quinta-feira , 21 novembro , 2024

‘The Handmaid’s Tale’ | 2×02: ‘Unwomen’ – O som do silêncio se rompe em episódio doloroso

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O direito à expressão não se trata apenas de uma virtude da sociedade contemporânea. Absolutamente inerente, ele é o símbolo de tudo aquilo que faz parte do ser humano. Suas emoções, sua razão, a racionalização daquilo que o rodeia, a maneira como as circunstâncias são absorvidas e processadas no íntimo. A expressividade é a linguagem multifacetada com a qual nos comunicamos.



Em The Handmaid’s Tale, já sabemos que nada disso tem valor em um contexto totalitarista e fundamentalista cristão. Em frangalhos, essa expressão se desfalece de vez entre rascunhos inacabados, textos jamais finalizados e jornais interrompidos no auge de sua impressão. Se na primeira temporada observamos o fim da imprensa – reduzida a apenas um lembrete do passado, em revistas femininas antigas -, na segunda compreendemos a dimensão deste silêncio. Muito mais que o fim do som das teclas frenéticas de um notebook que hospeda uma nova matéria jornalística, cada um desses representantes do povo também guarda em si uma dolorosa história que quase se apaga em meio a marcas de tiro e manchas de sangue.

Mas o episódio ‘Unwomen’ não se trata apenas disso. Como se já não fosse doloroso o bastante ver o veículo The Boston Globe (aquele mesmo que desmascarou uma histórica e trágica lista de abusos sexuais cometidos pela Igreja Católica) se transformar em um galpão assustador e empoeirado, adentramos o campo aberto e isolado que configura as Colônias. Acinzentado e lúgubre, a luz do sol parece não penetrar o amplo espaço, cercado por uma poluição tóxica profunda, um solo terrivelmente improdutivo e rostos cansados, marcados pelo cenário. E embora os semblantes escondam uma pequena juventude, a cor carvão enlameia os traços e salienta linhas de expressão que poderiam até ser coisas da idade, mas que de fato são reflexos de um emocional absolutamente fragilizado pela pressão e opressão. Dois contextos tão distintos, mas tão iguais.

Nessas duas extremidades somos apresentados a um leque de novas histórias. Emily, vivida por Alexis Bledel, ganha novas camadas. Somos absorvidos por um flashback pesado e percorremos os corredores de uma bela universidade onde a jovem tenta lidar com a homofobia, à medida que vê toda sua experiência profissional e sua vida particular serem reduzidas a sua orientação sexual. O complexo conflito já anuncia fragmentos do que seria a Gilead. Perceptíveis, mas também comuns em um mundo onde a intolerância de todos as espécies ainda persiste, seria difícil perceber que algo muito maior que o preconceito nascia ali. Talvez seja por isso que a imprensa tenha sido calada. Acostumada a submergir além do óbvio através de um trabalho investigativo, talvez ali nascesse a resistência antes do golpe. Se o golpe não tivesse sido tão certeiro como foi.

Em um contraste entre dois presentes e dois passados, o poder da expressividade entra em cena como o grande protagonista, delineando toda a trama em dois arcos que já se cruzaram na primeira temporada, conforme explora uma fotografia que maltrata os olhos da audiência em um roteiro impecável. Enquanto passeamos pelos pensamentos da Emily, andamos também pelos cascalhos tóxicos das Colônias, nos caminhos da personagem que assume para si o papel de enfermeira, de cuidadora. Na outra extremidade, June tenta encontrar alento em um novo esconderijo, apenas para descobrir uma narrativa quase alternativa, com novas histórias registradas em memorabilias, bilhetes e fotos. Pessoas desconhecidas e sem nomes, mas que se expressam de maneira gritante no passado que infelizmente ficou para trás.

Em ‘Uwomen’, até uma das referências mais prazerosas da cultura Pop perde seu vigor. Mostrada como apenas uma lasca de uma época que talvez jamais volte a existir, ela ganha um sabor agridoce, um simbolismo de impactar os corações e uma tristeza profunda. As gargalhadas que acompanham esse pequeno estilhaço do que a vida era se perdem e ecoam em uma redação vazia de pessoas, mas cheia de histórias registradas. The Handmaid’s Tale já provou que possui um conto muito maior que aquele relatado com maestria por Margaret Atwood, mas conseguiu ir ainda mais além, mostrando que aquela jornada de sofrimento será mais dolorosa do que eu e você possamos imaginar.

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O direito à expressão não se trata apenas de uma virtude da sociedade contemporânea. Absolutamente inerente, ele é o símbolo de tudo aquilo que faz parte do ser humano. Suas emoções, sua razão, a racionalização daquilo que o rodeia, a maneira como as circunstâncias são absorvidas e processadas no íntimo. A expressividade é a linguagem multifacetada com a qual nos comunicamos.

Em The Handmaid’s Tale, já sabemos que nada disso tem valor em um contexto totalitarista e fundamentalista cristão. Em frangalhos, essa expressão se desfalece de vez entre rascunhos inacabados, textos jamais finalizados e jornais interrompidos no auge de sua impressão. Se na primeira temporada observamos o fim da imprensa – reduzida a apenas um lembrete do passado, em revistas femininas antigas -, na segunda compreendemos a dimensão deste silêncio. Muito mais que o fim do som das teclas frenéticas de um notebook que hospeda uma nova matéria jornalística, cada um desses representantes do povo também guarda em si uma dolorosa história que quase se apaga em meio a marcas de tiro e manchas de sangue.

Mas o episódio ‘Unwomen’ não se trata apenas disso. Como se já não fosse doloroso o bastante ver o veículo The Boston Globe (aquele mesmo que desmascarou uma histórica e trágica lista de abusos sexuais cometidos pela Igreja Católica) se transformar em um galpão assustador e empoeirado, adentramos o campo aberto e isolado que configura as Colônias. Acinzentado e lúgubre, a luz do sol parece não penetrar o amplo espaço, cercado por uma poluição tóxica profunda, um solo terrivelmente improdutivo e rostos cansados, marcados pelo cenário. E embora os semblantes escondam uma pequena juventude, a cor carvão enlameia os traços e salienta linhas de expressão que poderiam até ser coisas da idade, mas que de fato são reflexos de um emocional absolutamente fragilizado pela pressão e opressão. Dois contextos tão distintos, mas tão iguais.

Nessas duas extremidades somos apresentados a um leque de novas histórias. Emily, vivida por Alexis Bledel, ganha novas camadas. Somos absorvidos por um flashback pesado e percorremos os corredores de uma bela universidade onde a jovem tenta lidar com a homofobia, à medida que vê toda sua experiência profissional e sua vida particular serem reduzidas a sua orientação sexual. O complexo conflito já anuncia fragmentos do que seria a Gilead. Perceptíveis, mas também comuns em um mundo onde a intolerância de todos as espécies ainda persiste, seria difícil perceber que algo muito maior que o preconceito nascia ali. Talvez seja por isso que a imprensa tenha sido calada. Acostumada a submergir além do óbvio através de um trabalho investigativo, talvez ali nascesse a resistência antes do golpe. Se o golpe não tivesse sido tão certeiro como foi.

Em um contraste entre dois presentes e dois passados, o poder da expressividade entra em cena como o grande protagonista, delineando toda a trama em dois arcos que já se cruzaram na primeira temporada, conforme explora uma fotografia que maltrata os olhos da audiência em um roteiro impecável. Enquanto passeamos pelos pensamentos da Emily, andamos também pelos cascalhos tóxicos das Colônias, nos caminhos da personagem que assume para si o papel de enfermeira, de cuidadora. Na outra extremidade, June tenta encontrar alento em um novo esconderijo, apenas para descobrir uma narrativa quase alternativa, com novas histórias registradas em memorabilias, bilhetes e fotos. Pessoas desconhecidas e sem nomes, mas que se expressam de maneira gritante no passado que infelizmente ficou para trás.

Em ‘Uwomen’, até uma das referências mais prazerosas da cultura Pop perde seu vigor. Mostrada como apenas uma lasca de uma época que talvez jamais volte a existir, ela ganha um sabor agridoce, um simbolismo de impactar os corações e uma tristeza profunda. As gargalhadas que acompanham esse pequeno estilhaço do que a vida era se perdem e ecoam em uma redação vazia de pessoas, mas cheia de histórias registradas. The Handmaid’s Tale já provou que possui um conto muito maior que aquele relatado com maestria por Margaret Atwood, mas conseguiu ir ainda mais além, mostrando que aquela jornada de sofrimento será mais dolorosa do que eu e você possamos imaginar.

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