Existem aqueles filmes imortais e inesquecíveis, constantemente comentados pelos cinéfilos ou em rodas de amigos. Tais filmes sempre permanecem vivos em nossa memória com carinho, seja qual for a geração – para os mais velhos, clássicos do cinema como O Poderoso Chefão, e para os mais novos, os mais recentes filme de super-herói da Marvel. Seja como for, de certos filmes não esquecemos jamais.
Mas como você deve ter percebido pelo título desta matéria, o foco aqui é outro. Justamente o oposto do citado no primeiro parágrafo. Aqui, iremos falar sobre aqueles filmes que foram lançados e um tempo depois já caíram no esquecimento. Para enfatizar ainda mais este estranho fenômeno, iremos nos concentrar em filmes dos últimos 10 anos – mas que ninguém menciona mais. E isso não ocorre necessariamente apenas com os filmes ruins (que desejamos esquecer), mas muitos filmes considerados bons ou satisfatórios também.
Sem mais delongas, vamos conhecer os 10 filmes recentes que você esqueceu que tinham sido lançados.
Power Rangers (2017)
Sensação na TV no início dos anos 1990, os super-heróis coloridos foram os primeiros neste estilo a emplacar forte nos EUA – já que parte de sua produção era gravada por lá. Os Power Rangers tiveram inclusive dois filmes lançados nos cinemas na época, em 1995 e 1997. Esse reboot da franquia era planejado para ser uma das grandes apostas de um blockbuster de 2017.
E o filme até obteve críticas medianas com a imprensa e os fãs, mas falhou em equilibrar nas bilheterias o orçamento estourado de US$100 milhões, arrecadando somente US$85 milhões nos EUA, e US$140 milhões ao redor do mundo. O longa nem de longe é ruim, e consegue capturar bem o espírito do seriado, modernizando-o aos dias de hoje.
Mas mesmo com as presenças de Dacre Montgomery (o Billy de Stranger Things) como o Ranger Vermelho, Naomi Scott (de Aladdin e As Panteras) como a Ranger Rosa, Bill Hader como a voz de Alpha 5, o veterano Bryan Cranston como Zordon, e Elizabeth Banks como a vilã Rita Repulsa, todos convincentes em seus papeis, este filme parece ter simplesmente caído no limbo junto a possibilidade de uma continuação.
O Lobisomem (2010)
Neste fim de semana, estreou nos cinemas do mundo a nova aposta da Universal em reviver um clássico de seu acervo de monstros: O Homem Invisível. O mesmo estúdio havia tentado este empreitada há exatos dez anos, de uma forma, digamos, bem mais fiel. O Lobisomem, de Joe Johnston, é uma refilmagem muito respeitosa do original de 1941, transformando a história num verdadeiro épico, e ainda inserindo algumas boas reviravoltas. E isso deveria fazer qualquer fã do original ficar feliz.
No entanto, o somatório de críticas negativas tanto da imprensa quanto do público, e um orçamento digno dos maiores filmes de heróis (com US$150 milhões, um absurdo há dez anos) amaldiçoaram o longa como um dos maiores fracassos da década. O filme não conseguiu sequer bater seu valor de produção nas bilheterias mundiais, fato que não impede uma obra cult de ser redescoberta. O fenômeno curioso é que simplesmente ninguém mais fala sobre essa superprodução.
Diário de um Jornalista Bêbado (2011)
Antes de entrar em decadência devido a um exaustivo processo de divórcio, o astro Johnny Depp lançava no mesmo ano do quarto Piratas do Caribe esta segunda incursão na pele do colega jornalista Hunter S. Thompson, sob o pseudônimo de Paul Kemp. Depp já havia interpretado Thompson no cult de Terry Gillian, Medo e Delírio (1998). Uma das críticas que o filme recebeu na época foi que Depp já estava muito velho, aos 48 anos, para o papel, já que Thompson faz seu relato quando era um jovem em início de carreira nesta época.
Outro fato reportado sobre a produção é que Depp deixou de lado a vida saudável e voltou a beber durante as filmagens, para realmente experimentar o que o protagonista passava em seus porres homéricos. Teria sido este o início da derrocada do ator? Piorando as coisas, adivinhe quem faz parte do elenco do longa e contracena como par de Depp aqui? Isso mesmo, sua ex, a menina problema Amber Heard. De toda forma, nem que fosse a título de curiosidade ou valor cult, este filme simplesmente não é comentado pelo público.
Operação Big Hero (2014)
Desde que a Disney comprou a Marvel, o estúdio botou os produtos da casa para render verdadeiras fortunas. Assim, tivemos o universo estendido do MCU, por exemplo. Mas já pensou numa aventura que juntasse a essência das animações da Disney com os personagens heróis da Marvel? O céu seria o limite. Bem, este limite ficou bem mais abaixo do céu, porque tal obra existe e foi lançada em 2014. Operação Big Hero tentou recriar sem sucesso o que foi conquistado em Guardiões da Galáxia, lançado no mesmo ano, ou seja: transformar heróis B da casa em verdadeiras celebridades.
Operação Big Hero apresentou inclusive um mascote perfeito para virar ícone da cultura pop atual, nos moldes de Groot (ou o bebê Groot) e o Bebê Yoda. O robô inflável mega fofo Baymax (uma das melhores coisas do filme). Mostrando que nem todos os longas desta parceria permaneceriam na boca do povo, Operação Big Hero foi solenemente ignorado. Nem mesmo uma série em animação tradicional lançada alguns anos depois serviu para a ideia emplacar na mente do público.
Victor Frankenstein (2015)
Criar um filme sobre um monstro icônico e resultar numa produção que ninguém lembra não é um privilégio só da Universal Pictures. Cinco anos depois do citado O Lobisomem, era a Fox (antes da compra da Disney) quem se aventurava pela história clássica escrita por Mary Shelley, sobre o cientista Victor Frankenstein e sua criatura. Na realidade, este longa aposta numa narrativa sob o ponto de vista do fiel escudeiro do cientista, o serviçal Igor, aqui perdendo a corcunda e ganhando as formas do eterno Harry Potter, Daniel Radcliffe.
Fazendo dupla com o jovem astro, outro nome proeminente desta geração, o professor Xavier em pessoa, James McAvoy, no papel título do cientista louco. Sim, com um dueto destes, como é possível não lembrarmos deste filme? E vale termos em conta que na época do lançamento, Radcliffe já havia encerrado todos os Harry Potter, e McAvoy já havia encarnado por duas vezes o mutante da Marvel – ou seja, era um projeto chamativo. Completando o elenco, Jessica Brown Findlay tentando mais uma vez emplacar e até vestindo o “chapeuzinho vermelho”.
Bruxa de Blair (2016)
A Bruxa de Blair (1999) se tornou um novo clássico, um filme revolucionário para o terror e para o cinema de forma geral. Um sucesso surpresa que constantemente faz as pessoas comentarem sobre e lembrarem dele como um divisor de águas. Sua continuação A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras (2000), igualmente comentada, seguiu pelo lado oposto e é lembrado como uma atrocidade cinematográfica, um dos piores filmes da década de 2000 e uma das piores continuações de todos os tempos. É o caso de falem mal, mas falem de mim.
No meio termo, se encontra este reboot/remake. O que, você pergunta? Pois é querido leitor, embora muitos não lembrem, ou tenham optado por esquecer, em 2016 foi lançado mais um filme da franquia A Bruxa de Blair, este aqui repetindo o título e só eliminando o artigo A. Grande mudança, né? Coisa de gênio mesmo. O promissor Adam Wingard é quem dirige nesta mescla entre o estilo found footage, e uma narrativa mais tradicional, ficando no meio termo. Nem mesmo a presença da carismática Callie Hernandez é o suficiente para fazer as pessoas lembrarem da existência deste filme.
Meu Amigo, o Dragão (2016)
Por falar em Disney, uma das apostas mais garantidas da casa são seus remakes em live-action – verdadeiras garantias de sucesso. É só dar uma olhada em produções do ano passado como Aladdin (um sucesso surpresa) e O Rei Leão, que não agradou tanto os críticos e o público, mas se tornou o segundo filme mais rentável de 2019. Ambos romperam a barreira do bilhão no mundo.
Porém, existe uma obra em live-action da Disney que raramente é comentada pelo público em geral, apesar de uma bilheteria sadia e avaliações extremamente positivas por parte do público e imprensa. Meu Amigo, o Dragão é baseado na produção homônima de 1977, que apesar de igualmente ter atores reais, acrescentava personagens em animação (em especial o dragão do título) típicos de certas obras do estúdio na época – técnica que viria a ser aprimorada com Uma Cilada para Roger Rabbit (1988).
O problema aqui, apesar de muitos talentos envolvidos, como Robert Redford e Bryce Dallas Howard protagonizando, e David Lowery na direção, foi o ofuscamento do longa por outro produto da casa lançado no mesmo ano: o fenomenal Mogli, o Menino Lobo – de Jon Favreau (que garantiu o cargo do diretor também em O Rei Leão). O resultado fez todos falarem sobre Mogli e ninguém falar sobre Meu Amigo, o Dragão. Mas se serve de consolo, o filme de Favreau seguiu ofuscando outras produções, como o Mogli da Netflix, dirigido por Andy Serkis e lançado dois anos depois. Alguém viu?
A Entrevista (2014)
Controverso até a medula, A Entrevista foi um dos filmes mais comentados em sua época de lançamento. Tudo porque a comédia protagonizada por Seth Rogen e James Franco tirava um baita sarro do líder ditatorial da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, numa época em que as relações entre o país e os EUA eram frágeis. Assim, uma ameaça de ataque logo surgiu caso o longa fosse lançado nos cinemas americanos, o que fez com que vários donos de redes famosas por lá decidissem não exibir o filme em sua programação. A Sony, produtora da obra, sofreu ataques cibernéticos e pensando no bem estar de todos optou por engavetar o filme pronto.
Golpe de marketing ou não, apoiada pelo presidente Obama, a Sony voltou atrás e lançou o filme nas telonas. Uma polêmica de bastidores que promete deixar o filme imortalizado por bem ou por mal. Bom, isto é, caso alguém lembrasse que a produção existiu. Seis anos depois de seu lançamento, e A Entrevista caiu no abismo dos filmes jamais comentados e muitos inclusive nem lembram mais desta quase quebra de diplomacia entre nações.
Colossal (2016)
Este filme tinha tudo para se tornar uma obra cult adorada. De fato, esta mistura de gêneros estrelada pela vencedora do Oscar Anne Hathaway gerou certa repercussão e muitos elogios (em especial da crítica especializada) em sua época de lançamento – bem no estilo de produções queridinhas de festivais. Uma forte analogia à vida autodestrutiva da protagonista, uma mulher que vê as coisas saírem dos trilhos de forma desastrosa devido a seu problema com o álcool, algo bastante relacionável.
A forma como o filme decide contar esta história, traçando um paralelo com o subgênero das obras de monstros gigantes, os chamados kaiju, é muito esperta, criando assim conexão também com a plateia nerd, fã deste tipo de produção. Assim, aparentemente tínhamos o melhor de dois mundos. Ou será? Aos poucos, ao longo dos quatro anos desde sua primeira exibição no Festival de Toronto, Colossal se tornou um filme esquecido, daqueles que lembramos apenas quando nos deparamos com seu DVD em alguma loja nas prateleiras – como foi o caso deste amigo que vos fala -, fazendo vir à mente sua existência.
A Última Ressaca do Ano (2016)
A musa Jennifer Aniston já foi uma das queridinhas da América e uma verdadeira rainha das comédias românticas nos EUA. Isso é, depois, é claro, de viver anos a personagem Rachel no famoso seriado cômico Friends. De uns anos pra cá, a atriz resolveu apostar em comédias mais incorretas e escrachadas, vide Família do Bagulho (2013) e Quero matar o meu Chefe (2011) e sua sequência (2014). O mesmo pode ser dito deste A Última Ressaca do Ano. Porém, ao contrário dos citados, este é um filme que ninguém lembra de ter visto. Um teste: você lembra qual é o papel de Aniston aqui?
Quem protagoniza é Jason Bateman, em sua quarta colaboração nas telonas com Aniston (que tem um papel menor), na pele de um dos funcionários de uma empresa que está para ser comprada. Eles decidem dar uma festa de despedida épica. O tema é batido e pode ter ajudado no esquecimento coletivo.
Bônus:
O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos (2018)
O caso se torna sério quando temos um filme com basicamente um ano de seu lançamento, mas que praticamente todos já esqueceram – e isto inclui seu público-alvo, as crianças. Geralmente, este é o caso com produções problemáticas – o que é exatamente o caso aqui com esta superprodução da Disney de “humildes” US$120 milhões de orçamento. Dois diretores foram chamados para dar cabo deste trem: Lasse Hallstrom e Joe Johnston (ele de novo), mas mesmo assim, seus esforços não foram suficientes para emplacar esta obra criada nos moldes de fantasias como Alice no País das Maravilhas (2010) na mente do grande público.
Pior para a gracinha Mackenzie Foy (mais conhecida como a filha do casal protagonista de Crepúsculo), que teria com O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos sua chance de se tornar uma jovem estrela de Hollywood. Acontece. O filme passou em branco e seus esforços não foram notados. Torcemos para que a menina ganhe novas oportunidades de demonstrar seu talento. Ah sim, esse blockbuster também contava com as presenças de Keira Knightley, Helen Mirren e Morgan Freeman. Aposto que você não lembrava.