terça-feira, julho 2, 2024

93 Anos de OSCAR | Apenas 6 histórias centradas em MULHERES levaram o MAIOR PRÊMIO

A 93ª cerimônia do Oscar consagrou Nomadland como o grande vitorioso de 2021. Dirigido pela chinesa Chloé Zhao, o longa recebeu três estatuetas: Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz. Desse modo, tornou-se um marco na história do Oscar. A lista de motivos é extensa, desde o mais óbvio, como a primeira mulher asiática a ganhar a estatueta de melhor direção (e a segunda mulher, no total) até ser a obra de menor bilheteria a ganhar o prêmio máximo desde 1950. 

Além de abordar a precariedade econômica, como o vencedor do ano anterior Parasita (2019), Nomadland apresenta uma peculiaridade rara entre os indicados e laureados da Academia Cinematográfica de Hollywood: tem apenas uma mulher como protagonista da história. De acordo com um artigo do jornalista Dan Kois, da revista Slate, apenas seis filmes focados na vida e nas histórias de mulheres ganharam o prêmio de Melhor Filme em 93 anos do evento. 

De 2015 a 2021, dos 59 indicados a Melhor Filme, apenas oito títulos contaram histórias de mulheres. Para ter uma ideia, Saoirse Ronan foi a heroína de três deles: Brooklyn (2015), Lady Bird (2017) e Adoráveis Mulheres (2019). Em 2015, nenhum dos oitos selecionados atendiam a este quesito. Já este ano, apenas dois correspondiam ao caso: a narrativa semi-realista sobre os caminhos de uma mulher nômade dentro da sua van e uma jovem promissora em busca de justiça em uma sociedade severamente danificada.  

Ao contrário da maioria dos ganhadores do Oscar, Nomadland é sobre uma mulher de meia idade e mais ninguém. No artigo da Slate, o autor faz uma comparação com as personagens femininas de outros vencedores do Oscar de Melhor Filme, por meio da qual percebemos a falta de foco nas histórias de mulheres em grandes produções. Vale a pena ressaltar que algumas produções nem passariam no Teste de Bechdel

Os ganhadores do Oscar e as mulheres

Por exemplo, Fern (Frances McDormand) não é mais esposa (Rebecca, 1940), nem nunca foi mãe (Kramer vs. Kramer, 1979); não possui um mentor (Menina de Ouro, 2004), nem um motorista sábio (Conduzindo Miss Daisy, 1989), muito menos um arqui-inimigo canibal (O Silêncio do Inocentes, 1991). Ela também não é a musa (Shakespeare Apaixonado, 1998), o amor perdido (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, 1977) ou a amante de um condenado (O Paciente Inglês, 1996). Muito menos uma jovem a ser “inserida na sociedade” por um homem afortunado (Minha Bela Dama, 1964, e A Noviça Rebelde, 1965). 

Seguindo uma outra dinâmica, a protagonista de Nomadland tão pouca envolve-se em um romance problemático, como as protagonistas de Amor, Sublime Amor (1961), Casablanca (1942), Titanic (1997), Gigi (1958) e A Forma da Água (2017). O mais próximo de uma conexão amorosa é um convite do gentil David (David Strathairn) para estabelecer moradia com ela. Apesar dele ser um cara legal, a personagem rejeita a oferta para viver a vida na estrada. Aqui, o ator faz o papel das “namoradas muletas de narrativa”, comum em diversos filmes, por exemplo Kristen Stewart em Na Natureza Selvagem (2007).

Não deixe de assistir:

Os seis ganhadores com histórias femininas

Seguindo a pesquisa de Dan Kois, Nomadland junta-se ao seleto grupo formado por Rosa da Esperança (1942), A Malvada (1950), Laços de Ternura (1983), Entre dois Amores (1985) e Chicago (2002). Ao contrário de todos esses mencionados, Nomadland é o único escrito e dirigido por uma mulher. Aliás, a equipe de cinco produtores é formada por três mulheres: Frances McDormand, Mollye Asher e Chloé Zhao; e, além disso, o roteiro é baseado no livro escrito por uma mulher, Jessica Bruder. Ou seja, é uma vitória múltipla para tentar mudar as estruturas patriarcais de Hollywood. 

Os prêmios da maior indústria cinematográfica do mundo para Nomadland podem ser um grande passo a fim de convencer produtores a investirem em mais histórias como a de Fern. Aqui, a gente apenas analisou as obras ganhadoras do Oscar de Melhor Filme, talvez vale a pena olhar com o mesmo critério para os selecionados em outras categorias, como Filmes Estrangeiro, Animação, Documentário, etc. Se você lembra de algum filme centrado em histórias femininas e suas trajetórias, comente. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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