terça-feira, agosto 19, 2025
More
    InícioCríticasCrítica | A Procura de Martina – Memória e Solidão Conduzem Mercedes...

    Crítica | A Procura de Martina – Memória e Solidão Conduzem Mercedes Morán Em Emocionante Drama Argentino

    Não saber de uma informação é algo que geralmente causa angústia e ansiedade numa pessoa, principalmente quando se tinha uma informação prévia mas, por alguma razão, no meio do caminho, esqueceu-se. Não saber um segredo, um caminho, o que fazer, não conhecer. Imagina, então, qual seria o sentimento se em cima de tudo isso você ainda estivesse sendo acometido por uma doença incurável que, aos poucos, vai limando suas sinapses e suas memórias, sobre tudo e sobre todos, enquanto a verdade ainda está aí fora para ser descoberta. Este é o mote de ‘A Procura de Martina’, filme que teve exibição antecipada no Festival do Rio 2024 com a presença da protagonista, e que entrou em cartaz esta semana no circuito exibidor nacional.

    Martina (Mercedez Morán, de ‘Neruda’) é uma senhora argentina cuja rotina é comum a tantas outras: viúva, passa os dias em aulas de natação e hidroginástica, encontro com as amigas da mesma idade, comprinhas no mercado da esquina e desabafos com sua diarista. Porém, há uma diferença – ou melhor, duas. O neto de Martina fora sequestrado durante a ditadura militar argentina, junto com sua filha desaparecida, e ela não sabe o paradeiro de ambos e passou o resto de sua vida na busca por uma pisca de onde encontrá-los. Além disso, Martina está começando a desenvolver Alzheimer, e realidade e delírios começam a se confundir na sua cabeça, que, aos poucos está esquecendo de detalhes cruciais de sua vida. Com ambas as urgências incidindo em sua vida, quando Martina recebe uma informação sobre o paradeiro de seu neto Ignacio, ela não tem dúvidas: larga tudo para trás para, uma vez mais, tentar encontrar esta peça que falta em seu quebra-cabeças.

    Tecendo uma trama de muitos fios que se entrelaçam, o roteiro de Gabriela Amaral e Márcia Faria coloca em cheque duas realidades possíveis e até comuns a um grupo de pessoas idosas afetadas pelos horrores da Ditadura latino-americana: por um lado, seguem na busca por informações sobre parentes desaparecidos, por outro, começam a enfrentar sintomas comuns na terceira idade, como a perda de memória de curto e longo prazo. Do choque desses dois temas, surge o desafio de ‘A Procura de Martina’.

    Márcia Faria (que foi assistente em ‘Diários de Motocicleta’ e dirigiu ‘Os Quatro da Candelária’) demonstra sua predileção por temas que interligam os países sul-americanos e mergulham no drama humano. Com locações incomuns, o filme tem seu maior alicerce na interpretação da ótima Mercedes Morán, que alterna muitos extremos emocionais ao longo da produção, ora ganhando a simpatia e a solidariedade do espectador, ora ganhando nossa raiva por suas ações tempestuosas. O filme ainda tem a participação da brasileira Luciana Paes (conhecida do humor, mas que rende bem nesse drama familiar) como uma recepcionista de hotel que se solidariza com a angústia da pobre senhora argentina e passa a ajudá-la em sua busca.

    Mais do que ‘A Procura de Martina’, é a busca promovida por essa protagonista que embala o desenrolar do enredo. E essa busca, por vezes cega, é que aponta que o tempo passa diferente para pessoas que têm urgência. Angustiante e emocionante filme.

    Últimas Notícias

    Não saber de uma informação é algo que geralmente causa angústia e ansiedade numa pessoa, principalmente quando se tinha uma informação prévia mas, por alguma razão, no meio do caminho, esqueceu-se. Não saber um segredo, um caminho, o que fazer, não conhecer. Imagina, então,...Crítica | A Procura de Martina – Memória e Solidão Conduzem Mercedes Morán Em Emocionante Drama Argentino