Categoria da indústria de animes tem ganhado considerável aceitação em tempos recentes
A recente confirmação da adaptação em anime da obra Sword Art Online: Progressive reacendeu a marca para o mercado, principalmente para aqueles nem tão inserido no universo de obras pop japonesas. A premissa de SAO (abreviação do título da série) Progressive é retrabalhar o primeiro arco do mangá escrito por Reki Kawahara, intitulado SAO: Aincard, de maneira mais metódica e gradual.
Toda a história da série gira em torno das aventuras do protagonista Kirito Kirigaya no mundo do videogame de realidade virtual Sword Art Online, onde ele e todos os outros jogadores estão com as mentes presas ao programa e, para obter a liberdade, precisam passar por todos os cem níveis do jogo e derrotar o último chefão.
O primeiro anime relacionado ao mangá, lançado em 2012, teve uma recepção extremamente positiva porém ele não escapou da crítica, sendo a principal delas o fato de que o protagonista se torna muito forte muito rápido e sem uma progressão natural decorrente da jornada pelos níveis do jogo. Progressive, portanto, é uma obra que vai trabalhar a jornada de Kirito por todos os níveis, bem como a relação dele com personagens que ele vai encontrando.
O impacto do lançamento de Sword Art Online começou ainda em 2011 com o mangá mas tomou outras proporções a partir de 2012 com a estreia do anime. O sucesso junto ao público como mostrado pela posição de popularidade obtida no site MyAnimeList (agregador de notas para animes) de terceiro lugar evoca também uma retomada de importância para o subgênero isekai.
Por definição, mangás\animes do tipo isekai (em uma tradução livre fica como “mundo estranho”) são aqueles em que o protagonista é transportado de um ambiente de normalidade para um cenário de fantasia. Em seus primórdios, entre o final dos anos 90 e início dos 2000, o subgênero relacionado ao gênero maior de fantasia teve muito de suas raízes ligadas à literatura ocidental fantástica, principalmente àquelas que colocavam um protagonista na fase da infância abandonando o mundo normal que lhe é familiar e indo para uma nova terra fantástica. Comumente Alice no País das Maravilhas é citada como um proeminente exemplo ocidental do tipo de história isekai.
Na matéria Isekai Anime: Explaining the Genre’s History, and How It’s Changed a autora Rachel Lefler cita a ligação que o subgênero possuía, pelo menos em suas origens, com personagens femininas. “Os primeiros animes isekais tinham protagonistas femininas… Exemplos incluem os favoritos de finais dos anos 90 e início dos 2000 como Inuyasha, Fushigi Yuugi e Vision of Escaflowne. Nessas histórias, garotas têm uma ligação psicológica com outro lugar ou tempo. Seus poderes intuitivos e relacionamento por linhagem sanguínea ou reencarnação em um mundo de fantasia os fazem especiais… ”.
Um dos primeiros exemplos de isekais foi o mangá Kanata Kara em 1993, cujo enredo segue a cartilha proposta para todo o subgênero e já nesse período fica evidente que as regras desse estilo já estavam bem definidas. A jovem protagonista Noriko Tachiki acaba sendo transportada do mundo normal para uma terra de fantasia, fazendo assim com que a jornada de Noriko lhe ensine lições valiosas sobre amizade.
O exemplo mais bem sucedido de isekai nesta década, porém, viria em 1996 com o lançamento do mangá de InuYasha e com a adaptação para anime em 2000. Não demorou muito e as aventuras protagonizadas pela estudante Kagome Higurashi no antigo Japão feudal para reunir os pedaços da Joia de Quatro Almas se tornaria um dos produtos pop japoneses mais conhecidos no ocidente.
Como a maioria dos animes de sucesso, InuYasha contou com alguns derivados para a história principal; mais especificamente quatro longas animados, oito jogos e uma light novel (histórias únicas menores que se assemelham ao estilo de folhetim). Uma sequência também foi anunciada para 2020, focando nas filhas do casal protagonista (Kagome e InuYasha) e do irmão do personagem título Sesshoumaru.
Por volta dos anos 2000 o subgênero observou uma ascensão inacreditável com o lançamento de Digimon. De início, esse despretensioso isekai não possuía grandes ambições de impactar o mercado de forma única. O sucesso comercial gerado por Pokémon encorajou diversos estúdios a buscarem produtos similares que pudessem render tanto quanto.
Não tardou muito e a temática de um grupo de crianças que precisam encontrar forças para vencer desafios em um mundo digital ganhou seus próprios adeptos. A aventura tinha esse tom natural similar a Goonies que ajudou em muito a obra a se popularizar no ocidente; as maiores brechas disponíveis na história para momentos sentimentais voltados para desenvolvimentos do elenco e em suas relações com os monstrinhos também potencializou a força da marca.
Quanto a ser um isekai, Digimon cumpriu com todos os requisitos mas variando na questão de protagonismo. Pela primeira vez uma obra do tipo não teria uma personagem principal única com algum tipo de ligação com o novo mundo mas sim um grupo de personagens variados em personalidade, cada um ligado ao ambiente por meio dos respectivos digimons. O sucesso da primeira fase do anime gerou novas versões, sendo a segunda intimamente relacionada com acontecimentos da primeira fase mas, conforme novas versões surgiram, regras eram mudadas ou subvertidas.
Nos anos que se seguiram, porém, cada vez mais o subgênero isekai caiu no ostracismo. Com a exceção da continuidade de obras como as já mencionadas foi ficando cada vez mais raro o surgimento de uma nova franquia. Isso até os anos 2010 com o lançamento do primeiro arco de Sword Art Online; novamente colocando um protagonista para sobreviver a desafios em uma outra realidade (esta sendo digital, uma provável herança de Digimon) porém mudando em definitivo as regras do protagonismo para um jovem com amplas habilidades e domínio das mesmas.
Com o bom rendimento dos arcos novos de SAO, cada vez mais obras isekai voltaram a cair no gosto do público tornando o subgênero um dos mais assistidos pela audiência atualmente. Em uma lista com os cinco gêneros de animes mais populares ou esquecidos, o site CBR (Comic Book Resources) colocou isekai junto ao gênero de fantasia em quarta posição dos mais populares. Isso fica provado também por algumas das obras mais discutidas em tempos recentes serem desse estilo como o próprio SAO e Re: Zero kara Hajimeru Isekai Seikatsu.