terça-feira , 17 dezembro , 2024

37ª Mostra de Cinema de São Paulo: Peixe e Gato

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IRANIANO DISPENSA A SALA DE EDIÇÃO

Mostra de cinema é algo curioso. Ia eu assistir ao 3x3D, conjunto de curtas-metragens que diretores como Peter Greeneway e Jean-Luc Godard discutem. Aí começa a conversa na fila e alguém sugere o filme Peixe e Gato. O filme seria um genial plano-sequência (sem cortes) misturando presente, passado, flashbacks, etc. A figura nem quis dizer muito para não estragar as surpresas. Como ainda tem mais uma exibição do 3x3D (e segundo informações que tive, entrará em cartaz no Cinesesc de São Paulo) e era a última exibição de Peixe e Gato lá fui vê-lo.



Dirigido pelo iraniano Shahram Mokri, o filme é um longo plano sequência de 134 minutos. Realmente não há cortes. A câmera só desliga no final do filme. Nesse tempo, acompanha dois grupos: um de jovens que vão participar de um campeonato de pipas e outro de três senhores donos de um restaurante (pelo que pude compreender, eles serviam carne humana por lá).

Visto apenas na técnica, o filme realmente é um feito! A direção consegue coordenar os diversos atores para que entrem em cena sem tirar a organicidade do movimento da câmera. É até bastante eficiente a passagem de um grupo de atores para outros. Existe mesmo momentos bonitos, como a representação de um déjà vu efetuado com um giro que a câmera dá em seu próprio eixo. Realmente, muito bonito! Contudo, fica a questão, esse maneirismo vai além disso? O plano-sequência torna-se algo essencial para a mensagem do filme?

A quebra das regras artísticas tem duas motivações: o simples desejo de quebrar uma regra ou porque ela é necessária para contar a história e passar certas sensações. Como as vanguardas do século XX cuidaram de quebrar as regras para mostrar que a essência da arte é a liberdade, hoje, a quebra pela quebra perdeu força. Ainda temos casos muito interessantes (como a abertura de Gravidade, em cartaz), mas, o que mais encanta é quando a fuga de um modelo serve para a narrativa, quando percebemos que, sem essa subversão, não acessaríamos centro da narrativa. Será que Peixe e Gato é um caso assim?

Sinceramente, não consegui perceber esse vínculo entre forma e conteúdo. Depois de quase uma hora e meia, é perceptível a função do plano-sequência, dispensar a sala de edição! Isso mesmo. Shahram Mokri monta o filme na tela. Nos primeiro minutos, há uma narrativa linear. Depois de certo momento, o filme torna-se circular, passando mais de uma vez pela mesma cena. Como em um déjà vu primeiro acompanhamos um par de atores, depois, voltamos ao ponto inicial para ver outro par de atores.

É realmente muito curioso. Mas, depois que descobrimos o jogo, o filme de esvazia. Não há uma história interessante, as personagens são vagas demais, não se compreende a ligação entre elas. Enfim, é uma historia vazia em uma embalagem sofisticada. A única função do plano-sequência é esconder um roteiro ruim (se é que foi feito um roteiro formal).

O iraniano deixou duas reflexões interessantes: quais os limites do uso do plano-sequência? No caso do iraniano, não colheu bons resultados. Segundo, depois das vanguardas do início do século passado, a forma pela forma não tem mais o mesmo impacto; a quebra da forma, se bem integrada à narrativa, é deliciosa!

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Mostra de cinema é algo curioso. Ia eu assistir ao 3x3D, conjunto de curtas-metragens que diretores como Peter Greeneway e Jean-Luc Godard discutem. Aí começa a conversa na fila e alguém sugere o filme Peixe e Gato. O filme seria um genial plano-sequência (sem cortes) misturando presente, passado, flashbacks, etc. A figura nem quis dizer muito para não estragar as surpresas. Como ainda tem mais uma exibição do 3x3D (e segundo informações que tive, entrará em cartaz no Cinesesc de São Paulo) e era a última exibição de Peixe e Gato lá fui vê-lo.

Dirigido pelo iraniano Shahram Mokri, o filme é um longo plano sequência de 134 minutos. Realmente não há cortes. A câmera só desliga no final do filme. Nesse tempo, acompanha dois grupos: um de jovens que vão participar de um campeonato de pipas e outro de três senhores donos de um restaurante (pelo que pude compreender, eles serviam carne humana por lá).

Visto apenas na técnica, o filme realmente é um feito! A direção consegue coordenar os diversos atores para que entrem em cena sem tirar a organicidade do movimento da câmera. É até bastante eficiente a passagem de um grupo de atores para outros. Existe mesmo momentos bonitos, como a representação de um déjà vu efetuado com um giro que a câmera dá em seu próprio eixo. Realmente, muito bonito! Contudo, fica a questão, esse maneirismo vai além disso? O plano-sequência torna-se algo essencial para a mensagem do filme?

A quebra das regras artísticas tem duas motivações: o simples desejo de quebrar uma regra ou porque ela é necessária para contar a história e passar certas sensações. Como as vanguardas do século XX cuidaram de quebrar as regras para mostrar que a essência da arte é a liberdade, hoje, a quebra pela quebra perdeu força. Ainda temos casos muito interessantes (como a abertura de Gravidade, em cartaz), mas, o que mais encanta é quando a fuga de um modelo serve para a narrativa, quando percebemos que, sem essa subversão, não acessaríamos centro da narrativa. Será que Peixe e Gato é um caso assim?

Sinceramente, não consegui perceber esse vínculo entre forma e conteúdo. Depois de quase uma hora e meia, é perceptível a função do plano-sequência, dispensar a sala de edição! Isso mesmo. Shahram Mokri monta o filme na tela. Nos primeiro minutos, há uma narrativa linear. Depois de certo momento, o filme torna-se circular, passando mais de uma vez pela mesma cena. Como em um déjà vu primeiro acompanhamos um par de atores, depois, voltamos ao ponto inicial para ver outro par de atores.

É realmente muito curioso. Mas, depois que descobrimos o jogo, o filme de esvazia. Não há uma história interessante, as personagens são vagas demais, não se compreende a ligação entre elas. Enfim, é uma historia vazia em uma embalagem sofisticada. A única função do plano-sequência é esconder um roteiro ruim (se é que foi feito um roteiro formal).

O iraniano deixou duas reflexões interessantes: quais os limites do uso do plano-sequência? No caso do iraniano, não colheu bons resultados. Segundo, depois das vanguardas do início do século passado, a forma pela forma não tem mais o mesmo impacto; a quebra da forma, se bem integrada à narrativa, é deliciosa!

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