Se você ainda não assistiu Air: A História por trás do Logo, é melhor correr para o Amazon Prime Video. O longa é um clássico drama esportivo, ambientado mais no meio empresarial do que nas quadras de basquete, que conta a história de como a Nike penou para conseguir fechar um contrato de exclusividade com o jovem Michael Jordan, e como esse contrato foi fundamental não apenas para elevar o nível da empresa no meio esportivo, mas também a criar o mito, a lenda Michael Jordan.
Crítica | “Air: A História por trás do Logo” é um dos melhores filmes do ano
O interessante do filme é ver como o diretor Ben Affleck conseguiu construir uma trama que entendeu tão bem como funciona essa relação entre atleta e calçado, explicando como foi todo o processo de criação de um dos tênis mais icônicos de toda a Cultura Pop, o Air Jordan 1, e como ele foi peça-chave da virada comercial da Nike, que enfrentava a concorrência da quase imbatível Adidas, que dominava a preferência popular e ditava rumos da moda urbana. Com o Air Jordan, a Nike bateu recordes de venda e estabeleceu um novo padrão dentro da própria empresa. Foi uma forma dos investidores enfim entenderem como funcionava o público-alvo, dando início a um domínio da marca nas principais produções cinematográficas da época, o que rendeu aos tênis não apenas uma tendência de moda, mas os transformou em símbolo de status.
Assim, a década de 1980 contou com outra parceria icônica, com o lendário diretor Spike Lee, que dirigiu comerciais e alguns dos videoclipes mais famosos da época, interagindo com verdadeiros mitos da Cultura Pop norte-americana, como Michael Jordan e Michael Jackson, além de inserir os tênis da Nike em seus filmes de maior sucesso. Foi uma parceria sem precedentes e deu resultados que seguem dando lucro até os dias de hoje.
O caso mais recente que exemplifica esse impacto do Air Jordan 1 na Cultura Pop pode ser visto no fenômeno das animações Homem-Aranha no AranhaVerso, lançado em 2018 e verdadeiro “papa-títulos” das principais premiações, além de ser considerado por muitos como o filme responsável pela revolução nas estéticas atuais dos longas animados.
Ao retratar uma cultura urbana, a produção do filme incorporou ao uniforme de super-herói do Homem-Aranha de Miles Morales um par de Air Jordan 1, os tênis feitos com base na personalidade do eterno Camisa 23 do Chicago Bulls, sintetizando assim não só sua mentalidade vencedora, mas aspectos como a resiliência, obstinação e garra. Valores que o atleta e a marca queriam transmitir. Estarmos falando, em 2023, de um tênis lançado em 1985 mostra o quanto ele é relevante e provavelmente se tornou o calçado mais icônico dos cinemas e da Cultura Pop em geral. No entanto, ele não é o único. Pensando nisso, o CinePOP listou outros cinco modelos de tênis que marcaram época e se imortalizaram na Cultura Pop mundial. Confira!
Nike Air Sky Force Hi
Responsável por algumas das cenas mais emocionantes da história do Oscar, em que recebeu duas estatuetas por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, o agora multipremiado Ke Huy Quan foi um ator mirim de sucesso na década de 1980, marcando presença em clássicos como Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e Os Goonies (1985), que fez sucesso entre crianças, jovens e adultos. Depois, ele passou por anos no ostracismo, até retornar de forma triunfal em 2022. E foi justamente em Os Goonies que o então garotinho, que interpretava o inventivo e engraçado Dado, imortalizou um modelo bastante simples da Nike, o Air Sky Force. No filme, o pequeno Dado usou sua inteligência e engenhosidade para modificar os tênis, colocando molas no solado, permitindo que ele pulasse de pedra em pedra em cenas pra lá de divertidas, que entraram no imaginário popular e fizeram milhões de crianças sonharem com esse modelo.
Reebok Alien Stomper
Se tem um par de tênis que conseguiu sintetizar a essência da protagonista de uma saga foi o Alien Stomper (o esmaga aliens) de Ellen Ripley (Sigourney Weaver), que foi um modelo adaptado da Reebok, para se parecer com uma bota e acabar com a raça dos Aliens, em Aliens: O Resgate (1986). O longa fez tanto sucesso quanto o original e acabou por consolidar a Ripley como umas das maiores heroínas do cinema numa epóca em que os brucutus dominavam as telonas. As botas Reebok de Ripley ajudaram a compor o visual da personagem trazendo um design arrojado, forte, com personalidade, funcionalidade e estilo, tal qual a própria Ellen. O sucesso do calçado foi tanto que a empresa recebeu vários pedidos para que ele fosse posto à venda. Em 2019, em celebração aos 40 anos de lançamento de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), a Reebok lançou duas versões limitadas do Alien Stomper, uma com o cano alto, igual ao filme, e outra com o cano mais curto, dando um design mais comum para uso no cotidiano. Diferentemente de outros lançamentos, essa edição especial também foi posta à venda no Brasil e apesar de custar cerca de R$ 599,90, não demorou para esgotar.
Onitsuka Tiger Mexico 66
A marca japonesa Onitsuka Tiger se consagrou com uma parceria icônica com o lendário Bruce Lee, e seu famoso traje amarelo e preto usado em Jogo da Morte (1978), em que ele usa um Onitsuka Tiger Mexico 66 nas mesmas cores. Anos mais tarde, Quentin Tarantino homenageou o ator e mestre das artes marciais em seu celebrado filme, Kill Bill (2003), colocando Kiddo (Uma Thurman) para realizar um massacre com um figurino inspirado no traje usado por Lee em seu último filme, incluindo os Mexico 66, que tinham boa aderência e solado fino, se assemelhando a uma sapatilha, permitindo, assim, que os golpes e chutes deferidos contra os inimigos recebesse o impacto total. Recentemente, a Asics lançou uma versão inspirada neste modelo, mas com um solado mais robusto, trazendo mais absorção do impacto, que também não durou muito nos mercados nacionais e internacionais.
Nike Cortez
Antes mesmo de conquistar os cinemas e as telinhas, o Nike Cortez já era um modelo histórico para a Nike. Isso porque foram os primeiros tênis que a empresa lançou, em 1972, mirando o mercado das corridas, o qual eles dominavam desde antes de explodirem como marca em geral. A ideia de seu lançamento era casar com as Olimpíadas do México, em 1968, mas como empresas rivais já haviam emplacado modelos com nomes como México e Aztec, eles acabaram buscando o colonizador Hernán Cortés como homenageado. O único problema é que Cortés promoveu um verdadeiro banho de sangue na América Latina, praticamente exterminando o império Asteca. Entretanto, a tecnologia de absorção de impacto do Cortez era tão revolucionária e ideal para a corrida, que a homenagem bizarra não teve impacto nas vendas, transformando o modelo no primeiro grande sucesso da Nike. Posteriormente, com a ascensão da marca, ele seria adotado em colégios e pelas gangues da Califórnia.
Por conta de sua excelência na corrida, esse modelo acabou eternizado nas telonas no filme Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994), grande vencedor do Oscar. No longa, Forrest ganha seu primeiro presente de Jenny, seu grande interesse amoroso. Certo dia, após nova decepção, o rapaz calça seu par de Cortez e começa uma corrida que atravessa todo o território dos EUA, chamando atenção da mídia global para ele e sua misteriosa jornada. O modelo chamou tanta atenção que a Nike relançou algumas vezes, incluindo em aniversários de lançamento do filme, sendo vendido até mesmo no Brasil.
Mais recentemente, no fenômeno da Netflix, Stranger Things, o Cortez voltou a ficar em alta ao ser usado pelo queridinho Steve Harrington (Joe Keery), que começa como um valentão sem noção, mas acaba demonstrando ser mais do que aquilo mostrado inicialmente. Essa parceria, inclusive, rendeu dois modelos exclusivos para a série, sendo um vermelho e branco e outro creme, verde e laranja, com um swoosh que brilha no escuro. Ambos sucessos de vendas.
Nike Air Mag
A franquia De Volta Para o Futuro também foi peça importante na consolidação da Nike no cenário da Cultura Pop. Enquanto o primeiro filme transita entre os anos de 1985 e 1955, colocando Marty McFly (Michael J. Fox) quase sempre com um par de Nike nos pés. A exceção é nos anos 50, quando ele usa os também clássicos Converse Chuck Taylor All-Star pretos. Porém, nos anos 80 e afins, Marty está acompanhado de seus Nike Brain Leather, que ganham um grande destaque, principalmente nas cenas de skate.
De qualquer forma, mesmo com tantos modelos clássicos, os tênis que saíram da franquia imortalizados no imaginário popular foram de um modelo que sequer existia na vida real. Isso porque em De Volta Para o Futuro II (1989), Marty viaja para o longínquo ano de 2015. No futuro, ele ganha um par dos tênis da moda, o Nike Air Mag, que tinha um visual cinza e branco, trazia várias luzes na sola e tinha uma tecnologia impressionante de amarrar os cadarços sozinho. Claro que o modelo não foi lançado oficialmente na época, mas virou o ícone de uma das sagas mais populares do último século. Em 2011, a Nike lançou uma edição limitada do modelo, só que sem a tecnologia dos cadarços. Os valores arrecadados foram revertidos para a Fundação Michael J. Fox, que estuda e realiza tratamento do Mal de Parkinson, doença que atinge o Marty da vida real. Em 21 de outubro de 2015, o dia em que Marty chega ao futuro, a Nike preparou uma edição limitadíssima do Air Mag, dessa vez já trazendo os cadarços que se amarram sozinhos. O lote preparado para venda se esgotou em minutos e os valores foram novamente revertidos para organizações que tratam do Parkinson.
Menção honrosa:
Air Jordan IV
Fazer um texto sobre tênis icônicos no cinema e não falar do Air Jordan IV é simplesmente impossível. Isso porque o diretor Spike Lee “apenas” definiu para o mundo a importância dos tênis, falando sobre poder, status e personalidade, no meio urbano dos EUA com uma cena em especial em seu clássico Faça a Coisa Certa (1989). O filme é uma comédia dramática sobre a tensão racial no Brooklyn, que piora consideravelmente no sábado mais quente do verão daquele ano. A cena em questão exemplifica bem essa tensão, quando Buggin’ Out (interpretado por um Giancarlo Esposito novinho) tem seu Air Jordan IV branquinho sujo por um morador da região.
Na época, ter um par de Jordans era sinônimo máximo de status e todo o contexto dessa cena é brilhante. O ciclista é branco e está usando uma camisa de Larry Bird, astro do Boston Celtics, considerado por muitos o maior jogador branco da história da NBA. Então, o rapaz branco, todo trajado “de branco”, chega em um bairro predominantemente formado por pessoas negras, passa com sua bicicleta por cima do tênis novinho que representa a personalidade e mentalidade vencedora de Michael Jordan, e sai sem dar satisfação. Então, Buggin’ Out vai tirar satisfação e o resto é história. É uma representação perfeita do conflito retratado no filme e se tornou uma cena tão icônica que anos mais tarde, a Nike lançou uma edição comemorativa enviada para influenciadores chamada “Air Jordan IV Buggin’ Out Edition”, que traz os Jordans novinhos já com a marca da bicicleta no bico. Atualmente, eles custam uma fortuna.
E aí? Qual par de tênis você achou mais icônico? Diga nos comentários!
Air: A História por trás do Logo está em cartaz nos cinemas.