Quem viveu os anos 80 realmente jamais esquecerá. O berço da cultura pop como a temos hoje foi uma época de muita alegria e novidades. Para os fãs de cinema, foi o surgimento de um entretenimento elevado a uma nova potência. Os filmes ficavam maiores e melhores, com ideias insanas, e efeitos revolucionários – fossem práticos ou criados com tecnologias em constante mudança evolutiva. Era a época das vídeo locadoras. De chegar sexta-feira e correr para a loja mais próxima, para vasculhar os corredores em busca de algum filme ou simplesmente ir atrás daquele lançamento que havíamos perdido nos cinemas. A ida com amigos era sempre melhor, para uma conversa sobre os filmes favoritos.
Antes das locadoras, os que cresceram na década de 80 mas eram muito novos para ir alugar filmes, podiam deixar aflorar seu amor por cinema nas sessões das TVs abertas, em especial as da rede Globo e do SBT. As duas emissoras disputavam na época qual possuía os filmes mais queridos do público – com muitos clássicos do período estreando no canal 4 ou no 11. Sem dúvidas todos nós temos nossos filmes inesquecíveis exibidos em cada um destes canais. E a Amazon Prime Video chega nos presenteando com um punhado de filmes nostálgicos justamente desta época tão saudosa, disponibilizando tais clássicos dos anos 80 em seu catálogo no streaming. Essas não são as escolhas de filmes mais óbvias ou badaladas, mas quem os conhece ainda os guarda com muito carinho. Confira, relembre e os que não conhecem, corram para ver.
O Garoto do Futuro (1985)
Ah, a maravilha de alguns títulos em português. Casos assim continuam ocorrendo até hoje, mas é indiscutível que alguns dos “melhores” títulos nacionais para obras de Hollywood surgiram nos anos 80. Esse aqui sem dúvida é um dos mais impagáveis. E se você lê o título e acha que essa história diz sobre um garoto que veio do futuro, saiba que você não poderia estar mais equivocado. Bem, quem sabe nem tanto. O que acontece é que o ator Michael J. Fox se tornava um astro no mesmo ano, com o sucesso estrondoso do blockbuster ‘De Volta para o Futuro’ (1985), no qual, aí sim, vivia um jovem precisando voltar ao seu tempo no futuro.
No mesmo ano de 1985, Fox estrelaria essa comédia sobrenatural de fantasia, que nada tinha a ver com viagem no tempo. No filme ele vive Scott, um estudante tímido, que não tem muita sorte com as garotas e está longe de ser o aluno mais popular do colégio. Tudo muda quando ele descobre uma “maldição” em sua família, que o transforma em lobisomem na lua cheia. Mas ao invés de sair destroçando seus atormentadores, como seria comum num filme de terror, aqui ele simplesmente vira um bicho peludo extremamente popular, que se torna a nova sensação da escola. O cult gerou uma continuação, estrelada por Jason Bateman, e até uma série de desenho animado.
Falcão: O Campeão dos Campeões (1987)
Um dos maiores clássicos da Sessão da Tarde, ‘Falcão’ foi sucesso com a garotada da época graças às inúmeras reprises do programa diurno da rede Globo, além é claro do lançamento do filme nas videolocadoras, mercado que prosperava a todo vapor em seu auge na década de 80. No entanto, apesar de ser um cult muito querido ainda hoje, ‘Falcão’ não foi um sucesso de crítica ou bilheteria quando estreou nos cinemas em fevereiro de 1987, e contribuiu para a falência do icônico estúdio Cannon Films, o maior picareta de Hollywood – que marcou os anos 80.
Acontece que um dos donos do estúdio, Menahem Golan, que também era cineasta e dirigiu o filme, investiu pesado para ter o astro Sylvester Stallone protagonizando o longa, acreditando que o nome do ator bastaria para levar o público aos cinemas. Tudo isso, é claro, porque Stallone havia acabado de estrelar ‘Rambo 2 – A Missão’ (1985) – que se tornava um dos maiores sucessos de bilheteria dos anos 80, criando um verdadeiro fenômeno de público. Antes de Stallone, ‘Falcão’ quase foi protagonizado por Don Johnson, na época no auge de sua popularidade devido ao seriado ‘Miami Vice’. Mas Golan queria um nome maior para o seu filme, e chegou ao ponto de oferecer US$10 milhões de cachê para o astro de Rambo, sendo que o orçamento do filme era de US$25 milhões totais.
Tuff Turf: O Rebelde (1985)
‘Tuff Turf’ é outro que obteve críticas e uma bilheteria mediana quando foi lançado nos cinemas em janeiro de 1985. Porém, o filme ganhou sobrevida com a era das locadoras. E quando foi exibido no Brasil pelo SBT, virou cult instantâneo dos adolescentes que cresciam na época. Não é de espantar, já que o longa faz uso em sua narrativa de todos os elementos característicos de filmes deste tipo da época, com a promessa de cativar os jovens. No entanto, veja se você conhece essa premissa de algum lugar: “um rapaz se muda para uma cidade nova com a família e se torna o novato do colégio, automaticamente se tornando alvo de valentões, enquanto se apaixona e começa a dar em cima de uma menina que é a namorada do líder da gangue”.
Sim, só faltou mesmo um sensei como mentor de suas aventuras, aqui substituído pelo melhor amigo amalucado (papel de Robert Downey Jr.). Quem protagoniza nesse “clone” de ‘Karatê Kid’ (1984) é James Spader, cujo personagem é mais durão e ousado do que Daniel LaRusso. A história é basicamente a mesma, mas para apimentar as coisas, uma atitude mais “rock n’ roll” foi dada à narrativa, com personagens e figurinos parecendo saídos de algum videoclipe de banda punk. Quem viveu a época certamente se apaixonou e jamais esqueceu a atriz Kim Richards, que vive Frankie, a “chave de cadeia” mais carismática dos anos 80.
Atração Mortal (1989)
Descrito por muitos críticos da época como uma versão de ‘Carrie – A Estranha’ (1976) para os anos 1980, esse clássico cult é estrelado por Winona Ryder. Na época, a atriz era um dos nomes jovens mais quentes de Hollywood e havia acabado de ser revelada em ‘Os Fantasmas se Divertem’ (Beetlejuice, 1988). ‘Heathers’ (no título original) é mais um filme que, embora tenha se tornado cult anos depois – com uma verdadeira legião de adoradores – não fez sucesso em sua época de estreia, nem de público, nem de crítica. A obra, uma comédia ácida, foi considerada muito pesada na época, com até mesmo o agente de Ryder a aconselhando a não fazer o filme, com medo de que sua carreira fosse acabar.
Na trama, um colegial estranho e que sofre bullying (papel de Christian Slater) planeja matar três adolescentes populares, completamente fúteis e insuportáveis, todas chamadas Heather. Ele contará com a ajuda de uma amiga delas, Veronica (papel de Ryder), que não concorda com a forma com a qual o trio trata os outros estudantes. A dupla planeja os assassinatos numa forma em que pareçam suicídios – e assim são tratados por todos. Ao contrário dos demais itens nesta lista, ‘Atração Mortal’ não era muito popular no Brasil, devido à sua temática duvidosa e pesada, e foi a partir dos anos 2000 que o longa começou a ser redescoberto, ganhando força com as novas gerações. Sua popularidade fez surgir até mesmo um musical moderno que rodou a Broadway, e uma série de TV em 2018.
Quem Não Corre, Voa! (1981)
Antes da franquia ‘Velozes e Furiosos’ quem comandava as corridas e perseguições carro nos anos 80 era o ator Burt Reynolds. O astro ficou marcado por papeis de valentões motorizados, que aceleravam até o fim do pedal, driblando principalmente a polícia. Agarra-me se Puderes (1977) é um grande exemplo do subgênero, que fez tanto sucesso que gerou a continuação Desta Vez te Agarro (1980). Seguindo de perto essa linha, Reynolds tirou da cartola também ‘The Cannonball Run’ para a 20th Century Fox, que aqui no Brasil ficou conhecido com essa “beleza” de título, ‘Quem Não Corre, Voa!”. A trama fala sobre uma “corrida maluca” com participantes exóticos, atravessando países – que muito bem poderia ser a versão em live-action do famoso desenho da Hanna-Barbera.
Além de Reynolds e de seu fiel escudeiro Dom DeLuise, o filme contava com Roger Moore, Farrah Fawcett, Peter Fonda, Adrienne Barbeau, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e até mesmo Jackie Chan. O sucesso foi grande e o longa gerou uma sequência, ainda mais maluca, em 1984. Porém, mais insano ainda foi o título em português para ‘The Cannonball Run 2’, que agora se chamava ‘Um Rally Muito Louco’ em nosso país, dificultando o público a entender que se trata de uma continuação.