Que a Netflix é uma das principais produtoras de conteúdo da contemporaneidade, isso é um fato. Ao longo dos anos, a gigante do streaming pode ter errado em certos filmes ou séries, mas sem sombra de dúvida apostou fichas em projetos que deram muito certo – como a recente adaptação de ‘The Old Guard’, estrelada por Charlize Theron, ou a aclamada ‘The Umbrella Academy’. Agora, uma nova e ambiciosa produção está prestes a estrear no catálogo – a releitura seriada de ‘Sweet Tooth’.
Lançada originalmente em novembro de 2009, os quadrinhos originais carregam o selo Vertigo, da DC, e foram criados por ninguém menos que Jeff Lemire (‘Essex County’, ‘The Nobody’). A narrativa leva os leitores para um futuro distópico, onde boa parte da humanidade foi dizimada por um vírus mortal apelidado de Flagelo. Mais do que isso, a pandemia mundial vinda com a doença também passou a causar mutações nos recém-nascidos, deixando-os com características híbridas de humanos e animais. Não é surpresa, pois, que ambos os eventos despertassem nos sobreviventes um sentimento de amofinação, lançando-os numa jornada contra esses híbridos para tentarem voltar à normalidade.
No centro dessa caótica aventura, diversos personagens bastante complexos insurgem como forças-motrizes para guiarem o público em subtramas de união, esperança e defesa das minorias, lutando contra preconceitos diversos e uma “caça às bruxas” que reflete o medo irracional daquilo que não se conhece.
Gus, nesse sentido, é a principal representação do novo e daquilo que mentes retrógradas querem eliminar. O primeiro da raça híbrida supracitada, meio menino, meio cervo, viveu a maior parte da vida ao lado do pai em uma reserva natural no estado do Nebraska, Estados Unidos, alheio aos acontecimentos do mundo e protegido por uma personagem adulta que viu o que conhecia se desmantelando. Anos mais tarde, Gus mergulha em um ciclo de negação quando o pai morre de uma doença misteriosa, cruzando caminho com um ex-caçador de híbridos chamado Jepperd e decidindo sair de seu lar para desbravar o desconhecido.
Ao longo dessa jornada de autodescobrimento, os dois protagonistas, tão diferentes entre si, percebem que têm mais em comum do que imaginam. Enfrentando diversos problemas, as aventuras de Gus e de Jep se estenderam por nada menos que 40 edições compiladas em seis volumes diferentes: ‘Out of the Woods’, ‘In Captivity’, ‘Animal Armies’, ‘Endangered Species’, ‘Unnatural Habitats’ e ‘Wild Game’. Eventualmente, o enredo chegou ao fim em meados de 2012; oito anos mais tarde, Lemire anunciou que estaria retornando ao universo de ‘Sweet Tooth’ com uma sequência em quadrinhos intitulada ‘The Return’ (ambientada trezentos anos depois da obra principal e trazendo um outro Gus clonado para o centro dos holofotes).
O quadrinista trouxe diversas referências de clássicas HQs para a própria obra: além de inspirado por seu passado no Condado de Essex, no Canadá, Lemire abriu espaço para homenagens a ‘Scout: War Shaman’, nutrindo-se das incursões do velho oeste, e a ‘Winterworld’, ambientado em um mundo totalmente congelado (ambos de Tim Truman); e ‘A Boy and His Dog’, de Harlan Ellison, e ‘The Punisher: The End’, de Garth Ennis, cujas estéticas foram levadas para a arte da obra.
Lembrando que a série estreia amanhã, 04 de junho, na Netflix, e traz no elenco nomes como Neil Sandilands, Christian Convery, Nonso Anozie, Aliza Vellani, Adeel Akhtar e Will Forte. James Brolin entra como narrador da produção.