segunda-feira , 23 dezembro , 2024

The Crown | O que é fato e o que é ficção na 4ª temporada do aclamado drama

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A 4ª temporada de The Crown estreou há pouco tempo na Netflix e rapidamente se tornou sua melhor – seja pela continuidade estética dos anos predecessores, seja pela derradeira e visceral interpretação de Emma Corrin como Princesa Diana e de Gillian Anderson como Margaret Thatcher.

Entretanto, é inegável dizer que a série tem seus deslizes, principalmente no tocante à precisão histórica (algo que, na verdade, não faz muita diferença quando pretendemos compreender o panorama geral da história da Rainha Elizabeth II e da monarquia britânica). De qualquer forma, o time de pesquisadores sempre está em afinidade com os roteiristas, ao menos para prover o esqueleto do show – mas quanto dos fatos que realmente aconteceram foram alterados?



Desde o embate entre Elizabeth (Olivia Colman) e Thatcher até a icônica dança entre Charles (Josh O’Connor) e Diana, o CinePOP separou uma lista com o que se manteve fiel e o que foi mudado por questões artísticas sobre o mais recente ciclo do drama de época.

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O INTRUSO

O quinto episódio da 4ª temporada, intitulado “Fagan”, Elizabeth se depara com um intruso em seu quarto, um jovem chamado Michael Fagan que trespassa a segurança monárquica, entra nos aposentos da rainha e tem uma franca conversa sobre a situação dos trabalhadores em Londres. Felizmente, Fagan não demonstrou ser perigoso para Elizabeth, tendo permanecido no quarto alguns minutos antes de ser levado embora e ter sido preso por alguns meses por invasão.

Parte da história retratada no capítulo é real – Fagan de fato conversou com a rainha. Entretanto, não foi ela quem o manteve ocupado até a chegada dos oficiais, e sim um guarda não armado. Como se não bastasse, o episódio o trata como alguém nos primeiros estágios de esquizofrenia, quando, na verdade, estava sob efeitos de cogumelos mágicos ingeridos cinco meses atrás. O próprio Fagan comentou que “dois anos depois eu estava me recuperando. Eu fiquei chapado de cogumelos por muito, muito tempo”.

MARGARET THATCHER x ELIZABETH II

A tensão entre a primeira-ministra e a rainha da Inglaterra estava prestes a explodir em The Crown, com alfinetadas e reviradas de olho sendo jogadas de uma para outra. No oitavo episódio, “48:1”, Thatcher se recusa a assinar um documento da Comunidade das Nações, presdida pela monarca, que infligiria sanções econômicas sobre a África do Sul em virtude das políticas segregacionistas do apartheid. Eventualmente, Elizabeth, furiosa, tenta ao máximo contornar a situação, mudando termos e mais termos que a façam concordar com os termos.

Segundo documentos do governo irlandês, divulgados em 2017, foi exatamente isso o que aconteceu: a rainha estava no limite de sua paciência e até mesmo cogitou cancelar sua audiência semanal na Comunidade – e mais: Thatcher foi influenciada pelos interesses econômicos do próprio filho, Mark (apesar de confirmações concretas não terem sido feitas).

FAMÍLIA PERDIDA

Helena Bonham-Carter fez um trabalho arrepiante como a Princesa Margaret na nova temporada – e foi protagonista de um dos episódios mais potentes e chocantes do ciclo, “The Hereditary Principle”. Aqui, Margaret abandona o álcool e o fumo após uma perigosa cirurgia, clamando por mais responsabilidades do palácio além das que já tem. Porém, as coisas não seguem como o planejado e ela perde o “status” de substituir a irmã em eventos ao redor do mundo quando o caçula Edward alcança a maioridade. Rendendo-se mais e mais à depressão, ela concorda em ver uma terapeuta, através da qual descobre duas primas de primeiro grau, Nerissa e Katherine Bowes-Lyon, que foram internadas quando crianças e (surpresa!) permanecem vivas até hoje apesar dos documentos da família as taxarem como mortas.

Margaret confronta a mãe pela crueldade de manter um segredo desse porte escondido e, como resposta, ouve que o princípio de hereditariedade poderia ser colocado em xeque caso Nerissa e Katherine viessem a conhecimento público. De fato, as duas existiram e foram internadas no Royal Earslwood Hospital em 1941 – mas nenhum membro da família real foi visitá-las desde então, com exceção de Lady Elizabeth Anson (sobrinha) e a nora da rainha-mãe, Fenella Bowes-Lyon. Logo, Margaret não teve qualquer papel decisivo na descoberta das primas.

DIANA E ‘O FANTASMA DA ÓPERA’

Diana sempre foi um membro da família real diferente dos outros, adorada pelo público por sua acessibilidade e por sua personalidade encantadora – algo que não agradava ao restante da realeza. Em 1985, Diana já estava casada com Charles há cinco anos e passavam por vários problemas matrimoniais, incluindo diferença etária, interesses e temperamentos, isso sem mencionar a constante traição de ambos os lados. Diana também sofria de bulimia e problemas emocionais, enquanto a baixa autoestima de Charles era ameaçada pela popularidade da esposa.

Em seu 37º aniversário, Charles resolveu ir à ópera com Diana para apreciar uma apresentação de ballet – até ser surpreendido por uma aparição surpresa de Diana ao som de “Uptown Girl”, de Billy Joel (algo que o deixou furioso por drenar toda a atenção do público e da mídia à apresentação). Como se não bastasse, a princesa também apostava na reconstrução de seu casamento e, em seu aniversário, gravou em fita uma versão com a orquestra original de ‘O Fantasma da Ópera’ no Teatro West End. Apesar do sorriso amarelo, Charles diz a Camilla, sua amante, que odiou o que viu, principalmente sua cantoria.

Diana, de fato, dançou ao lado do soloísta Wayne Sleep no aniversário de Charles, no Covent Garden. “Charles estaria na plateia e queria surpreendê-lo; era tudo segredo”, Sleep disse em entrevista ao The Guardian. Também é fato que Charles não ficou impressionado com a performance, chamando-a de exibida. Mas não há qualquer evidência de que Diana tenha se reunido com a orquestra do icônico musical, nem que tenha gravado uma apresentação para o príncipe real.

O TESTE DE BALMORAL

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“Aparentemente, a família real rotineiramente sujeita todos seus convidados a testes secretos para descobrirem se alguém é aceitável ou aceitável”, diz Denis Thatcher (Stephen Boxer), marido de Margaret, no episódio sobre o Teste de Balmoral, uma espécie de avaliação que o casal definitivamente falhou em quase todos os requisitos, enquanto Diana acertou em cheio e conquistou o coração da calculista família. De acordo com jornalistas reais, essas “brincadeiras” aconteciam de verdade – e Thatcher teve de pedir um par de galochas para os passeios ao ar livre, visto que só tinha levado calçados indoor.

Entretanto, o criador Peter Morgan incrementou um pouco o capítulo em questão e colocou uma vergonhosa sequência em que Margaret brinca de “Ibble Dibble” com os membros da família real. Essa é hilária, sem dúvida, e desconfortante pela forçosa tentativa da primeira-ministra em compreender os maneirismos de sua rainha. Mas não há quaisquer evidências que o jogo era algo constante em Balmoral.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A 4ª temporada de The Crown estreou há pouco tempo na Netflix e rapidamente se tornou sua melhor – seja pela continuidade estética dos anos predecessores, seja pela derradeira e visceral interpretação de Emma Corrin como Princesa Diana e de Gillian Anderson como Margaret Thatcher.

Entretanto, é inegável dizer que a série tem seus deslizes, principalmente no tocante à precisão histórica (algo que, na verdade, não faz muita diferença quando pretendemos compreender o panorama geral da história da Rainha Elizabeth II e da monarquia britânica). De qualquer forma, o time de pesquisadores sempre está em afinidade com os roteiristas, ao menos para prover o esqueleto do show – mas quanto dos fatos que realmente aconteceram foram alterados?

Desde o embate entre Elizabeth (Olivia Colman) e Thatcher até a icônica dança entre Charles (Josh O’Connor) e Diana, o CinePOP separou uma lista com o que se manteve fiel e o que foi mudado por questões artísticas sobre o mais recente ciclo do drama de época.

Confira:

O INTRUSO

O quinto episódio da 4ª temporada, intitulado “Fagan”, Elizabeth se depara com um intruso em seu quarto, um jovem chamado Michael Fagan que trespassa a segurança monárquica, entra nos aposentos da rainha e tem uma franca conversa sobre a situação dos trabalhadores em Londres. Felizmente, Fagan não demonstrou ser perigoso para Elizabeth, tendo permanecido no quarto alguns minutos antes de ser levado embora e ter sido preso por alguns meses por invasão.

Parte da história retratada no capítulo é real – Fagan de fato conversou com a rainha. Entretanto, não foi ela quem o manteve ocupado até a chegada dos oficiais, e sim um guarda não armado. Como se não bastasse, o episódio o trata como alguém nos primeiros estágios de esquizofrenia, quando, na verdade, estava sob efeitos de cogumelos mágicos ingeridos cinco meses atrás. O próprio Fagan comentou que “dois anos depois eu estava me recuperando. Eu fiquei chapado de cogumelos por muito, muito tempo”.

MARGARET THATCHER x ELIZABETH II

A tensão entre a primeira-ministra e a rainha da Inglaterra estava prestes a explodir em The Crown, com alfinetadas e reviradas de olho sendo jogadas de uma para outra. No oitavo episódio, “48:1”, Thatcher se recusa a assinar um documento da Comunidade das Nações, presdida pela monarca, que infligiria sanções econômicas sobre a África do Sul em virtude das políticas segregacionistas do apartheid. Eventualmente, Elizabeth, furiosa, tenta ao máximo contornar a situação, mudando termos e mais termos que a façam concordar com os termos.

Segundo documentos do governo irlandês, divulgados em 2017, foi exatamente isso o que aconteceu: a rainha estava no limite de sua paciência e até mesmo cogitou cancelar sua audiência semanal na Comunidade – e mais: Thatcher foi influenciada pelos interesses econômicos do próprio filho, Mark (apesar de confirmações concretas não terem sido feitas).

FAMÍLIA PERDIDA

Helena Bonham-Carter fez um trabalho arrepiante como a Princesa Margaret na nova temporada – e foi protagonista de um dos episódios mais potentes e chocantes do ciclo, “The Hereditary Principle”. Aqui, Margaret abandona o álcool e o fumo após uma perigosa cirurgia, clamando por mais responsabilidades do palácio além das que já tem. Porém, as coisas não seguem como o planejado e ela perde o “status” de substituir a irmã em eventos ao redor do mundo quando o caçula Edward alcança a maioridade. Rendendo-se mais e mais à depressão, ela concorda em ver uma terapeuta, através da qual descobre duas primas de primeiro grau, Nerissa e Katherine Bowes-Lyon, que foram internadas quando crianças e (surpresa!) permanecem vivas até hoje apesar dos documentos da família as taxarem como mortas.

Margaret confronta a mãe pela crueldade de manter um segredo desse porte escondido e, como resposta, ouve que o princípio de hereditariedade poderia ser colocado em xeque caso Nerissa e Katherine viessem a conhecimento público. De fato, as duas existiram e foram internadas no Royal Earslwood Hospital em 1941 – mas nenhum membro da família real foi visitá-las desde então, com exceção de Lady Elizabeth Anson (sobrinha) e a nora da rainha-mãe, Fenella Bowes-Lyon. Logo, Margaret não teve qualquer papel decisivo na descoberta das primas.

DIANA E ‘O FANTASMA DA ÓPERA’

Diana sempre foi um membro da família real diferente dos outros, adorada pelo público por sua acessibilidade e por sua personalidade encantadora – algo que não agradava ao restante da realeza. Em 1985, Diana já estava casada com Charles há cinco anos e passavam por vários problemas matrimoniais, incluindo diferença etária, interesses e temperamentos, isso sem mencionar a constante traição de ambos os lados. Diana também sofria de bulimia e problemas emocionais, enquanto a baixa autoestima de Charles era ameaçada pela popularidade da esposa.

Em seu 37º aniversário, Charles resolveu ir à ópera com Diana para apreciar uma apresentação de ballet – até ser surpreendido por uma aparição surpresa de Diana ao som de “Uptown Girl”, de Billy Joel (algo que o deixou furioso por drenar toda a atenção do público e da mídia à apresentação). Como se não bastasse, a princesa também apostava na reconstrução de seu casamento e, em seu aniversário, gravou em fita uma versão com a orquestra original de ‘O Fantasma da Ópera’ no Teatro West End. Apesar do sorriso amarelo, Charles diz a Camilla, sua amante, que odiou o que viu, principalmente sua cantoria.

Diana, de fato, dançou ao lado do soloísta Wayne Sleep no aniversário de Charles, no Covent Garden. “Charles estaria na plateia e queria surpreendê-lo; era tudo segredo”, Sleep disse em entrevista ao The Guardian. Também é fato que Charles não ficou impressionado com a performance, chamando-a de exibida. Mas não há qualquer evidência de que Diana tenha se reunido com a orquestra do icônico musical, nem que tenha gravado uma apresentação para o príncipe real.

O TESTE DE BALMORAL

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“Aparentemente, a família real rotineiramente sujeita todos seus convidados a testes secretos para descobrirem se alguém é aceitável ou aceitável”, diz Denis Thatcher (Stephen Boxer), marido de Margaret, no episódio sobre o Teste de Balmoral, uma espécie de avaliação que o casal definitivamente falhou em quase todos os requisitos, enquanto Diana acertou em cheio e conquistou o coração da calculista família. De acordo com jornalistas reais, essas “brincadeiras” aconteciam de verdade – e Thatcher teve de pedir um par de galochas para os passeios ao ar livre, visto que só tinha levado calçados indoor.

Entretanto, o criador Peter Morgan incrementou um pouco o capítulo em questão e colocou uma vergonhosa sequência em que Margaret brinca de “Ibble Dibble” com os membros da família real. Essa é hilária, sem dúvida, e desconfortante pela forçosa tentativa da primeira-ministra em compreender os maneirismos de sua rainha. Mas não há quaisquer evidências que o jogo era algo constante em Balmoral.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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