sábado, abril 27, 2024

Crítica 2 | Garota Exemplar

O Casamento Mata!

É difícil falar com objetividade sobre David Fincher, um dos cineastas mais talentosos da atualidade, sem se deixar levar pelo lado fã. Somado a isso, temos um dos livros de suspense mais legais dos últimos tempos, Garota Exemplar. A autora da obra, Gillian Flynn, já trabalhou como crítica de cinema para o veículo Entertainment Weekly, dessa forma, compreendendo bem a estética cinematográfica pôde aplicá-la em sua trama investigativa criminal. Não apenas isso, Flynn foi convidada para adaptar o próprio texto para o cinema.

A união de duas mentes tão criativas não renderia menos do que algo grandioso. A forma com que a dupla leva Garota Exemplar às telas é exímia. Além de uma história policial, onde o desaparecimento de uma sub-celebridade é atribuído a seu marido, o texto de Flynn é um insight sagaz, ácido e satírico ao casamento. Amy Dunne é a garota exemplar do título. Seus pais enriqueceram ao patenteá-la como personagem dos livros infantis “Amy Exemplar”, algo como Maurício de Souza fez com sua filha Mônica. “Amy Exemplar” é a menina perfeita e serve para ensinar o bom comportamento para as crianças. E dessa forma a verdadeira Amy foi criada, sempre exigida ao máximo.

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Quando conhece Nick, um sujeito desleixado e descompromissado, mas muito carismático, o mundo de Amy parece completo. No entanto, após cinco anos de casados e inúmeras adversidades, o mar de rosas se transforma em pesadelo culminando com o desaparecimento da mulher e o possível crime de assassinato, do qual todas as pistas apontam para Nick. Assim como no livro, vamos conhecendo um pouco mais de cada um dos dois através de seus pontos de vista, e na forma de como eram vistos pelo companheiro. No livro, de forma intercalada ouvíamos a mulher e o homem a cada capítulo.

Por estar desaparecida, a parte de Amy é provida por seu diário. No filme, Fincher cria uma estrutura eficiente aplicando a narração. Cada pequeno detalhe, cada picuinha que compõe um relacionamento amoroso, é explorado por Flynn. A autora com imensa propriedade nos manipula de forma positiva, apresentando a cada etapa as qualidades e defeitos de ambos, desta forma nos jogando de um lado para o outro na hora de escolhermos em quem despejamos nossa simpatia. Como mulher inteligente, era esperado de Flynn um discurso feminista em seu texto. E ele está lá, mas não de forma óbvia, o que se torna ainda mais interessante.

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A escalação dos protagonistas era delicada, porém, o resultado final satisfaz. Ben Affleck vive Nick. O ator que já teve sua cota de desprezo e impopularidade, cresce mais um nível na carreira. É notável desde que se tornou um cineasta de primeira suas escolhas aprimoradas de projetos. O trabalho ao lado de diretores como Terrence Malick e agora David Fincher, só acrescenta à sua arte como cineasta igualmente. O elenco coadjuvante chama a atenção com inúmeros personagens ricos. Mas um fato que se sobressai de forma curiosa é o uso exclusivo de mulheres atraentes no filme. Temos a irmã Margo (Carrie Coon), as apresentadoras Ellen Abbott (Missi Pyle) e Sharon Schieber (Sela Ward), a criminosa Greta (Lola Kirke), a policial Rhona Boney (que no livro é descrita como uma mulher pouco atraente e no filme ganha as formas de Kim Dickens) e, é claro, a protagonista Amy.

Entrando nesse mérito, temos a performance digna de uma indicação ao Oscar de Rosamund Pike. A britânica de 35 anos, ainda desconhecida do grande público, recebeu um presentão com uma personagem complexa e desafiadora, que é vítima e carrasco ao mesmo tempo, de si mesma e de seu relacionamento. Pike atinge a nota certa, em momentos sendo digna de pena, em outros causando arrepio com um desempenho gélido e assustador, e em outros ainda provocando risadas de puro sarcasmo.

Como dito, Garota Exemplar é (ao lado de Benjamin Button e A Rede Social) o filme de maior apelo do diretor, e o que fala com mais facilidade às massas. O público tende a se entusiasmar com uma boa história de mistério, vide o sucesso de Os Suspeitos no ano passado, e isso o novo filme de David Fincher tem de sobra. Mesmo assim, não deixa de lado sua cota de amargura, violência e cenas intensas, o que sempre são fatores que afastam parte da plateia. O casamento mata, mas com o resultado de Garota Exemplar, a carreira dos envolvidos está mais viva do que nunca.

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