domingo , 22 dezembro , 2024

10 Remakes de Ficções Científicas Clássicas

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O amanhã contado hoje. Essa sempre foi a proposta da ficção científica, gênero iniciado em obras literárias que depois migrou para o cinema. Bem, se formos pensar que por um lado, um dos primeiros filmes produzidos na sétima arte se tratava justamente da ida do homem à lua, numa era antes de tal concretização, no lendário filme de Georges Méliès, Viagem à Lua (1902), podemos afirmar que as entranhas do cinema em seus primórdios está intimamente ligada à ficção científica.

Muitas histórias originais continuam a ser contadas centenas de anos depois, e a ficção segue presente, mais aceita em nossa rotina do que nunca – a tecnologia antes apenas imaginada é parte de nosso dia-a-dia. Mas outras tantas são reimaginadas para uma realidade mais atual. E se existe gênero do cinema que merece ser revisitado para uma melhor adequação e interpretação, este gênero é a ficção científica.



Resolvemos criar nossa nova lista, com as ficções clássicas que ganharam novas roupagens. Então, prepare-se para a viagem rumo a futuro.

Crítica HBO| Fahrenheit 451 – ficção científica prevê os rumos sombrios de nossa sociedade

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01 | Fahrenheit 451

O futuro onde os bombeiros tem por profissão atear fogo e não apaga-lo, em especial em livros que retratam o livre pensamento da sociedade, numa completa analogia ao fascismo, é uma ideia saída da mente do romancista Ray Bradbury.

Em 1966, o conto do autor foi transformado em obra cinematográfica, comandada por ninguém menos do que o lendário diretor francês François Truffaut – um dos nomes responsáveis pela nova onda do cinema do país na década, a nouvelle vague. O longa de Truffaut foi inclusive indicado a alguns prêmios, como no Festival de Veneza e no BAFTA, o Oscar inglês.

Cinquenta e dois anos depois e ganhamos uma roupagem mais arrojada e moderna, com comentários sociais ainda mais relevantes dentro de nossa cultura. Michael B. Jordan, Michael Shannon e Sofia Boutella são o trio de protagonistas talentosos comandados pelo cineasta Ramin Bahrani nesta reimaginação.

02 | Rollerball

Futuros totalitários sempre renderam muito assunto dentro da ficção científica. A perda da liberdade é um dos maiores medos do ser humano e uma luta da civilização ainda nos dias de hoje. Governos ditatoriais tiram os direitos do cidadão e do trabalhador – parece apenas ficção, mas é a realidade em muitos cantos do planeta. No quesito, Rollerball possui muitas semelhanças com Fahrenheit 451, mas ao contrário de simplesmente retirar o direito ao pensamento do povo, aqui ele é anestesiado pelo esporte e falsos ídolos – tema similar levantado no conto de Stephen King que rendeu o filme O Sobrevivente (1987), com Arnold Schwarzenegger.

Em 1975, Rollerball, com roteiro original de William Harrison (baseado em seu conto “Roller Ball Murder”) e direção de Norman Jewison (No Calor da Noite, 1967), mostrava um esporte sangrento, que era o combustível movendo o futuro. Os jogadores, encabeçados por James Caan, eram ídolos criados e derrubados, sem muita vez para o comando de suas vidas e carreiras.

Vinte e sete anos depois, em 2002, numa época em que o público já abraçava filmes de super-heróis, como Homem-Aranha e X-Men, como as fontes de suas energias no cinema, uma nova versão de Rollerball dirigida por John McTiernan (O Predador e Duro de Matar) passava em branco. Tudo bem que o tema sem a mesma pegada de conteúdo no subtexto, tratado apenas como entretenimento, e atores oscilantes em qualidade performática, vide Chris Klein, Rebecca Romjin e LL Cool J, protagonizando, não ajudaram muito.

03 | Guerra dos Mundos

Outro tema muito utilizado em ficções científicas clássicas, em especial durante o medo da Guerra Fria nas décadas de 1950 e 1960, era o da invasão alienígena. Clara alegoria ao comunismo e o medo de que os Russos chegassem dominando em seu território, diversas obras norte-americanas frisavam o pavor desta “visita” intergaláctica.

Muitos anos antes do sucesso da década de 1990, Independence Day, o autor H.G. Wells imortalizava o conto da invasão de Marcianos à Terra em seu livro War of the Wolrds. Um fato curioso é que o icônico cineasta Orson Wells leu trechos do livro em um programa de rádio, antes da invenção da TV, e os ouvintes que pegaram o “bonde andando” acreditaram se tratar de uma invasão real. Era o poder da comunicação das “novas” tecnologias.

Em 1953 chegava a primeira grande adaptação do conto de Wells ao cinema, dirigido por Byron Haskin e intitulada no Brasil, A Guerra dos Mundos. Típico exemplar da época, apesar do sucesso, o filme ainda era tratado como produção B do cinema. 52 anos depois e a Paramount, retentora dos direitos da obra, trazia a coisa para o mainstream com dois verdadeiros pesos pesados envolvidos na produção: Steven Spielberg dirigindo e Tom Cruise estrelando.

Uma nova versão na forma de uma minissérie em 3 episódio está sendo produzida com lançamento próximo. Nesta nova roupagem, a trama se passa na época do filme original. Veja a imagem abaixo.

04 | O Dia em que a Terra Parou

Ainda no mote da invasão alienígena, mas com uma trama que subvertia o esperado de extraterrestres malignos e destrutivos, chegava alguns anos antes de A Guerra dos Mundos, O Dia em que a Terra Parou (1951).

Baseado no livro de Harry Bates, e dirigido por ninguém menos do que Robert Wise – de musicais clássicos como A Noviça Rebelde e Amor, Sublime Amor (West Side Story) – O Dia em que a Terra Parou narrava a história de um pacífico visitante de outro planeta, bem parecido com os humanos, tratado instantaneamente como ameaça inimiga. O recado da obra era o de aceitação, igualdade e pacifismo. A guerra era substituída pela bondade. E quem poderia esquecer o ameaçador robô Gort, protetor do alien Klaatu.

Cinquenta e sete anos depois, em 2008, e Keanu Reeves incorporava o visitante Klaatu na nova versão do clássico. Recheado de efeitos visuais, o filme perdia parte de sua essência e discurso, para se tornar um blockbuster pipoca. Mesmo assim, esta é uma obra subestimada, que merece novas chances. Dirigido por Scott Derrickson (Doutor Estranho), o filme conta ainda com Jennifer Connelly encabeçando um grande elenco.

05 | Os Invasores de Corpos

Várias ficções foram refilmadas e reimaginadas, mas nenhuma foi tantas vezes quanto Invasion of the Body Snatchers. Ainda no segmento alienígenas que querem nos dominar e substituir, a paranoia é a palavra chave desta obra baseada na série de revistas de Jack Finney. Na trama, o protagonista descobre estar no meio de uma conspiração intergaláctica, a qual o governo já está a par, aonde seres extraterrestres possuem nossos corpos, aprisionando-nos em casulos enquanto criam réplicas exatas de humanos.

Tudo começou em 1956, é claro, quando Don Siegel (Dirty Harry) lançou Vampiros de Almas. Depois, em 1978, foi a vez de Philip Kaufman (roteirista de Indiana Jones) lançar Os Invasores de Corpos, com Donald Sutherland à frente do elenco. Em 1993, Abel Ferrara (Vício Frenético) é quem estava por trás de Os Invasores de Corpos – A Invasão Continua. Todos apresentando o mesmo tema, readaptado às suas respectivas realidades no período. Por exemplo, a versão de 1993 é mais voltada ao militarismo, com ocorrências dentro do governo americano.

A última adaptação deste conto clássico ocorreu em 2007, com Invasores, thriller protagonizado por Nicole Kidman e Daniel Craig. A produção, no entanto, foi extremamente problemática para a Warner, estúdio dono dos direitos, com atrasos, acidentes no set envolvendo a estrela Kidman, e inclusive substituição do diretor alemão Oliver Hirschbiegel (A Queda! As Últimas Horas de Hitler) por James McTeigue (V de Vingança) para que o filme ficasse mais dinâmico, e com uma narrativa mais acelerada.

06 | Eu Sou a Lenda

Lembra que eu disse que nenhuma ficção havia sido tão readaptada ao cinema quanto o item acima? Bem, podemos afirmar que a que chegou mais perto foi esta aqui. Baseado no livro clássico de Richard Matheson, adentramos a uma nova vertente da ficção científica: a do fim do mundo e de realidades pós-apocalípticas.

É justamente o que temos como trama, onde num mundo devastado, um único homem surge como sobrevivente. O que você faria se não existisse mais ninguém no planeta? Como se já não fosse duro o bastante, uma nova raça canibal surge, de humanos modificados, para assombrar de vez o restante de existência do protagonista. A primeira versão a chegar aos cinemas foi lançada em 1964, na forma de uma produção de declaradamente de terror, protagonizada por Vincent Price. Mortos que Matam, como ficou conhecido por aqui “The last Man on Earth”, tratava o assunto por um ângulo mais genérico, abordando a ameaça como vampiros mortos-vivos.

Já na década de 1970, mais precisamente em 1971, estreava A Última Esperança da Terra (The Omega Man), protagonizado por Charlton Heston, grande expoente do gênero nas décadas de 60 e 70. Aqui, apesar das pitadas de horror, o longa era tratado mais como ficção, inclusive acrescentando elementos que permeavam a época, como conscientização social e representatividade – Rosalind Cash vivia a heroína afro Lisa, dando respaldo ao protagonista contra as criaturas albinas, conhecidas como “a família de Matthias” – o líder do bando.

Em 2007, a última versão do conto clássico (até o momento) debutava nos cinemas, na forma de… você acertou, um blockbuster. Novamente lançado pela Warner, Eu Sou a Lenda era capitaneado pela presença do astro Will Smith. Na pele do mesmo Robert Neville de Heston, Smith é o único sobrevivente do planeta, ao menos é o que ele pensa, e precisa repetir a mesma rotina diariamente para sobreviver. O escopo aqui é maior, mas a opção por criaturas digitais tiram um pouco a veracidade e clima de tensão planejados. Francis Lawrence (da franquia Jogos Vorazes) é o diretor e o elenco conta com nossa Alice Braga.

07 | A Máquina do Tempo

A Warner conta com algumas das mais clássicas ficções científicas em seu acervo, e já reimaginou a maioria. Esta é mais uma delas. Baseado em outro conto de H.G. Wells (sim, ele de novo, não é à toa que o autor é tido como um dos pais do gênero), o assunto aqui é novamente o futuro catastrófico da humanidade e o surgimento de novas raças humanoides. A alegoria aqui, no entanto, era a diferença de classes – os ricos vivendo na superfície, e os pobres tratados como monstros do subterrâneo – os Morlocks (sim, você que lê quadrinhos começa a perceber de onde são tiradas as ideias).

Rod Taylor (Os Pássaros) foi o protagonista da primeira adaptação cinematográfica, datando de 1960. Dirigido por George Pal (produtor de A Guerra dos Mundos), a trama mostra H. George Wells (Taylor), o protagonista, em clara homenagem ao autor, criando uma máquina do tempo para certificar-se de sua ideia para um futuro dono de uma sociedade utópica. Ao chegar no novo tempo, descobre uma perigosa distopia

Quarenta e dois anos depois, e o estúdio trazia uma remodelação para o conto. Bem, ou quase, já que se trata aqui de um remake bem próximo, passado no mesmo período e praticamente sem qualquer modernização ou releitura. Guy Pearce é quem assume as formas do protagonista Wells, e o elenco conta ainda com Jeremy Irons, Sienna Guillory e a cantora Samantha Mumba, que teria com o filme sua primeira grande chance no cinema. Não foi bem assim, e o filme passou em branco. A direção é de Simon Wells, sem ligação com o autor, especialista em animações, vide O Príncipe do Egito (1998).

08 | A Ilha do Dr. Moreau

Olha ele aqui outra vez. Novamente o autor H.G. Wells é quem oferece o material para adaptações cinematográficas. O assunto agora é a experimentação genética e a criação de mutantes. A analogia é com a superioridade de raças.

Numa ilha remota um geneticista brinca de Deus e experimenta com a criação de uma nova raça mutante, mistura de seres humanos com os mais variados animais. Em 1977, Don Taylor (Fuga do Planeta dos Macacos) dirigia a primeira adaptação do conto, protagonizado por Burt Lancaster, Michael York e Nigel Davenport.

Dezenove anos depois, era a vez do renomado John Frankenheimer (Sob o Domínio do Mal) assumir o comando do conto, em 1996. Esta, no entanto, é mais um daqueles filmes extremamente problemáticos. É reportado inclusive que Richard Stanley dirigiu de forma não creditada parte do projeto. Com certeza grande culpa disso foi resultado da presença de Marlon Brando, um dos astros mais difíceis da história nos bastidores, na pele do personagem título. Junte à mistura o ator Val Kilmer, que não fica atrás no quesito polêmica, e se tem uma fórmula mais explosiva do que o Dr. Moreau tinha em mãos na ficção.

09 | Solaris

Este é um item único na lista, pois se trata de uma produção original russa, baseado no conto do autor Stanislaw Lem. O filme de Andrei Tarkovsky, no entanto, ao contrário do que muitos possam pensar, não foi a primeira adaptação para o audiovisual deste verdadeiro clássico da literatura do gênero. Antes do cineasta, a história havia sido transposta na forma de um filme feito para a TV em 1968, dirigido por Lidiya Ishimbayeva e Boris Niremburg – em preto e branco, e com 2h22min de duração.

A obra do icônico Tarkovsky (Stalker, 1979), de 1972, não fica atrás no quesito tempo de projeção, com 2h47min, mas a história permanece a mesma. Um psicólogo é enviado para descobrir o motivo da equipe em uma estação especial ter ficado louca. Logo, ele percebe que o planeta Solaris, ao redor do qual a estação orbitava para estuda-lo, pode ser o responsável por alucinações mais do que reais, trazendo à tona fantasmas da vida de cada um deles. O próprio protagonista logo se vê precisando enfrentar a volta de sua falecida esposa. A obra fala sobre como enterrar traumas que desejamos desfazer.

Em 2002, passados exatos 30 anos, foi a vez de um cineasta norte-americano de prestígio dar sua impressão da obra. Steven Soderbergh se reunia a George Clooney para uma versão mais arrojada, dinâmica e sem a pretensão assumida do cinema de arte. Mesmo sem a mesma relevância, o mais recente Solaris se encaixa na categoria de filmes subestimados.

10 | Mulheres Perfeitas

Aqui temos mais um exemplar curioso. Baseado no livro de Ira Levin, o mesmo de O Bebê de Rosemary (1968), temos uma ferrenha critica a sociedade machista, e o empoderamento feminino. Levin era um autor que dava voz única e força para mulheres em seus relatos. Aqui, o assunto era a investigação em uma cidadezinha, na qual estranhos acontecimentos estão ligados a mulheres aparentemente saídas direto da década 1950 – as esposas subservientes aos maridos.

Com ares de produção B cult, As Esposas de Stepford estreava em 1975, apresentando Katharine Ross (Butch Cassidy) como Joanna Eberhart, jovem esposa e mãe que se muda ao lado da família para a tranquila Stepford, somente para descobrir que a cidadezinha esconde um terrível segredo – substitui as esposas por réplicas robóticas sem vontade. O teor de crítica social se transforma em filme de terror no longa comandado por Bryan Forbes.

Cinco anos depois, e em 1980 chegava a sequência produzida para a TV, intitulada Revenge of the Stepford Wives. Abraçando a forma trash seguiram The Stepford Children (1987) e Os Maridos de Stepford (1996). Mas em 2004, foi a vez do renomado Frank Oz esquecer tudo e dar sua opinião sobre o material original com Mulheres Perfeitas (2004), protagonizado por Nicole Kidman e grande elenco. Este longa, ao contrário dos outros, apostava muito mais no humor satírico da crítica do que nas tintas de terror. A protagonista Joanna, de Kidmna, no entanto, seguia como exemplo de força feminista, desafiando o sistema e o esperado dela em uma sociedade conservadora.

Bônus: Westworld

Não podíamos terminar este texto sem falar de Westworld. Antes de ser a série do momento na HBO, o programa televisivo de número 38 na lista dos mais bem avaliados de todos os tempos pelo grande público, e já ter sua terceira temporada confirmada pelo canal, o mundo artificial de Westoworld já existia. É o que muitos não sabem.

O ano era 1973, e o diretor e escritor Michael Crichton dava forma ao longa homônimo, intitulado no Brasil Westworld – Onde Ninguém Tem Alma. Crichton, como sabemos, foi o autor do livro que serviu como base para Jurassic Park (1993). Westworld, o filme, por outro lado, não é baseado num livro, mas sim num roteiro original assinado por ele, que também dirigiu o longa. A trama simples, apresenta um parque que simula o velho oeste. É quando os robôs, que por lá interagem, saem do controle, que a trama começa a girar.

A nova roupagem de Westworld, lançada na forma de uma série, é muito mais detalhada e complexa em suas aspirações, deixando o material original comendo poeira. Um detalhe que nem todos devem saber, é que o longa teve uma continuação em 1976, intitulada Mundo do Futuro: Ano 2003, Operação Terra (Futureworld), no qual a segunda temporada de Westworld pega algumas ideias emprestadas. Fora isso, uma série de TV, intitulada Beyond Westworld, teve 5 episódios produzidos em 1980. Se formos perceber a sinopse, notaremos outras similaridades emprestadas para a nova versão da HBO igualmente.

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10 Remakes de Ficções Científicas Clássicas

O amanhã contado hoje. Essa sempre foi a proposta da ficção científica, gênero iniciado em obras literárias que depois migrou para o cinema. Bem, se formos pensar que por um lado, um dos primeiros filmes produzidos na sétima arte se tratava justamente da ida do homem à lua, numa era antes de tal concretização, no lendário filme de Georges Méliès, Viagem à Lua (1902), podemos afirmar que as entranhas do cinema em seus primórdios está intimamente ligada à ficção científica.

Muitas histórias originais continuam a ser contadas centenas de anos depois, e a ficção segue presente, mais aceita em nossa rotina do que nunca – a tecnologia antes apenas imaginada é parte de nosso dia-a-dia. Mas outras tantas são reimaginadas para uma realidade mais atual. E se existe gênero do cinema que merece ser revisitado para uma melhor adequação e interpretação, este gênero é a ficção científica.

Resolvemos criar nossa nova lista, com as ficções clássicas que ganharam novas roupagens. Então, prepare-se para a viagem rumo a futuro.

Crítica HBO| Fahrenheit 451 – ficção científica prevê os rumos sombrios de nossa sociedade

01 | Fahrenheit 451

O futuro onde os bombeiros tem por profissão atear fogo e não apaga-lo, em especial em livros que retratam o livre pensamento da sociedade, numa completa analogia ao fascismo, é uma ideia saída da mente do romancista Ray Bradbury.

Em 1966, o conto do autor foi transformado em obra cinematográfica, comandada por ninguém menos do que o lendário diretor francês François Truffaut – um dos nomes responsáveis pela nova onda do cinema do país na década, a nouvelle vague. O longa de Truffaut foi inclusive indicado a alguns prêmios, como no Festival de Veneza e no BAFTA, o Oscar inglês.

Cinquenta e dois anos depois e ganhamos uma roupagem mais arrojada e moderna, com comentários sociais ainda mais relevantes dentro de nossa cultura. Michael B. Jordan, Michael Shannon e Sofia Boutella são o trio de protagonistas talentosos comandados pelo cineasta Ramin Bahrani nesta reimaginação.

02 | Rollerball

Futuros totalitários sempre renderam muito assunto dentro da ficção científica. A perda da liberdade é um dos maiores medos do ser humano e uma luta da civilização ainda nos dias de hoje. Governos ditatoriais tiram os direitos do cidadão e do trabalhador – parece apenas ficção, mas é a realidade em muitos cantos do planeta. No quesito, Rollerball possui muitas semelhanças com Fahrenheit 451, mas ao contrário de simplesmente retirar o direito ao pensamento do povo, aqui ele é anestesiado pelo esporte e falsos ídolos – tema similar levantado no conto de Stephen King que rendeu o filme O Sobrevivente (1987), com Arnold Schwarzenegger.

Em 1975, Rollerball, com roteiro original de William Harrison (baseado em seu conto “Roller Ball Murder”) e direção de Norman Jewison (No Calor da Noite, 1967), mostrava um esporte sangrento, que era o combustível movendo o futuro. Os jogadores, encabeçados por James Caan, eram ídolos criados e derrubados, sem muita vez para o comando de suas vidas e carreiras.

Vinte e sete anos depois, em 2002, numa época em que o público já abraçava filmes de super-heróis, como Homem-Aranha e X-Men, como as fontes de suas energias no cinema, uma nova versão de Rollerball dirigida por John McTiernan (O Predador e Duro de Matar) passava em branco. Tudo bem que o tema sem a mesma pegada de conteúdo no subtexto, tratado apenas como entretenimento, e atores oscilantes em qualidade performática, vide Chris Klein, Rebecca Romjin e LL Cool J, protagonizando, não ajudaram muito.

03 | Guerra dos Mundos

Outro tema muito utilizado em ficções científicas clássicas, em especial durante o medo da Guerra Fria nas décadas de 1950 e 1960, era o da invasão alienígena. Clara alegoria ao comunismo e o medo de que os Russos chegassem dominando em seu território, diversas obras norte-americanas frisavam o pavor desta “visita” intergaláctica.

Muitos anos antes do sucesso da década de 1990, Independence Day, o autor H.G. Wells imortalizava o conto da invasão de Marcianos à Terra em seu livro War of the Wolrds. Um fato curioso é que o icônico cineasta Orson Wells leu trechos do livro em um programa de rádio, antes da invenção da TV, e os ouvintes que pegaram o “bonde andando” acreditaram se tratar de uma invasão real. Era o poder da comunicação das “novas” tecnologias.

Em 1953 chegava a primeira grande adaptação do conto de Wells ao cinema, dirigido por Byron Haskin e intitulada no Brasil, A Guerra dos Mundos. Típico exemplar da época, apesar do sucesso, o filme ainda era tratado como produção B do cinema. 52 anos depois e a Paramount, retentora dos direitos da obra, trazia a coisa para o mainstream com dois verdadeiros pesos pesados envolvidos na produção: Steven Spielberg dirigindo e Tom Cruise estrelando.

Uma nova versão na forma de uma minissérie em 3 episódio está sendo produzida com lançamento próximo. Nesta nova roupagem, a trama se passa na época do filme original. Veja a imagem abaixo.

04 | O Dia em que a Terra Parou

Ainda no mote da invasão alienígena, mas com uma trama que subvertia o esperado de extraterrestres malignos e destrutivos, chegava alguns anos antes de A Guerra dos Mundos, O Dia em que a Terra Parou (1951).

Baseado no livro de Harry Bates, e dirigido por ninguém menos do que Robert Wise – de musicais clássicos como A Noviça Rebelde e Amor, Sublime Amor (West Side Story) – O Dia em que a Terra Parou narrava a história de um pacífico visitante de outro planeta, bem parecido com os humanos, tratado instantaneamente como ameaça inimiga. O recado da obra era o de aceitação, igualdade e pacifismo. A guerra era substituída pela bondade. E quem poderia esquecer o ameaçador robô Gort, protetor do alien Klaatu.

Cinquenta e sete anos depois, em 2008, e Keanu Reeves incorporava o visitante Klaatu na nova versão do clássico. Recheado de efeitos visuais, o filme perdia parte de sua essência e discurso, para se tornar um blockbuster pipoca. Mesmo assim, esta é uma obra subestimada, que merece novas chances. Dirigido por Scott Derrickson (Doutor Estranho), o filme conta ainda com Jennifer Connelly encabeçando um grande elenco.

05 | Os Invasores de Corpos

Várias ficções foram refilmadas e reimaginadas, mas nenhuma foi tantas vezes quanto Invasion of the Body Snatchers. Ainda no segmento alienígenas que querem nos dominar e substituir, a paranoia é a palavra chave desta obra baseada na série de revistas de Jack Finney. Na trama, o protagonista descobre estar no meio de uma conspiração intergaláctica, a qual o governo já está a par, aonde seres extraterrestres possuem nossos corpos, aprisionando-nos em casulos enquanto criam réplicas exatas de humanos.

Tudo começou em 1956, é claro, quando Don Siegel (Dirty Harry) lançou Vampiros de Almas. Depois, em 1978, foi a vez de Philip Kaufman (roteirista de Indiana Jones) lançar Os Invasores de Corpos, com Donald Sutherland à frente do elenco. Em 1993, Abel Ferrara (Vício Frenético) é quem estava por trás de Os Invasores de Corpos – A Invasão Continua. Todos apresentando o mesmo tema, readaptado às suas respectivas realidades no período. Por exemplo, a versão de 1993 é mais voltada ao militarismo, com ocorrências dentro do governo americano.

A última adaptação deste conto clássico ocorreu em 2007, com Invasores, thriller protagonizado por Nicole Kidman e Daniel Craig. A produção, no entanto, foi extremamente problemática para a Warner, estúdio dono dos direitos, com atrasos, acidentes no set envolvendo a estrela Kidman, e inclusive substituição do diretor alemão Oliver Hirschbiegel (A Queda! As Últimas Horas de Hitler) por James McTeigue (V de Vingança) para que o filme ficasse mais dinâmico, e com uma narrativa mais acelerada.

06 | Eu Sou a Lenda

Lembra que eu disse que nenhuma ficção havia sido tão readaptada ao cinema quanto o item acima? Bem, podemos afirmar que a que chegou mais perto foi esta aqui. Baseado no livro clássico de Richard Matheson, adentramos a uma nova vertente da ficção científica: a do fim do mundo e de realidades pós-apocalípticas.

É justamente o que temos como trama, onde num mundo devastado, um único homem surge como sobrevivente. O que você faria se não existisse mais ninguém no planeta? Como se já não fosse duro o bastante, uma nova raça canibal surge, de humanos modificados, para assombrar de vez o restante de existência do protagonista. A primeira versão a chegar aos cinemas foi lançada em 1964, na forma de uma produção de declaradamente de terror, protagonizada por Vincent Price. Mortos que Matam, como ficou conhecido por aqui “The last Man on Earth”, tratava o assunto por um ângulo mais genérico, abordando a ameaça como vampiros mortos-vivos.

Já na década de 1970, mais precisamente em 1971, estreava A Última Esperança da Terra (The Omega Man), protagonizado por Charlton Heston, grande expoente do gênero nas décadas de 60 e 70. Aqui, apesar das pitadas de horror, o longa era tratado mais como ficção, inclusive acrescentando elementos que permeavam a época, como conscientização social e representatividade – Rosalind Cash vivia a heroína afro Lisa, dando respaldo ao protagonista contra as criaturas albinas, conhecidas como “a família de Matthias” – o líder do bando.

Em 2007, a última versão do conto clássico (até o momento) debutava nos cinemas, na forma de… você acertou, um blockbuster. Novamente lançado pela Warner, Eu Sou a Lenda era capitaneado pela presença do astro Will Smith. Na pele do mesmo Robert Neville de Heston, Smith é o único sobrevivente do planeta, ao menos é o que ele pensa, e precisa repetir a mesma rotina diariamente para sobreviver. O escopo aqui é maior, mas a opção por criaturas digitais tiram um pouco a veracidade e clima de tensão planejados. Francis Lawrence (da franquia Jogos Vorazes) é o diretor e o elenco conta com nossa Alice Braga.

07 | A Máquina do Tempo

A Warner conta com algumas das mais clássicas ficções científicas em seu acervo, e já reimaginou a maioria. Esta é mais uma delas. Baseado em outro conto de H.G. Wells (sim, ele de novo, não é à toa que o autor é tido como um dos pais do gênero), o assunto aqui é novamente o futuro catastrófico da humanidade e o surgimento de novas raças humanoides. A alegoria aqui, no entanto, era a diferença de classes – os ricos vivendo na superfície, e os pobres tratados como monstros do subterrâneo – os Morlocks (sim, você que lê quadrinhos começa a perceber de onde são tiradas as ideias).

Rod Taylor (Os Pássaros) foi o protagonista da primeira adaptação cinematográfica, datando de 1960. Dirigido por George Pal (produtor de A Guerra dos Mundos), a trama mostra H. George Wells (Taylor), o protagonista, em clara homenagem ao autor, criando uma máquina do tempo para certificar-se de sua ideia para um futuro dono de uma sociedade utópica. Ao chegar no novo tempo, descobre uma perigosa distopia

Quarenta e dois anos depois, e o estúdio trazia uma remodelação para o conto. Bem, ou quase, já que se trata aqui de um remake bem próximo, passado no mesmo período e praticamente sem qualquer modernização ou releitura. Guy Pearce é quem assume as formas do protagonista Wells, e o elenco conta ainda com Jeremy Irons, Sienna Guillory e a cantora Samantha Mumba, que teria com o filme sua primeira grande chance no cinema. Não foi bem assim, e o filme passou em branco. A direção é de Simon Wells, sem ligação com o autor, especialista em animações, vide O Príncipe do Egito (1998).

08 | A Ilha do Dr. Moreau

Olha ele aqui outra vez. Novamente o autor H.G. Wells é quem oferece o material para adaptações cinematográficas. O assunto agora é a experimentação genética e a criação de mutantes. A analogia é com a superioridade de raças.

Numa ilha remota um geneticista brinca de Deus e experimenta com a criação de uma nova raça mutante, mistura de seres humanos com os mais variados animais. Em 1977, Don Taylor (Fuga do Planeta dos Macacos) dirigia a primeira adaptação do conto, protagonizado por Burt Lancaster, Michael York e Nigel Davenport.

Dezenove anos depois, era a vez do renomado John Frankenheimer (Sob o Domínio do Mal) assumir o comando do conto, em 1996. Esta, no entanto, é mais um daqueles filmes extremamente problemáticos. É reportado inclusive que Richard Stanley dirigiu de forma não creditada parte do projeto. Com certeza grande culpa disso foi resultado da presença de Marlon Brando, um dos astros mais difíceis da história nos bastidores, na pele do personagem título. Junte à mistura o ator Val Kilmer, que não fica atrás no quesito polêmica, e se tem uma fórmula mais explosiva do que o Dr. Moreau tinha em mãos na ficção.

09 | Solaris

Este é um item único na lista, pois se trata de uma produção original russa, baseado no conto do autor Stanislaw Lem. O filme de Andrei Tarkovsky, no entanto, ao contrário do que muitos possam pensar, não foi a primeira adaptação para o audiovisual deste verdadeiro clássico da literatura do gênero. Antes do cineasta, a história havia sido transposta na forma de um filme feito para a TV em 1968, dirigido por Lidiya Ishimbayeva e Boris Niremburg – em preto e branco, e com 2h22min de duração.

A obra do icônico Tarkovsky (Stalker, 1979), de 1972, não fica atrás no quesito tempo de projeção, com 2h47min, mas a história permanece a mesma. Um psicólogo é enviado para descobrir o motivo da equipe em uma estação especial ter ficado louca. Logo, ele percebe que o planeta Solaris, ao redor do qual a estação orbitava para estuda-lo, pode ser o responsável por alucinações mais do que reais, trazendo à tona fantasmas da vida de cada um deles. O próprio protagonista logo se vê precisando enfrentar a volta de sua falecida esposa. A obra fala sobre como enterrar traumas que desejamos desfazer.

Em 2002, passados exatos 30 anos, foi a vez de um cineasta norte-americano de prestígio dar sua impressão da obra. Steven Soderbergh se reunia a George Clooney para uma versão mais arrojada, dinâmica e sem a pretensão assumida do cinema de arte. Mesmo sem a mesma relevância, o mais recente Solaris se encaixa na categoria de filmes subestimados.

10 | Mulheres Perfeitas

Aqui temos mais um exemplar curioso. Baseado no livro de Ira Levin, o mesmo de O Bebê de Rosemary (1968), temos uma ferrenha critica a sociedade machista, e o empoderamento feminino. Levin era um autor que dava voz única e força para mulheres em seus relatos. Aqui, o assunto era a investigação em uma cidadezinha, na qual estranhos acontecimentos estão ligados a mulheres aparentemente saídas direto da década 1950 – as esposas subservientes aos maridos.

Com ares de produção B cult, As Esposas de Stepford estreava em 1975, apresentando Katharine Ross (Butch Cassidy) como Joanna Eberhart, jovem esposa e mãe que se muda ao lado da família para a tranquila Stepford, somente para descobrir que a cidadezinha esconde um terrível segredo – substitui as esposas por réplicas robóticas sem vontade. O teor de crítica social se transforma em filme de terror no longa comandado por Bryan Forbes.

Cinco anos depois, e em 1980 chegava a sequência produzida para a TV, intitulada Revenge of the Stepford Wives. Abraçando a forma trash seguiram The Stepford Children (1987) e Os Maridos de Stepford (1996). Mas em 2004, foi a vez do renomado Frank Oz esquecer tudo e dar sua opinião sobre o material original com Mulheres Perfeitas (2004), protagonizado por Nicole Kidman e grande elenco. Este longa, ao contrário dos outros, apostava muito mais no humor satírico da crítica do que nas tintas de terror. A protagonista Joanna, de Kidmna, no entanto, seguia como exemplo de força feminista, desafiando o sistema e o esperado dela em uma sociedade conservadora.

Bônus: Westworld

Não podíamos terminar este texto sem falar de Westworld. Antes de ser a série do momento na HBO, o programa televisivo de número 38 na lista dos mais bem avaliados de todos os tempos pelo grande público, e já ter sua terceira temporada confirmada pelo canal, o mundo artificial de Westoworld já existia. É o que muitos não sabem.

O ano era 1973, e o diretor e escritor Michael Crichton dava forma ao longa homônimo, intitulado no Brasil Westworld – Onde Ninguém Tem Alma. Crichton, como sabemos, foi o autor do livro que serviu como base para Jurassic Park (1993). Westworld, o filme, por outro lado, não é baseado num livro, mas sim num roteiro original assinado por ele, que também dirigiu o longa. A trama simples, apresenta um parque que simula o velho oeste. É quando os robôs, que por lá interagem, saem do controle, que a trama começa a girar.

A nova roupagem de Westworld, lançada na forma de uma série, é muito mais detalhada e complexa em suas aspirações, deixando o material original comendo poeira. Um detalhe que nem todos devem saber, é que o longa teve uma continuação em 1976, intitulada Mundo do Futuro: Ano 2003, Operação Terra (Futureworld), no qual a segunda temporada de Westworld pega algumas ideias emprestadas. Fora isso, uma série de TV, intitulada Beyond Westworld, teve 5 episódios produzidos em 1980. Se formos perceber a sinopse, notaremos outras similaridades emprestadas para a nova versão da HBO igualmente.

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