sábado, abril 27, 2024

Amityville – O Despertar | Um dos PIORES filmes da franquia de terror faz 6 anos em 2023

Na última década, a indústria cinematográfica hollywoodiana passou por uma hiperssaturação de um gênero narrativo que definitivamente já deu o que tinha que dar: os remakes. As inúmeras e imparáveis releituras de clássicos do cinema atingiram números escandalosos e, em sua maior parte, não se provaram dignas de seus originais – claras e indiscutíveis exceções incluem a recente duologia It: A Coisa’ e levemente a roupagem pop de A Bela e a Fera’. Entretanto, mesmo com a incessante queda nos clichês tanto imagéticos quando dialógicos, a busca por algo original continua – e, seis anos atrás, viemos o que apenas podemos chamar de “fundo do poço” das produções audiovisuais contemporâneas: ‘Amityville – O Despertar’.

Nessa tentativa de reviver os eventos da pequena cidade que empresta o nome ao título, Belle (Bella Thorne) e sua família se mudam para o casarão conhecido por seu passado sangrento sem realmente conhecê-la. Ela, sua mãe Joan (Jennifer Jason Leigh) e seus irmãos Juliet (Mckenna Grace) e James (Cameron Monaghan), são recebidos com grande felicidade pela tia Candice (Jennifer Morrison), a qual já de cara parece esconder alguma coisa, apesar de não sabermos o quê. Bom, este é o prólogo do filme; o resto é tão previsível quando o final de uma comédia romântica adolescente de baixo orçamento. Os atuais moradores da casa serão assombrados por uma força maligna e antiga que tentará reacender os mesmos eventos ocorridos há quarenta anos no mesmo local. 

Grosso modo, não há nada que se salve nessa pútrida tentativa de honrar a franquia original de terror. Nem mesmo os filmes predecessores fizeram um trabalho digno o suficiente e que explorasse de forma convincente e assustadora a mitologia por trás da casa, incluindo a existência do Quarto Vermelho – aparentemente responsável por incitar o mais fraco dos habitantes da casa a assassinar sua família. Seu preciosismo cênico, o qual tenta inclinar-se para estilos próprios de outros diretores do gênero como James Wan ou até mesmo o falecido Wes Craven são risíveis, seja pela má condução atmosférica ou pelas composições metamórficas que transformam os cenários principais em algo praticamente irreconhecível. E isso não ocorre apenas à medida em que a narrativa procura acertar seu tom, mas sim durante todos os angustiantes 97 minutos de duração. 

Caso Amityville – O Despertar’ se restringisse apenas à criação de uma obra nostálgica, os danos colaterais dessa presunção cinematográfica praticamente não existiriam. Mas a praticamente inexistente homenagem do diretor Franck Khalfoun à franquia deixa tudo ainda mais insosso – e ainda nem entrei no âmbito narrativo. A câmera por muitas vezes não sabe que posição adotar e parece não ter um foco, sendo utilizada tanto como perspectiva subjetiva, adotando um falho tom intimista, ou alternando entre múltiplos planos gerais e fechados dentro de uma montagem frenética que não chega a lugar nenhum. Afinal, o próprio tom da cena, aliado a determinados diálogos, não segue a mesma identidade que o que nos é apresentado – e a montagem também não auxilia nesse processo: as quebras são feitas de forma tão brusca que a linha entre realidade e ficção se torna cada vez mais espessa, impedindo que o espectador consiga mergulhar no filme.

Por incrível que pareça, esses não são os deslizes que mais incomodam; o desperdício de seu elenco é, sem sombra de dúvida, o grande erro imperdoável do filme, visto que todos os seus atores e atrizes principais têm sua gama de participações em obras de terror, drama e suspense para fornecerem performances consideráveis, ainda que dentro de uma bolha fracassada. Jason Leigh é a que mais desaponta: depois de seu sucesso em Os Oito Odiados’, entregando-se ao papel de Daisy Domergue com uma crueza assustadora, ela pareceu deixar-se levar pelo comodismo em cena, renegando o personagem que lhe foi designado. Joan, a suposta matriarca da família, está insanamente perdida dentro do contexto que está inserida, com trejeitos pueris que não deveriam existir pela simples inexistência de tal abertura. Sua passividade nas sequências de maior tensão é mais tenebrosa que os eventos sobrenaturais – exceto por alguns momentos de ápice emocional que a deixam ainda mais jogada.

Thorne talvez seja a que mais consegue se conectar com o papel, principalmente se levarmos em consideração sua participação na série Scream’, derivada livremente da franquia Pânico’. Apesar de encarnar uma adolescente preocupada tanto com o irmão gêmeo James, que está num estado de coma desde o trágico acidente que culminou em sua queda do terceiro andar de um prédio, quanto com a estabilidade emocional dos outros membros da família, em nada é ajudada pelas insalubres falas autoexplicativas e convencionais para o tipo de estereótipo mal formulado que representa dentro dos clichês de terror. Ela se inicia como a descrente, até ser protagonista de acontecimentos a priori assustadores com a casa, incluindo sonhos com a recuperação total de James e aparições de um espírito desgarrado.

É complicado salvar qualquer cena que exista dentro do filme, exceto pela medíocre e eventualmente cômica sequência em que Belle e seus amigos irão assistir ao filme Horror em Amityville’ e discorrem sobre como remakes são desnecessários e “sempre muito ruins”. A própria autoafirmação metalinguística, apesar da obviedade, não deixa de arrancar algumas risadas por parte do público e ajuda a amenizar a pequenez presunçosa do longa-metragem.

‘Amityville – O Despertar’ é um filme que felizmente nos faz acordar para o momento em que ainda estamos: as incessantes e inúmeras tentativas de recuperar uma franquia saturada de produtos medianos ou ruins. Apesar da mitologia e dos acontecimentos supostamente verídicos, essa série fílmica parece estar amaldiçoada e fadada ao fracasso. Podemos esperar duas coisas: mais uma continuação (o que parece improvável, levando em conta que seu lançamento nos Estados Unidos foi cancelado), ou uma desistência mais que necessária para preservar o que restou de um passado nem tão glorioso assim.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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