domingo , 22 dezembro , 2024

Uma Garota Encantada | Relembrando um dos primeiros filmes da carreira de Anne Hathaway

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Quem não gosta de um bom conto de fadas? Apesar de suas fórmulas reescritas para agradar a um público mais jovem, as atemporais narrativas talvez sejam uma das poucas coisas que consiga convergir gerações extremas em um único ponto: desde clássicos como Chapeuzinho Vermelho’ até releituras mais atuais que culminam na insurgência de obras como Frozen – Uma Aventura Congelante’, os diversos núcleos de personagens sempre mergulham em aventuras sobrenaturais, movidos pelo desejo de se tornarem independentes ou de retornarem para o conforto de sua vida mundana – e essa premissa tão engessada para as produções do gênero foi um dos principais aspectos a serem quebrados em Uma Garota Encantada.

Eventualmente, o longa-metragem dirigido por Tommy O’Haver acaba por se manter em uma zona de segurança que não abre margens para a exploração de um potencial que existe: afinal, uma terra tão mística e fabulosa quanto a de Emir, as possibilidades deveriam ser infinitas – mas respaldam-se em uma clássica história de amor com alguns pontos aprazíveis e outros que forçam o lado cômico ou o dramático além do que deveria. De qualquer forma, é sempre interessante ver o charme de Anne Hathaway nas telonas e, interpretando a irreverente heroína da nossa jornada, ela mais uma vez consegue nos seduzir com suas versáteis habilidades.



A trama principal gira em torno de Ella de Frell, a qual, à época de seu nascimento, foi “presenteada” com o dom da obediência por sua desastrada e nem um pouco convencional fada-madrinha Lucinda (Vivica A. Fox): em outras palavras, a protagonista faz tudo que lhe pedem e não consegue refrear o desejo compulsório de cumprir seus afazeres. Após a trágica morte da mãe e a união do pai com uma horrível madrasta que deixa Lady Tremaine no chinelo, Ella percebe que não consegue mais viver sob tais circunstância e resolve partir numa jornada para reencontrar a causadora de sofrimento, pedindo-lhe para retirar o que já havia se transformado numa maldição. Em sua aventura, ela é acompanhada da enciclopédia falante Benny (Jimi Mistry) e do amargurado elfo Slannen (Aidan McArdle).

Até aqui, não há nada de novo para ser visto: estamos acompanhando um típico tour-de-force que traz aspectos da jornada do herói, porém embebidos na pura comédia de seu total abandono pelo pedantismo e pela presunção. Uma história para a família e que, no final das contas, obviamente irá nos deixar contentes com mensagens de bonança e de esperança – e a resolução do amor verdadeiro sendo mais forte que as temíveis forças do mal. Logo, é de se esperar que Ella cruze caminho com o charmoso e inocente Príncipe Char (Hugh Dancy), herdeiro do trono, cuja figura a personagem principal desgosta e com razão: afinal, ele e seu macabro tio Edgar (Cary Elwes) aparentemente são os responsáveis pela segregação do Reino e pelos maus-tratos aos ogros, gigantes e elfos.

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É clara o respaldo que O’Haver traz de Orgulho e Preconceito’ para tentar aumentar a complexidade de seus personagens – e ainda que funcione mais como uma imitação, as cenas cômicas são divertidíssimas. O problema dá as caras quando o próprio roteiro começa a se levar muito a série e a enfiar inúmeras mensagens políticas em uma trama que não tem esse objetivo; algumas são bem claras, e as sutilezas das alfinetadas na verdade acabam por incomodar mais que ajudar o longa a chegar em algum lugar – e, além disso, apesar de funcionarem muito bem em seus próprios arcos, Dancy e Hathaway parecem não ter química quando contracenam juntos (nem mesmo o tão aguardado beijo ou o enlace matrimonial desperta centelhas entre o duo).

A história também é revestida com o escopo de desconstruir as fórmulas dos contos de fada ao inserir elementos da cultura pop contemporânea, seja na trilha sonora – que inclusive faz homenagem a nomes como Elton John e Freddie Mercury -, seja na caracterização de certos grupos de coadjuvantes. E ao passo que o time criativo se preocupa em excesso com a estilização fabulesca do cenário e dos figurinos, certamente deixa a desejar em um nível semelhante nas construções cênicas: em outras palavras, O’Haver não aproveita o suposto potencial de sua obra para ousar na direção e mantém-se preso aos quadrados convencionalismos de qualquer outra comédia romântica medíocre que exista por aí, salvo por poucos e esquecíveis momentos de glória.

A história também parece se perder ao querer se transformar em uma amálgama de basicamente tudo; em algumas sequências – duas em específico – as homenagens miméticas dão lugar a investidas musicais que a priori parecem fazer sentido, mas que depois poderiam ter sido trabalhadas de outra forma. Claro, Hathaway cantando Somebody to Love” para um grupo de gigantes simpáticos parece uma ideia interessante e comprável. Porém, em nada acrescente para o desenvolvimento da narrativa ou dos protagonistas, e logo se repete com a chegada do Casamento Real, indicando a necessidade de um exagero audiovisual para obrigar o público a corroborar àquilo que assiste.

Uma Garota Encantada se esquece do imenso potencial no qual poderia mergulhar: mesmo assim, seus pontuais ápices emergem com grande parte de seu elenco e com uma aventura que, ainda que tenha caído no ofuscamento de produções melhores e mais ousadas, tem grande chance de agradar ao público e aos fãs de Hathaway.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Quem não gosta de um bom conto de fadas? Apesar de suas fórmulas reescritas para agradar a um público mais jovem, as atemporais narrativas talvez sejam uma das poucas coisas que consiga convergir gerações extremas em um único ponto: desde clássicos como Chapeuzinho Vermelho’ até releituras mais atuais que culminam na insurgência de obras como Frozen – Uma Aventura Congelante’, os diversos núcleos de personagens sempre mergulham em aventuras sobrenaturais, movidos pelo desejo de se tornarem independentes ou de retornarem para o conforto de sua vida mundana – e essa premissa tão engessada para as produções do gênero foi um dos principais aspectos a serem quebrados em Uma Garota Encantada.

Eventualmente, o longa-metragem dirigido por Tommy O’Haver acaba por se manter em uma zona de segurança que não abre margens para a exploração de um potencial que existe: afinal, uma terra tão mística e fabulosa quanto a de Emir, as possibilidades deveriam ser infinitas – mas respaldam-se em uma clássica história de amor com alguns pontos aprazíveis e outros que forçam o lado cômico ou o dramático além do que deveria. De qualquer forma, é sempre interessante ver o charme de Anne Hathaway nas telonas e, interpretando a irreverente heroína da nossa jornada, ela mais uma vez consegue nos seduzir com suas versáteis habilidades.

A trama principal gira em torno de Ella de Frell, a qual, à época de seu nascimento, foi “presenteada” com o dom da obediência por sua desastrada e nem um pouco convencional fada-madrinha Lucinda (Vivica A. Fox): em outras palavras, a protagonista faz tudo que lhe pedem e não consegue refrear o desejo compulsório de cumprir seus afazeres. Após a trágica morte da mãe e a união do pai com uma horrível madrasta que deixa Lady Tremaine no chinelo, Ella percebe que não consegue mais viver sob tais circunstância e resolve partir numa jornada para reencontrar a causadora de sofrimento, pedindo-lhe para retirar o que já havia se transformado numa maldição. Em sua aventura, ela é acompanhada da enciclopédia falante Benny (Jimi Mistry) e do amargurado elfo Slannen (Aidan McArdle).

Até aqui, não há nada de novo para ser visto: estamos acompanhando um típico tour-de-force que traz aspectos da jornada do herói, porém embebidos na pura comédia de seu total abandono pelo pedantismo e pela presunção. Uma história para a família e que, no final das contas, obviamente irá nos deixar contentes com mensagens de bonança e de esperança – e a resolução do amor verdadeiro sendo mais forte que as temíveis forças do mal. Logo, é de se esperar que Ella cruze caminho com o charmoso e inocente Príncipe Char (Hugh Dancy), herdeiro do trono, cuja figura a personagem principal desgosta e com razão: afinal, ele e seu macabro tio Edgar (Cary Elwes) aparentemente são os responsáveis pela segregação do Reino e pelos maus-tratos aos ogros, gigantes e elfos.

É clara o respaldo que O’Haver traz de Orgulho e Preconceito’ para tentar aumentar a complexidade de seus personagens – e ainda que funcione mais como uma imitação, as cenas cômicas são divertidíssimas. O problema dá as caras quando o próprio roteiro começa a se levar muito a série e a enfiar inúmeras mensagens políticas em uma trama que não tem esse objetivo; algumas são bem claras, e as sutilezas das alfinetadas na verdade acabam por incomodar mais que ajudar o longa a chegar em algum lugar – e, além disso, apesar de funcionarem muito bem em seus próprios arcos, Dancy e Hathaway parecem não ter química quando contracenam juntos (nem mesmo o tão aguardado beijo ou o enlace matrimonial desperta centelhas entre o duo).

A história também é revestida com o escopo de desconstruir as fórmulas dos contos de fada ao inserir elementos da cultura pop contemporânea, seja na trilha sonora – que inclusive faz homenagem a nomes como Elton John e Freddie Mercury -, seja na caracterização de certos grupos de coadjuvantes. E ao passo que o time criativo se preocupa em excesso com a estilização fabulesca do cenário e dos figurinos, certamente deixa a desejar em um nível semelhante nas construções cênicas: em outras palavras, O’Haver não aproveita o suposto potencial de sua obra para ousar na direção e mantém-se preso aos quadrados convencionalismos de qualquer outra comédia romântica medíocre que exista por aí, salvo por poucos e esquecíveis momentos de glória.

A história também parece se perder ao querer se transformar em uma amálgama de basicamente tudo; em algumas sequências – duas em específico – as homenagens miméticas dão lugar a investidas musicais que a priori parecem fazer sentido, mas que depois poderiam ter sido trabalhadas de outra forma. Claro, Hathaway cantando Somebody to Love” para um grupo de gigantes simpáticos parece uma ideia interessante e comprável. Porém, em nada acrescente para o desenvolvimento da narrativa ou dos protagonistas, e logo se repete com a chegada do Casamento Real, indicando a necessidade de um exagero audiovisual para obrigar o público a corroborar àquilo que assiste.

Uma Garota Encantada se esquece do imenso potencial no qual poderia mergulhar: mesmo assim, seus pontuais ápices emergem com grande parte de seu elenco e com uma aventura que, ainda que tenha caído no ofuscamento de produções melhores e mais ousadas, tem grande chance de agradar ao público e aos fãs de Hathaway.

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