sexta-feira , 27 dezembro , 2024

Crítica | Woody Allen: Um Documentário

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O cinema documental funciona como uma reportagem. No caso de se tratar do relato de uma vida, o primeiro passo é saber o quão interessante é, ou foi, a vida do relatado. Aqui temos a biografia autorizada de um dos maiores ícones do cinema, e do humor, de todos os tempos. Um projeto que já nasceu vencedor, e que seria muito difícil ser arruinado.

O cinema documental funciona como uma reportagem. No caso de se tratar do relato de uma vida, o primeiro passo é saber o quão interessante é, ou foi, a vida do relatado. Aqui temos a biografia autorizada de um dos maiores ícones do cinema, e do humor, de todos os tempos. Um projeto que já nasceu vencedor, e que seria muito difícil ser arruinado.



É impossível para qualquer cinéfilo de verdade não sair extremamente satisfeito, ou ao menos com um sorriso no rosto ao final da projeção de “Woody Allen: Um Documentário”; mesmo com certas picuinhas se acharmos que a obra se concentrou demais em certos aspectos, e deixou passar outros, ou passou rápido demais por eles. Dando devido crédito ao filme de Robert B. Weide (diretor do filme “Um Louco Apaixonado” e de episódios da série “Segura a Onda”), “Woody Allen: Um Documentário” não é inovador em sua narrativa, e nem planejava ser, tendo em mãos um material por si só tão poderoso tudo o que precisava ser feito era criar algo acessível tanto para os fãs fervorosos do cineasta quanto para pessoas que estivessem dispostas a conhecer a vida e obra desse grande autor.

E para isso Weide começa pelo começo. A infância do pequeno Allan Stewart Konigsberg, e sua vida junto da família no bairro do Brooklyn em Nova York. O início da carreira como comediante é retratado a seguir, e o nervosismo de um jovem tímido que vomitava antes de suas apresentações em público, e que precisava ser empurrado muitas vezes para entrar em cena. Se para mais nada, “Woody Allen: Um Documentário” se torna impressionante por Weide ter conseguido confissões tão sinceras do próprio Allen, que ao contrário do que dizem ser uma pessoa reclusa, aceita os holofotes colocados nele pelo filme de muito bom humor. Para os fãs passar essas duas horas ao lado do ídolo, de sua intimidade, esmiuçando sua vida, é um grande presente. Por mais escolado que o maior cinéfilo fã de Allen seja, talvez não conheça de perto todos os fatos apresentados pelo documentário, como por exemplo, a forma jocosa como o diretor narra seu método de trabalho, ainda confiando em sua máquina de escrever velha de guerra há pelo menos trinta anos. Quando Weide lhe pergunta sobre as vantagens de um computador, que incluem o artifício de poder copiar e colar textos, Allen é preciso ao mostrar sua tesoura e grampeador.

Allen também se orgulha de suas anotações, e de poder escrever no quarto, sem pressão, o que trata como quase terapia. Seu mosaico de informações aparentemente desconexas em variados pedaços de papel são de onde partem suas ideias para filmes, e o desinteresse do cineasta por seus próprios pensamentos documentados (a seu jeito) mostra que embora a palavra gênio seja constantemente usada a seu favor, Allen realmente não concorda com o elogio, esse é um tema recorrente de todo o filme. O diretor Weide soube utilizar bem seu tempo de projeção, dividindo a obra igualmente em duas partes: uma para falar sobre o início da vida de Allen, que engloba infância, princípio da carreira como comediante, e seus primeiros projetos no cinema; e outra centrada em sua extensa obra cinematográfica. Tudo, obviamente, mesclado com pensamentos sobre os assuntos levantados, do próprio Allen, e de várias pessoas próximas como sua irmã, o produtor e roteirista Marshall Brickman, o crítico Leonard Maltin, o diretor Martin Scorsese, e alguns dos principais atores que trabalharam com ele, como o vencedor do Oscar Sean Penn, que confessa nunca ter discutido sobre suas escolhas para o personagem Emmet Ray, de “Poucas e Boas”, com Allen, nem depois do filme pronto.

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Allen é seguido pelas câmeras de Weide até mesmo durante as filmagens da produção “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, e aí podemos vê-lo em ação com a mão na massa. Nesse trecho podemos notar certo acanhamento de Allen ao saber estar sendo vigiado, mesmo assim ainda podemos conferir suas instruções para Josh Brolin, e nos divertirmos mais um pouco ao saber da impaciência do diretor em repetir takes. Ao contrário de outros mestres contemporâneos seus, como Stanley Kubrick e Roman Polanski, favoráveis a exaustivas repetições, Allen é econômico, e valoriza as noites passadas em casa e não num set. Ao passarmos por sua extensa filmografia, que conta com quase 50 títulos dirigidos por ele, Weide enfatiza grandes momentos, e algumas obras-primas, como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Manhattan” (talvez o filme menos apreciado pelo próprio Allen – que confessa ter mandado recolher a obra antes de sua exibição), “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Crimes e Pecados”, “Tiros na Broadway”, “Match Point”, e seus filmes iniciais de humor escrachado. Weide não se intimida e também foca nos fracassos do diretor como “Memórias” (tratado pelo documentário como a pior coisa que Allen já produziu) e “Interiores” (quebra do que Allen vinha fazendo, e um de meus favoritos em sua filmografia).

Allen também fala sobre sua decepção ao entrar na indústria do cinema, ao ter seu texto para “O que há, Tigresa?” totalmente alterado, só concordando em ter outro roteiro seu filmado se fosse ele mesmo o diretor, e assim seguiu, entrando em sua quinta década como cineasta. Além de não se incomodar em mostrar os considerados fiascos do diretor, e até mesmo enaltecer suas derrotas, Weide vai além e toca na ferida, ao comentar talvez o fato mais estarrecedor da vida pessoal de Woody Allen, quando durante as filmagens de “Maridos e Esposas”, sua então mulher e musa, de 13 de seus filmes, Mia Farrow, flagrou a traição do marido, ao encontrar fotos de sua filha adotiva Soon-Yi, então com 19 anos de idade, nua. Além dos elogios tecidos pelo próprio Allen para sua ex-companheira, o documentário enobrece Farrow ao afirmar que mesmo depois da grande desilusão, e ruína de sua vida pessoal, a atriz retornou ao set de filmagem para contracenar com uma pessoa que agora desprezava, e terminar o filme. Farrow talvez tenha reinventado a palavra profissionalismo. “Woody Allen: Um Documentário” é um deleite para qualquer cinéfilo, uma grande homenagem, divertida e informativa, para um dos grandes nomes do cinema atual e de todos os tempos.

 

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O cinema documental funciona como uma reportagem. No caso de se tratar do relato de uma vida, o primeiro passo é saber o quão interessante é, ou foi, a vida do relatado. Aqui temos a biografia autorizada de um dos maiores ícones do cinema, e do humor, de todos os tempos. Um projeto que já nasceu vencedor, e que seria muito difícil ser arruinado.

O cinema documental funciona como uma reportagem. No caso de se tratar do relato de uma vida, o primeiro passo é saber o quão interessante é, ou foi, a vida do relatado. Aqui temos a biografia autorizada de um dos maiores ícones do cinema, e do humor, de todos os tempos. Um projeto que já nasceu vencedor, e que seria muito difícil ser arruinado.

É impossível para qualquer cinéfilo de verdade não sair extremamente satisfeito, ou ao menos com um sorriso no rosto ao final da projeção de “Woody Allen: Um Documentário”; mesmo com certas picuinhas se acharmos que a obra se concentrou demais em certos aspectos, e deixou passar outros, ou passou rápido demais por eles. Dando devido crédito ao filme de Robert B. Weide (diretor do filme “Um Louco Apaixonado” e de episódios da série “Segura a Onda”), “Woody Allen: Um Documentário” não é inovador em sua narrativa, e nem planejava ser, tendo em mãos um material por si só tão poderoso tudo o que precisava ser feito era criar algo acessível tanto para os fãs fervorosos do cineasta quanto para pessoas que estivessem dispostas a conhecer a vida e obra desse grande autor.

E para isso Weide começa pelo começo. A infância do pequeno Allan Stewart Konigsberg, e sua vida junto da família no bairro do Brooklyn em Nova York. O início da carreira como comediante é retratado a seguir, e o nervosismo de um jovem tímido que vomitava antes de suas apresentações em público, e que precisava ser empurrado muitas vezes para entrar em cena. Se para mais nada, “Woody Allen: Um Documentário” se torna impressionante por Weide ter conseguido confissões tão sinceras do próprio Allen, que ao contrário do que dizem ser uma pessoa reclusa, aceita os holofotes colocados nele pelo filme de muito bom humor. Para os fãs passar essas duas horas ao lado do ídolo, de sua intimidade, esmiuçando sua vida, é um grande presente. Por mais escolado que o maior cinéfilo fã de Allen seja, talvez não conheça de perto todos os fatos apresentados pelo documentário, como por exemplo, a forma jocosa como o diretor narra seu método de trabalho, ainda confiando em sua máquina de escrever velha de guerra há pelo menos trinta anos. Quando Weide lhe pergunta sobre as vantagens de um computador, que incluem o artifício de poder copiar e colar textos, Allen é preciso ao mostrar sua tesoura e grampeador.

Allen também se orgulha de suas anotações, e de poder escrever no quarto, sem pressão, o que trata como quase terapia. Seu mosaico de informações aparentemente desconexas em variados pedaços de papel são de onde partem suas ideias para filmes, e o desinteresse do cineasta por seus próprios pensamentos documentados (a seu jeito) mostra que embora a palavra gênio seja constantemente usada a seu favor, Allen realmente não concorda com o elogio, esse é um tema recorrente de todo o filme. O diretor Weide soube utilizar bem seu tempo de projeção, dividindo a obra igualmente em duas partes: uma para falar sobre o início da vida de Allen, que engloba infância, princípio da carreira como comediante, e seus primeiros projetos no cinema; e outra centrada em sua extensa obra cinematográfica. Tudo, obviamente, mesclado com pensamentos sobre os assuntos levantados, do próprio Allen, e de várias pessoas próximas como sua irmã, o produtor e roteirista Marshall Brickman, o crítico Leonard Maltin, o diretor Martin Scorsese, e alguns dos principais atores que trabalharam com ele, como o vencedor do Oscar Sean Penn, que confessa nunca ter discutido sobre suas escolhas para o personagem Emmet Ray, de “Poucas e Boas”, com Allen, nem depois do filme pronto.

Allen é seguido pelas câmeras de Weide até mesmo durante as filmagens da produção “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”, e aí podemos vê-lo em ação com a mão na massa. Nesse trecho podemos notar certo acanhamento de Allen ao saber estar sendo vigiado, mesmo assim ainda podemos conferir suas instruções para Josh Brolin, e nos divertirmos mais um pouco ao saber da impaciência do diretor em repetir takes. Ao contrário de outros mestres contemporâneos seus, como Stanley Kubrick e Roman Polanski, favoráveis a exaustivas repetições, Allen é econômico, e valoriza as noites passadas em casa e não num set. Ao passarmos por sua extensa filmografia, que conta com quase 50 títulos dirigidos por ele, Weide enfatiza grandes momentos, e algumas obras-primas, como “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Manhattan” (talvez o filme menos apreciado pelo próprio Allen – que confessa ter mandado recolher a obra antes de sua exibição), “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Crimes e Pecados”, “Tiros na Broadway”, “Match Point”, e seus filmes iniciais de humor escrachado. Weide não se intimida e também foca nos fracassos do diretor como “Memórias” (tratado pelo documentário como a pior coisa que Allen já produziu) e “Interiores” (quebra do que Allen vinha fazendo, e um de meus favoritos em sua filmografia).

Allen também fala sobre sua decepção ao entrar na indústria do cinema, ao ter seu texto para “O que há, Tigresa?” totalmente alterado, só concordando em ter outro roteiro seu filmado se fosse ele mesmo o diretor, e assim seguiu, entrando em sua quinta década como cineasta. Além de não se incomodar em mostrar os considerados fiascos do diretor, e até mesmo enaltecer suas derrotas, Weide vai além e toca na ferida, ao comentar talvez o fato mais estarrecedor da vida pessoal de Woody Allen, quando durante as filmagens de “Maridos e Esposas”, sua então mulher e musa, de 13 de seus filmes, Mia Farrow, flagrou a traição do marido, ao encontrar fotos de sua filha adotiva Soon-Yi, então com 19 anos de idade, nua. Além dos elogios tecidos pelo próprio Allen para sua ex-companheira, o documentário enobrece Farrow ao afirmar que mesmo depois da grande desilusão, e ruína de sua vida pessoal, a atriz retornou ao set de filmagem para contracenar com uma pessoa que agora desprezava, e terminar o filme. Farrow talvez tenha reinventado a palavra profissionalismo. “Woody Allen: Um Documentário” é um deleite para qualquer cinéfilo, uma grande homenagem, divertida e informativa, para um dos grandes nomes do cinema atual e de todos os tempos.

 

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