quarta-feira, abril 24, 2024

The Spanish Princess: Tirando Catarina de Aragão das sombras de Henrique VIII | Entrevista

Na cultura popular, Catarina de Aragão ficou conhecida como a rainha que perdeu o lugar (e o marido) para Ana Bolena, como a primeira das seis esposas do rei Henrique VIII. Mas a ideia de Emma Frost e Matthew Graham com ‘The Spanish Princess’ é justamente reverter este pensamento. A série, parte da saga que já apresentou ‘The White Queen’ e ‘The White Princess’, chega em sua segunda temporada neste domingo (11), no Starzplay, e após oito episódios sustentados por uma mentira no primeiro ano, Catherine (Charlotte Hope) enfim ascende ao posto de rainha. Mas a História nos conta que o trono não será exatamente o que ela estava esperando.

“Essa é a história de uma mulher que sofre aborto atrás de aborto atrás de aborto”, conta Hope, em entrevista realizada à distância, via Zoom. “É uma história sobre luto, perdas e como ela continua a se levantar apesar de tudo. E isso soou muito relevante, para mim, como uma mulher moderna.”

Durante a primeira temporada de ‘The Spanish Princess’, acompanhamos Catherine chegando até a Inglaterra, prometida em casamento ao príncipe Arthur, que seria o sucessor do rei Henrique VII. Após a repentina morte do jovem, ela permanece determinada a se tornar rainha, com um plano para se casar com aquele que se torna o próximo a subir ao trono: príncipe Harry (Ruairi O’Connor), o futuro Henrique VIII. 

Neste novo ano, com o plano de Catherine enfim concluído, seu desafio será dar ao rei um filho, do sexo masculino, para entrar na linha sucessória. Mas a sua tragédia vem através de uma série de abortos espontâneos e mortes trágicas, que fazem o rei acreditar ser vítima de uma vingança divina por sua esposa ter antes se casado com Arthur.

The Spanish Princess

“Neste ano, encontramos Catherine no ápice de seu poder”, explica Emma Frost. “Ela e Henry são como rock stars. Eles sentem que estão no centro da Europa, são rei e rainha, têm um filho. Eles têm tudo o que sempre quiseram, e sentem-se completamente invencíveis. Para Catherine, é significativo que eles tenham sido coroados juntos, o que não era comum na Inglaterra e diz muito sobre o quanto ele a respeitava e a enxergava como uma igual. Então, quando a encontramos nessa temporada, Catherine tem os motivos para acreditar que ela e Henry têm equidade, que ela é a rainha em pé de igualdade com ele sendo o rei.”

Mas é claro que nem tudo são flores na história deste casamento de 24 anos.

“O que acontece ao longo da história, que é muito ligado a biologia, é a incapacidade deles de terem um filho”, continua a showrunner. “Catherine vai se entregando cada vez mais ao papel feminino tradicional, na mesma proporção de sua incapacidade de gerar um filho. Então, se no início do primeiro episódio eles são como duas crianças que assumiram o castelo e têm tudo nas mãos com facilidade, os dois são obrigados a crescer por causa de tudo o que acontece ao redor deles. A partir de um certo ponto, nós passamos a enxergá-la como uma personagem mais amadurecida emocionalmente. Ela tem muitas vitórias ao longo do caminho, e o amor dela e Henry é muito real, mas ela terá desafios para enfrentar e será constantemente testada.”

Gênero e poder

Charlotte Hope em The Spanish Princess

Um desses testes pelos quais Catherine passa ao longo da temporada tem relação com o papel político que ela assume na realeza, chegando até mesmo a ir para o campo de batalha mesmo grávida — como já adianta o belo cartaz da temporada (abaixo). Sobre este lugar ocupado por ela, a Hope explica:

“Tudo isso foi muito empoderador, mas ao mesmo tempo triste. Depois de assumir para si papéis tradicionalmente masculinos, quando ela volta do campo de batalha, Catherine precisa se educar para deixar claro para o marido que as conquistas dele foram maiores e que ele é o verdadeiro líder. Ela precisa fazer isso para amaciar o ego de Henry, então existe uma mistura muito grande de elementos. Catherine é uma mulher existindo e manipulando em um mundo masculino, e ao mesmo tempo também assume este papel que é tradicionalmente do homem, mas precisa estar atenta e voltar para o lugar convencional da mulher. As conversas em torno de gênero e das atribuições que ela tinha foram muito enriquecedoras.”

Não deixe de assistir:

O fato de Catherine ter rompido uma barreira no que dizia respeito ao papel político das rainhas inglesas naquele momento tem muita relação com a sua própria origem e o que trazia de herança de sua criação na Espanha. 

“O que explica muito sobre a forma como escrevemos Catherine é o fato de ela se inspirar em sua mãe, que era ao mesmo tempo incrível e brutal”, contextualiza Graham. “Ela quer ser uma guerreira e política, como a mãe. E eu acho que isso sempre esteve lá. Houve essa ruptura desde o primeiro episódio da primeira temporada. Há este desejo de deixar a mãe orgulhosa, mas acredito que na segunda temporada os dois lados dela estão brigando entre si, porque ela também quer ser uma boa esposa. A função dela era gerar um herdeiro, então todo o resto é meio que…”

Charlotte Hope em cena em The Spanish Princess

“Um sonho”, continua Frost. “Um sonho de ser uma líder política, de ser justa e comandar. Isso é o que ela quer para si, mas ninguém mais precisa dessas coisas. O que eles querem é que ela seja uma máquina para gerar o próximo rei. Estes são os dois lados de Catherine que nós exploramos. Na segunda temporada é quando essa ideia de ser uma rainha como foi sua mãe realmente aparece, como disse o Matthew. Ela acredita que aquilo é o certo a fazer, e isso a deixa confusa quando Henry não aprova. Ao mesmo tempo, ela quer ser uma boa mulher Católica, ela quer a aprovação de Deus para o que faz, e aos poucos, o que ela encontra é uma colisão entre gênero e poder. Ela está lutando para entender como ser uma mulher e como ser a melhor versão de si mesma, e também entregar o que todos esperam dela. Então ela vai ficando cada vez mais confusa, porque o que Henry, a sociedade, Deus e o papel de rainha querem dela podem ser coisas totalmente diferentes.”

Todos sabem como a história termina…

A história nos conta que as mais de duas décadas de casamento terminaram com a chegada de Ana Bolena e o rei literalmente inventando uma nova religião só para poder se separar de Catherine e se casar novamente. Mas o caminho até ele se tornar o Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra é longo, e o interesse de ‘The Spanish Princess’ é que a sombra de Anne Boleyn saia de cima da primeira rainha, pelo menos uma vez entre tantas adaptações dessa história que já vimos por aí.

“Todos sabem que Henry a troca por Anne Boleyn, e isso ofusca todo o resto e tudo o que sabemos sobre Catherine. O que as pessoas parecem não entender é que ela era o amor da vida dele. Eles ficaram juntos por 24 anos, e há todo tipo de evidência da força do amor que eles sentiam”, pontua Frost. “Sendo sincera, ela não era a melhor das esposas com quem ele poderia ter se casado no momento em que se casou com ela. Ele tinha outras opções que teriam sido melhores para a realeza, mas ele queria ficar com ela. Existia amor romântico entre eles, e eu sinto que isso fica à sombra da forma como tudo terminou. Em termos atuais, seria como dizer que um relacionamento de 24 anos foi um desastre apenas porque eventualmente chegou ao fim. Bem, não é verdade, um casamento deste tamanho é um sucesso estrondoso.”

Charlotte Hope também reflete: 

“O que foi importante para mim é que isso não é simplesmente a história de duas pessoas cujo amor entre elas acaba. É importante que eles continuem lutando um pelo outro, e isso é o que soa bem honesto entre Henry e Catherine. Eles se amam e ao mesmo tempo não se suportam. Era importante para nós que ficasse claro o quanto eles ainda estavam lutando um pelo outro, até o fim. Porque até o fim ela ainda o ama, mesmo que não goste dele ou não reconheça mais aquela pessoa. Na minha vida, acho que eu sou uma pessoa particularmente obcecada com términos, porque eles são uma das formas mais honestas de interação humana. Então, eu estava bem empolgada para entrar nessa temporada porque sempre acho mais divertido destruir do que construir.”

Laços femininos

Talvez uma das dinâmicas mais complexas da série não seja necessariamente entre Catherine e Henry, mas entre ela e Lina, que ganha um adicional na segunda temporada com uma espécie de comparação entre os casamentos:

“Estou tão feliz por você ter perguntado, porque estou obcecada com a relação entre Lina e Catherine”, confessa Hope. “Steph (Levi-John) é uma atriz incrível, e amo que Matthew e Emma tenham escrito uma amizade feminina como a delas, complicada e cheia de falhas. Catherine e Lina ambas chegam da Espanha juntas e se importam uma com a outra, é um laço quase fraternal e mesmo assim muitas vezes é difícil, porque Catherine a trata mal, e Lina trai a confiança de Catherine em um certo ponto… tudo isso sua honesto porque na maioria das vezes as amizades entre mulheres são escritas de forma que ou elas são melhores amigas ou elas são inimigas. Eu sou muito grata por Catherine e Lina serem as duas coisas ao mesmo tempo.”

Graham finaliza: “Nós criamos, dramaticamente, a história de Lina e Oviedo, porque não sabemos exatamente o que aconteceu com eles na vida real. O que acontece com eles um pouco mais adiante na temporada é que nós observamos o aumento da tensão que surge na Inglaterra com estrangeiros, e isso foi algo que aconteceu de verdade naquele tempo. Basicamente, mercadores ingleses e cidadãos londrinos começaram a se rebelar contra imigrantes que estavam supostamente tomando seus trabalhos. Então Lina e Oviedo acabam ficando no meio deste arco. É uma história interessante para eles porque é sobre como eles de repente não se sentem mais em casa. E isso não tem relação com etnia ou cor da pele, é algo contra qualquer pessoa que não seja inglesa. É um tipo de racismo diferente, então existem vários paralelos que são construídos a partir do ponto de vista de Lina.”

Todos os episódios da segunda temporada de ‘The Spanish Princess’ estão disponíveis no Starzplay a partir deste domingo, dia 11 de outubro. 

The Spanish Princess

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Laysa Zanettihttps://cinepop.com.br
Repórter, Crítica de Cinema e TV formada em Twin Peaks, Fringe, The Leftovers e The Americans. Já vi Laranja Mecânica mais vezes que você e defendo o final de Lost.

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