Stephen King é um dos autores mais conhecidos de todos os tempos e não é considerado o Mestre do Terror por qualquer motivo: o romancista, além de ter uma capacidade invejável de nunca esgotar ideias, já navegou pelo drama, pelo suspense e pela comédia, unindo gêneros distintos sob um mesmo cosmos que angariou fãs ao redor do mundo – e continua a reiterar seu importante legado no cenário do entretenimento. Através de sua carreira, King eternizou obras como ‘Carrie – A Estranha’, ‘IT: A Coisa’, ‘Jogo Perigoso’, ‘O Iluminado’, ‘Louca Obsessão’ e vários outros, sendo homenageado no cinema e na televisão com inúmeras adaptações.
Considerando sua prolífica carreira como escritor, não é surpresa que vários realizadores tenham se apaixonado por suas histórias e levado sua própria visão ao mundo audiovisual: Stanley Kubrick comandou o clássico ‘O Iluminado’, com Jack Nicholson (que, apesar de ter um sólido impacto na sétima arte, foi duramente criticado por King); Andy Muschietti encabeçou a duologia ‘IT: A Coisa’, que quebrou recordes de bilheteria ao redor do planeta e contou com um elenco de peso; e Mike Flanagan dirigiu ‘Jogo Perigoso’ em uma surpreendente e angustiante investida estrelada por ninguém menos que Carla Gugino. Agora, chegou a hora de conhecermos a releitura seriada de ‘O Instituto’, que chegou recentemente ao catálogo do MGM+.
A trama é centrada em Luke Ellis (Joe Freeman), um adolescente supergênio que, em uma determinada noite, é raptado por uma organização conhecida como Instituto, comandada pela misteriosa Srta. Sigsby (Mary-Louise Parker). Desorientado, Sigsby diz que Luke é peça-chave para salvar o mundo de uma ameaça desconhecida por ter habilidades psiônicas que não são comuns. E, ao lado de outros jovens que também são raptados para experimentos invasivos e mentais – com a promessa de que terão suas memórias apagadas e serão libertados após ajudá-los -, ele percebe que precisa sair de lá o mais rápido possível, contando com um inesperado aliado para desvendar uma conspiratória e mortal artimanha.
Em contrapartida, também acompanhamos Tim Jamieson (Ben Barnes), um policial que luta contra demônios internos e um profundo trauma passado que insiste em assombrá-lo – e que procura recomeçar a vida em uma pequena cidade. Aceitando trabalhar na delegacia local, ele logo percebe que sua busca pela paz e pela tranquilidade não será tão fácil quando, pouco a pouco, ele começa a descobrir alguns segredos que são acobertados por histórias mirabolantes e sem sentido – e que, de alguma maneira, estão conectados com o rapto de Luke e das outras crianças, colocando-os em uma rota de colisão inescapável.
Criada por Benjamin Cavell, os três primeiros episódios da adaptação seguem um padrão bastante conhecido no cenário televisivo, principalmente no gênero do suspense dramático: temos uma apresentação vaga dos pontos principais da trama e do incidente incitante de ambos os protagonistas, à medida que Cavell e seu time criativo arquiteta um crescendo angustiante movido por uma trilha sonora tétrica e uma fotografia propositalmente melancólica. Os atos de cada capítulo são delineados com uma clássica mestria que presta homenagens a obras do gênero e se vale de tropos familiares para garantir que as engrenagens se encaixem de maneira a nos entreter em uma praticidade confortável.
Em outras palavras, há uma utilização de arquétipos que se estendem por toda a estrutura técnica e artística da produção: temos uma mitologia interna que se vale de jargões variados para discorrer sobre as habilidades dos jovens raptados e de que maneira o contínuo estudo serve de máscara para objetivos mais cabulosos; temos personagens que acompanham construções eternizadas no mundo das narrativas, seja na personalidade precoce de Luke, na presença rebelde de Nicky (Fionn Laird), ou na taciturna construção do Sr. Stackhouse (Julian Richings); diálogos misteriosos que, pouco a pouco, dão dicas das traições e reviravoltas que iremos acompanhar nas semanas seguintes; e uma crescente rede de mentiras transformando-se em uma bola de neve que, com sorte, irá responder a todas as perguntas que são levantadas.
Em meio a praticidades repetitivas, mas que cumprem com o simples objetivo de compor uma imagem funcional e sólida, não podemos deixar de mencionar o ótimo trabalho do elenco, que se diverte em meio a personagens pré-programados e que trazem uma multidimensionalidade fácil de ser acompanhada. Freeman desfruta de uma ótima química com Laird e nomes como Simone Miller e Arlen So, enquanto Barnes rouba todas as cenas de que participa, mostrando um lado que ainda não tínhamos visto do subestimado ator britânico. Parker encabeça o time mais velho de maneira fabulosa e que entra em um exuberante conflito com as performances de Richings, Robert Joy e Jason Diaz.
‘O Instituto’ pode até não trazer nada muito além do que esperaríamos de uma produção do gênero – e segue à par de outras boas adaptações do extensivo panteão de Stephen King. Contando com uma história instigante de acompanhar e ofuscando os próprios erros através do comprometimento dos atores e atrizes, a série parece se desenrolar de maneira a nos manter envolvidos até os minutos finais (ainda que certas partes sejam esquecíveis).
