sábado , 2 novembro , 2024

10 Filmes sobre Relacionamento entre Irmãos

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Nem todo mundo nessa vida pode dizer que tem um irmão ou uma irmã. Dentro desse universo, dos que estão contidos nele, uma série de situações e memórias buscamos rapidamente quando lembramos deles. Nem sempre os relacionamentos são fáceis, às vezes complicados, com hiatos, brigas, desentendimentos, mas sempre com uma pontinha de esperança de que no final tudo fique bem novamente. O universo cinematográfico todos os anos aborda recortes às vezes superficiais, às vezes profundos que tem essa temática ‘relacionamento entre irmãos’ envolvida no roteiro. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista sobre o tema e reunimos aqui 10 filmes que nos mostram um pouquinho de recortes dessas relações tão diferentes de família para família. Veja Abaixo.

 

Guerreiro (2011)

O universo do MMA mais uma vez vira pauta de um longa. Para nos guiar por essa história foram escalados dois atores que tiveram, com certeza, que passar por uma série de treinamento específicos para compor seus personagens. Tom Hardy e Joel Edgerton interpretam os irmãos que lutam (literalmente falando) por objetivos diferentes. Os bastidores do evento, os estilos de luta… parece que estamos ligados naquele famoso canal de TV a Cabo, ao vivo, vendo uma transmissão desse esporte que virou febre no mundo todo. Guerreiro é eletrizante do primeiro ao último minuto.

Na trama, conhecemos a história de uma família que tem na sua essência a alma da luta. Aos poucos vamos vendo o presente de cada um dos membros: um dos filhos é professor de física (do ensino médio americano) com sérias dificuldades financeiras, o outro filho é um ex-fuzileiro naval que sofrera um trauma com sua unidade durante uma de suas missões no Iraque. Ambos, ao decorrer da fita, vão sendo jogados de volta ao octógono (cenário onde ocorrem as lutas dessa modalidade esportiva). Um deles guiado pelos conselhos profissionais do pai, que antes fora um grande treinador de luta olímpica, o outro busca forças na sua esposa que o apoia mesmo não gostando que ele lute.

O grande destaque do longa, dirigido por Gavin O’Connor, é o veteraníssimo ator americano Nick Nolte. Com seu personagem, Paddy Conlon, um ex-dependente alcoólico que tem muitos problemas na relação com sua família no passado, consegue explorar todos os aspectos que rondam esse intenso papel. Sempre bom ver experientes artistas representando bem seus personagens.

 

Laços de Sangue (2013)

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. Depois de dar uma pausa nas atuações e se dedicar às direções, o francês Guillaume Canet no ano de 2013 assinou a direção desse filme de ação que possui uma excelente construção, fruto do bom trabalho do roteiro de James Gray, onde os ótimos Clive Owen e Billy Crudup se revezam como protagonistas da história. Laços de Sangue possui subtramas envolventes mas que só funcionam de fato por conta das ótimas atuações do elenco. Cada qual com sua personagem, ajudam a contar essa explosiva e envolvente história.

Na trama, acompanhamos a história de dois irmãos que estão em lados opostos da lei. Após a saída da prisão, Chris (Clive Owen) insiste em ser feliz longe do crime, procurando ser um cara mais correto. Já Frank (Billy Crudup) é um policial esquentado que abandonou um grande amor no passado e não tem um bom relacionamento com seu irmão mais velho. A vida de ambos muda radicalmente quando, no mesmo período, um dos irmãos volta a ser um bandido perigoso e o outro é caçado por um outro ex-prisioneiro.

O roteiro não é nada muito diferente do que já vimos em outros filmes do gênero. Um fato que se diferencia das outras fitas é a direção detalhista de Canet. O cineasta, marido da atriz Marion Cotillard (que também está no filme), é inteligente, principalmente sob o ponto de vista das relações familiares que contornam as histórias. Assim, consegue captar toda a essência e sentimentos fervorosos da trama sob as ações dos personagens.

O filme entra em um ritmo acelerado do meio para frente. Essa é uma daquelas fitas que o cinéfilo precisa ter certa paciência pois a apresentação lenta dos personagens se torna extremamente necessária para entendermos certas ações dos mesmos ao longo do longa-metragem. Os personagens principais chegam ao mesmo tempo no clímax das consequências das ações cometidas. Nesse momento, fica mais evidente que a história na verdade é sobre o relacionamento de toda uma família marcada por traumas violentos e terríveis.

Lembram dos tiroteios e cenas tensas de violência à sangue frio do filme francês Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte (protagonizado pelo sempre excelente Vincent Cassell)? A construção da maioria das cenas de ação de Laços de Sangue são nesses moldes. É uma junção de Os Donos da Noite (2007) com pitadas pequenas de Fogo contra Fogo (1995). Claro, guardadas suas devidas proporções. Pra quem curte filmes de ação, é um prato cheio!

 

Xingu (2011)

Livremente baseado em histórias reais e com uma beleza impressionante nas imagens (muito bem aproveitadas pela ótima condução do diretor), Xingu, trabalho do diretor Cao Hamburger, transforma a saga dos irmãos Villas-Bôas em uma grande aventura.

O filme conta a trajetória corajosa de Claudio, Orlando e Leonardo. O irmãos, que estudaram em bons colégios, tinham bons empregos e resolveram largar tudo pela vida na mata. Desde os primeiros passos e os começos de contato com as tribos indígenas, “Xingu”, detalha esse encontro que mudou a vida deles para sempre. Descansando em redes improvisadas, fazendo fogueira, caçando animais, eles lutaram pela primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Fato que ocorreu, em 1961, e que completa 50 anos em 2011. Até hoje, irmãos Villas-Bôas são considerados os grandes defensores dos índios no Brasil.

Para dar vida aos protagonistas, foram escolhidos três bons nomes do nosso cinema. Claudio Villas Bôas é interpretado por João Miguel, personagem intenso que muitas vezes age mais pelo coração do que pela razão, mais uma ótima atuação desse grande ator. Orlando Villas Bôas é o mais político dos três irmãos, volta e meia frequentando as salas arrumadas do governo (tentando sempre algum tipo de benefício para os índios) tem papel importante para o desfecho positivo da história. Felipe Camargo faz muito bem esse papel.  Leonardo Villas Bôas é o personagem de Caio Blat, o mais jovem do trio, um dos mais inconsequentes também, deixou a história cedo, sendo expulso pelos irmãos por engravidar uma índia durante a trajetória. Blat, sempre que em cena com seu personagem, ajuda muito bem a guiar a história.

A relação com os índios, desde o primeiro momento é uma mescla de surpresa e descoberta, na maioria das vezes bastante amistosa. Entre um cigarro e outro, os carismáticos irmãos entram mata adentro tentando se aproximar de muitas tribos indígenas nunca antes contatadas. Enfrentam muitas dificuldades e orquestram uma batalha nas terras e fora delas para consolidar a reserva indígena prometida. Os índios nunca tiveram fronteiras, mas naquele momento era o melhor que podiam ter. Com o governo de olho na Amazônia, os irmãos Villas-Bôas tinham que correr contra o tempo para concluir o plano de proteger as tribos indígenas.

Com boas atuações, uma direção muito segura e imagens maravilhosas, Xingu, é uma ótima pedida! Vá acompanhar essa aventura dos irmãos que foram indicados ao prêmio Nobel e fizeram um trabalho excepcional que muitas vezes fora esquecido pela memória brasileira.

 

Irlandeses Brancos Bêbados (2010)

Um filme muito interessante que surpreende pela carga emocional envolvida nessa história de dois irmãos que moram no mesmo lugar mas vivem uma realidade completamente diferente uma da outra. Escrito e dirigido por John Gray (que já dirigiu alguns episódios do seriado Ghost Whisperer), é uma grata surpresa.

Na trama, que acontece no Brooklyn em meados da década de 70, dois irmãos buscam uma maneira de sair do bairro em que vivem e ser alguém na vida. Danny (Geoffrey Wigdor) é um impulsivo marginal que vive de pequenos delitos, já Brian (Nick Thurston) é um sonhador que tem na arte do desenho sua válvula de escape para a violência que enfrenta em casa nas mãos do pai. Quando ficam sabendo de uma apresentação dos Rolling Stones num teatro local resolvem fazer um pacto para roubar o local na noite de um concerto.

O longa analisa a situação de uma complexa família no Brooklyn algumas décadas atrás. O sofrimento dos filhos, a incapacidade de ação da mãe (muito bem interpretada pela atriz Karen Allen), o genioso e nada amoroso pai, as dificuldades de morar em um lugar sem grandes oportunidades, a luta pelo primeiro amor, a busca de chances em outro lugar. Cada personagem contribui bastante para que o filme ganhe contornos dramáticos já em seu final.

As menções à uma época passada (quando os irmãos eram menores) ajuda a entender todo aquele sentimento que às vezes parece se perder nas atitudes de uma dessas partes. É uma daquelas fitas ideais para quem gosta do gênero drama. Não há muitas surpresas ao longo da trajetória dos protagonistas, fica um pouco eminente o desfecho por conta do caminho seguido pelos personagens ao longo da história. Gosta de emoção e personagens envolventes? Dê uma chance a esse filme!

 

A Moça e os Médicos (2013)

As lições do coração. Escrito e dirigido por Axelle Roperto francês A Moça e os Médicostem uma pegada meio ‘Sessão da Tarde’ mas ao longo dos 102 minutos de projeção vamos vendo desabrochar de maneira delicada e objetiva a mesmice na vida de dois irmãos que trabalham em um consultório em Paris nos dias atuais. A personagem da talentosa artista francesa Louise Bourgoin é a terceira ponta no triângulo amoroso instaurado. O projeto, entre outras coisas, fala sobre as linhas de interpretação do que é o amor em nossas vidas.

Na trama, conhecemos os irmãos, quase inseparáveis, Boris (Cédric Kahn) e Dimitri (Laurent Stocker) que vivem uma rotina de mesmice, dividindo um mesmo consultório em uma clínica geral onde também atendem a domicílio. Certo dia, após uma ligação, conhecem a mãe solteira Judith (Louise Bourgoin) por quem rapidamente se apaixonam, provocando uma grande quebra na rotina e relação dos dois irmãos.

É difícil tratar o sentimento de amor como uma coisa nova na vida de quarentões mas é exatamente em cima dessa ideia que a trama desse belo trabalho francês se solidifica. Os irmãos doutores possuem diferentes maneiras de pensar. Dimitri, até certo ponto bastante carente, luta constantemente contra o alcoolismo; já Boris é o que podemos dizer um solitário, rígido e um pouco carrancudo. A vida dos dois muda radicalmente com a descoberta do amor, pela mesma mulher. A partir disso, cada um busca sua felicidade à sua maneira, definindo novos rumos não só na maneira de pensar a vida mas no ganho de uma liberdade que eles nunca tinham observado.

Judith, mãe de uma pré-adolescente, solteira que trabalha como bar woman pelas noites de Paris abre sua personalidade aos poucos. Conforme vamos conhecendo melhor essa intrigante personagem, percebemos os conflitos que se desenvolvem no futuro, principalmente as questões mal resolvidas com o ex-marido, pai de sua filha.

Tirez la langue, mademoiselle (no original) é uma fita delicada, com o ritmo certo para a apresentação dos personagens. Também muito realista, mostrando os conflitos emocionais que podem ser provocados quando o coração bate mais forte por alguém.

 

A Glória e a Graça (2017)

Melhor do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma família feliz. Dirigido pelo experiente Flávio Ramos Tambellini, que volta à direção de um longa após seis anos (seu último trabalho havia sido o delicado Malu de Bicicleta, de 2010), A Glória e a Graça, entre muitas coisas, é um resgate na relação de dois irmãos que por circunstâncias do destino acabaram se separando durante boa parte de suas vidas. O entrosamento em cena de Carolina Ferraz e Sandra Corveloni, protagonistas do filme, é fundamental para que os diálogos ganhem contornos emocionantes e de aproximação com o público. Grande atuação das duas atrizes.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Graça (Sandra Corveloni), uma mãe solteira que tem dois filhos e acaba descobrindo em uma eventual visita ao médico que possui um aneurisma inoperável na cabeça. Sem ter muito para onde fugir, nem com quem contar, Graça resolve entrar em contato com seu irmão que não vê há muitos anos. Chegando no encontro, Graça descobre que seu irmão agora virou travesti, e agora chama-se Glória (Carolina Ferraz), dona de restaurante, poliglota, bem resolvida e bem sucedida. Após o surpreendente encontro com o irmão, Graça embarcará em uma viagem de reaproximação com seu único parente vivo.

O filme tinha tudo para cair num senso melodramático mas se veste com uma maturidade impressionante para falar com seriedade de subtramas complicadas que vão do campo jurídico até o campo emocional. A relação da tia com os filhos de Graça é adorável, aprendizagem e muita experiência em uma troca para lá de emocionante, em quebra de tabus que ficam como lições para toda a vida. As surpresas que vemos pelo caminho, principalmente a causa da separação das duas irmãs, preenchem lacunas importantes para entendermos ao longo dos quase 90 minutos de projeção a formação da personalidade dos personagens. Os embates, em diálogos recheados de emoção, entre as duas protagonistas é intenso e conseguem ir além de muito mais que uma superfície, há uma profundidade aliada com humanidade.

A Glória e a Graça é um drama comovente com atuações que são a cereja do bolo. Prestigie o cinema brasileiro.

 

Neve Negra (2017)

O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez anos de seu último longa-metragem (O Sinal, 2007), o cineasta argentino Martin Hodara volta à tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa. O roteiro é sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira, tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo DarínNeve Negra é, sem dúvidas, um dos bons suspenses argentinos dos últimos anos.

Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia) que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia do passado de sua família, principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darín) a vender a casa onde vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e tristeza.

Os segredos pertencentes à família começam a cair por terra quando um iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura possível e rentável venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante, arrebatador.

Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darín para sua personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação que chegue em algum instante.

Neve Negra foi um estrondoso sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chega em forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e atuações acima da média, um filme com Ricardo Darín no elenco sempre precisa ser visto.

 

Os Infratores (2012)

Na época de Al Capone e de muitos outros nomes famosos do crime conhecemos uma história de irmandade e muito sangue de uma família, estamos falando do excelente Os Infratores. Dirigido pelo australiano John Hillcoat (que comandou o ótimo A Estrada), somos guiados até o início da década de 30, entre uma dose e outra, há muita ação e aventura, baseada na obra de Matt Bondurant.

Na trama, conhecemos a história dos irmãos Bondurant (Jack, Forrest e Howard), que vivem do contrabando de bebidas, nos primórdios da década de 30. Os negócios iam bem até que um novo chefe local coloca um assistente nos pés dessa corajosa família. Na terra dos valentões e a bordo de um carro que bebe muito álcool essa família irá enfrentar um grande desafio para manter os negócios. Em meio a tiros e muito sangue jorrando na tela temos algumas histórias de amor, uma bastante carnal, outra romântica (com ar jovial). A animada trilha sonora preenche com louvor todas as lacunas que precisam ser completadas. A contextualização é fácil e direta, levando o público facilmente para dentro daquele universo, méritos do roteiro (adaptado) de Nick Cave.

Cada um dos ótimos atores efetivamente dá sua contribuição à fita. Guy Pearce consegue ser um ótimo vilão com seu personagem sem sobrancelha, o trejeito estranho e a ironia são muito bem evidenciados pelo ator inglês. Gary Oldman e suas aparições relâmpagos ajudam a dar certa continuidade à trama. Tom Hardy está espetacular na pele do homem que acreditava na própria lenda, acertou em cheio na composição de seu personagem. No papel do irmão mais novo (aquele que faz muitas besteiras durante toda a fita) poderiam ter sido escolhidos muitos atores, o selecionado foi o Shia LeBeouf, que faz o famoso feijão com arroz e não compromete no papel.

Dá pra rir, se emocionar e torcer muito para os personagens que exalam simpatia. Com todos esses ingredientes é uma grande infração cinéfila você não conferir esse filme.

 

Shame (2011)

O que fazer para se curar de um vício que está deteriorando gradativamente a sua vida? O trabalho do diretor inglês Steve McQueen (12 Anos de Escravidão) nos conta o drama de um homem e sua compulsão. A ótima trilha sonora assinada por Harry Escott (que fez também a trilha de Meninama.com) ajuda a narrar esse que é um dos grandes filmes do ano de 2011.

Na trama, um compulsivo sexual ao extremo (com uma promissora carreira profissional) vive dias de desespero após a chegada de sua irmã ao apartamento onde mora. Seus dias eram preenchidos com visitas a sites pornográficos, coleção de revistas com tema adulto, masturbações nas pausas do trabalho (no banheiro da empresa) e vários encontros com desconhecidas, sempre terminando em sexo ou ações desse tipo. Quando sua irmã entra na história, sua rotina é abruptamente afetada e isso gera um descontrole intenso.

Na apresentação do personagem principal já temos uma ideia do vício que ele possui, com cenas muito verdadeiras (nua e crua em alguns momentos), vamos conhecendo melhor o protagonista.

Impressiona a atuação de Michael Fassbender,passa muita tristeza nos olhos por conta desse vício que sofre. Seu personagem Brandon Sullivan é um ninfomaníaco bastante consumido por seus impulsos. O ator alemão comove e se entrega em cenas bem complexas. Infelizmente foi esquecido pela Academia (Oscar). Carey Mulligan está fabulosa no papel de Sissy Sullivan, tem um carisma único e contagia o espectador. Quando aparece cantando um clássico de Sinatra e com uma roupa bem ao estilo Marylin Monroe, vira um dos melhores momentos, simplesmente espetacular.

Os irmãos possuem ao longo da trama diálogos intensos (às vezes violentos). Um tenta ajudar o outro mas as barreiras colocadas por cada um deles são muito difíceis de serem superadas. Há muito carinho nessa relação, muitas cenas mostram isso, porém, por conta da tentativa de ajuda de ambos os lados não serem feitas com êxito a eminência de uma tragédia para uma das partes se torna concreta. O final é bem aberto, deixando o público tirar suas próprias conclusões.

 

Os Meninos Que Enganavam Nazistas (2017)

Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Dirigido pelo experiente cineasta canadense Christian DuguayOs Meninos Que Enganavam Nazistas é mais um recorte da grande guerra. Mostra um lado do conflito que dizimou populações de vários países. Aos olhos de dois carismáticos irmãos somos testemunhas dos absurdos que os nazistas faziam, uma perseguição em massa contra os judeus em uma França dividida na década de 40. O roteiro é baseado em fatos reais e na obra Un Sac de Billes – também o nome original desse longa – escrito por Joseph Joffo, um dos protagonistas da história.

Na trama, conhecemos a família Joffo, judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões desse país, tornando a vida de esforçados trabalhadores um inferno doloroso. Assim, Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial) precisam fugir, seguindo um plano mirabolante feito por seu pai, o barbeiro Roman (Patrick Bruel) para uma região neutra e assim a família poder ser reunida novamente. Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

Um dos focos da trama é o valor da amizade entre os irmãos. Ambos enfrentam situações extremas na luta pela sobrevivência, em uma França repleta de soldados nazistas. Mostra-se também todo o sofrimento da família e as escolhas difíceis que precisam tomar para proteger a todos. A figura do pai é emblemática aos olhos dos irmãos, barbeiro e trabalhador, vê seu mundo desabar com as ameaças que recebe mas jamais perde a ternura e o carinho pelos seus filhos. Uma bela atuação do ótimo ator argelino Patrick Bruel.

O longa mostra o amadurecimento precoce dos jovens e uma vivência que levaram para o resto da vida. Como filme, Os Meninos Que Enganavam Nazistas,não acrescenta muito sobre fatos e relatos já vistos, lidos sobre os conflitos históricos da década de 40 na Europa. Há uma delicadeza na direção em algumas sequências, tentando mostrar todo um sofrimento de maneira até certo ponto superficial.

 

Bônus: Irmã (2018, curta-metragem)

As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigida pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

Em 8 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário à realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de tal política do governo chinês.

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei – pano de fundo dessa história – consistia na proibição a qualquer casal ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

 

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Nem todo mundo nessa vida pode dizer que tem um irmão ou uma irmã. Dentro desse universo, dos que estão contidos nele, uma série de situações e memórias buscamos rapidamente quando lembramos deles. Nem sempre os relacionamentos são fáceis, às vezes complicados, com hiatos, brigas, desentendimentos, mas sempre com uma pontinha de esperança de que no final tudo fique bem novamente. O universo cinematográfico todos os anos aborda recortes às vezes superficiais, às vezes profundos que tem essa temática ‘relacionamento entre irmãos’ envolvida no roteiro. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista sobre o tema e reunimos aqui 10 filmes que nos mostram um pouquinho de recortes dessas relações tão diferentes de família para família. Veja Abaixo.

 

Guerreiro (2011)

O universo do MMA mais uma vez vira pauta de um longa. Para nos guiar por essa história foram escalados dois atores que tiveram, com certeza, que passar por uma série de treinamento específicos para compor seus personagens. Tom Hardy e Joel Edgerton interpretam os irmãos que lutam (literalmente falando) por objetivos diferentes. Os bastidores do evento, os estilos de luta… parece que estamos ligados naquele famoso canal de TV a Cabo, ao vivo, vendo uma transmissão desse esporte que virou febre no mundo todo. Guerreiro é eletrizante do primeiro ao último minuto.

Na trama, conhecemos a história de uma família que tem na sua essência a alma da luta. Aos poucos vamos vendo o presente de cada um dos membros: um dos filhos é professor de física (do ensino médio americano) com sérias dificuldades financeiras, o outro filho é um ex-fuzileiro naval que sofrera um trauma com sua unidade durante uma de suas missões no Iraque. Ambos, ao decorrer da fita, vão sendo jogados de volta ao octógono (cenário onde ocorrem as lutas dessa modalidade esportiva). Um deles guiado pelos conselhos profissionais do pai, que antes fora um grande treinador de luta olímpica, o outro busca forças na sua esposa que o apoia mesmo não gostando que ele lute.

O grande destaque do longa, dirigido por Gavin O’Connor, é o veteraníssimo ator americano Nick Nolte. Com seu personagem, Paddy Conlon, um ex-dependente alcoólico que tem muitos problemas na relação com sua família no passado, consegue explorar todos os aspectos que rondam esse intenso papel. Sempre bom ver experientes artistas representando bem seus personagens.

 

Laços de Sangue (2013)

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. Depois de dar uma pausa nas atuações e se dedicar às direções, o francês Guillaume Canet no ano de 2013 assinou a direção desse filme de ação que possui uma excelente construção, fruto do bom trabalho do roteiro de James Gray, onde os ótimos Clive Owen e Billy Crudup se revezam como protagonistas da história. Laços de Sangue possui subtramas envolventes mas que só funcionam de fato por conta das ótimas atuações do elenco. Cada qual com sua personagem, ajudam a contar essa explosiva e envolvente história.

Na trama, acompanhamos a história de dois irmãos que estão em lados opostos da lei. Após a saída da prisão, Chris (Clive Owen) insiste em ser feliz longe do crime, procurando ser um cara mais correto. Já Frank (Billy Crudup) é um policial esquentado que abandonou um grande amor no passado e não tem um bom relacionamento com seu irmão mais velho. A vida de ambos muda radicalmente quando, no mesmo período, um dos irmãos volta a ser um bandido perigoso e o outro é caçado por um outro ex-prisioneiro.

O roteiro não é nada muito diferente do que já vimos em outros filmes do gênero. Um fato que se diferencia das outras fitas é a direção detalhista de Canet. O cineasta, marido da atriz Marion Cotillard (que também está no filme), é inteligente, principalmente sob o ponto de vista das relações familiares que contornam as histórias. Assim, consegue captar toda a essência e sentimentos fervorosos da trama sob as ações dos personagens.

O filme entra em um ritmo acelerado do meio para frente. Essa é uma daquelas fitas que o cinéfilo precisa ter certa paciência pois a apresentação lenta dos personagens se torna extremamente necessária para entendermos certas ações dos mesmos ao longo do longa-metragem. Os personagens principais chegam ao mesmo tempo no clímax das consequências das ações cometidas. Nesse momento, fica mais evidente que a história na verdade é sobre o relacionamento de toda uma família marcada por traumas violentos e terríveis.

Lembram dos tiroteios e cenas tensas de violência à sangue frio do filme francês Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte (protagonizado pelo sempre excelente Vincent Cassell)? A construção da maioria das cenas de ação de Laços de Sangue são nesses moldes. É uma junção de Os Donos da Noite (2007) com pitadas pequenas de Fogo contra Fogo (1995). Claro, guardadas suas devidas proporções. Pra quem curte filmes de ação, é um prato cheio!

 

Xingu (2011)

Livremente baseado em histórias reais e com uma beleza impressionante nas imagens (muito bem aproveitadas pela ótima condução do diretor), Xingu, trabalho do diretor Cao Hamburger, transforma a saga dos irmãos Villas-Bôas em uma grande aventura.

O filme conta a trajetória corajosa de Claudio, Orlando e Leonardo. O irmãos, que estudaram em bons colégios, tinham bons empregos e resolveram largar tudo pela vida na mata. Desde os primeiros passos e os começos de contato com as tribos indígenas, “Xingu”, detalha esse encontro que mudou a vida deles para sempre. Descansando em redes improvisadas, fazendo fogueira, caçando animais, eles lutaram pela primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Fato que ocorreu, em 1961, e que completa 50 anos em 2011. Até hoje, irmãos Villas-Bôas são considerados os grandes defensores dos índios no Brasil.

Para dar vida aos protagonistas, foram escolhidos três bons nomes do nosso cinema. Claudio Villas Bôas é interpretado por João Miguel, personagem intenso que muitas vezes age mais pelo coração do que pela razão, mais uma ótima atuação desse grande ator. Orlando Villas Bôas é o mais político dos três irmãos, volta e meia frequentando as salas arrumadas do governo (tentando sempre algum tipo de benefício para os índios) tem papel importante para o desfecho positivo da história. Felipe Camargo faz muito bem esse papel.  Leonardo Villas Bôas é o personagem de Caio Blat, o mais jovem do trio, um dos mais inconsequentes também, deixou a história cedo, sendo expulso pelos irmãos por engravidar uma índia durante a trajetória. Blat, sempre que em cena com seu personagem, ajuda muito bem a guiar a história.

A relação com os índios, desde o primeiro momento é uma mescla de surpresa e descoberta, na maioria das vezes bastante amistosa. Entre um cigarro e outro, os carismáticos irmãos entram mata adentro tentando se aproximar de muitas tribos indígenas nunca antes contatadas. Enfrentam muitas dificuldades e orquestram uma batalha nas terras e fora delas para consolidar a reserva indígena prometida. Os índios nunca tiveram fronteiras, mas naquele momento era o melhor que podiam ter. Com o governo de olho na Amazônia, os irmãos Villas-Bôas tinham que correr contra o tempo para concluir o plano de proteger as tribos indígenas.

Com boas atuações, uma direção muito segura e imagens maravilhosas, Xingu, é uma ótima pedida! Vá acompanhar essa aventura dos irmãos que foram indicados ao prêmio Nobel e fizeram um trabalho excepcional que muitas vezes fora esquecido pela memória brasileira.

 

Irlandeses Brancos Bêbados (2010)

Um filme muito interessante que surpreende pela carga emocional envolvida nessa história de dois irmãos que moram no mesmo lugar mas vivem uma realidade completamente diferente uma da outra. Escrito e dirigido por John Gray (que já dirigiu alguns episódios do seriado Ghost Whisperer), é uma grata surpresa.

Na trama, que acontece no Brooklyn em meados da década de 70, dois irmãos buscam uma maneira de sair do bairro em que vivem e ser alguém na vida. Danny (Geoffrey Wigdor) é um impulsivo marginal que vive de pequenos delitos, já Brian (Nick Thurston) é um sonhador que tem na arte do desenho sua válvula de escape para a violência que enfrenta em casa nas mãos do pai. Quando ficam sabendo de uma apresentação dos Rolling Stones num teatro local resolvem fazer um pacto para roubar o local na noite de um concerto.

O longa analisa a situação de uma complexa família no Brooklyn algumas décadas atrás. O sofrimento dos filhos, a incapacidade de ação da mãe (muito bem interpretada pela atriz Karen Allen), o genioso e nada amoroso pai, as dificuldades de morar em um lugar sem grandes oportunidades, a luta pelo primeiro amor, a busca de chances em outro lugar. Cada personagem contribui bastante para que o filme ganhe contornos dramáticos já em seu final.

As menções à uma época passada (quando os irmãos eram menores) ajuda a entender todo aquele sentimento que às vezes parece se perder nas atitudes de uma dessas partes. É uma daquelas fitas ideais para quem gosta do gênero drama. Não há muitas surpresas ao longo da trajetória dos protagonistas, fica um pouco eminente o desfecho por conta do caminho seguido pelos personagens ao longo da história. Gosta de emoção e personagens envolventes? Dê uma chance a esse filme!

 

A Moça e os Médicos (2013)

As lições do coração. Escrito e dirigido por Axelle Roperto francês A Moça e os Médicostem uma pegada meio ‘Sessão da Tarde’ mas ao longo dos 102 minutos de projeção vamos vendo desabrochar de maneira delicada e objetiva a mesmice na vida de dois irmãos que trabalham em um consultório em Paris nos dias atuais. A personagem da talentosa artista francesa Louise Bourgoin é a terceira ponta no triângulo amoroso instaurado. O projeto, entre outras coisas, fala sobre as linhas de interpretação do que é o amor em nossas vidas.

Na trama, conhecemos os irmãos, quase inseparáveis, Boris (Cédric Kahn) e Dimitri (Laurent Stocker) que vivem uma rotina de mesmice, dividindo um mesmo consultório em uma clínica geral onde também atendem a domicílio. Certo dia, após uma ligação, conhecem a mãe solteira Judith (Louise Bourgoin) por quem rapidamente se apaixonam, provocando uma grande quebra na rotina e relação dos dois irmãos.

É difícil tratar o sentimento de amor como uma coisa nova na vida de quarentões mas é exatamente em cima dessa ideia que a trama desse belo trabalho francês se solidifica. Os irmãos doutores possuem diferentes maneiras de pensar. Dimitri, até certo ponto bastante carente, luta constantemente contra o alcoolismo; já Boris é o que podemos dizer um solitário, rígido e um pouco carrancudo. A vida dos dois muda radicalmente com a descoberta do amor, pela mesma mulher. A partir disso, cada um busca sua felicidade à sua maneira, definindo novos rumos não só na maneira de pensar a vida mas no ganho de uma liberdade que eles nunca tinham observado.

Judith, mãe de uma pré-adolescente, solteira que trabalha como bar woman pelas noites de Paris abre sua personalidade aos poucos. Conforme vamos conhecendo melhor essa intrigante personagem, percebemos os conflitos que se desenvolvem no futuro, principalmente as questões mal resolvidas com o ex-marido, pai de sua filha.

Tirez la langue, mademoiselle (no original) é uma fita delicada, com o ritmo certo para a apresentação dos personagens. Também muito realista, mostrando os conflitos emocionais que podem ser provocados quando o coração bate mais forte por alguém.

 

A Glória e a Graça (2017)

Melhor do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma família feliz. Dirigido pelo experiente Flávio Ramos Tambellini, que volta à direção de um longa após seis anos (seu último trabalho havia sido o delicado Malu de Bicicleta, de 2010), A Glória e a Graça, entre muitas coisas, é um resgate na relação de dois irmãos que por circunstâncias do destino acabaram se separando durante boa parte de suas vidas. O entrosamento em cena de Carolina Ferraz e Sandra Corveloni, protagonistas do filme, é fundamental para que os diálogos ganhem contornos emocionantes e de aproximação com o público. Grande atuação das duas atrizes.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Graça (Sandra Corveloni), uma mãe solteira que tem dois filhos e acaba descobrindo em uma eventual visita ao médico que possui um aneurisma inoperável na cabeça. Sem ter muito para onde fugir, nem com quem contar, Graça resolve entrar em contato com seu irmão que não vê há muitos anos. Chegando no encontro, Graça descobre que seu irmão agora virou travesti, e agora chama-se Glória (Carolina Ferraz), dona de restaurante, poliglota, bem resolvida e bem sucedida. Após o surpreendente encontro com o irmão, Graça embarcará em uma viagem de reaproximação com seu único parente vivo.

O filme tinha tudo para cair num senso melodramático mas se veste com uma maturidade impressionante para falar com seriedade de subtramas complicadas que vão do campo jurídico até o campo emocional. A relação da tia com os filhos de Graça é adorável, aprendizagem e muita experiência em uma troca para lá de emocionante, em quebra de tabus que ficam como lições para toda a vida. As surpresas que vemos pelo caminho, principalmente a causa da separação das duas irmãs, preenchem lacunas importantes para entendermos ao longo dos quase 90 minutos de projeção a formação da personalidade dos personagens. Os embates, em diálogos recheados de emoção, entre as duas protagonistas é intenso e conseguem ir além de muito mais que uma superfície, há uma profundidade aliada com humanidade.

A Glória e a Graça é um drama comovente com atuações que são a cereja do bolo. Prestigie o cinema brasileiro.

 

Neve Negra (2017)

O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez anos de seu último longa-metragem (O Sinal, 2007), o cineasta argentino Martin Hodara volta à tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa. O roteiro é sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira, tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo DarínNeve Negra é, sem dúvidas, um dos bons suspenses argentinos dos últimos anos.

Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia) que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia do passado de sua família, principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darín) a vender a casa onde vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e tristeza.

Os segredos pertencentes à família começam a cair por terra quando um iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura possível e rentável venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante, arrebatador.

Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darín para sua personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação que chegue em algum instante.

Neve Negra foi um estrondoso sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chega em forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e atuações acima da média, um filme com Ricardo Darín no elenco sempre precisa ser visto.

 

Os Infratores (2012)

Na época de Al Capone e de muitos outros nomes famosos do crime conhecemos uma história de irmandade e muito sangue de uma família, estamos falando do excelente Os Infratores. Dirigido pelo australiano John Hillcoat (que comandou o ótimo A Estrada), somos guiados até o início da década de 30, entre uma dose e outra, há muita ação e aventura, baseada na obra de Matt Bondurant.

Na trama, conhecemos a história dos irmãos Bondurant (Jack, Forrest e Howard), que vivem do contrabando de bebidas, nos primórdios da década de 30. Os negócios iam bem até que um novo chefe local coloca um assistente nos pés dessa corajosa família. Na terra dos valentões e a bordo de um carro que bebe muito álcool essa família irá enfrentar um grande desafio para manter os negócios. Em meio a tiros e muito sangue jorrando na tela temos algumas histórias de amor, uma bastante carnal, outra romântica (com ar jovial). A animada trilha sonora preenche com louvor todas as lacunas que precisam ser completadas. A contextualização é fácil e direta, levando o público facilmente para dentro daquele universo, méritos do roteiro (adaptado) de Nick Cave.

Cada um dos ótimos atores efetivamente dá sua contribuição à fita. Guy Pearce consegue ser um ótimo vilão com seu personagem sem sobrancelha, o trejeito estranho e a ironia são muito bem evidenciados pelo ator inglês. Gary Oldman e suas aparições relâmpagos ajudam a dar certa continuidade à trama. Tom Hardy está espetacular na pele do homem que acreditava na própria lenda, acertou em cheio na composição de seu personagem. No papel do irmão mais novo (aquele que faz muitas besteiras durante toda a fita) poderiam ter sido escolhidos muitos atores, o selecionado foi o Shia LeBeouf, que faz o famoso feijão com arroz e não compromete no papel.

Dá pra rir, se emocionar e torcer muito para os personagens que exalam simpatia. Com todos esses ingredientes é uma grande infração cinéfila você não conferir esse filme.

 

Shame (2011)

O que fazer para se curar de um vício que está deteriorando gradativamente a sua vida? O trabalho do diretor inglês Steve McQueen (12 Anos de Escravidão) nos conta o drama de um homem e sua compulsão. A ótima trilha sonora assinada por Harry Escott (que fez também a trilha de Meninama.com) ajuda a narrar esse que é um dos grandes filmes do ano de 2011.

Na trama, um compulsivo sexual ao extremo (com uma promissora carreira profissional) vive dias de desespero após a chegada de sua irmã ao apartamento onde mora. Seus dias eram preenchidos com visitas a sites pornográficos, coleção de revistas com tema adulto, masturbações nas pausas do trabalho (no banheiro da empresa) e vários encontros com desconhecidas, sempre terminando em sexo ou ações desse tipo. Quando sua irmã entra na história, sua rotina é abruptamente afetada e isso gera um descontrole intenso.

Na apresentação do personagem principal já temos uma ideia do vício que ele possui, com cenas muito verdadeiras (nua e crua em alguns momentos), vamos conhecendo melhor o protagonista.

Impressiona a atuação de Michael Fassbender,passa muita tristeza nos olhos por conta desse vício que sofre. Seu personagem Brandon Sullivan é um ninfomaníaco bastante consumido por seus impulsos. O ator alemão comove e se entrega em cenas bem complexas. Infelizmente foi esquecido pela Academia (Oscar). Carey Mulligan está fabulosa no papel de Sissy Sullivan, tem um carisma único e contagia o espectador. Quando aparece cantando um clássico de Sinatra e com uma roupa bem ao estilo Marylin Monroe, vira um dos melhores momentos, simplesmente espetacular.

Os irmãos possuem ao longo da trama diálogos intensos (às vezes violentos). Um tenta ajudar o outro mas as barreiras colocadas por cada um deles são muito difíceis de serem superadas. Há muito carinho nessa relação, muitas cenas mostram isso, porém, por conta da tentativa de ajuda de ambos os lados não serem feitas com êxito a eminência de uma tragédia para uma das partes se torna concreta. O final é bem aberto, deixando o público tirar suas próprias conclusões.

 

Os Meninos Que Enganavam Nazistas (2017)

Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Dirigido pelo experiente cineasta canadense Christian DuguayOs Meninos Que Enganavam Nazistas é mais um recorte da grande guerra. Mostra um lado do conflito que dizimou populações de vários países. Aos olhos de dois carismáticos irmãos somos testemunhas dos absurdos que os nazistas faziam, uma perseguição em massa contra os judeus em uma França dividida na década de 40. O roteiro é baseado em fatos reais e na obra Un Sac de Billes – também o nome original desse longa – escrito por Joseph Joffo, um dos protagonistas da história.

Na trama, conhecemos a família Joffo, judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões desse país, tornando a vida de esforçados trabalhadores um inferno doloroso. Assim, Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial) precisam fugir, seguindo um plano mirabolante feito por seu pai, o barbeiro Roman (Patrick Bruel) para uma região neutra e assim a família poder ser reunida novamente. Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

Um dos focos da trama é o valor da amizade entre os irmãos. Ambos enfrentam situações extremas na luta pela sobrevivência, em uma França repleta de soldados nazistas. Mostra-se também todo o sofrimento da família e as escolhas difíceis que precisam tomar para proteger a todos. A figura do pai é emblemática aos olhos dos irmãos, barbeiro e trabalhador, vê seu mundo desabar com as ameaças que recebe mas jamais perde a ternura e o carinho pelos seus filhos. Uma bela atuação do ótimo ator argelino Patrick Bruel.

O longa mostra o amadurecimento precoce dos jovens e uma vivência que levaram para o resto da vida. Como filme, Os Meninos Que Enganavam Nazistas,não acrescenta muito sobre fatos e relatos já vistos, lidos sobre os conflitos históricos da década de 40 na Europa. Há uma delicadeza na direção em algumas sequências, tentando mostrar todo um sofrimento de maneira até certo ponto superficial.

 

Bônus: Irmã (2018, curta-metragem)

As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigida pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

Em 8 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário à realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de tal política do governo chinês.

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei – pano de fundo dessa história – consistia na proibição a qualquer casal ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

 

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