadrinhos no primeiro filme, embalados pela trilha sonora de John Williams, enquanto Lois compartilha tudo que sente em seus pensamentos. Curiosamente, nos bastidores Chris e Margot mantinham o profissionalismo, mas estavam longe da paixão que seus personagens transmitem. Nos filmes, Lois continua apaixonada pelo kryptoniano mas ignorando completamente seu alter-ego. No segundo filme, ela descobre sua identidade secreta (Já não era hora?), mas esquece tudo ao final do filme, restaurando o status de “chove e não molha” que durou décadas.
#4. Dean Cain & Teri Hatcher (1993-1997)
Nos anos 90 veio a nova série de Tv “Lois & Clark – As Novas Aventuras do Superman”, na qual resolveram focar mais na relação do casal, e fazer uma gradativa evolução para que finalmente o público tivesse os personagens namorando, e casando. Na primeira temporada o clima é de triângulo amoroso com Lois (Hatcher) cortejada por Clark (Dean Cain) e pelo vilão Lex Luthor (John Shea). Como formar de espelhar o conteúdo dos quadrinhos da época, e promover o evento do casamento nas páginas do especial “The Wedding of Superman”, o final da 2ª temporada mostra Lois descobrindo o segredo do herói, e somente na 4ª temporada ambos se casam. No final da primeira temporada, Phyllis Coates fez a mãe de Lois (Teri Hatcher) no episódio em que Lois e Luthor quase se casam.
#5. Tom Welling & Erica Durance ( 2001 – 2011)
A série “Smallville” foi criada com a proposta de focar na adolescência de Clark Kent, antes do pleno desenvolvimento de seus poderes. Durante 10 anos, no embalo da contagiante canção tema “Save me”, a série foi um sucesso misturando elementos das histórias em quadrinhos com uma atmosfera de “Arquivos X”, já que a todo instante surgiam mutantes criados pela exposição de Kryptonita na nada pacata cidade de Smallville. Novamente, um triângulo amoroso foi formado, mas desta vez entre Clark (Tom Welling), Lana Lang (Kristin Kreuk) e Lex Luthor (Michael Rosenbaum). A partir da 4ª temporada, a atriz Erica Durance entra para o elenco como Lois, e caiu no gosto dos fãs. No recente crossover do Arrowverse “Crisis on the Infinite Earths” foi estipulado que Clark (Welling) abriu mão de seus poderes para viver uma vida normal ao lado de Lois (Durance).
#6. Brandon Routh & Kate Bosworth (2006)
Depois do sucesso em dois filmes da franquia “X Men”, o diretor Bryan Singer trocou a Marvel pela DC com a missão de fazer de “Superman – o Retorno” uma sequência direta de “Superman II” (1980). O filme mostra o Superman voltando de um exílio auto imposto no espaço para encontrar outros sobreviventes de Krypton. Ao voltar enfrenta Lex Luthor (Kevin Spacey) e o fato de que Lois teve um filho seu, o pequeno Jason, adotado pelo namorado de Lois, Richard White ( James Marsden). O problema do filme, que desagradou muito as plateias na época foi o ritmo muito parado com ênfase no romantismo e muita pouca ação. Brandon Routh (Legends of Tomorrow) tentou emular a figura de Christopher Reeve, mas mostrou química ao lado de Kate Bosworth. Ainda assim, não é um filme ruim, e ainda arrecadou mais de US$390 milhões nas bilheterias mundiais.
#7. Henry Cavill & Amy Adams (2013, 2016, 2017)
Zach Snyder deu o pontapé inicial para a formação do Universo Extendido da DC comics e foi o arquiteto central por 5 anos colocando Henry Cavill nos filmes “O Homem de Aço” (2013) seguido de “Batman X Superman – A Origem da Justiça” (2016) e “Liga da Justiça” (2017). Henry Cavill mostrou química em cena com a excelente Amy Adams. Sua Lois é parte essencial da trama, e cumplice de Clark, descobrindo logo no princípio tudo sobre ele e se apaixonando por ele. É sua intervenção direta nos eventos da ressurreição do Superman em “Liga da Justiça” que garante aos heróis a vitória. Tudo muito incerto ainda se ambos voltarão a viver o casal, mas nenhuma dúvida que deixaram sua marca.