sexta-feira , 15 novembro , 2024

O Tempo e o Vento

Ainda que belo, filme é sabotado por sua estrutura didática e artificial.

A nova adaptação cinematográfica da cultuada trilogia literária O Tempo e o Vento, escrita por Érico Veríssimo, teve deveras uma produção à altura e recebeu, de certo modo, grande cuidado por parte do diretor Jayme Monjardim. Foram quase sete anos de reformulação no roteiro, tendo ele vinte e sete versões diferentes, até chegar nesta final, que é assinada por Letícia Wierzchovski e Tabajara Ruas, ambos gaúchos. Além, claro, de um considerável investimento financeiro, com direito a rodar o filme inteiramente usando câmeras 4K. Logo, esperávamos que este épico, inteiramente brasileiro, desse significado literal ao gênero – o que, em alguns aspectos, aconteceu, já em outros pontuais, nem tanto.

Tendo apenas no currículo, no que se refere a cinema, o pavoroso Olga, Monjardim traz consigo, novamente, a responsabilidade de transpor para a sétima arte, o que é considerado por muitos como o romance definitivo do estado do Rio Grande do Sul, e uma das mais importantes obras de arte do Brasil. Já que, brilhantemente, usando como plano de fundo um dos momentos históricos mais marcantes da história brasileira, a ocupação do Continente de São Pedro até o fim do Estado Novo, incluindo a Revolução Farroupilha, o escritor, através da saga das famílias Terra e Cambará, e de um romance que traz consigo uma gama de gerações, consegue prender o leitor com uma trama sólida e envolvente, mas, ao mesmo tempo, contextualizar o tema abordado, de forma muito orgânica.

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Se Jayme conseguiu alcançar com êxito tal objetivo? Acredito que não. Até mesmo porque, condensar, de certa maneira, três livros complexos (O Continente, com mesclas de O Retrato e O Arquipélago) em um longa de pouco mais de duas horas não era uma tarefa fácil pra ninguém. E, conhecendo um pouco da carreira do cineasta e dramaturgo paulista, era de se imaginar que ele tendesse para a linguagem mais novelada e dramática, do ponto vista narrativo. O que acabou não sendo uma escolha tão acertada. Já que a fita perdeu parte do seu apelo cinematográfico e ganhou um tom de minissérie “de época”, produzida pela Rede Globo – algo semelhante a títulos como Guerra de Canudos e A Casa das Sete Mulheres.

Com uma rápida introdução escrita, para situar o espectador, o filme, imediatamente, nos põe em meio aos conflitos referidos, e traz à figura da velha Bibiana (Fernanda Montenegro), matriarca da família Terra-Cambará, que junto com os seus parentes, ver-se cercada pelos Amaral. Bastante debilitada, praticamente em seu leito de morte, ela recebe (idealiza) a visita do seu falecido esposo, o capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). Com ele ao seu lado, Bibiana relembra e conta como foi construída a história de amor dos dois, além da gênese de sua própria família. Um artificio narrativo óbvio, mas frágil, já que os diálogos soam todos expositivos e minimalistas. Causando assim um didatismo estrutural incomodo e artificial. E não colocaria nenhuma parcela de culpa em cima dos atores, ambos desempenharam bem seus papéis.

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Detentor de um aspecto visual luxuoso e uma estética sofistica, a obra impressiona no que se refere à reconstrução de cenário e na atmosfera ambicionada. O trabalho do experiente e sempre excelente cinematografo Affonso Beato (Tudo Sobre Minha Mãe), é realmente um deleite para os olhos. O exemplo claro de um momento marcante, está na belíssima cena inicial, da silhueta do capitão Rodrigo, sendo digna de comparar-se a clássica tomada de Scarlett O´Hara, em E o vento levou…, pelo seu enquadramento e escolha de lentes. A fotografia é fundamental para situar o espectador nos distintos períodos e andamentos abordos, e impetra eficientemente suas alusões.

Assim também, a direção de arte é cuidadosa e detalhista, por conseguir recriar as cidades gaúchas e todas as regiões montanhosas, de forma crível e concreta. Além do próprio figurino que, mesmo soando cafona e antiquado, é fiel aos que lá existiram. Enfim, temos pouco a falar sobre a parte técnica que, excepcionalmente, é sabotada por escolhas equivocadas do diretor.

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E, mesmo não sendo um grande filme e constituindo-se bem inferior a obra original, no que se refere à dimensão da mídia, este O Tempo e o Vento poderá agradar alguns que estão habituados, e tem afeição, aos moldes televisivos e, claro, despertar também o interesse de outros em ir atrás do trabalho de Veríssimo, e assim conhecer grandes contos do escritor e da nossa rica literatura nacional.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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A nova adaptação cinematográfica da cultuada trilogia literária O Tempo e o Vento, escrita por Érico Veríssimo, teve deveras uma produção à altura e recebeu, de certo modo, grande cuidado por parte do diretor Jayme Monjardim. Foram quase sete anos de reformulação no roteiro, tendo ele vinte e sete versões diferentes, até chegar nesta final, que é assinada por Letícia Wierzchovski e Tabajara Ruas, ambos gaúchos. Além, claro, de um considerável investimento financeiro, com direito a rodar o filme inteiramente usando câmeras 4K. Logo, esperávamos que este épico, inteiramente brasileiro, desse significado literal ao gênero – o que, em alguns aspectos, aconteceu, já em outros pontuais, nem tanto.

Tendo apenas no currículo, no que se refere a cinema, o pavoroso Olga, Monjardim traz consigo, novamente, a responsabilidade de transpor para a sétima arte, o que é considerado por muitos como o romance definitivo do estado do Rio Grande do Sul, e uma das mais importantes obras de arte do Brasil. Já que, brilhantemente, usando como plano de fundo um dos momentos históricos mais marcantes da história brasileira, a ocupação do Continente de São Pedro até o fim do Estado Novo, incluindo a Revolução Farroupilha, o escritor, através da saga das famílias Terra e Cambará, e de um romance que traz consigo uma gama de gerações, consegue prender o leitor com uma trama sólida e envolvente, mas, ao mesmo tempo, contextualizar o tema abordado, de forma muito orgânica.

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Se Jayme conseguiu alcançar com êxito tal objetivo? Acredito que não. Até mesmo porque, condensar, de certa maneira, três livros complexos (O Continente, com mesclas de O Retrato e O Arquipélago) em um longa de pouco mais de duas horas não era uma tarefa fácil pra ninguém. E, conhecendo um pouco da carreira do cineasta e dramaturgo paulista, era de se imaginar que ele tendesse para a linguagem mais novelada e dramática, do ponto vista narrativo. O que acabou não sendo uma escolha tão acertada. Já que a fita perdeu parte do seu apelo cinematográfico e ganhou um tom de minissérie “de época”, produzida pela Rede Globo – algo semelhante a títulos como Guerra de Canudos e A Casa das Sete Mulheres.

Com uma rápida introdução escrita, para situar o espectador, o filme, imediatamente, nos põe em meio aos conflitos referidos, e traz à figura da velha Bibiana (Fernanda Montenegro), matriarca da família Terra-Cambará, que junto com os seus parentes, ver-se cercada pelos Amaral. Bastante debilitada, praticamente em seu leito de morte, ela recebe (idealiza) a visita do seu falecido esposo, o capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). Com ele ao seu lado, Bibiana relembra e conta como foi construída a história de amor dos dois, além da gênese de sua própria família. Um artificio narrativo óbvio, mas frágil, já que os diálogos soam todos expositivos e minimalistas. Causando assim um didatismo estrutural incomodo e artificial. E não colocaria nenhuma parcela de culpa em cima dos atores, ambos desempenharam bem seus papéis.

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Detentor de um aspecto visual luxuoso e uma estética sofistica, a obra impressiona no que se refere à reconstrução de cenário e na atmosfera ambicionada. O trabalho do experiente e sempre excelente cinematografo Affonso Beato (Tudo Sobre Minha Mãe), é realmente um deleite para os olhos. O exemplo claro de um momento marcante, está na belíssima cena inicial, da silhueta do capitão Rodrigo, sendo digna de comparar-se a clássica tomada de Scarlett O´Hara, em E o vento levou…, pelo seu enquadramento e escolha de lentes. A fotografia é fundamental para situar o espectador nos distintos períodos e andamentos abordos, e impetra eficientemente suas alusões.

Assim também, a direção de arte é cuidadosa e detalhista, por conseguir recriar as cidades gaúchas e todas as regiões montanhosas, de forma crível e concreta. Além do próprio figurino que, mesmo soando cafona e antiquado, é fiel aos que lá existiram. Enfim, temos pouco a falar sobre a parte técnica que, excepcionalmente, é sabotada por escolhas equivocadas do diretor.

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E, mesmo não sendo um grande filme e constituindo-se bem inferior a obra original, no que se refere à dimensão da mídia, este O Tempo e o Vento poderá agradar alguns que estão habituados, e tem afeição, aos moldes televisivos e, claro, despertar também o interesse de outros em ir atrás do trabalho de Veríssimo, e assim conhecer grandes contos do escritor e da nossa rica literatura nacional.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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